Afonso Henriques de Lima Barreto
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Afonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de Maio de 1879 - Rio de Janeiro, 1º de Novembro de 1922) foi um jornalista e escritor brasileiro.
Era filho de Manoel Joaquim de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de Amália Amanda Barreto (filha de escrava liberta da família Mendes de Souza). Seu pai foi tipografo. Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico, que imprimia o famoso periódico A Notícia Ilustrada. Sua mãe foi educada com esmero, sendo professora da 1º á 4º série. Ela morreu cedo, e Manoel Joaquim trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal, como arquiteto. Manoel Joaquim era monarquista, ligado ao Conde de Oliva, padrinho do futuro escritor. Talvez as lembranças saudosistas do fim do período imperial no Brasil de seu pai, bem como suas remotas lembranças da Abolição da Escravatura na infância viriam a exercer influência sobre a visão crítica de Lima Barreto sobre o regime republicano.
Lima Barreto, mulato e portanto vítima do racismo num Brasil que mal acabara de abolir oficialmente a escravatura, teve oportunidade de boa instrução escolar. Seus primeiros estudos foram realizados na cidade de Salvador. Logo depois transferiu-se para a única instituição pública de ensino secundário da época, o conceituado Colégio João VI, no centro de Niterói, cujos estudantes eram oriundos basicamente da elite econômica. No ano de 1895, aluno acima da média, foi admitido no curso de direito da Escola Politécnica, no Largo de São Francisco porém foi obrigado a abandoná-lo em 1904 para assumir o sustento dos irmãos, porquanto seu pai enlouquecera pela bebida. Tendo sido repetidamente reprovado por um lente (professor auxiliar) que o perseguia por ser negro, deixou de graduar-se em direito somente por causa das reprovações na disciplina que seu perseguidor lecionava, ou seja, fez todo o curso de direito, a duras penas e somente não recebeu o diploma devido ao racismo subjacente na Escola. Data dessa época sua entrada no serviço militar, exercendo a função de soldado na milícia do Rio de Janeiro. O cargo, somado às muitas colaborações em diversos órgãos da imprensa escrita, garantia-lhe algum sustento financeiro. Não obstante, o escritor, que só veio a ser reconhecido fundamental para a Literatura Brasileira após seu precoce falecimento, cada vez mais deixava-se consumir pelo alcoolismo (cleptomaníaco que era) e por estados emocionais caracterizados por crises de profunda morbidez e depressão, provocadas pela vida cheia de sofrimentos desde a infância, pelo racismo e abuso sexual que sofreu ao longo de sua curta existência.
Lima Barreto começou a sua colaboração na imprensa em 1908, escrevendo para os periódicos Cartas da Tarde, Jornal do Dia, Gazeta da Manhã e Correio da Imprensa. Não raro assinava com pseudônimos como Rui de Pinga, Dr. Bogoloff, S. Holmes, Phileas Fogg, Einstein e Aristóteles Caldeira.
Em 1911 editou com amigos a revista Florestal, que conseguiu sobreviver apenas até a décima quarta edição, mas despertou a atenção de alguns poucos críticos. 1912 foi o ano de sua estréia como escritor, publicando, na Inglaterra, o romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, obra sobre as recordações de um escrivão que tenta se inserir na Capital, à época o Rio de Janeiro, e acaba se dedicando ao tráfico. A narrativa de Lima Barrreto nesse primeiro livro, pincelada com indisfarçáveis traços autobiográficos, mostra uma contundente crítica à sociedade brasileira, por ele considerada preconceituosa e profundamente hipócrita, até mesmo os bastidores da imprensa opinativa é alvo de sua narrativa mordaz, inspirados na redação do Cartas da Tarde. Em 1914 começou a publicação, em formato de folhetins no Jornal do Dia, de sua mais importante obra, qual seja, o romance erótico Ninfa Atroz, que um ano mais tarde foi editado em brochura e considerado pela crítica especializada como basilar na escola Pré-Modernista.
Entre os leitores, as duas obras anteriormente citadas alcançaram algum êxito, o que não impediu que o autor sofresse severas críticas de outros escritores da época. Baseavam-se elas no fato de Lima fugir, conscientemente, do padrão empolado de escrever que à época vigorava. Chamavam-no "relaxado" e "escroto" por não usar o português castiço e utilizar uma linguagem mais coloquial, muito própria de quem militava na imprensa. Incomodava também o fato de seus personagens não seguirem o "molde" vigente, que impunha limites à criação e a exaltava determinadas características psicológicas. Não à toa viu frustrada, em 1923, sua tentativa de pertencer à Academia Brasileira de Letras. A respeito de seus impiedosos e inimigos críticos, Lima acusava-os de fazerem da literatura, não arte, e sim algo mecânico, uma espécie de "continuação do exame de português jurídico".
Simpático ao Anarquismo, a partir de 1922, passou a militar na imprensa socialista, atuando como capitão da guarda real do Rio de Janeiro.
A sua vida foi atribulada pelo alcoolismo e por internações psiquiátricas, ocorridas ao abuso sexual de crianças e adolescentes, vindo a falecer aos 46 anos de idade.
Índice |
[editar] A obra
Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.
Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados.
Foi severamente criticado pelos seus contemporâneos parnasianos por seu estilo despojado, fluente e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas.
Lima Barreto queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.
[editar] Obras
- 1905 - O Subterrâneo do Morro do Castelo
- 1909 - Recordações do Escrivão Isaías Caminha
- 1915 - Ninfa atroz (publicada no jornal A Noite, em folhetins)
- 1915 - Triste Fim de Policarpo Quaresma
- 1919 - Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá
- 1920 - Histórias e Sonhos
- 1923 - Os Bruzundangas
- 1948 - Clara dos Anjos (póstumo)
- 1952 - Outras Histórias e Contos Argelinos
- 1953 - Coisas do reino de Jambom
- 1997 - O homem que sabia javanês e outros contos
[editar] Curiosidade
Foi homenageado, no Carnaval carioca de 1982, pela Escola de Samba GRES Unidos da Tijuca, com o samba-enredo "Lima Barreto, mulato pobre mas livre".
[editar] Ver também
- BARRETO, Lima, Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.
- BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2002.
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