Hepatite C
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Hepatite C é uma doença viral do fígado causada pelo vírus da Hepatite C (HCV). A hepatite C é a mais temida e perigosa de todas as hepatites virais, devido à inexistência de vacina e limitações do tratamento, e à sua alta tendência para a cronicidade que complica eventualmente em cirrose hepática mortal.
Índice |
[editar] Vírus da Hepatite C (HCV)
- Grupo: Grupo IV ((+)ssRNA)
- Família: Flaviviridae
- Género: Hepacivirus
- Espécie: Virus da Hepatite C
O vírus da hepatite C é um flavivirus, um dos poucos dessa família (que inclui os vírus da dengue, febre amarela e Nilo ocidental) que não é transmitido por artrópodes. Este vírus tem um genoma de RNA simples de sentido positivo (é usado directamente como mRNA na síntese proteica). Reproduz-se no citoplasma e retículo endoplasmático, produzindo dez proteínas virais. Algumas destas proteínas inibem a apoptose (morte programada) da célula e outras inibem a acção do interferon. Tem envelope bilípidico e portanto não sobrevive a condições secas.
O vírus tem uma preferência forte (tropismo), em infectar os hepatócitos do fígado. Os sintomas da hepatite são pelo menos tanto devido à acção necessária do sistema imunitário como aos danos causados pelo vírus.
[editar] Epidemiologia
Há quase 200 milhões de portadores ou doentes crónicos de hepatite C no mundo. Na Europa a incidência é de cerca de 0,3% da população, mas nos EUA é de 1,5%. Em Portugal, Espanha, Itália e Japão há mais casos. Infecta seres humanos e chimpanzés apenas. Não existem dados confiáveis acerca da prevalência de hepatite c no Brasil.
A transmissão é por infecção do sangue por sangue contaminado, como ocorre em transfusões (hoje raramente) e troca de agulhas infectadas, piercings e tatuagens em estabelecimentos que não esterilizam cuidadosamente todos os materiais (não só a agulha); pela actividade sexual (4%) e da mãe para o filho recém nascido (4%). No entanto a mulher portadora pode amamentar. Existe um alta porcentagem (em torno de 30%) dos casos em que não se identifica o foco de transmissão.
Em Portugal todas as pessoas que, antes de 1992, se submeteram a intervenções cirúrgicas, que foram sujeitas a transfusões de sangue, os ex-combatentes da Guerra do Ultramar devem pedir aos seus médicos de família o rastreio da Hepatite C (o anti-VHC). É uma simples análise ao sangue. No Brasil, o vírus começou a ser testado entre 1992 e 1993.
Hoje existe tratamento para a Hepatite C. E cura em 50 a 60% dos casos.
O tratamento consiste numa injecção semanal de Interferon Peguilado junto com 4 a 6 comprimidos diários de ribaverina. O tratamento dura de 24 a 48 semanas. A taxa de resposta ao tratamento varia de acordo com o subtipo do vírus, ou seja, o genótipo. Por exemplo, nos casos de genótipo 3 a taxa de negativação do vírus pode chegar a 80% dos casos.
[editar] Progressão e sintomas
Após infecção o vírus praticamente só se multiplica no fígado. Há vários tipos de progressão.
- Em 15% dos casos há hepatite aguda, com icterícia (pele e olhos amarelos), febre, dores abdominais, mal estar, diarreia e fadiga. Segue-se após alguns meses a resolução e cura completa. As sintomas são devidos à destruição eficiente e rápida pelo sistema imunitário dos hepatócitos infectados e é essa acção que permite a cura.
- Em 85% dos casos incluindo quase todas as crianças, a hepatite inicial pode ser assimtomática ou leve. O sistema imunitário não responde eficazmente ao vírus, e o resultado é cronicidade em 70% dos casos. Destes 15% progridem rapidamente para cirrose e morte; 20% progridem lentamente com cirrose e morte ao fim de 10 anos; e outros 20% após 20 anos. O cancro do fígado surge em mais 5% após 30 anos. Os restantes tornam-se portadores a longo prazo, infecciosos.
O fígado responde de duas formas à destruição das suas células. Inicialmente os hepatócitos regeneram o tecido perdido, mais tarde, com os danos repetidos, inicia-se também a produção de tecido conjuntivo fibroso pelos fibrócitos. Com danos contínuos, a capacidade de regeneração dos hepatócitos é insuficiente, e a fibrose torna-se predominante, levando à cirrose hepática com insuficiência hepática devido ao pequeno número de hepatócitos, que não se podem multiplicar devido à resistência do tecido conjuntivo modelado à sua volta. A cirrose hepática é uma condição inevitavelmente fatal, e mesmo o transplante de fígado só permite a vida durante alguns anos devido à rejeição progressiva do orgão estranho.
A replicação aumentada dos hepatócitos aumenta a probabilidade de outra complicação: o carcinoma hepatocelular. A maioria das mutações genéticas que resultam no cancro ocorrem durante a replicação celular, em que o processo de cópia do DNA conduz quase sempre a alguns a erros. Com a regeneração contínua do tecido do fígado, devida à destruição das células pelo vírus (e resposta imunitária), esses erros acumulam-se. O resultado é que a infecção crónica pelo HCV é uma causa importante do carcinoma hepatocelular – o cancro de longe mais comum do fígado, de mau prognóstico.
[editar] Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é sorológico, pela detecção de anticorpos por técnicas de ELISA. A PCR pode também ser usada.
Não há vacina ainda, mas a administração de interferon alfa recombinante ou peguilado, associado a ribavirina, tem algum resultado. A taxa de resposta varia de 40 a 80% dos casos, dependendo do genótipo.
No Brasil, recomenda-se que o paciente procure um centro de hepatologia de referência. O SUS fornece a medicação para os pacientes cadastrados embora a demanda seja insuficiente em relação ao número de pacientes.