Publicidade do regime militar de 1964
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A publicidade do regime militar de 1964 influenciou mais de uma geração de brasileiros tal a penetrância das propagandas veiculadas diuturnamente em todos os meios de comunicação.
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[editar] Lemas e frases
Os lemas e as músicas de incentivo surgiam a todo instante.
Foram criadas as mais diversas frases de efeito, por exemplo:
- "Brasil: Ame-o ou deixe-o!", era usada por adultos e crianças, ostentada em objetos e nas janelas dos automóveis.
- "Brasil:AME-O", muitas empresas de transportes de valores utilizavam-na ostentada em seus veículos.
- "Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil".
[editar] Músicas
A dupla Dom e Ravel, criou sob encomenda a música "Brasil eu te amo"
- "As praias do Brasil ensolaradas,
- O chão onde o país se elevou,
- A mão de Deus abençoou,
- Mulher que nasce aqui tem muito mais amor.
- O céu do meu Brasil tem mais estrelas.
- O sol do meu país, mais esplendor.
- A mão de Deus abençoou,
- Em terras brasileiras vou plantar amor.
- Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
- Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil.
- Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
- Ninguém segura a juventude do Brasil.
- As tardes do Brasil são mais douradas.
- Mulatas brotam cheias de calor.
- A mão de Deus abençoou,
- Eu vou ficar aqui, porque existe amor.
- No carnaval, os gringos querem vê-las,
- No colossal desfile multicor.
- A mão de Deus abençoou,
- Em terras brasileiras vou plantar amor.
- Adoro meu Brasil de madrugada,
- Nas horas que estou com meu amor.
- A mão de Deus abençoou,
- A minha amada vai comigo aonde eu for.
- As noites do Brasil tem mais beleza.
- A hora chora de tristeza e dor,
- Porque a natureza sopra
- E ela vai-se embora, enquanto eu planto amor."
Anos depois, músicas como essa eram motivo de troça e recebiam novas letras, tal como a seguinte.
- A maconha no Brasil foi liberada.
- Tra-la-la-la
- Até o Presidente já fumou.
- Tra-la-la-la
- Agora vou entrar na linha,
- Vou fazer bolinha
- Pro Governador.
- Eu te amo meu Brasil,
- Eu te amo.
- Meu coração é de Jesus.
- Meu pulmão, da Souza Cruz.
- Eu te amo meu Brasil,
- Eu te amo.
- Ninguém segura
- Os maconheiros do Brasil.
Era comum a execução de hinos do regime, como este:
- "Este é um país que vai pra frente
- Rô Rô Rô Rô Rô
- De uma gente amiga e tão contente
- Rô Rô Rô Rô Rô
- Este é um país que vai pra frente
- De um povo unido, de grande valor
- É um país que canta, trabalha e se agiganta
- É o Brasil de nosso amor!"
[editar] Futebol
Ao vencer o tri-campeonato mundial de futebol na de junho 1970, no México, o Brasil assistiu a uma das maiores campanhas publicitárias de massa de sua história.
O presidente da Arena mandou baixar uma determinação aos candidatos do partido para que utilizassem como base de campanha eleitoral o êxito do futebol brasileiro Copa do Mundo, além de outras vitórias em todas as demais áreas do esporte. Foi aconselhada a associação das grandes realizações de governos anteriores às esportivas.
Em função da publicidade institucional da ditadura, surgiu então o hino "Pra Frente Brasil", usado até hoje, com pequenas variações (quando fala da população):
- "Noventa Milhões em Ação
- Pra Frente Brasil
- Do Meu Coração
- Todos juntos vamos
- Pra Frente Brasil
- Salve a Seleção
- De repente é aquela corrente pra frente
- Parece que todo Brasil deu a mão
- Todos ligados na mesma emoção
- Tudo é um só coração
- Todos juntos vamos
- Pra frente Brasil! Brasil !
- Salve a seleção!"
[editar] Interferência direta no futebol
O presidente Médici, gaúcho, exigiu a convocação de Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro. Foi co-autor da música "Pra Frente Brasil". Influenciou decisivamente na demissão de João Saldanha às vésperas da copa e criou financiamentos para compra de televisões.
Os militantes de esquerda passaram a parafrasear Marx, citando que "o futebol é o ópio do povo". A preocupação com o futebol era tanta que a comissão técnica e diretoria da CBD eram dadas a militares. Na copa do Mundo de 1974, o presidente da CBD era o Almirante Heleno Nunes, enquanto o preparador físico era o capitão Cláudio Coutinho, depois elevado a técnico na copa do mundo de 1978, que, aliás, o Brasil perdeu, deixando de disputar a final porque, dizem alguns, o governo militar da Argentina teria atuado nos bastidores, fazendo com que o Peru perdesse um jogo por 6x0.
Pelé se recusou a participar da copa de 1974 por discordar do uso político da seleção brasileira pelos militares.
[editar] Campeonato brasileiro e publicidade institucional
Foi criado o campeonato brasileiro de futebol em 1971. Novamente houve uso político, com o governo influenciando a CBD para incluir times de algumas cidades a pedido de políticos. O povo logo criou o bordão "Onde a ARENA vai mal, mais um no nacional!".
O resultado dessa política foram campeonatos com um absurdo número de participantes (chegou a 96 em 1979, edição essa em que curiosamente clubes de destaque como o Corinthians, Santos e São Paulo se recusaram a participar), regulamentos muitas vezes confusos e mal-elaborados e resultados no final nem sempre justos e meritórios.
[editar] Referências bibliográficas
- ABREU, João Batista de. As Manobras da Informação: análise da cobertura jornalística da luta armada no Brasil (1965-1979). Rio de Janeiro: Mauad, 2000.
- ARBEX JR., José. Guerra Fria: Terror de Estado, Política e Cultura. São Paulo: Moderna, 1997.
- MATOS, Heloíza H. G. Modos de Olhar o Discurso Autoritário no Brasil (1964-1974): o noticiário de primeira página na imprensa e a propaganda política na televisão. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes/USP, 1989 (tese de doutoramento).
- NEOTTI, Clarêncio (org.). Comunicação e Ideologia. São Paulo: Loyola, 1980.
- RUBIM, Antônio Albino Canelas. Marxismo, Cultura e Intelectuais No Brasil. Salvador: EDUFBA
- STEPHANOU, Alexandre Ayub. Censura no Regime Militar e Militarização das Artes. Porto Alegre: EdiPUC-RS
- VALVERDE, Monclar. Militância & Poder. Salvador: EDUFBA