Matriz de Caeté
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O templo está situado numa praça apertada um pouco abaixo dos restos do antigo pelourinho. Esta é uma igreja muita especial porque praticamente inaugurou a última fase do estilo mineiro de fazer igrejas. Sua fachada é imponente, preconizando em alguns anos o estilo Aleijadinho. O então jovem mestre de Vila Rica, trabalhou nesta igreja como aprendiz e teve grande parcela de responsabilidade sobre os altares laterais. A fachada certamente o influenciou e serviu de fonte para sua arquitetura nos anos seguintes. O estilo do templo segundo alguns autores, teria marcado o fim do chamado estilo jesuítico que influenciou os construtores mineiros de igrejas da primeira metade do século XVIII. Certamente inaugurou a fase das igrejas de fachada estruturada em cantaria com torres, frontão e portadas mais trabalhadas. A maioria dos autores acredita que o autor do projeto tenha sido arquiteto Antônio Gonçalves da Silva Bracarena. Há quem acredite que ele tenha sido apenas o construtor sendo o projeto do pai do Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa. Esta polêmica é interessante pois o pai do genial mulato também é tido como o autor do risco da fachada da igreja de Santa Efigênia de Ouro Preto, igualmente considerada como representativa da passagem do barroco para o rococó. Se ele foi o autor dos dois projetos então seguramente deve ser reconhecido como um dos principais responsáveis por essa passagem. Em caso contrário terá sido muito mais um bom aprendiz de Bracarena. Em 1790 o vereador da Câmara de Mariana, Joaquim José da Silva, escreveu um pequeno ensaio sobre o Aleijadinho e em uma de suas passagens registrou que Bracarena foi apenas o executor, atribuindo a Manuel Francisco Lisboa a autoria do projeto. Em sendo assim, o pai do Aleijadinho teria evoluindo muito rapidamente , saltado em poucos anos, da Matriz de Antônio Dias, pesadamente barroca, para a igreja Santa Efigênia, levemente rococó. Infelizmente as datas não nos podem ajudar muito aqui pois embora o início da construção da igreja do Alto da Cruz de Ouro Preto seja anterior a matriz de Caeté, sabe-se que houve obras na fachada da primeira, pelo menos até 1780. Admitida esta rápida evolução fica mais nítido o quanto, Manuel Francisco Lisboa teria contribuído para que seu filho fizesse explodir o melhor do rococó na fachada das igrejas mineiras e esta é sua maior obra.
A matriz de Caeté como bem notou o sábio francês Auguste de Saint-Hilaire, é um templo de dimensões avantajadas com sólida e imponente fachada. A portada é de ombreiras largas, trabalhadas e encimadas por um alto medalhão que alcança até um dos janelões, mais acima. São três janelões ao todo, com molduras de pedras e cimalhinhas retas se encontrando no alto num toque meio romano. O corpo principal da fachada é delineado por pilastras duplas de cantaria, marcando a base das torres. Os cunhais também são de pedra. A cimalha que separa a base da fachada do frontão e torres é bem delineada e robusta mas não é de pedra. As torres são quadradas com pirâmides achatadas no topo e cantos arredondados, solução muita utilizada por Antônio Francisco Lisboa nos anos seguintes. O alto das torres é fechado por pináculos orientais. Há umas espécies de pinhas em cada um dos quatro cantos das torres ao nível da base das pirâmides. O frontão é alto, em curvas suaves e molduras de cantaria. Nas laterais há arremates de pedra em forma de pequenas colunas com bases alargadas. A cruz é simples e um tanto em desacordo com a robustez do frontão. Um pouco abaixo do centro do mesmo, abre-se um óculo ovalado guarnecido de vidraças.
Por se situar numa fase fronteiriça de mudança de estilos, o interior guarda muito da exuberância da primeira fase, acrescida tanto de estilos mais remotos quando de soluções inovadoras. Isso foi possível pela grande fartura e dimensão dos altares nas laterais do templo o que disponibilizou muito espaço para a criatividade dos artistas que ali trabalharam. Sabemos que trabalhou nos altares da matriz o famoso entalhador José Coelho Noronha que tinha uma escola em Caeté onde ensinava o ofício de entalhe e que foi freqüentada pelo Aleijadinho. Fato é que esta igreja teve papel relevante no fértil aprendizado de Antônio Francisco Lisboa e exerceu influência sobre sua obra nos anos seguintes. Também seu pai com uma ajuda de Bracarena, pode ter tirado desta igreja um melhor aprendizado sobre o uso de cantaria, tão característica da última metade do setecentos, tanto na arquitetura religiosa quanto civil, especialmente na região de Ouro Preto e Mariana.
Possui nada menos do que oitos altares distribuídos no amplo recinto da nave. Poucas igrejas contam com tal fartura. Os do transepto são de espaldar alto, sanefas e um discreto baldaquino franjado numa solução muito usada pelo Aleijadinho. As colunas internas são torsas e as externas são em quartelas. Os demais altares alternam soluções diversas como falsos dosséis, arcos frisados com medalhões no coroamento, colunas torsas e em quartelas e pequenos nichos encimados por baldaquinos e ainda as tradicionais sanefas rococó sobre as quais se abrem grandes janelões. São de talha relativamente discreta, revestida de pintura clara e frisos dourados que emoldurados pelo branco das paredes, forma um leve e harmonioso conjunto, característica própria da última fase do barroco mineiro. Esses altares são tidos como os primeiros marcadamente rococós de Minas e como dissemos, há autores que acreditam que o aprendiz Aleijadinho tenha muito mais responsabilidade por isso do que o próprio mestre José Coelho de Noronha. Aqui nasceram os anjinhos marcantes do mestre mulato de Vila Rica e é possível que algumas imagens sejam de sua autoria, especialmente a imagem de Santa Luzia que se encontra no altar de São Francisco de Paula. Os anjinhos topetudos do dossel do altar de Santo Antônio são inequivocamente atribuídos a ele.
O teto da nave é tipo abóbada de berço com pinturas relativamente discretas em perspectiva arquitetônica no contorno e singelos adornos rococó. No centro, em lugar de uma cena de visão há apenas um adorno com relevos dourados valorizando a base de sustentação do lustre.
O arco cruzeiro é em pedra com discreta pintura marmorizada. O altar-mor não chega a ser em dossel e salienta a figura de Deus Pai e o Espírito Santo em resplendor, no alto. As colunas são torsas com adornos fitomorfos contornado-as. No alto do trono não há imagem mas sim, mais uma vez, o Espírito Santo em resplendor. O orago, N.Senhora do Bom Sucesso está num plano inferior subjugada à pomba sagrada. Nas laterais estão nichos com belos e originais baldaquinos. No alto das colunas internas, anjos policromados valorizam o contorno do retábulo. Duas portas com vergas trabalhadas, ligam a capela mor à corredores laterais que contornam o recinto e levam à sacristia e demais aposentos, devidamente fechados guardando seus segredos de curiosos como eu. O teto da capela mor é abaulado e imaculado, na forma de um mata borrão. Nas paredes laterais se abrem grandes óculos irregulares com fortes molduras de pedra. O coro é reto com balaústres em delgada madeira torneada. É sustentado por pilastras em três arcos. O reverso da sacada está adornado com molduras de pedra e há ainda um prolongamento da pintura do teto sobre a parede do fundo do coro representando um avantajado adorno rococó.
Destaque final para a grande pia batismal em madeira no batistério, do lado esquerdo da entrada do vestíbulo, onde os bons católicos de Caeté têm sido ungidos ao longo dos séculos.
