João Braz de Aviz
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Biografia de Dom João Braz de Aviz Arcebispo Metropolitano de Brasília
Natural de Mafra (SC), nascido no dia 24 de abril de 1947, é um dos 8 filhos do casal João Avelino de Aviz e Juliana Hacke de Aviz, ambos falecidos. Ainda na infância, a família veio para Borrazópolis, pequeno município do Norte paranaense. Aí se criou juntamente com os irmãos.
Prestes a completar 11 anos, foi encaminhado, em 21 de abril de 1958, ao Seminário Menor São Pio X, dos padres do PIME - Pontifício Instituto das Missões Exteriores, em Assis-SP, onde estudavam na época os seminaristas menores da diocese de Londrina.
Com a criação, em março de 1964, da Diocese de Apucarana, para ela se transferiu, de vez que a Paróquia Imaculada Conceição de Borrazópolis passou à jurisdição da nova diocese.
Seus estudos de filosofia foram feitos no Seminário Maior Provincial Rainha dos Apóstolos, em Curitiba. Transferiu-se, a seguir, para Roma, onde obteve, na Pontifícia Universidade Gregoriana, a licenciatura em Teologia. Ordenou-se presbítero na Catedral de Apucarana, no dia 26 de novembro de 1972.
Entre os encargos pastorais exercidos contam-se: pároco de várias paróquias; diretor espiritual e reitor do Seminário Maior-Instituto de Filosofia de Apucarana; diretor espiritual no Seminário do Ipiranga-SP, e reitor e professor de Teologia Dogmática no Instituto Paulo VI, de Londrina-PR. De 1989 a 1992 esteve novamente em Roma, estudando na Pontifícia Universidade Lateranense para o doutorado que obteve em Teologia Dogmática.
Eleito bispo auxiliar de Vitória, recebeu, dia 31 de maio de 1994, em Apucarana, a ordenação episcopal. Todos sejam um (Jo 17, 21) é o lema de sua missão de bispo. Empossado a 9 de junho do mesmo ano, permaneceu na capital do Espírito Santo por 4 anos.
Recebeu a nomeação em 12 de agosto de 1998, de bispo diocesano de Ponta Grossa, sede que assumiu no dia 15 de outubro daquele ano. Aos 17 de julho de 2002, surpreendeu-o a comunicação de sua transferência para Maringá, onde tomou posse como 3º arcebispo de Maringá, no dia 4 de outubro de 2002.
Aos 17 de julho de 2002, surpreendeu-o a comunicação de sua transferência para Maringá, onde tomou posse como 3º Arcebispo de Maringá, no dia 4 de outubro de 2002 permanecendo no governo da mesma durante 14 meses.
No dia 28 de janeiro de 2004 foi nomeado pelo Santo Padre o Papa João Paulo II para Arcebispo Metropolitano de Brasília onde tomou posse dia 27 de março do mesmo ano.
Confira a Homilia da Posse de Dom João
Homilia de posse
Missa do início da missão episcopal de Dom João Braz de Aviz como Arcebispo Metropolitano de Brasília – Distrito Federal (Catedral - 27 de março de 2004 – 10,00h.)
H o m i l i a
“Nós vos suplicamos, ó Deus: dai ao vosso povo, sob o olhar de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, irmanar-se nas tarefas de cada dia para a construção do vosso reino” (da Missa de N.Sra.da Conceição Aparecida)
Queridas irmãs e irmãos,
Com esta súplica confiante à Padroeira do Brasil e de Brasília, iniciamos hoje mais uma etapa da vida desta Igreja, certos de sua intercessão materna e, desejosos de imitá-la como modelo de todos os fiéis no seguimento de seu Filho Jesus.
A Igreja, de modo sábio, aproxima a figura da rainha Ester da pessoa de Maria. A súplica de Ester diante do rei é cheia de angústia: “Concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu desejo!”. O rei Assuero tinha tomado a decisão de exterminar o povo judeu no exílio em seu país, pois acreditara nas maquinações de seu alto funcionário Amã. Tomada de angústia mortal por estar só, sem nenhum defensor, Ester deposita toda sua confiança no Deus de seus pais que salvou seu povo no passado e o poderá salvar agora. Sua longa e confiante oração é um dos grandes modelos de prece que a Sagrada Escritura nos oferece (cf. Est 4,17j -17z).
Ester lembra-nos Maria: diante do anjo, que anuncia sua maternidade divina, cheia de confiança no Deus de seus pais, ela exclama: “eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). “Ele realiza proezas com seu braço: dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc 1,51s).
Maria está presente no meio do povo brasileiro desde o início do século XVI. Começamos a conhecê-la e amá-la como Aparecida desde o ano de 1717. No episódio dos três pescadores do rio Paraíba Ela veio em nosso socorro para salvar a vida do seu povo. Colocou-se entre os pequenos, os aflitos, os excluídos cheios de fé e os amou. É esta a mãe que acompanha de perto a Igreja em Brasília, a quem hoje nós suplicamos confiantes para que nos ensine a entrega sem limites ao Deus que é fiel.
É Maria a mulher vestida de sol na visão maravilhosa do livro do Apocalipse. Ela “deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro” (Ap 12,5). É ela quem por primeiro se apercebe das necessidades de seu povo e vem em seu socorro como nas bodas de Caná ( cf. Jo 2,1-11). É Maria, a Mãe de Deus e a Mãe da Igreja, aquela que nos insere no mistério de Cristo, precedendo-nos no caminho de discípulos.
Com o olhar e o coração voltados hoje para Maria, para aprender dela a entrega confiante nas mãos da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, juntamente com todos vocês, inicío o ministério de sucessor dos apóstolos a serviço da Igreja santa de Deus que está em Brasília.
Vivemos o tempo fecundo da quaresma que nos conduz à celebração do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Neste tempo ouvimos com atenção o apelo amoroso do Senhor: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Este apelo nos estimula, antes de tudo, pessoalmente, e nos faz rever as bases que dão segurança à nossa vida. Mas é também um apelo que desperta nossa responsabilidade social. A conversão nos leva ao compromisso com a fraternidade. É por causa da fraternidade que, neste ano, tomamos consciência do valor da água como fonte de vida para todos.
Caminhemos com fé e cheios de gratidão em direção aos grandes acontecimentos da semana santa!
Chego hoje a Brasília como um que busca ser discípulo do Senhor e, ao mesmo tempo, é chamado a exercer a missão de sucessor dos Apóstolos. O combate interior que sempre experimento nestas horas se trava entre a gravidade da missão episcopal e a fragilidade pessoal. Esta experiência é marcante e tem me acompanhado, de modo particular, nas freqüentes transferências de Diocese: de Vitória, no Espírito Santo, para Ponta Grossa, no Paraná; de Ponta Grossa para Maringá, no Paraná; agora de Maringá para Brasília. Confio, porém, na graça da Santíssima Trindade que nunca faltou, e vivo a certeza evangélica de que as decisões do Santo Padre João Paulo II exprimem a vontade de Deus.
Venho, pois, unido ao sucessor de Pedro, João Paulo II, que, em nome de Cristo, me confiou esta missão; unido aos irmãos Bispos do mundo inteiro e, em particular, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na comunhão do colégio episcopal; unido aos irmãos Bispos do Regional Centro-Oeste e da Província Eclesiástica de Brasília. Com todos eles me esforçarei para ser um bispo servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo (cf Pastores Gregis).
Desejoso de crescer nesta experiência de colegialidade, saúdo os irmãos bispos aqui presentes, provindos de tantas Igrejas do nosso imenso Brasil, em particular, o Cardeal Arcebispo Dom José Freire Falcão, da Arquidiocese de Brasília e Bispos auxiliares, Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo de Palmas-TO e presidente do Regional Centro-Oeste, Dom Lúcio Ignácio Baumgaertner, Arcebispo de Cascavel-PR e presidente do Regional Sul 2.
Saúdo todas as autoridades dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; autoridades militares e autoridades representativas dos governos de outros países.
No dia 5 de fevereiro próximo passado, após a publicação de minha nomeação, vim a Brasília a convite de Dom José Freire Falcão que me acolheu com toda a atenção fraterna, juntamente com Dom Jésus Rocha, Bispo Auxiliar e Monsenhor Marcony Vinicius Ferreira, Pároco da Catedral. Foi este meu primeiro contacto concreto com a Arquidiocese.
Em Maringá, nestes dias de espera, de oração e de preparação para a nova missão, li alguns subsídios recebidos da Cúria Metropolitana de Brasília, com o desejo de dilatar meu amor por esta Igreja pela qual rezo desde o dia 08 de janeiro de 2004, dia em que recebi do Senhor Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri o fax que comunicava a nomeação.
Chego a Brasília depois de ter contemplado, ao menos nos documentos escritos que li, as maravilhas que o Senhor realizou nos 44 anos de vida da Arquidiocese. Sei que agora tudo será oportunamente aprofundado pelo contacto direto com a vida de nossa Igreja, de hoje em diante, se Deus quiser.
É oportuno recordar hoje, quarenta e quatro anos depois, as palavras do Papa que criou a Arquidiocese de Brasília, o Beato João XXIII. Foram palavras trazidas pelo Legado Pontifício, o Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa, para as solenidades de inauguração de Brasília no dia 21 de abril de 1960: “Aí (em Brasília) a sabedoria cristã dirija as decisões, e os costumes brilhem pela santidade e pela nobreza; aí reine a concórdia entre os cidadãos; aí a fortaleza junto à doçura, a justiça fundamento de toda a ordem verdadeira, a benevolência para com os estranhos, a alegria serena, a confiança no futuro, as obrigações da fraternidade e a paz encontrem a mais seleta morada”.
Estas são palavras do Vigário de Cristo, de um santo, do Papa do Concílio Vaticano II, que conduziu a Igreja para um novo aprofundamento, com todas as conseqüências maravilhosas cujos frutos continuamos a colher. Talvez vale a pena verificar até onde Brasília conseguiu realizá-las.
O primeiro Arcebispo, Dom José Newton de Almeida Baptista, que escolheu como seu lema episcopal “Venha o teu Reino” manifestou a certeza de que Deus não faltará a Brasília (em 21 de abril de 1961).
Olhando ele para a cidade, no primeiro aniversário da instalação da Arquidiocese afirmava: “Milagre seria se problemas não oferecesse esse aglomerado humano, formado, de maneira acelerada e com elementos heterogêneos, em função, não só de uma convivência comum, mas da vida do “cérebro das altas decisões nacionais” (a expressão é de Juscelino Kubitschek de Oliveira, do dia 12.10.1956).
Apontou ele imediatamente três problemas principais: a “desorientada migração interna, que tomou, em grande escala, o rumo da nova Capital”, provocando “algumas das calamidades, que a imprevidência, nesta matéria, acarretou”: “as “invasões”- favelas, das mais degradantes, em plena “Capital da Esperança”!; - o desemprego (com 20.000 desempregados em março de 1961 no Distrito Federal), as condições infra-humanas de milhares de moradores, em meio aos quais reina a falta de higiene, a desnutrição, a fome; e, perdoe-se-me o acrescentar, a trágica prostituição, imundo mercado, a que se recorre para... ajudar o orçamento da família...”
Os outros dois problemas se referiam à construção material da Arquidiocese, sobretudo dos edifícios destinados ao culto, e a escassez do clero.
Dom José Newton, em seus mais de 20 anos de governo da Arquidiocese, colocou as bases necessárias para a vida da Igreja em Brasília no período rico e desafiador do Concílio Vaticano II e do pós-concílio, e no período difícil do regime militar a partir de 1964.
Nestes dias tomei contacto com o “Relatório Qüinqüenal da Arquidiocese de Brasília” (anos 1995 – 1999) feito por ocasião da última Visita “ad Limina”. Conheci também o “Plano de Ação Evangelizadora (2000 – 2003)”. Li ainda o “Relatório Avaliativo das Atividades dos Movimentos, Pastorais e Serviços Eclesiais da Arquidiocese de Brasília”, trabalho realizado pelo Conselho Pastoral Arquidiocesano a pedido de Dom José Freire Falcão e apresentado em outubro de 2003.
A Arquidiocese de Brasília hoje com seus mais de 2 milhões de habitantes, 77% dos quais católicos, experimentou um forte crescimento eclesial, fruto da ação de Deus que agiu através de muitos cristãos fiéis guiados nos últimos vinte anos pelo Cardeal Arcebispo Dom José Freire Falcão, ajudado por seus bispos auxiliares, pelos padres diocesanos, pelos consagrados das várias ordens e congregações religiosas, pelos diáconos permanentes, por muitas lideranças e com a colaboração das autoridades.
Uno-me hoje ao senhor, Dom Falcão, para agradecer à Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, seu testemunho profundo de pai e pastor da Igreja em Brasília, expresso em suas palavras na Eucaristia do dia 19 de março passado, que aqui lembro para glória de Deus: “Nestes vinte anos, procurei servir em humildade o Povo de Deus da comunidade católica, no respeito aos meus irmãos na fé em Jesus Cristo e com alguns, na prece, na reflexão, na fraternidade e na estima, busquei o caminho difícil da unidade. Vinte anos de relacionamento respeitoso e marcado pela estima com as autoridades civis e militares do Distrito Federal e da nação brasileira. Autoridades do executivo, do legislativo e do judiciário. Vinte anos de convivência feliz com os habitantes da arquidiocese, na diversidade de suas posições ideológicas, políticas e religiosas, bem como, de suas situações sociais. Com alguns, a amizade que me comove e enriquece”.
Obrigado, Dom Falcão! Obrigado também por ter manifestado que o senhor continuará “servindo esta querida arquidiocese, não só no silêncio da prece como no trabalho humilde”, dentro de suas possibilidades e sempre que for solicitado. Conto com sua presença. Preciso de seus conselhos. Quero trabalhar construindo a mais profunda unidade com o senhor.
Entre os desafios da realidade de Brasília – Distrito Federal, nos quais se encontra a pessoa a ser evangelizada, a Igreja local tem consciência que, “do ponto de vista cultural, Brasília é uma síntese ainda não completamente formulada e integrada da cultura brasileira. Nela residem pessoas de todas as unidades da Federação, dos diversos países, com seu corpo diplomático e outros serviços, que para ela convergem sua sub-cultura própria, seu sotaque, seus costumes típicos. Os fluxos migratórios trouxeram para o Distrito Federal os diferentes segmentos sociais, desde as elites até as camadas mais excluídas e marginalizadas. No Distrito Federal essas culturas buscam conservar sua identidade própria, mas são sujeitas a um profundo processo de caldeamento e mestiçagem. Fazem parte também da formação cultural brasiliense os Três Poderes da República, as Forças Armadas, lideranças de associações de classe e de associações profissionais, confederações e federações de sindicatos, organizações não governamentais e organizações governamentais internacionais” (Plano de Ação Evangelizadora 2000-2003, 2ª edição (2002), p. 20).
Outro grande desafio da realidade é o mundo político. “O Distrito Federal apresenta características mais relevantes no desempenho de seu papel político. É hoje efetivamente o palco das grandes decisões nacionais. A proximidade física do “poder” proporciona aos brasilienses maiores oportunidades de participação no processo político nacional. A participação coerente dos leigos católicos na política já cresceu, mas ainda é limitada e com pouca influência nas decisões distritais e nacionais; percebe-se ainda, a incoerência de se acolher ideologias incompatíveis com os valores do Evangelho, bem como a falta de apoio àqueles que podem contribuir efetivamente no campo político” (ibidem).
Um terceiro desafio é constituído pelo pluralismo religioso. “Brasília, como capital da República, tem sido espaço aberto ao pluralismo religioso acolhendo as mais diversas correntes religiosas que nela buscam se estabelecer. Há um crescimento das Igrejas cristãs livres, bem como das seitas, além do esoterismo e da `nova era´ e algumas expressões religiosas. Os resultados são a existência de outros modelos religiosos, uma redefinição ética, conflito entre miséria e a apresentação da “prosperidade” com base na religião, instrumentalização do discurso religioso, relativismo, fanatismo, mistificação, personalismo, alienação e apostasia” (idem, pp.22s).
A missão evangelizadora da Igreja em Brasília tem hoje instrumentos preciosos para sua atuação. São instrumentos desenvolvidos ao longo de sua história de quarenta e quatro anos. Para essa missão concorrem os três Vicariatos, os 11 Setores, a Universidade Católica de Brasília, os dois Seminários para a formação do clero, o Tribunal Eclesiástico, as 116 Paróquias (45 delas dedicadas a Nossa Senhora), os 286 sacerdotes, os 36 diáconos permanentes, as 29 Congregações Religiosas masculinas, as 60 Comunidades Religiosas femininas, os três Institutos Seculares Femininos, o Mosteiro Beneditino, o Carmelo N. Sra. do Carmo, o Mosteiro das Clarissas, o Curso Superior de Teologia, as pastorais, os movimentos eclesiais e associações religiosas, os organismos e serviços.
Em seus últimos compromissos evangelizadores a Arquidiocese de Brasília focalizou com maior intensidade o grande objetivo da Igreja católica, proposto pelo Papa João Paulo II e pelos Bispos do Brasil, viver a SANTIDADE NA UNIDADE. Este objetivo já norteia o caminho conjunto da Arquidiocese. Ela quer realizá-lo priorizando cinco realidades concretas: a formação ampla e permanente, as famílias a evangelizar, os jovens, projeto de vida e vocação cristã, a unidade interna para união dos cristãos, a educação para a cidadania e o bem comum.
Buscar a santidade na unidade é uma meta necessária para a Igreja enquanto ela é, na definição de São Cipriano, retomada pelo Concílio Vaticano II, “o povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (LG 4).
Para penetrar com nossa vida no mistério trinitário da Igreja precisamos progredir decididamente na direção de uma espiritualidade de comunhão que tenha como modelo o mistério da santíssima Trindade. É a indicação que nos é dada pelo Papa João Paulo II na Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, n.43: “Fazer da Igreja a casa e a escola de comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo... Espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor”.
O Filho de Deus, que se encarnou no seio da virgem Maria, foi quem nos revelou o rosto uni-trinitário de Deus. A Igreja, desde seu início, sempre confessou e adorou este mistério. Ao longo dos séculos ela elaborou uma linguagem humana muito precisa sobre ele para poder dialogar com a cultura. Com o passar do tempo, porém, os cristãos perderam o contacto vital com a Trindade. Hoje sentimos necessidade de aprofundá-lo como um mistério que podemos e devemos viver se quisermos realizar nossa condição humana.
Não podemos compreender quem é o homem, quem é a mulher se não refizermos o caminho da Trindade. O Livro do Gênesis afirma: “Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança... E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher” (1,26s).
Fomos, pois, criados à imagem e semelhança da Santíssima Trindade. A primeira Carta de João no capítulo 4, versículos 8 e 16 nos assegura que DEUS É AMOR. Por isso podemos concluir que o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança do amor. Eles só se realizam se fizerem a experiência do amor. Amor a Deus e amor ao homem à mulher, àquele e àquela com quem nos encontramos, a quem servimos.
Para entender e realizar o amor verdadeiro, que é Deus, só temos um caminho, Jesus, Aquele que disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Jesus de Nazaré é o Filho de Deus e foi quem nos revelou o rosto de Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Por isso, só faremos a experiência de Deus se agirmos como Jesus.
A carta de Paulo aos cristãos de Filipos no capítulo 2, versículos de 5 a 8, nos ajuda a tomar o caminho certo: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz!” Este é o grande mistério para o qual nos preparamos nesta quaresma e que celebraremos na Semana Santa que se aproxima.
No século XIII, São Boaventura, referindo-se à grande lição espiritual de São Francisco, seu mestre, em sua identificação mística com Cristo crucificado, dizia: “Em Deus ninguém entra de modo correto a não ser pelo Crucificado” (Idem, Itinerarium Mentis in Deum). Compreendemos melhor essa afirmação meditando a palavra de Jesus “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
O amor que é Deus exige de nós a atitude do esvaziar-se, do humilhar-se, como fez Jesus. Sem esta dimensão essencial do amor não conseguiremos estabelecer um relacionamento autêntico com os irmãos e com as irmãs. O diálogo autêntico que nos permite respeitar as diferenças autênticas, anular as diferenças que são fruto do pecado e realizar a espiritualidade de comunhão, passa pelo esvaziamento de nós mesmos por amor.
Esta é a mística que poderá dar suporte consistente a uma Igreja que busca a santidade na unidade, que quer ser expressão da unidade com o Santo Padre e com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e contribuir para que todas as pessoas sejam felizes.
Irmãs e irmãos, coloco-me hoje ao lado de vocês como irmão no caminho do seguimento de Jesus e à frente de vocês como sucessor dos apóstolos e bispo da Igreja, junto com Dom José Freire Falcão, com os bispos auxiliares, com os sacerdotes, diáconos permanentes, religiosos e religiosas, para continuar a aventura humano-divina desta amada Arquidiocese de Brasília.
Fazei, Senhor, que juntos, na força do Espírito Santo, realizemos na Igreja o pedido que fizestes ao Pai na oração sacerdotal: “Que todos sejam um... a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). Dai-nos a simplicidade das crianças e a decisão dos mártires para atuar este vosso pedido respeitando as diferenças que nos identificam, diminuindo as distâncias que nos separam e eliminando as barreiras que nos esmagam. Fazei, Senhor, que a Igreja em Brasília seja, antes de mais nada, a comunidade dos que geram vossa presença lá onde estão, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Daí-nos, ó Pai, por intercessão de nossa Mãe Aparecida, uma fidelidade igual a do Cristo crucificado e ressuscitado.
Amém.
+ João Braz de Aviz Arcebispo de Brasília