Cemitério do Caju
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O Cemitério São Francisco Xavier, popularmente conhecido como Cemitério do Caju, é uma necrópole da cidade do Rio de Janeiro. Considerado um dos maiores do Brasil localiza-se no bairro do Caju na zona norte da capital fluminense.
Ficava originalmente fronteiro à praia de São Cristóvão, desaparecida em razão de aterros diversos. Era o antigo Campo da Misericórdia, usado desde 1839, quando ali foi, em 2 de julho, inumado o corpo de "Vitória, creola, filha de Thereza, escrava de Manoel Rodrigues dos Santos" (grafia arcaica da época) e sendo usado para sepultamentos de escravos até 1851, quando pelo Decreto nº. 842, de 16 de outubro do mesmo ano, foram fundados os cemitérios públicos de São Francisco Xavier e São João Batista. Pelo Decreto nº 843 do mesmo ano, foram entregues para serem adiministrados, pelo prazo de 50 anos, a Santa Casa de Misericórdia.
Para a transformação em cemitério público, foram adquiridos diversos imóveis vizinhos, e desta forma muito aumentada a superfície. Em 8 de novembro de 1851 informava o Provedor da Santa Casa, José Clemente Pereira, que o Cemitério São Francisco Xavier se achava em estado para poder prestar serviços dentro dos 15 dias do regulamento n° 796.Com efeito, em 5 de dezembro,foi sepultada uma "africana livre n. 187, de Manguinhos, pertencente a Casa de Correção, falecida no Hospital da Misericórdia, de gastro- entero-colite". O útimo corpo enterrado no Campo Santo da Misericórdia, em 1851, foi de um africano livre, enviado da Casa de Correção, sepultamento de nº 2.218.
Foram necessários diversos aterros e aplainamento do terreno ao longo dos anos, para tornar a área toda plana e seca, visto ela ser pantanosa em razão da proximidade do mar, para os aterros foi desbastado um morro que existia na parte norte da necrópole.
O cemitério tem a parte fronteira fechada por alto muro de alvenaria, e na parte central deste muro, um monumental gradil de ferro, sobre embazamento de granito, iniciado e findo por dois portões também de ferro. Ao meio desse gradil está o prédio usado como vestíbulo da necrópole, constituido de dois pavilhões com fachadas de granito que ladeia o imponente pórtico. Esta construção foi originalmente planejada pelo engenheiro J. M. Jacinto Rebelo; foi porém executado com modificações que lhe deram maior grandiosidade pelo arquiteto F. J. Bithencourt da Silva.
Em frente a esse portão segue a rua principal que media 22 metros de largura, indo da então Praia de São Cristóvão, num lance reto, até o local denominado Retiro Saudoso, do outro lado do bairro do Caju. Cortando esta alameda principal, existe o cruzeiro monumental de granito, obra de cantaria digna de admiração, pela dificuldade da execução de em tão duro material, os artífices terem feito uma escultura considerada tão graciosa e leve.
O cemitério fornecia originalmente sepulturas temporárias pelo prazo de sete anos, e conforme o desejo das famílias, vendia também as sepulturas perpétuas, motivo pelo qual, existem ricas sepulturas e imponentes capelas construídas ao longo de todos os tempos.
Dentro do terreno do cemitério existe a quadra dos acatólicos, reservada e exclusiva para judeus e protestantes. Foi usada antes da construção do Cemitério Comunal Israelita, também no Caju. Repleta de sepulturas antigas e históricas já foi assunto de estudos, livros e teses diversas.
Uma outra área de 1.885 m², cercada com gradil, tendo piso ladrilhado com cerâmica francesa, é o Cemitério de São Pedro, reservado para os padres católicos da cidade. Foi adquirida em 1866 pela Irmandade do Princípe dos Apóstolos São Pedro, com o produto do legado que recebeu do padre José Luís de Oliveira.
Originalmente a maior parte dos sepultamentos era de moradores da região norte da cidade, e por ser junto ao bairro de São Cristovão, muitas personalidades do império ali foram sepultadas ao longo de todo a metade do século XIX. Mas curiosamente, foi um cidadão francês a primeira pessoa de reconhecida nobreza ali sepultada; Williers de l'Isle de Adam, o Visconde de l'Isle de Adan, um solteiro de 65 anos, falecido na Casa de Saúde do Morro do Livramento, em 10 de julho de 1852.
Dentre as capelas e sepulturas mais notáveis estão as do arquiteto Antonio Jannuzzi, do barão de Mangaratiba, do visconde do Rio Branco, da benfeitora da Santa Casa, Luísa Rosa Avondano Pereira e do provedor José Clemente Pereira.
O médico e memorialista Pedro Nava que alí está sepultado, escreveu no seu livro Balão Cativo, uma das mais belas e sentimentais descrições do cemitério do Caju e de suas sepulturas. A impressão da primeira visita que ele alí fez em menino, foi que " transpondo o seu pórtico de pedra (ele teve) a percepção invasora (e para sempre entranhada e durável) de um impacto silencioso e formidando".
Bibliografia:
- Nava, Pedro - Balão Cativo/ memórias 2 - Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro - 2ª edição - 1974 - pág. 41.
- Santos, Antonio Alves Ferreira dos - A Archidiocese de S.Sebastião do Rio de Janeiro: subsídios para a historia ecclesiastica do Rio de Janeiro, capital do Brasil - Typographia Leuzinger - Rio de Janeiro - 1914.