Sol da meia-noite
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- Nota: Para outros significados de Sol da meia noite, ver Sol da meia noite (desambiguação).
Sol da meia-noite é a designação comum para o fenómeno que ocorre nas latitudes acima de 66,6º N ou S, ou seja para além do círculo polar ártico ou do círculo polar antártico, quando o Sol não se põe durante pelo menos 24 horas seguidas. Em latitudes superiores a 80 graus, o Sol não se põe por mais de setenta dias sem o verão, ou seja, não há noites durante mais de dois meses.
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[editar] Causas astronómicas e atmosféricas
O eixo de rotação da Terra tem uma inclinação média de 23º 26’27" ou seja 23º e 4/10 em relação ao plano da sua órbita em torno do Sol corresponde a distancia do circulo artico ao polo, a denominada eclítica , isto é o círculo máximo que resulta da intersecção do plano da órbita aparente solar com a esfera celeste. Dado que a Terra, resultante da sua rotação devido ao efeito giroscópio mantém o seu eixo (se descontarmos as oscilações de longo período do próprio eixo de rotação) no correr de um ano a mesma posição inclinada 23,4º em relação as estrelas de fundo o que faz com que a projeção dos raios do sol deslocar-se anualmente para norte e sul do equador, dando origem às estações do ano.
No processo atrás descrito, quando a posição aparente do Sol é tal que o somatório da sua declinação (δ), isto é o arco do meridiano do astro compreendido entre o equador e o centro do disco solar, com a latitude do lugar é igual ou superior a 90º, o Sol nunca desce abaixo do horizonte do lugar, descrevendo uma trajetória no céu que tem o seu ponto mais elevado sobre o meridiano do lugar e o mais baixo do lado oposto (isto é na posição em que faz um ângulo de 180º com esse meridiano). Ora como a declinação máxima do sol corresponde à sua posição sobre cada um dos trópicos (a 23º 27’ N ou S, consoante seja o Trópico de Câncer ou o Trópico de Capricórnio, respectivamente), tal significa que:
- Nos dias equinociais, isto é, quando a declinação do Sol é 0º (δ = 0º), o dia e a noite são iguais em todo o planeta, já que a soma da declinação com a latitude apenas atinge 90º sobre o ponto exacto do pólo.
- Quando o Sol inicia a sua subida em direcção ao Trópico respectivo (Câncer ou Capricórnio consoante estejamos a referir o Verão do hemisfério norte ou do hemisfério sul), isto é, se aproxima do solistício respectivo, vai crescendo a partir do pólo em direção ao equador a calote em que o sol nunca se põe, isto é onde o sol da meia-noite é visível: essa calote corresponde sempre à zona cuja latitude é igual ou superior a (90º - δ), sendo esta a declinação do Sol naquele dia.
- Quando o Sol atinge o trópico, isto é a declinação atinge os 23º 27’, a diferença de 90º para este ângulo (os tais 90º - δ) é de 66º 33’, ou seja a latitude correspondente ao círculo polar respectivo. Nesse dia o sol da meia-noite será visto no círculo polar, atingindo a área de visibilidade a sua máxima extensão.
Teoricamente, o pôr e o nascer do Sol ocorrem quando o bordo do disco solar atinge o horizonte astronómico, ou seja a linha de horizonte que seria vista por um observador ao nível do mar com uma vista totalmente desobstruída perante si. Na realidade o pôr e o nascer do Sol são vistos quando o centro do disco solar está cerca de 50’ (minutos de grau), abaixo do horizonte. Tal deve-se à própria dimensão angular do disco solar sobre o céu e, principalmente, à curvatura dos raios solares causada por refracção na atmosfera quando o Sol incide em ângulos baixos, como é o caso quando está próximo do horizonte. Este efeito atmosférico tem grande importância nas zonas circumpolares, pois aí o Sol permanece durante largos períodos próximo do horizonte e as condições de muito baixa temperatura atmosférica o que pode causar grandes variações (de horas) no período de visibilidade do Sol ou do crepúsculo.
Um caso extremo, embora raro, é o efeito da refração, uma anomalia ótica, devido refração dos raios luminosos no teto das camadas atmosféricas de temperaturas diferentes, que provoca uma ilusão ao espectador parecendo observar um achatamento do disco Solar ou lunar e que também permite observar outros astros que se encontram abaixo da linha do horizonte. O efeito Nova Zembla recebe esta designação por ter sido descrito pela primeira vez por Gerrit de Veer, o carpinteiro do navio da última expedição polar de Willem Barentsz, que sendo obrigado, pelo aprisionamento do navio no gelo, a passar um Inverno na Antartica o registou num diário pormenorizado que manteve. Esse diário foi posteriormente publicado, dele constando o primeiro registro conhecido do fenómeno.
Em resumo, se não tivéssemos em conta a dimensão angular do disco solar e os efeitos atmosféricos, o número de dias com o sol da meia-noite à vista variaria entre 1 dia sobre o círculo polar e os 180 dias no pólo. Na realidade, computando todos os efeitos, teremos que:
- No dia do solistício de Inverno, quando o Sol apresenta no hemisfério respectivo a sua mínima declinação, o sol nasce e põe-se no círculo polar correspondente. Tendo em conta a variação de 50’ (minutos de grau) atrás referida a latitude mais elevada onde o sol será visto é de 67° 23' (66° 33' + 50'). Neste dia, naquele hemisfério, todas as localidades situadas acima dos 67° 23’ apenas terão crepúsculo e noite polar. No hemisfério oposto teremos o sol da meia-noite em todas as latitudes superiores a 65º 43’ (66º 33’ – 50’).
- Entre o solistício de Inverno e o equinócio, o Sol irá aparecendo progressivamente em latitudes mais elevadas, reduzindo-se a zona onde o sol não é visível até atingir o pólo próximo do dia do equinócio (devido à refração, o Sol será visto do pólo alguns dias antes do equinócio). No hemisfério oposto teremos uma correspondente redução da área que vê o sol da meia-noite (continuando o mesmo visível do pólo por alguns dias após o equinócio devido à refração — o número de dias com o Sol acima do horizonte em cada pólo atinge 186 dias por ano).
- No dia equinocial, apenas os pólos e uma pequena região em seu torno verão o sol da meia-noite, e isto devido à refração. No resto do planeta o dia e a noite duram 12 horas cada.
- Entre o equinócio e o solistício de Verão, a área onde o sol da meia-noite é visível cresce das imediações do pólo até atingir o círculo polar respectivo. No hemisfério oposto é a noite e o crepúsculo polares que crescem do pólo em direção ao círculo polar.
- No dia do solistício de Verão, o sol da meia-noite será visível desde os 65º 43’ (66º 33’ – 50’) até ao pólo. No hemisfério oposto, a noite e o crepúsculo solares estendem-se desde os 67° 23' (66° 33' + 50') até às imediações do pólo.
[editar] Duração do dia e da noite polares em algumas localidades
Tendo em conta que o crepúsculo, isto é, a existência de luz refletida pelas camadas superiores da atmosfera quando o Sol se encontra abaixo do horizonte, ocorre quando a distância angular entre o Sol e o horizonte local é inferior a cerca de 12º, teremos que a verdadeira noite polar, isto é, escuridão total por mais de 24 horas seguidas, apenas ocorre em latitudes superiores a 84° 33' em cada hemisfério. Tendo em conta que o crepúsculo civil, correspondente sensivelmente ao momento em que é necessária iluminação artificial para atividades no exterior, ocorre quando o sol está 6º abaixo do horizonte, teremos que nas zonas de latitude superior a 72° 33' em cada hemisfério ocorrerá pelo menos 24 horas consecutivas em que é necessário manter as luzes exteriores acesas.
A noite civil polar, isto é, quando é necessário manter por mais de 24 horas consecutivas iluminação artificial para atividades no exterior, não ocorre em nenhum local da Europa continental ou do Alaska pois não existe qualquer parte destas regiões com latitude superior a 72° 33' N. Algumas partes do Canadá, Gronelândia, Svalbard, Novaya Zemlya e do norte da Sibéria, por estarem a norte dos 72° 33' N, têm períodos curtos de noite polar.
A noite polar astronómica, isto é, com escuridão total, não ocorrem em qualquer terra do hemisfério norte, limitando-se ao Oceano Árctico central. No hemisfério sul abrange a Antártida central. Os unicos povoados onde ocorre a noite polar náutica (isto é qundo a escuridão, apesar de não ser total, não permite ver o horizonte) são Alert e Eureka, no Canada, Nagurskoye e Bukhta Tikhaya, na Zemlya Frantsa losifa, e Ny Ålesund, no Svalbard.
Com base nas considerações anteriores, a tabela seguinte apresenta o número de dias de sol da meia-noite, crepúsculo e noite polar em diversas localidades do Canadá sitas em latitudes elevadas:
Localidade | Latitude | Dia(s) sem nascer do Sol | Dia(s) de noite polar | ||||
Início | Fim | Total | Início | Fim | Total | ||
Aklavik | 68º 13’ N | 8 Dez. | 5 Jan. | 29 | - | - | - |
Alert | 82º 30’ N | 15 Out. | 27 Fev. | 136 | Out.
30 |
13 Fev. | 107 |
Cambridge Bay | 69º 07’ N | 1 Dez. | 11 Jan. | 42 | - | - | - |
Clyde River | 70º 27’ N | Nov.
24 |
Jan.
19 |
57 | - | - | - |
Fort McPherson | 67º 26’ N | Dez. 19 | Dez. 25 | 7 | - | - | - |
Gjoa Haven | 68º 38’ N | Dez.
5 |
Jan.
8 |
35 | - | - | - |
Grise Fiord | 76º 25’ N | Nov. 2 | Fev. 9 | 100 | Nov. 20 | Jan. 22 | 64 |
Igloolik | 69º 23’ N | Nov.
30 |
Jan.
13 |
45 | - | - | - |
Inuvik | 68º 21’ N | Dez. 7 | Jan. 6 | 31 | - | - | - |
Mould Bay | 76º 14’ N | Nov.
2 |
Fev.
9 |
100 | Nov.
20 |
Jan.
22 |
64 |
Nanisivik | 73º 02’ N | Nov. 13 | Jan. 29 | 78 | Dez. 12 | Jan. 2 | 22 |
Old Crow, YT | 67º 34’ N | Dez.
16 |
Dez.
28 |
13 | - | - | - |
Paulatuk | 69º 21’ N | Nov. 30 | Jan. 14 | 46 | - | - | - |
Pelly Bay | 68º 32’ N | Dez.
5 |
Jan.
7 |
34 | - | - | - |
Polaris Mine | 75º 30’ N | Nov. 5 | Fev. 7 | 95 | Nov. 25 | Jan. 18 | 55 |
Pond Inlet | 72º 42’ N | Nov.
15 |
Jan.
28 |
75 | Dez.
17 |
Dez.
27 |
11 |
Resolute | 74º 15’ N | Nov. 9 | Fev. 3 | 87 | Dez. 2 | Jan. 11 | 41 |
Sachs Harbour | 71º 59’ N | Nov.
17 |
Jan.
25 |
70 | - | - | - |
Taloyoak | 69º 32’ N | Nov. 29 | Jan. 14 | 47 | - | - | - |
Tsiigehtchic | 67º 27’ N | Dez.
19 |
Dez.
25 |
7 | - | - | - |
Tuktoyaktuk | 69º 27’ N | Nov. 29 | Jan. 13 | 46 | - | - | - |
Fonte: Canada's Digital Collections.
[editar] O sol da meia-noite na Finlândia
Na região da Lapônia central, durante o escuro Inverno, o sol permanece abaixo da linha do horizonte durante 51 dias, o que dá origem ao fenómeno da noite polar, a que os finlandeses chamam "kaamos". Mesmo no sul do país o sol brilha no inverno (Dezembro) só umas quatro horas por dia entretanto o pôr-do-sol é lento (inclinado) e por isso nunca chega a escurecer totalmente a noite (ocorrem as chamadas noites brancas).
[editar] Ligações externas
- Explicação do fenómeno(em inglês)
- Video • Norway • Bodø/Mjelle (em NO)