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RELATO SOBRE REPRODUÇÃO DA SARDINHA VERDADEIRA Sardinella brasiliensis Steindachner 1879.
Sergio Póvoa BARRETO (Médico Veterinário, Mestre em Higiene e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal Fluminense, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
OBJETIVO O propósito deste texto é trazer ao conhecimento público, fatos observados pelo autor, que poderão modificar em muito o nosso entendimento sobre o assunto.
INTRODUÇÃO Não registros ou relatos de observação de desova de sardinhas na costa brasileira. Sobre a reprodução da sardinha ocorrente na costa brasileira, a chamada sardinha verdadeira, ou Sardinella brasiliensis chegou-se primeiramente ao consenso de que sua reprodução se daria em alto mar, simplesmente pela falta de trabalhos ou registro de observações dos seus hábitos reprodutivos. Ou seja, já que ninguém viu ou registrou nada a respeito e sendo o mar imenso, seria nesta imensidão do mar que o peixe se reproduziria. Posteriormente e até os dias atuais, tenta-se estabelecer através de avaliação do desenvolvimento das gônadas das sardinhas desembarcadas no porto de Navegantes em Santa Catarina, que a desova é feita na costa sul do Brasil, de forma parcelada (SCHWINGEL et all.). SACARDO, Suzana Anita tenta estabelecer aspectos da reprodução, também indiretamente.Entretanto, nenhuma observação direta do fato foi citada até hoje.
OS FATOS No período final de fevereiro ou início de março de 1950, praia de Tatagiba, norte-nordeste do estado do Rio de Janeiro, dia de muito calor e de sol intenso, eu e meus irmãos brincávamos nas águas rasas e calmas, bem próximo à praia. Num certo momento, minha irmã inquietou-se com o aparecimento de manchas escuras na água, pelo mar adentro. Eu e meu irmão tentamos acalmá-la, dizendo que eram sombras das nuvens. Mas quando uma destas manchas se aproximou de nós, deu para ver claramente a cor escura que tinha sido notada – era um preto-azulado intenso, e a mancha parecia viva. Corremos imediatamente para a areia, e enquanto mostrávamos aquilo aos adultos, a mancha parecia ferver, numa agitação frenética. Logo a seguir, um grupo de pescadores com redes invadiu a mancha, apenas uma pequena parte e apesar dos inúmeros peixes que escapavam pelas malhas da rede, tiveram dificuldade para tirá-la do mar, pois eram cerca de duzentos quilos de peixe. Fizeram nova tentativa de pesca, mas a mancha se desfizera. Os pescadores estavam eufóricos, conseguiram quase duzentos quilos de peixe em poucos minutos, mas não sabiam o que fazer dele: - eram sardinhas, estavam muito gordas e ficariam rançosas se fossem salgadas. Além disto, o sal disponível era pouco. O que vimos naquele momento, na verdade, foi um verdadeiro crime contra a natureza. O que para os pescadores foi apenas uma oportunidade rara de pescar um peixe diferente, para as sardinhas foi um verdadeiro desastre. Inumeráveis quantidades de ovas não foram fertilizadas e todo o ritual de reprodução foi interrompido. O cardume foi desfeito, as ovas e o semem perderam-se ao acaso. Mês de março de 1973, Praia de Setiba, próximo a Guarapari, no Espírito Santo. Águas claras e profundas, quase sem ondas. Na parte mais rasa, bem juntinho da areia, uma corrida interminável de pequenos peixes seguia numa fila indiana frenética no sentido sul. Eram sardinhas jovens com tamanho na faixa de 3 a 4 centímetros e certamente nascidas ao norte de Guarapari.
DISCUSSÃO Para eclosão dos ovos, desenvolvimento das larvas e dos alevinos das sardinhas, haverá certamente necessidade de águas ricas em nutrientes, temperatura adequada e uma certa tranqüilidade. Para os principais peixes de água doce, já há literatura a respeito. Para algumas espécies de camarões marinhos, há conhecimento de minúcias que permitem produções cada vez maiores. No entanto, sobre a reprodução das sardinhas nada a respeito foi esclarecido. A máxima de que as sardinhas verdadeiras não ultrapassam os limites do Cabo de São Thomé tem que ser revista. Ë certo que as sardinhas se reproduzem exatamente ao norte do Cabo de São Thomé, em enseadas rasas e de águas calmas, bem longe do seu lugar normal de ocorrência, o que não deve ser motivo de espanto, já que o mesmo acontece com outras espécies de peixe. Tudo o mais que se escreveu a respeito da reprodução das sardinhas brasileiras são apenas suposições, sem qualquer registro de observação direta.
CONCLUSÃO Torna-se necessário que seja feito um levantamento de informações a respeito do assunto, junto a antigos pescadores e remanescentes de tribos indígenas, principalmente em enseadas semelhantes à praia de Tatagiba, aqui citada. Apenas como sugestão, podem ser citadas algumas praias com condições semelhantes: -Enseada das Amendoeiras, próximo à Praia de Manguinhos, em São Francisco de Itabapoana, estado do Rio de Janeiro; Praia de Piúma, enseada em frente à parte mais antiga da cidade, no Espírito Santo; enseada de Irema, na chegada de Jacareípe, nas proximidades de Vitória, no Espírito Santo. Para comprovação do fato, estas e outras enseadas semelhantes deverão ser observadas entre o final de fevereiro e início de março, salientando-se que haverá um certo grau de dificuldade, motivado pelo intenso raleamento dos cardumes de reprodutores.
RESUMO: Nota sobre uma tentativa de desova de sardinha verdadeira Sardinella brasiliensis Steindachner l789, ocorrida na praia de Tatagiba em São Francisco de Itabapoana, no estado do Rio de Janeiro em 1950.
SUMMARY: Note on the attempt of spawning of brazilian sardines Sardinella brasiliensis Steindachner 1789, on the Tatagiba beach at Sao Francisco de Itabapoana, Rio de Janeiro state, 1950.
