Internacional Situacionista
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A Internacional Situacionista (IS) foi um movimento internacional de cunho político e artístico. O movimento IS foi ativo no final da década de 60 e aspirava por grandes transformações políticas e sociais. A IS foi desfeita após o ano de 1968.
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[editar] História
O movimento surgiu na vila italiana Cosio d'Arroscia em 28 de julho de 1957 com a fusão de várias tendências artísticas, que se auto definiam a vanguarda da época: Internationale lettriste, o International movement for an imaginist Bauhaus e a London Psychogeographical Association. Esta fusão incluiu influências adicionais do movimento COBRA, dadaísmo, surrealismo, e Fluxus, e foi inspirado pelo Conselho operário e pela Revolução Húngara de 1956.
Os mais famosos membros do grupo eram Raul Vaneigem e o francês Guy Debord, que tendia a polarizar as opiniões. Apesar de Vaneigem ter saído da Internacional Situacionista, expulso por Debord, suas contribuições vão além das artes e do urbanismo, em seu livro "A Arte de Viver para as Novas Gerações" publicado em 1967, todos os pilares desta sociedade foi questionado. A inversão da perpectiva foi sistematicamente exposta como o momento em que a subversão constrói um novo mundo. Já o Debord, alguns o descreviam como aquele que deu a clareza intelectual ao movimento; outros diziam que ele exercia controle ditatorial sobre a escolha dos membros e desenvolvimento do grupo, enquanto outros acreditavam que ele era um bom escritor, mas um pensador secundário. Mas sem dúvida foi um grande ativista político. Tanto seus filmes quanto o seu livro "A Sociedade do Espetáculo" (1967) tiveram grande repercussão no cenário político francês e europeu. Dentre os membros da IS temos: o escritor ítalo-escocês Alexander Trocchi, o artista inglês Ralph Rumney (único membro da London Psychogeographical Association, foi expulso logo após a formação da IS), o artista escandinavo Asger Jorn, o veterano da revolução húngara Attila Kotanyi e o escritor francês Michele Bernstein.
De uma forma ou de outra, as correntes que precederam a IS viam no seu propósito a redefinição radical do papel da arte no século 20. Os próprios "situacionistas" tinham um ponto de vista dialético, assumindo a tarefa de "superar" a arte, abolindo a noção de arte como uma atividade especializada e separada e transformando-a naquilo que seria parte da construção da vida cotidiana. Do ponto de vista situacionista, a arte ou é revolucionária ou não é nada. Desta forma, os situacionistas se viam como os responsáveis por completar o trabalho dos dadaístas e surrealistas, enquando aboliam os dois movimentos. A despeito disso, os situacionistas respondiam a pergunta "O que é revolucionário?" de maneiras diferentes em momentos diferentes.
Mas se no início a idéia era criticar a arte, já nos primeiro números da revista, a compreensão era que a superação da arte só viria pela transformação initerrupta do meio urbano. Não era construir cidades ideais, como por muito tempo pensou Jorn, mas fazer do urbanismo e da arquitetura ferramentas de uma revolução do cotidiano. Essas idéias surgiram quando do esgotamento das discussões da Internacional Letrista (grupo em que Debord participou antes de IS). Destas pesquisas sobre arte e urbanismo, resultaram a psicogeografia e seu procedimento de pesquisa, a deriva.
A IS sofreu divisões e expulsões desde o seu início. Uma destas divisões resultou na criação de dois grupos, a seção parisiense que manteve o nome original e a seção alemã conhecida como Segunda Internacional Situacionista que se organizou sob o nome de Gruppe SPUR. Enquanto a história da IS foi marcada por um ímpeto de revolucionar a vida, a separação entre franceses e alemães marcou a transição de uma visão "artística" da revolução para uma visão claramente política.
Aqueles que seguiram a visão "artística" viram na evolução da IS o surgimento de uma organização enfadonha e dogmática. Por outro lado, aqueles que seguiram a visão política viram os acontecimentos de maio de 1968 como uma consequência lógica da abordagem dialética da IS: enquanto enfrentavam a sociedade atual, eles buscavam uma sociedade revolucionária que poderia incorporar as tendências positivas do desenvolvimento capitalista. A "realização e supressão da arte" é simplesmente a mais desenvolvida das "superações" que a IS buscou por anos. Para a Internacional Situacionista de 1968, o triunfo mundial dos conselhos de trabalhadores levaria a todas as superações.
[editar] Maio de 1968
Ver artigo principal: Maio de 1968
Um importante evento que conduziu ao Maio de 1968 foi o chamado "Escândalo de Estrasburgo". Um grupo de estudantes utilizou fundos públicos para publicar um panfleto com um líbelo da SI, "Da miséria do meio estudantil". O panfleto circulou em milhares de cópias e fez os situacionistas conhecidos por toda esquerda não stalinista. As ocupações de 1968 começam na Universidade de Paris em Nanterre e chegam até a Sorbonne. A polícia tentou desocupar a Sorbonne e acabou iniciando um distúrbio. Em seguida uma greve geral foi declarada com a participação de até 10 milhões de trabalhadores. A SI originalmente participou das ocupações da Sorbonne e defendeu as barricadas nos distúrbios. A SI distribui chamados para ocupação de fábricas e para a formação de conselhos de trabalhadores mas, desapontada com os estudantes, deixou a universidade para criar o C.M.D.O., um "Conselho para Manutenção da Ocupação" que distribuiu as demandas da SI numa escala muito maior. O governo e as uniões sindicais chegaram a um acordo mas nenhum trabalhador voltava ao trabalho. A greve terminou somente quando o presidente Charles de Gaulle colocou as forças armadas nas ruas de Paris. Logo após a polícia retomou a universidade Sorbonne e o C.M.D.O. foi dissolvido.
[editar] Idéias da Internacional Situacionista
Dentre as idéias centrais da teoria da IS temos:
- Situgrafia e Situgrafologia: Tirada da praxis da hipergrafia dos letristas e também de desenvolvimentos mais antigos na matemática e topologia da obra Analysis situs de Henri Poincare. O principal teórico da SI, Asger Jorn, formulou teorias para uma geometria e topologia plástica, anti-euclidiana, que eram o coração das críticas dos situacionistas sobre o urbanismo e outras manifestações culturais e políticas do capitalismo contemporâneo.
- A Situação: uma noção que circulou em meios filosóficos, científicos e artísticos por algum tempo. Asger Jon foi muito influenciado por Niels Bohr, e pode-se ver no conceito da "situação" uma conexão com a noção da localidade da Física Quântica.
- A sociedade do espetáculo: "Nós vivemos em uma sociedade do espetáculo, isto é, toda a nossa vida é envolta por uma imensa acumulação de espetáculos. As coisas que eram vivenciadas diretamente agora são vivenciadas através de um intermediário. A partir do momento que uma experiência é tirada do mundo real ela se torna um produto comercial. Como um produto comercial o "espetacular" é desenvolvido em detrimento do real. Ele se torna um substituto da experiência." - Tradução de trecho do livro 'Spectacular Times' de Larry Law.
- "O espetáculo não é uma coleção de imagens, mas uma relação social entre pessoas, intermediada por imagens... O espetáculo em geral, como uma concreta inversão da vida, é um movimento autônomo do não vivente... O mentiroso mentiu pra si mesmo" - Guy Debord
- Os situacionistas argumentariam contra qualquer separação entre um espetáculo "falso" e a "verdadeira" vida cotidiana. Debord contrastando Hegel diz que dentro do espetáculo, "o verdadeiro é um momento do falso". O espetáculo não é uma conspiração. Os Situacionistas diriam que a sociedade chega ao nível do espetáculo quando praticamente todos os aspectos da cultura e experiência são intermediados por uma relação social capitalista. O conceito da vida moderna excluída da realidade compartilha alguns pontos com as idéias da hiperrealidade de Jean Baudrillard, que examina a sociedade que troca a experiência real pelo espetáculo.
[editar] Ligações externas
- A sociedade do espetáculo, de Guy Debord.
- Comentários sobre a sociedade do espetáculo, de Guy Debord
- Do terrorismo e do Estado, de Gianfranco Sanguinetti
- A alegria da revolução, de Ken Knabb
- Um guia prático para o desvio, de Guy Debord e Gil Wolman