Batalha de Viena
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Batalha de Viena | ||||||||
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Parte das Guerras Habsburgos-Otomanos de 1683-1697 |
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![]() Sobieski em Viena por Juliusz Kossak |
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Combatentes | ||||||||
Habsburgos, República das Duas Nações, Saxônia, Baviera, outros aliados | Império Otomano, Canato da Criméia, Hungria Central, Transilvânia, Valáquia, Moldávia | |||||||
Comandantes | ||||||||
Jan III Sobieski Carlos V da Lorena |
Kara Mustafá Pasha | |||||||
Forças | ||||||||
cerco 10 000 batalha 70 000 |
cerco 200 000 batalha 138 000 |
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Baixas | ||||||||
4 000 mortos | 15 000 mortos |
A Batalha de Viena (turco: İkinci Viyana Kuşatması) (um episódio distinto do Cerco de Viena em 1529) aconteceu em 12 de setembro de 1683 depois de Viena estar sendo sitiada pelos turcos havia dois meses. Foi a primeira batalha em larga escala das Guerras Habsburgos-Otomanos, mas a que obteve os melhores resultados.
O cerco propriamente dito começou em 14 de julho de 1683, pelo exército otomano comandado pelo Grão-Vizir Merzifonlu Kara Mustafá Pasha. A batalha decisiva aconteceu em 12 de setembro, após a chegada da força conjunta de socorro composta de 70 000 homens, que investiram contra o exército otomano de aproximadamente 138 000 homens - embora um grande número deles não tenha participado da batalha, uma vez que somente 50 000 eram soldados experientes e os restantes eram tropas de apoio menos motivadas. O Rei Jan III Sobieski da República das Duas Nações foi feito Comandante em Chefe se suas próprias forças de 30 000 homens e as 40 000 tropas dos Habsburgos e seus aliados, liderados por Carlos V, Duque da Lorena.
A batalha marcou o momento decisivo na luta de trezentos anos entre as forças dos reinados da Europa Central e o Império Otomano. Durante os dezesseis anos que se seguiram à batalha, os Habsburgos da Áustria e seus aliados gradualmente ocuparam e dominaram o sul da Hungria e Transilvânia, que havia sido invadido pelas forças turcas.
Índice |
[editar] Fatos precedentes
A captura da cidade de Viena já vinha há muito sendo uma aspiração estratégica do Império Otomano, por ser o ponto de cruzamento das rotas de comércio do Danúbio (Mar Negro-Europa Ocidental) do sul da Europa e por terra (Mediterrâneo Oriental-Alemanha). Durante os anos que precederam ao segundo cerco, sob os auspícios dos grão-vizires da influente família Köprülü, o Império Otomano empreendeu uma longa preparação logística, incluindo reparos e construção de estradas e pontes que conduziam à Áustria e centros logísticos, bem como o envio de munições, canhões e outros recursos bélicos, de toda a parte do Império para esses centros logísticos e Bálcãs.
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Na frente política, o Império Otomano vinha fornecendo assistência militar aos húngaros e às minorias não-católicas, nos territórios ocupados dos Habsburgos da Hungria. Lá, nos anos que precederam ao cerco, a inquietação generalizada tinha se tornado rebelião aberta, devido à constante perseguição de Leopoldo I aos princípios da Contra-Reforma e seu feroz desejo de esmagar o Protestantismo. Em 1681, os protestantes e outras forças anti-Habsburgos, chefiados por Imre Thököly, foram reforçados com um contingente significativo de otomanos, que reconheceram Imre como Rei da "Hungria Superior" (parte oriental da Eslováquia e partes do nordeste da atual Hungria, que ele havia anteriormente tomado dos Habsburgos pela força das armas). Este apoio viria para os húngaros até quando o "Reino de Viena" caísse nas mãos dos otomanos.
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Mas, antes do cerco, um tempo de paz existiu por vinte anos entre os Habsburgos e o Império Otomano, como resultado da Paz de Vasvár.
Em 1681 e 1682, atritos entre as forças de Imre Thököly e as forças militarizadas de fronteira dos Habsburgos se intensificaram e as incursões das forças dos Habsburgos na Hungria Central serviram como argumento para que o Grão-Vizir Kara Mustafá Pasha tentasse convencer o sultão, Mehmet IV e seu ministério, a autorizar a interferência do exército otomano. Mehmet IV autorizou Kara Mustafá Pasha a operar até os castelos de Győr (turco: Yanıkkale, alemão: Raab) e Komárom (turco: Komaron, alemão: Komorn), ambos no noroeste da Hungria e sitiá-los. O Exército Otomano foi mobilizado em 21 de janeiro de 1682 e a guerra foi declarada em 6 de agosto de 1682.
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Porém, o início da marcha do Exército Otomano só teve início em 1 de abril de 1683 a partir de Edirne, na Trácia. Este erro estratégico possibilitou o tempo necessário (quase quinze meses) para que as forças dos Habsburgos preparassem sua defesa e firmassem alianças com outros governantes da Europa Central.
Durante o inverno, os Habsburgos e poloneses concluíram um tratado no qual Leopoldo apoiaria Sobieski caso os turcos atacassem Cracóvia; em retribuição, o exército polonês viria em auxílio de Viena, caso atacada.
Na primavera, o exército turco alcançou Belgrado no início de maio e se dirigiu para Viena. 40 000 soldados tártaros chegaram a 40 km a Leste de Viena em 7 de julho, duas vezes mais do que as forças austríacas naquela área. Depois das lutas iniciais, Leopoldo retirou-se para Linz com 80 000 habitantes de Viena.
O rei polonês preparou uma expedição de socorro a Viena durante o verão de 1683, honrando com seu compromisso, mesmo tendo que deixar a sua nação praticamente indefesa quando partiu de Cracóvia em 15 de agosto. Sobieski compensou isso com uma advertência dura para Imre Thököly, o líder da Hungria (então um satélite otomano), a quem ele ameaçou de destruição caso tentasse tirar vantagem da situação.
[editar] Acontecimentos durante o cerco
O principal exército turco finalmente investiu contra Viena em 14 de julho. Graf Ernst Rüdiger von Starhemberg, líder dos 11 000 soldados, 5 000 cidadãos e voluntários que permaneceram, recusou se entregar.
Os vienenses haviam demolido muitas casas em volta dos muros da cidade e retirado seus escombros, a fim de criar uma área livre que exporia os turcos ao fogo defensivo caso eles tentassem atacar a cidade. Kara Mustafá Pasha resolveu este problema ao ordenar que suas forças cavassem longas linhas de trincheira diretamente em direção à cidade, para ajudar a protegê-los dos defensores à medida que iam avançando em direção à cidade.
Como seus 300 canhões eram antigos e as fortificações de Viena eram modernas, os turcos tiveram um plano melhor para o uso de sua pólvora. Cavaram túneis sob os maciços muros da cidade para explodi-los com explosivos. Adicionalmente, o cerco otomano cortou todo o fornecimento de alimentos para Viena e a população começou a passar fome. (Por exemplo, a cavalaria vienense teve que começar a sacrificar seus próprios cavalos para servirem de alimento).
Em agosto, as forças imperiais sob o comando de Carlos V, Duque da Lorena derrotaram Imre Thököly da Hungria em Bisamberg, cinco quilômetros a nordeste de Viena.
Em 6 de setembro, os poloneses cruzaram o Danúbio, 30 quilômetros a noroeste de Viena em Tulln, para se unirem às forças imperiais e às tropas adicionais da Saxônia, Baviera, Baden, Francônia e Suábia que haviam respondido à chamada da Santa Liga que era apoiada pelo Papa Inocêncio XI. Apenas Luís XIV da França, rival dos Habsburgos, não só deixou de ajudá-los, como aproveitou a oportunidade para atacar cidades na Alsácia e em outras partes do sul da Alemanha, como na Guerra dos Trinta Anos décadas anteriores.
Durante o início de setembro, os experientes turcos repetidamente explodiram grande parte dos muros, a guarita Burg, a guarita Löbel e o baluarte Burg entre eles, criando aberturas de cerca de 12 metros de largura. Os austríacos tentaram contê-los cavando seus próprios túneis, para interceptar o depósito de pólvora instalado nas cavernas subterrâneas. Os turcos finalmente conseguiram conquistar o baluarte Burg e a muralha Nieder naquela área em 8 de setembro. Uma invasão bem-sucedida era esperada em breve, os austríacos que lá permaneciam se preparavam para a luta no interior da cidade.
[editar] Organizando a batalha
O exército de ajuda tinha que agir rapidamente, para salvar a cidade dos turcos e para impedir outro longo cerco caso acontecesse. Apesar da composição internacional e o tempo curto de somente seis dias, uma estrutura de liderança efetiva foi estabelecida, centrada no Rei da Polônia e sua pesada cavalaria. A motivação era grande, uma vez que esta guerra não era pelos interesses dos reis, mas para a defesa da fé cristã. E, diferentemente das cruzadas, o campo de batalha se encontrava no coração da Europa.
Kara Mustafá Pasha, por sua vez, vinha há meses organizando suas forças, promovendo suas motivações e lealdade e se preparando para o ataque final. Ele tinha confiado a defesa da retaguarda de seu exército ao Khan da Criméia e a sua força de cavalaria, que contava com cerca de 30 000 homens.
Um historiador otomano escreve que devido aos confrontos anteriores e sua subseqüente humilhação nos anteriores Conselhos de Guerra, Murat Giray Khan da Criméia não estava disposto a enfrentar novamente Sobieski. E por causa disto, após tomar conhecimento da chegada dos poloneses, o Khan preferiu retirar-se com sua força.
Isto deixou pontes vitais indefesas e permitiu a passagem do exército combinado Habsburgos-poloneses, que chegaram para levantar o cerco.
As forças da Santa Liga chegaram em Kahlenberg (uma montanha nos arredores de Viena), sinalizaram sua chegada com fogueiras. Nas primeiras horas de 12 de setembro, antes da batalha, uma missa foi rezada para o Rei Sobieski.
[editar] Batalha final

A batalha começou antes de todas as unidades estarem posicionadas. Já eram quatro horas da manhã quando as tropas turcas iniciaram as hostilidades a fim de interferirem na preparação das tropas da Santa Liga. Um movimento de avanço foi feito por Carlos, o exército austríaco à esquerda e as forças alemãs ao centro.
Mustafá Pasha lançou um contra-ataque, com a maior parte de suas forças, mas deixando parte da elite Janízaro e Sipahi para a invasão da cidade. Os comandantes turcos tinham a intenção de tomar Viena antes da chegada de Sobieski, mas o tempo se esgotou. Seus especialistas em explosivos tinham preparado uma outra grande e final detonação sob o bastião Löbel, para prover acesso à cidade. Enquanto os turcos apressadamente terminavam seu trabalho e fechavam o túnel para tornar a explosão mais potente, os "toupeiras" austríacos encontraram a caverna pela tarde. Um deles entrou e desativou a carga bem a tempo.
Naquele momento, acima do "campo de batalha subterrâneo", uma grande batalha estava em andamento, uma vez que também a infantaria polonesa lançou um forte ataque sobre o flanco direito. Ao invés de se preocuparem unicamente com a batalha contra o exército de socorro, os turcos também tentaram forçar seu caminho pela cidade, carregando sua bandeira. Depois de doze horas de luta, as forças polonesas de Sobieski atingiram o terreno mais alto do lado direito.
E por volta das cinco horas da tarde, depois de assistir a contínua batalha da infantaria das colinas por todo o dia, quatro grupos de cavalaria totalizando 20 000 homens, um deles de austro-germanos e os outros três poloneses, investiram montanha abaixo. O ataque foi liderado pelo rei polonês à frente de 2 000 hussardos alados poloneses fortemente armados. Até então, aquele era o maior ataque de cavalaria na história da Europa e só foi superado por ocasião das Guerras napoleônicas. Esta mudança quebrou as linhas dos otomanos que estavam cansados das lutas por ambos os lados. Na confusão, a cavalaria foi direto para os acampamentos otomanos, enquanto a guarnição de Viena deixava sua defesa e se juntava aos agressores. O exército turco rápidamente perdeu o entusiasmo depois da última fracassada tentativa de explosão da muralha, da impossibilidade de invasão da cidade e do rumo que a batalha tomava e se retiraram em direção ao sul e ao leste. Em menos de três horas após a cavalaria atacar, as forças cristãs tinham vencido a batalha e salvo Viena.
[editar] Conseqüências
Os turcos perderam cerca de 15 000 homens na luta, contra aproximadamente 4 000 das forças Habsburgos-poloneses. Em 25 de dezembro de 1683, Kara Mustafá Pasha foi executado em Belgrado por ordem do comandante dos janízaros.
Embora ninguém tenha percebido isto na ocasião, a batalha mostrou bem todo o resultado da guerra. Os otomanos lutaram por mais dezesseis anos, antes de se renderem. No processo os otomanos perderam o controle da Hungria e da Transilvânia, que foi finalizado pelo Tratado de Karlowitz.
A Batalha de Viena é vista por muitos historiadores como o marco do início do declínio do Império Otomano. A Batalha também marcou o fim da expansão turca no sudoeste europeu e abriu as portas para importantes avanços do Império Austríaco na direção dos Bálcãs, durante os anos seguintes.
Em homenagem a Sobieski, os austríacos construíram uma igreja no alto de uma colina na montanha Kahlenberg, ao norte de Viena. Também, a linha de trem de Viena a Varsóvia é chamada de Sobieski em sua homenagem.