Caça às bruxas
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A caça às bruxas foi uma perseguição religiosa e social que começou no final da Idade Média e atingiu seu apogeu na Idade Moderna. Antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. Mulheres eram queimadas em fogueiras sem o menor pretexto. Um tipo de paranóia social. O mais famoso manual de caça às bruxas é o Malleus Maleficarum, ou "martelo das feiticeiras", de 1486.
Num sentido mais amplo, a expressão "caça-às-bruxas" costuma ser utilizada em diversas outras ocasiões. Como exemplo temos que, durante a guerra fria, os EUA perseguiam toda e qualquer pessoa que julgassem ser comunista, seja por causa fundamentada ou não. Dessa forma, temos a caça às bruxas comunistas dos EUA.
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[editar] A caça-às-bruxas européia
[editar] Aspectos importantes da caça-às-bruxas (quadro sintético)
- O número total de vítimas ficou provavelmente por volta dos 50 mil e certamente não mais que 100 mil. No passado chegou-se a dizer que teriam sido 9 milhões e até hoje alguns propagam esse número totalmente equivocado.
- Embora tenha começado no fim da Idade Média, a caça às bruxas européia foi bem mais um fenômeno da Idade Moderna, período em que a taxa de mortalidade foi bem maior.
- Embora supostas bruxas tenham sido queimadas ou enforcadas num intervalo de cinco séculos -- do século XIV ao século XVIII -- a maioria foi julgada e morta entre 1550 e 1650, nos 100 anos mais histéricos do movimento.
- O número de julgamentos e execuções tinha fortes variações no tempo e no espaço. Seria fácil encontrar localidades que, em determinado período, estavam sendo verdadeiros matadouros logo ao lado de regiões praticamente sem julgamentos por bruxaria.
- A maior parte das mortes na Europa ocidental ocorreram nos períodos e também nos locais onde havia intenso conflito entre o Catolicismo e o Protestantismo, com conseqüente desordem social.
- Ocorriam mais mortes em regiões de fronteira ou locais onde estivesse enfraquecido um poder central, com a ausência da Igreja ou do Estado. Fatores regionais tiveram papel decisivo nos modos e na intensidade dos julgamentos.
- A maioria das vítimas foi julgada e executada por cortes seculares, sendo as cortes seculares locais de longe as mais cruéis. As vítimas de cortes religiosas geralmente recebiam melhor tratamento, tinham mais chances de serem inocentadas, e recebiam punições muito mais leves.
- Foi escrito em 1330 e reeditado em 1560 um atribuído a Alavaro Pelayo é exemplo da diabolização feminina, representando um verdadeiro glossário de misoginia. Utilizada como argumento antifeminino à recorrente imagem de Eva como "Mãe do pecado" e salienta que as mulheres costumam enpregar artimanhas - por exemplo, o uso de maquiagem - para arrastar os homens ao abismo da sensualidade. Na visão da Igreja Católica, a sexualidade era pecado por excelência e a mulher era vista como responsável pelos erros masculinos, e também consideradas adivinhas ímpias; ministério de idolatria.
- Muitos países da Europa quase não participaram da caça às bruxas, e 3/4 do território europeu não viu um julgamento sequer. A Islândia executou apenas quatro "bruxas"; a Rússia apenas dez. A histeria foi mais forte na Suíça, Alemanha e França.
- Numa média, 25% das vítimas foram homens, assim sendo 75% das mulheres, mas a proporção entre homens e mulheres condenados podia variar consideravelmente de um local para o outro. Mulheres estiveram mais presentes que os homens também enquanto denunciantes e não apenas como vítimas.
- Até onde se sabe, algumas vítimas adoravam entidades pagãs e, por isso, poderiam ser vistas como estando indiretamente ligadas aos "neopagãos" atuais, mas esses casos eram uma minoria. Também é verdade que algumas das vítimas eram parteiras ou curandeiras, mas eram uma minoria. A maioria era cristã ou judia, uma vez que a população pagã era bem rara na Europa na Idade Média.
A mulher era considerada um dos agentes do demônio. A igreja via o corpo feminino como um palco de guerra entre Deus e o Diabo.
[editar] Cronologia
No passado os historiadores consideraram a caça às bruxas européia como um ataque de histeria supersticiosa que teria sido forjada e espelhada pela Igreja Católica. Seguindo essa lógica, era "natural" supor que a perseguição teria sido pior quando o poder da igreja era maior, ou seja: antes de a Reforma Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes. Nessa visão, embora houvesse ocorrido também julgamentos no começo do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos horrores medievais. Pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante clara e, ironicamente, descobriu-se que o apogeu da histeria contra as bruxas ocorreu entre 1550 e 1650, juntamente com o nascimento da celebrada "Idade da Razão".
Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno acreditavam em magia e formularam leis proibindo que crimes fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção, mas inicialmente não havia ninguém caçando bruxas de forma ativa e esse contexto relativamente benigno permaneceu sem grandes alterações por séculos.
As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. No início do século XIV, na parte central da Europa, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento, falava-se de conspirações por parte dos mulçumanos e de associações entre judeus e leprosos ou judeus e bruxas. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra (que vitimou 1/3 da população européia em meados do século XIV) esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em bruxas e "propagadores de praga".
Casos de processo por bruxaria foram aumentando lentamente, mas de forma constante, até que os primeiros julgamentos em massa apareceram no século XV. Ao surgirem as primeiras ondas da Reforma Protestante o número de julgamentos chega a diminuir por alguns anos. Entretanto, em 1550 a perseguição cresce novamente, atingindo níveis alarmantes em terras católicas e protestantes. Esse é o período mais histérico e sanguinário da histeria, que vai de 1550 a 1650. Depois desse período os julgamentos diminuem fortemente e desapareceram completamente em torno de 1700.
[editar] Evoluções no estudo da caça às bruxas
A partir de 1970 uma pequena e silenciosa revolução ocorreu na compreensão e no estudo da caça às bruxas européia. Os historiadores passaram a estudar detalhadamente os registros históricos dos julgamentos, ao invés de confiar em relatos dos casos mais famosos e outras fontes menos seguras. Essa metodologia trouxe mudanças significativas na visão que se tinha do período. Por exemplo, no passado já se chegou a afirmar que nove milhões teriam sido queimados, mas hoje se sabe que qualquer estimativa que diga que foram mais de 100 mil está muito distante da realidade.
É preciso ressaltar a importância de usar apenas fontes recentes e atualizadas ao pesquisar o tema. Mesmo o parágrafo introdutório deste artigo não está bem de acordo com as novas evidências. Três artigos em inglês que tratam das novas descobertas são:
- The Burning Times[1];
- Recent Developments in the Study of The Great European Witch Hunt[2].
- Who Burned the Witches?[3]
Os dois primeiros links são de sites relacionados ao neopaganismo; os dois últimos são mais detalhados e foram escritos por historiadores.
[editar] Ver também
- Bruxaria
- Bruxas de Salém
- Macartismo, a caça aos comunistas nos Estados Unidos da América