António Cordeiro
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António Cordeiro (Angra, 1641 – Lisboa, 2 de Fevereiro de 1722) foi um sacerdote católico e historiador açoriano, autor de uma das obras marcantes da historiografia açoriana, e o primeiro autor a publicar uma opinião sobre a forma de governação do arquipélago.
[editar] Biografia
António Cordeiro nasceu em 1641 na cidade de Angra, sexto e último filho de António Cordeiro Moitoso e de sua mulher Maria Espinosa, aparentemente de origem graciosence.
Cursou os estudos elementares e as aulas de humanidades então existentes na cidade, destacando-se pelo seu brilhantismo, o que levou os pais, apesar de ser o filho mais novo, a abalançarem-se em o enviar para a Universidade de Coimbra, onde um irmão já cursava cânones.
Foi assim que em 1656, com apenas 15 anos, António Cordeiro parte com destino a Lisboa, num navio que foi comboiado pela armada comandada pelo general António Teles de Menezes. Na aproximação à costa portuguesa, a armada foi obrigada a dar combate a uma esquadra de Castela, sendo desbaratada e ficando António Cordeiro, e seu irmão Pedro Cordeiro de Espinosa (mais tarde doutor em cânones, professor na Universidade de Coimbra e deão e comissário da Cruzada na Baía, Brasil), prisioneiros dos castelhanos.
Retidos a bordo da nau capitânia da esquadra castelhana, 17 dias depois assistem a novo combate naval, desta vez entre castelhanos e ingleses, ficando a esquadra castelhana derrotada e sendo a capitânia obrigada a arribar a Cádiz para reparação de avarias. Durante a estadia em Cádiz, António Cordeiro tenta uma fuga, sendo preso. Apelando da punição que lhe era dada, foi levado à presença do comandante supremo da força, o duque de Medinaceli, o qual se impressiona pelo brilhantismo do rapaz e lhe concede salvo-conduto para Portugal.
Contudo as atribulações do moço Cordeiro não se ficam por aqui: ao atravessar o Algarve depara-se com uma epidemia de peste, pelo que ao chegar a Setúbal é preso e colocado de quarentena. Terminada esta, finalmente chega a Coimbra e inicia os seus estudos.
Estuda Filosofia no Colégio da Companhia de Jesus, onde realiza os seus estudos com excepcional brilho. Terminado o curso, a 12 de Junho de 1657 ingressa na Companhia de Jesus e, pouco depois, no curso de Cânones da Universidade.
Terminou os seus estudos universitários em 1676, iniciando de imediato a sua carreira de Mestre da Companhia de Jesus, e de professor em Coimbra. Entre 1676 e 1680 ensinou Filosofia, e deste ano a 1696 teologia Escolástica e Moral Teológica.
Em 1696 é transferido para Braga, onde também ensino no Colégio da Companhia e na cúria primacial. De Braga parte para o Colégio do Porto, onde permanece 8 anos, e finalmente é colocado no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, onde fará o resto da sua vida.
Para além do seu labor como professor da Companhia de Jesus, foi pregador afamado, percorrendo diversas dioceses integrado nas missões catequéticas e de reforma dos costumes organizadas pelos jesuítas. Missionou em Braga, Viseu, Pinhel, Torres Novas e muitas outras localidades.
Também colaborou com a Universidade de Évora e com outros colégios da Companhia, ganhando fama de grande intelectual, a ponto de D. José de Barbosa no visto régio que precede a publicação da História Insulana dizer que António Cordeiro fora como um raio procedido daquele Sol... alumiando com a sua doutrina as Universidades de Coimbra e de Évora, os estudos de Braga, Lisboa e Porto, e que não contente de lhes revelar a ciência com subtilíssimas novidades, começou a vida de apóstolo nas fervorosas missões de Viseu, Pinhel, Torres Novas, e de muitas outras povoações que ainda hoje na reforma dos costumes, se estão vendo os documentos da sua piedade.
Para além do seu labor como Mestre da Companhia, o padre António Cordeiro escreveu numerosas obras, a maior parte das quais destinadas a serem lidas nos cursos que ensinava.
Mas para além dessas obras de carácter académico, resolveu dedicar algum tempo ao estudo da história açoriana, socorrendo-se em boa parte do manuscrito da obra de Gaspar Frutuoso que então estava à guarda da Companhia de Jesus.
Desse labor de historiógrafo sortiu a História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental, impressa em Lisboa em 1717, na qual se faz um resumo de todos os elementos então conhecidos sobre a história açoriana. Foi a primeira obra desta abrangência a ser editada, transformando-se num marco fundamental para o conhecimento dos Açores, até porque o manuscrito de Gaspar Frutuoso permaneceria inédito, e em boa parte inacessível aos estudiosos, até meados do século XX. Daí qye a História Insulana tivesse, nos quase três séculos intermédios, assumido o papel de melhor fonte para acesso indirecto à obra de Frutuoso.
O padre António Cordeiro faleceu no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, a 2 de Fevereiro de 1722, sendo hoje lembrado por uma rua na sua cidade natal de Angra do heroísmo e tendo a sua História Insulana merecido recente reimpressão.
[editar] Obras publicadas
Embora se admita a existência de outras, as suas obras conhecidas são as seguintes:
- Moral Teológica, Coimbra, 1696.
- Cursus Philosophicus Conimbricensis, Ulyssipone, ex Oficina Regali Deslandiana, 1714;
- In Proecipium Partium D. Thomae Theologia Scholastica, Ulyssipone, apud Josephum Lopes Ferreira, 1716.
- História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental, Imprensa de António Pedroso Galvão, Lisboa Ocidental, 1717.