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Homossexualidade

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Ver também
Série Sexo

Homossexualidade é o atributo, a característica ou a qualidade daquele ser — humano ou não — que é homossexual (<grego homos = igual + latim sexus = sexo) e, lato sensu, define-se por atração física, emocional, estética e espiritual (caso especificamente humano) entre seres do mesmo sexo, com eventual inversão de papéis de gênero (caso especificamente humano, dado poder este compreender intelectivamente o que isso — gênero e sua inversão de papéis — significa).

Índice

Homossexualidade Humana versus Animal

Homossexualidade é uma das variantes constatadas ou observadas da expressão sexual, da sexualidade. A constatação ou observação, per se, não conferem — nem o podem pretender — penhor de aceitação ou juízo de convalidação a respeito da matéria. Não é, absolutamente, o caso. Trata-se, num primeiro momento, como se disse, de constatar uma forma de expressão que efetivamente existe.

Nessa compreensão absolutamente ampla, não há — nem pode haver — vínculo necessário, obrigatório, de tal característica com a humanidade — entendida aqui como a especificidade de ser humano. É, sem dúvida uma das compreensões possíveis, mas não a única, nem necessariamente a mais importante, embora do ponto de vista essencialmente humano, o contrário possa ser exatamente verdadeiro.

Ainda, no binômio humano versus animal, imperativo é considerar que no ser humano, homem ou mulher, estão presentes dois elementos essenciais: (1) consciência (mesmo que em nível apenas elementar) do modo de pensar/sentir/praticar a sexualidade; (2) volição (ainda que primária) desse modo. No animal, não há que falar em consciência ou volição — não em moldes humanos.

A questão toma ainda foros de maior complexidade ao se ponderar que o ser humano, além da sua vida orgânica animal (a parte fisio-orgânica do seu ser), apresenta — melhor, vive — uma vida eminentemente simbólica. Com exceções eventuais e raras, o ser humano, em sua relação para consigo mesmo, para com tudo em volta, inclusive para com a sua espiritualidade, é essencialmente simbólico, sem, contudo, deixar de ser, em base fisio-orgânica, animal. Assim também na compreensão[de]/relação[com]/prática[de] sua sexualidade.

Por fim, homossexualidade — como outras variações de nomeada orientação sexual — apenas no domínio ou reino humano suscita reação reflexa/reflexiva do ser para consigo mesmo, no sentido de eventualmente passar ou vir a adotar tal modo, por assim dizer, costumeira ou definitiva ou oficialmente. Isso significa que, ainda que a causa ou a gênese dessa variação seja, por exemplo, tão-somente anímica (emocional, psíquica, fruto da educação ou meio etc.), pode o indivíduo passar a ser assim (homossexual) quiçá o resto da vida. Precisa ficar claro que, em qualquer caso, não se pode falar em escolha ou opção ou similar refletida, mas, sim, de condicionantes ou injunções de ordem pessoal, familiar, cultural, econômico-político-social e mesmo espiritual. Isso jamais ocorre no mundo animal.

Como quer que seja e como quer que se a conceba ou com ela se lide, fato irrefutável é que homossexualidade é um "modo de ser sexual" efetivamente verificado na ordem presente das coisas, quer no domínio humano, quer no de outros seres (o que pode ser objetável, dado que não se pode afirmar irrefutavelmente, senão sob a óptica tão-somente humana, que, e.g., "um gato macho sinta atração homossexual por outro gato macho"). Cautela é igualmente necessária no que toca ao enquadramento ou não-enquadramento da homossexualidade como, diga-se, "doença" ou "disfunção". Se é temerário fazer-se uma tal afirmação, efetivamente também o é fazer-se a afirmação contrária! Em verdade, recorrentemente, o que ocorre são quedas em "armadilha" conceitual-semântica, um embaraço de idéias tentativamente verbalizadas. Contudo, nada disso fornece base sustentável para se asseverar que homossexualidade seja ou não seja uma doença. Por essa razão, é preciso considerar — a bem do zelo pela verdade — que o fato de ter havido, na segunda metade do século XX, um consenso científico-médico em "retirar a homossexualidade (referida, naquela época, por homossexualismo, termo considerado proscrito desde então...) da Classificação Internacional de Doenças – CID", não tem (nem pode ter) o condão de, como num passo de mágica, decretar artificiosamente uma verdade apenas conveniente a tal ou qual grupo de interesse.

Do mesmo modo que ocorre com a homossexualidade, ocorre com a heterossexualidade. A ciência conhece tanto as origens de uma quanto da outra. Dessa forma, deve-se evitar afirmar - por respeito à verdade - que heterossexualidade não constitúí doença. O fato de a comunidade científico-médico não ter colocado a heterossexualidade na Classificação Internacional de Doenças – CID, não significa que dê pra decretar artificiosamente, por pura conveniência à certos grupos de interesse, que tal sexualidade não constituí doença.

Homossexualidade humana

Homossexualidade é uma das possibilidades verificadas de manifestação da sexualidade e afetividade humanas, o que, per se, não lhe confere, como querem muitos, o status de escolha, opção ou orientação sexual diferenciada ou normal.

Como a heterossexualidade, a homossexualidade evidencia-se mais a partir da puberdade.

O termo homossexual foi criado em 1869 pelo escritor e jornalista austro-húngaro Karoly Maria Kertbeny. Deriva do gr. homos, que significa "semelhante", "igual". Em 1870, um texto de Westphal intitulado "As Sensações Sexuais Contrárias" definiu a homossexualidade em termos psiquiátricos como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino. A partir de então, no ramo da Sexologia, a homossexualidade foi erroneamente descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração. Nos códigos penais, surgiram leis que proibiam as relações entre pessoas do mesmo sexo. Alguns historiadores da ciência afirmam que a homossexualidade é uma invenção recente, um termo que busca nomear uma forma de amor e relacionamento que existe desde os primórdios da humanidade.

A partir dos movimentos de liberação homossexual e, sobretudo após o incidente de Stonewall em Nova York, em junho de 1969, emergiu o termo gay como meio para apagar o teor psiquiátrico por trás da palavra homossexual. Assim, gay é um termo politizado e menos estigmatizante. Chamava-se originariamente gay ao homossexual masculino passivo (aquele que costuma fazer o papel de mulher para com um homem, que vem a ser homossexual ativo, episodica ou costumeiramente). Hoje em dia, o termo gay aplica-se indistintamente quer ao homem que se relaciona sexualmente com outro homem, quer à mulher que se relaciona sexualmente com outra mulher.

É cada vez menos comum o uso de nomenclaturas diferenciadas e específicas quanto ao gênero originário, anátomo-fisiológico, bem como quanto ao papel desempenhado, ativo ou passivo, ou ambos, ainda quanto à freqüência, também quanto à mudança ou intercorrência de variações. A mulher gay ativa chamava-se sapatão (Brasil) por alusão à sua feição comportamental sexual tipicamente masculina: ela seria o homem para outra mulher, esta, por seu turno, classicamente era chamada de lésbica. Este tipo de discurso nega quer às mulheres lésbicas quer aos homens homossexuais[1] a sua própria sexualidade ao partir do princípio que apenas é possível o sexo entre alguém que faz o "papel" de homem e o papel de mulher. Na prática a maior parte das pessoas homossexuais não se revêem nesta ideia de papel sexual e preferem assumir que fazem sexo com pessoas do mesmo sexo.

Embora gay seja usado como denominador comum entre homens e mulheres homossexuais e bissexuais, tal uso têm sido às vezes contestado em razão do desejo de individuação de outros grupos de variação sexual, que reivindicam identidade autônoma, independente, própria. Isso é característico, não apenas de grupos de tal interesse, mas de qualquer outro grupo humano.

Há uma visão que afirma que o problema não seria o termo homossexualidade, antes a palavra homossexualismo. Nesta perspectiva, homossexualismo com sua conotação de doença ou distúrbio mental é que deveria ser abandonado. Em alguns léxicos, o homossexualismo aparece definido por prática de atos homossexuais, enquanto o termo homossexualidade é aplicado a atracção sentimental e sexual. Também por isso, muitas pessoas consideram que o termo homossexualismo têm um significado prejorativo, e isto tem levado a que o termo seja hoje em dia mais utilizado por pessoas que têm uma visão negativa da homossexualidade.

As principais organizações mundiais de saúde, incluindo as de psicologia, não mais consideram a homossexualidade uma doença. Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria e, na mesma época, foi retirada do Código Internacional de Doenças (sigla CID). A Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS), no dia 17 de Maio de 1990, retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade. Apesar disso e mesmo contra recomendações da Conselho Federal de Psicologia do Brasil[2], existem técnicos da saúde que vêem a homossexualidade como uma doença, perturbação ou desvio do desejo sexual - algo que pode necessitar, caso o "paciente" assim queira (ou os seus familiares), de tratamento ou reabilitação -, aos quais está associado o movimento ex-gay, dedicada à "conversão" de indivíduos homossexuais para a heterossexualidade.

Na área de humanidades, estudos sobre sexualidade enfatizam que a história da criação da homossexualidade e seus termos permite compreender o fato de que a "normalidade" depende da estigmatização e subalternização de identidades para se consolidar socialmente. Desta forma, a invenção dos termos homossexualidade, homossexualismo e homossexual se deu como forma de estabelecer a suposta (e altamente questionável) "naturalidade" da heterossexualidade. Hoje em dia, os Estudos mostram que ser heterossexual não uma escolha livre, pois nossa sociedade forma a todos para se relacionarem obrigatoriamente com pessoas do sexo oposto. Assim, esta obrigação aprendida na família, na escola e pelos mídia se constitui em um sistema denominado heteronormatividade.

Origens e freqüência da homossexualidade humana


Desde os Estudos de Kinsey (ver Kinsey), em 1949, popularizou-se a afirmação de que 10% da população humana teria uma orientação homossexual. No entanto, outros estudos indicaram valores diferentes, tais como 4% e 14%. A principal razão para a dificuldade na obtenção de um valor credível está no fato de muitos homossexuais continuarem a esconder a sua orientação sexual por motivos diversos, além de ser difícil classificar e quantificar de forma científica o grau de homossexualidade/heterossexualidade de alguém.

Na caracterização do sexo de uma pessoa, quatro elementos devem ser levados em consideração: seu sexo biológico, sua identidade sexual, seu papel social e sua preferência afetiva.

Classificação de Alfred Kinsey - Resumo

  • Heterossexual exclusivo
  • Heterossexual ocasionalmente homossexual
  • Heterossexual mais do que ocasionalmente homossexual
  • Igualmente heterossexual e homossexual, também chamado de bissexual
  • Homossexual mais do que ocasionalmente heterossexual
  • Homossexual ocasionalmente heterossexual
  • Homossexual exclusivo
  • Indiferente sexualmente

Vários estudos apontam para fatores genéticos que determinariam a manifestação da homossexualidade. Estudos com gêmeos univitelinos (que possuem o DNA idêntico) demonstram que há uma correspondência de mais de 50% entre a sexualidade dos dois irmãos/irmãs.

Alguns estudiosos, sobretudo aqueles influenciados pela óptica da psicanálise, crêem que a conjunção do meio com a figura dominadora do genitor do sexo oposto são decisivos na expressão da homossexualidade. Para o criador da psicanálise Sigmund Freud, a homossexualidade seria um resultado da forma de como foi resolvido o Complexo de Édipo na infância.

Para os que defendem a influência do meio, perante a complexidade do comportamento humano seria incorreto limitá-lo meramente à factores genéticos. O único ponto em que a maioria dos actuais investigadores concordam é que o comportamento homossexual é uma característica que se manifesta na espécie humana. É preciso que se admita que as origens da homossexualidade são complexas e, muitos casos, desafiam explicações simples. Em relação às explicações psicológicas, sublinha-se o facto de que embora alguns factos mostaram-se verdadeiros para alguns indivíduos, elas não serão para todos.

Argumentações biogenéticas

O neurobiólogo Roges Goski, da Universidade da Califórnia, EUA, fez experiências em laboratórios com ratos e com seres humanos, fêmeos, que receberam testosterona - o hormônio sexual masculino - ainda em fase intra-uterina e observou que, desde a primeira fase da vida, mostravam comportamentos masculinos, como gostos, brincadeiras mais agressivas além de sentirem-se mais atraídas por fêmeas.

Já o geneticista Dr. Antonio Quirino, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, defende a tese de que a homossexualidade tem determinação genética. Alega ter descoberto genes numa determinada região, que ele chamou de GAY-1, associados ao comportamento homossexual. Tal hipótese não teve muita credibilidade no meio científico norte americano. É, efetivamente, para aqueles que se opõem à homossexualidade, uma tese que a coloca, não como uma opção ou estilo de vida, mas como resultado de uma variação genética.

Glenn Wilson e Qazi Rahman, investigadores na área da psicologia e autores de Born Gay: The Psychobiology of Sex Orientation, concluem que há diferenças biológicas entre pessoas homossexuais e heterossexuais, e que estas não podem ser ignoradas. Estes investigadores estão dispostos a aceitar a teoria do "gene gay", mas complementam-na com a idéia de que alguns fetos masculinos com pré-disposição genética para a homossexualidade são incapazes de absorver corretamente a testosterona no seu processo de desenvolvimento, de modo que os circuitos neurocerebrais responsáveis pela atração pelo sexo oposto ou nunca se desenvolvem ou o fazem deficientemente. Quanto à homossexualidade feminina, Rahman avança com a hipótese de haver uma proteína no útero responsável pela proteção dos fetos femininos contra a exposição excessiva a hormônios masculinos que não atuam suficientemente cedo no processo de desenvolvimento.

Visões da psicanálise e da psicologia

Contrários a essas argumentações apenas biogenéticas sobre as causas da homossexualidade, estão psicólogos e psicanalistas. Sem negar que incontáveis características humanas (tendências de desenvolver algumas doenças, por exemplo) têm base genética, consideram, todavia, a percepção da homossexualidade como um traço "apenas" geneticamente determinado incorreta, buscando antes explicações associadas ao meio e à educação dos indivíduos homossexuais.

Dr. Daryl Bem, psicólogo da Universidade de Cornell, nos EUA, desenvolve pesquisas sobre a importância da formação intra-familiar na pessoa homossexual. Uma nova geração de psicólogos americanos, tais como Judith Harris, tende a valorizar as relações interpessoais (com vizinhos, colegas da escola, colegas da rua...) como os fatores mais fortes no desenvolvimento e estruturação da personalidade, e dentro desta, na definição da orientação sexual de cada um.

Segundo Sigmund Freud, um dos fundadores da moderna psicanálise, há três fatores que parecem determinar a homossexualidade, sendo o primeiro fator a homossexualidade teria início devido a uma forte e incomum ligação com a mãe, o que impediria a pessoa de se relacionar afetivamente com outra mulher; o segundo fator o narcisismo, fazendo com que a pessoa sinta menos esforço ao se relacionar com pessoas do mesmo sexo do que ao se relacionar com o sexo oposto e o terceiro fator a assunção de atitude conformista, não-definida ou mal definida, para com a própria psicossexualidade.

Críticas às tentativas de explicação

Há diversas críticas às tentativas de explicações científicas para a homossexualidade, principalmente porque a maioria delas começa a ser desenvolvida ainda no século XIX, quando se procuravam comprovações científicas para afirmar que determinadas características humanas tornariam um indivíduo superior à outro. E buscar interpretar a complexidade do comportamento humano com base no estudo do comportamento animal — dizem os críticos — não tem sentido. Veja-se darwinismo social.

Quanto às pesquisas neuro-bioquímicas, "existe o risco" — argumentam os críticos — "de alguns pesquisadores estarem, na verdade, procurando uma forma de curar tal comportamento, seja mapear o que gera o desejo homossexual, para depois convertê-lo em desejo heterossexual". No domínio das explicações psicológicas, há a constatação de que não é porque alguns fatos se mostraram verdadeiros para alguns indivíduos, eles o serão para todos os casos. Ou seja, com tais construções de pensamento ocorre a prática de generalização indevida e precipitada, bem adoção de procedimentos errados, inadequados e contraprocedentes.

Uma crítica em relação a estas tentativas de explicação é o foco das mesmas em explicar a homossexualidade e pouco se preocuparem em explicar a orientação sexual em geral, e a heterossexualidade em particular.

Relações entre gêneros na homossexualidade

Há tendência errônea na interpretação da homossexualidade como altamente diferente da heterossexualidade na natureza das relações que engloba. Ocorre, diz-se, alienação do conceito das relações entre dois seres do mesmo sexo por falta de familiaridade com essas relações.

Esta imagem é reforçada por representações recorrentes da sexualidade do indivíduo homossexual como secundária ou ausente; grande parte das instâncias de representação de homens homossexuais nos meios de comunicação, por exemplo, sugerem uma visão dos mesmos como, à parte, efemeninados e caricatos, e tanto se enfatizam esses traços, que o suposto fator definidor da identidade homossexual (atração por membros do mesmo sexo), é pouco reconhecido. Isso se acentua mais com as lésbicas, na mídia também mais raras.

No entanto, é comum que no caso das relações homossexuais as características habitualmente atribuídas a cada gênero prevaleçam: o homem homossexual tem, essencialmente, pela genética do seu sexo e pela educação num meio em que se encaixa no papel de homem segundo parâmetros heteronormativos, a mesma probabilidade de encaixar na visão comum da identidade masculina tradicional como o heterossexual, como o tem a mulher de encaixar na da feminina, tanto em termos não só de modo de estar, personalidade e interesses, como na sua forma de desenvolver relações. Estas relações têm, precisamente, uma dinâmica similar à das heterossexuais, em termos emocionais, sexuais e pessoais, exceto pelas diferenciações inerentes ao sexo dos indivíduos envolvidos, como o sugere o relato de indivíduos envolvidos nas mesmas e estudos observatórios recentes.

Ainda assim, há pelo menos uma distinção recorrente a notar, entre, mais uma vez, o hétero e o homossexual, de natureza funcional e expressa a nível doméstico, no contexto de uma relação homossexual. Tal como no caso de heterossexuais em ocorrências socialmente transitórias — pessoa solteira vivendo sozinha, serviço militar, estudante fora de casa etc. — as pessoas homossexuais vêem-se na necessidade de adaptar a atribuição de tarefas no dia-a-dia. Efetivamente, a falta de vivência na habitação com indivíduos do gênero oposto implica que várias tarefas socialmente vistas como exclusivas do outro terão agora de ser realizadas pela própria pessoa. No contexto de uma relação do mesmo sexo, essa experiência e transformação da atribuição de funções levam a um meio em que fatores como a personalidade e conveniência possam sobrepor-se, até certo ponto, a convenções de gênero, outra vez, pela pura ausência do gênero oposto.

Visão social da homossexualidade

Pela reduzida presença de indivíduos abertamente homossexuais tanto na mídia como em campos de ficção proeminentes (como a televisão) a visão popular da homossexualidade resume-se, freqüêntemente, a determinados parâmetros, resultantes essencialmente:

  • Da observação limitada de alguns casos em particular - especialmente a de indivíduos mais efemeninados, por estes serem os que, publicamente, mais facilmente se assume serem gays e
  • Da interpretação da natureza, para muitos algo alienígena, de alguém que, ao contrário das regras de género aceites, forma relações sexuais e amorosas com pessoas do mesmo sexo — o estabelecimento de determinadas noções quanto a esta condição de acordo com o que se conhece das relações entre homens e mulheres.

Há, portanto, uma consciência reduzida porém crescente do que envolve ser homossexual e viver como tal. Grupos GLBT ("Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros") observam que isso leva à formação de estereotipos prejudiciais, e como tal, uma das suas preocupações é a luta contra estas mesmas representações e correspondentes visões da homossexualidade. Os integrantes dos GLAAD ("Gay and Lesbian Alliance Against Defamation"), em particular, entregam há muito os GLAAD Media Awards, que pretendem aplaudir representações de indíviduos gays ou bissexuais que consideram admiráveis pela boa imagem que passam dos homossexuais.

Embora decorra, ainda, tanto entre teoristas como entre cientistas a discussão quanto a qual a verdadeira origem da homossexualidade, todos os pontos em cima são descreditados. Uma das teorias mais abrangentes e, coincidentemente ou não, mais aceitas, é precisamente que a orientação sexual é determinada tanto por fatores biológicos e psicológicos decorrentes ao longo do desenvolvimento da identidade do indivíduo (Veja também Frequência e Causas da Homossexualidade neste artigo).

Assim, a atribuição da homossexualidade a trauma pode ser objetável (muitos homossexuais não têm sequer na sua experiência um desses "traumas de infância"), como o é a noção de que a sua aceitação e consciencialização, a presença de figuras educadoras homossexuais, ou a mera interação com indivíduos gays gera-o. Embora haja pessoas que o apóiam (principalmente populares, não-científicas), a observação das experiências sexuais e a relação entre gêneros leva maioria da comunidade científica a considerar tais teorias desprovidas de validade, sendo a crença de que a orientação sexual é escolhida ou alterável descreditada. Também consideram a associação da homossexualidade a uma qualquer incapacidade de relacionamento como sexo oposto, visto que de forma geral, o indivíduo homossexual tem potencialmente um comportamento e experiência sociais iguais às do heterossexual.

Esteriótipos

Segundo tais esteriótipos, afirma-se, que, a priori:

  • Os homossexuais seriam mais promíscuos;
  • A homossexualidade estaria aliada à pedofilia;
  • Os homossexuais não discernem na sua atracção pelo mesmo sexo;
  • Nas relações homossexuais, tal como nas heterossexuais, é universal e inevitável a presença de um indivíduo de papel "feminino" (passivo) e de um papel "masculino" (activo).

Não há razões concretas e cientificamente válidas para acreditar que os homossexuais têm maior tendência para a promiscuidade que os heterossexuais. Uma imagem que resultaria possivelmente de bares gays serem o local mais frequentemente associado aos ditos e se interpretar que estes serão locais de procura de parceiros, e pela classificação anterior da homossexualidade como uma desordem de natureza exclusivamente sexual. Em parte dessa mesma interpretação da homossexualidade como desordem decorre a noção de que não são discernentes na sua procura de parceiros - subtil mas frequentemente observada na ocasião de pessoas heterossexuais que imediatamente reagem como temendo desmedidamente a possibilidade da atracção de um homossexual pelos próprios.

Mais uma vez ligada à interpretação da homossexualidade como disfunção está a sua associação à pedofilia, suportada pela tendência de os casos de pedofilia publicitados (e.g, em Portugal, o caso "Casa Pia") observarem-se com maior frequência entre homens adultos e crianças ou adolescentes do mesmo sexo. Cientificamente, assevera-se que não há maior predisposição para o abuso sexual infantil conforme determinada sexualidade, sendo a pedofilia resultante de condição psíquica e não ligada à orientação sexual.

Finalmente, a ocorrência da atribuição de um papel masculino e feminino a cada um envolvido numa relação homossexual é, essencialmente, falsa, sendo os traços associados a cada um, tanto em termos gerais como na actividade sexual, partilhados. Há, no entanto, e contribuindo para este conceito generalizado, a ocorrência de indivíduos homossexuais que, na sua afirmação da sua sexualidade, ou pela sua própria personalidade, assumem comportamentos e, por exemplo, aparência exterior (principalmente, roupas) tipicamente atribuídos ao sexo oposto, mas esta ocorrência é relativamente reduzida e altamente específica, embora seja, obviamente, altamente visível. Ao contrário do que muitos pensam (incluindo próprios homossexuais) esse comportamento não está directamente relacionado com a forma como estas pessoas fazem sexo (por exemplo um homem homossexual com aparência "feminina" não é necessariamente o que faz de "passivo" tal como uma mulher com aparência "masculina" não é necessariamente a pessoa que "controla" a situação).

Comportamento homossexual em animais

O comportamento homossexual (não homossexualidade), é observado em algumas espécies animais. Em espécies cujos casais são estáveis, a prática homossexual muitas vezes persiste durante toda a vida. Noutras, esse comportamento pode ser abandonado frente à possibilidade efetiva de reprodução da espécie, levando-os à prática heterossexual. Estão documentados comportamentos homossexuais e bissexuais em centenas de espécies animais, quer em cativeiro, quer na natureza. Neste momento, não existem estudos científicos conclusivos sobre a causa ou a origem das diferentes práticas sexuais nos animais. Caso notável são pinguins em cativeiro.

Algumas investigadores interpretam o comportamento homossexual em animais (e em seres humanos também) como mecanismo de seleção evolutiva para conter o aumento excessivo de populações, além de manter em atividade indivíduos em idade reprodutiva quando não há disponibilidade de parceiros sexuais imediatos. Nos animais, o comportamento homossexual é encarado como o resultado de ambientes nos quais eles são sujeitos a elevados graus de poluição ou estresse. Outros consideram o comportamento homossexual entre animais apenas variante da sexualidade majoritária sempre presente, mesmo quando não existem condicionantes externas.

Independentemente dessas considerações, o complexo comportamento humano não deve ser interpretado apenas segundo o comportamento de outras espécies. Tampouco comportamento humano deve aplicar-se, tantas vezes arbitraria ou até convenientemente, aos animais.

Ver também

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Ligações externas

Commons
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História e cultura

Associações e grupos que lutam pelos direitos dos homossexuais

Outros
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