Congado
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O Congado trata de basicamente 3 temas em seu enredo: a vida de São Benedito, o encontro de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas, e a representação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras.
Segue assim o princípio do celebração:
No início da congada, os grupos que tomam parte começam cantando:
Que hora tão bunita Nosso bataião chegô Pa festejá o Sinhô Divino Qui o festêro convidô, ai, ai
Como se vê pelos dizeres, a congada festeja o Divino Espírito Santo.
Depois continuam:
Eu quero pidi licença Pro meu bataião dançã; Pro sinhô dono da festa I pro povo desti lugâ
Viremo di lá, virêmo di cá, Meu sinhô Divino viemo festejá
O desfile da congada começa nas primeiras horas da manhã, estando a cidade toda em festa. A congada é uma espécie de teatro de rua, reunindo muitas tradições mouras e cristãs.
O padroeiro da congada é São Benedito:
O marinheiro coração di aligria, Deus é nosso Pai, São Binidito é nosso guia, Lançai sua santa bença Nesta hora i nesti dia, Alegrai seu coração Di quem tem malinconia, ai, ai!
Desde cedo também se canta o canto dos congueiros:
O sor já vai saino Lumiano o mundo intero, Lumió o Sinhô Divino I os sinhô qui são festêro.
O povo da cidade Todo este povo daqui, Alerta o seu ovido Sai na janela ovi, Preste bem atenção No que os piriquito diz, O povo brasilero Deve di adorá o Brasil.
Brasil dorado Brasil querido, E a terra bençoada Da Senhora Aparecida.
Mai groriosa, Mai cuncebida, Seja nossa adevugada Nesta i na outra vida.
Marinhero dança nesta ocasião, Marinhero abaxa renti co chão, Levanta pra riba, meu bataião, Os marinhêro são di proteção, Nóis semo devoto di São Juão.
O marinheiro Vai cantano i vai pidino A santa benção Do sinhô Divino.
Viva o altá, Viva o andô Sinhô Divino No meio da frô.
Oi Sinhora Santana Rainha do céu, ai, O virge Maria Tem seu lindo véu, Oi marinhêro, Semu fílio di Deus".
Ao marchar vão cantando, batendo espadas, dançando "tramando", ou seja, trocando de lugar. O desfile da congada é muito interessante, mas o espetáculo é mais bonito na hora da embaixada.
A embaixada Na praça pública, em local tradicionalmente usado para tal fim, chegam os congos, dançando e cantando. Silenciam de repente e formam um grande quadrilátero, sentando-se numa cadeira o Rei do Congo.
Neste momento entoam:
Quem num viu piriquito falá Alerta os ovido i venha iscuitá.
Este é o convite para que os presentes se aproximem. Novo silêncio. O Rei com voz forte chama o Secretário:
Ô meu nobre secretaro, Meu sordado desempenhado, Vinde logo depressa, Atender o meu chamado.
O Secretário responde:
Pronto imperadô Vim atendê o teu chamado, Sou eu mesmo o secretaro Um sordado desempenhado.
O Rei continua:
Chamei ocê meu secretaro Por sê um sordado desempenhado. Vai vê que gente canáia são essa, Bruto sem inducação Qui vai intrá em nosso reinado, Sem nos dá sastifação.
Secretário:
Rei do Congo manda vê, Que gente canáia são essa Que vem entrano neste reinado adentro, Cum grito e zumbaiada, Muito toque de caixa E baruio de pandêro, E vem entrano no nosso reinado adentro, Quereno deixá O nosso reis fica suspenso.
O General responde:
O imperadô Carlos Magno É um home de estudo e de grande pensá. Voceis adoram o vosso Deus E nóis temo o nosso pra adorá, E vorta atrais secretaro Cum essa valentia, Num venha mais cum atrevimento, Atrapaiá as minha cantoria.
O secretário volta e diz ao Rei:
Imperadô Carlos Magno Aprevina seu bataião O generá está disposto De tomá conta desta nação.
O Rei responde constrangido:
Não me diga isso meu secretaro Que essa palavra balanciô meu coração. Descanse que você já fez obrigação. Chame lá o segundo secretaro Que dele tenho percisão.
Aproxima-se o segundo secretário, dirigindo ao Rei, diz:
Pronto imperadô estô aqui Pra atendê o seu chamado, Sô eu mesmo o segundo secretaro, Um sordado desciprinado.
Rei:
Chamei ocê meu segundo secretaro Por sê um sordado mais famado Ocê num sabe que eu neste meu assento Estô me veno apertado Ocê vai me fazê um serviço, Leva muito cuidado, Vai entregá esta carta Ao generá, aquele atrevido marcriado, Pra ele fica sabeno Que tem reis neste reinado.
Dirigindo-se ao General mouro, o secretário diz:
Dá licença generá Aqui vim le conhecê, O reis de Congo manda esta carta, Faiz favô de arrecebê.
Ao receber a carta o General responde:
Eu sô um generá guerrêro, Sô um home desempenhado Vim fazê uma visita Para o reis deste reinado, Vós me manda carta de guerra Que eu estô me vendo apertado, Mas si quisé entrá em combate Eu tenho força aperparada.
Aproximando-se do Rei, diz o General:
Eu sô um generá guerrêro Que tanto tenho combatido, Não é o primêro combate Que eu já tenho vencido. Esse que eu hei de perdê. Sendo que vim bem apervinido? O que tem imperadô Que tanto me olha Cum a carranca tão frangida? Veja lá que agora mesmo Eu le bato a espada no ovido.
Entra em cena um personagem chamado Ricardo e diz alto:
Arto lá, generá Seu atrivido marcriado, A quem tu pediu licência Pra entrá em nosso reinado? Tu sabe que só o Ricardo O sordado mais famado! Pegue nas tuas armas E cunvide a tua companherada. Quando fô daqui, há pouco Acho bão tu pegá a estrada. Sinão tu vai na prisão Por sê um atrevido marcriado.
A discussão cada vez mais acalorada continua, e pouco a pouco vão entrando outros personagens dando seqüência a representação.
Responde o General com altivez e arrogância:
Vorta atrais, seu Ricardo, Não percisa tanta ânsia, Ocê percisa se arretirá E do meu lado num avance, Senão eu te dô Um soco no quêxo e outro na pança Ocê há de sai gritano, Chorano inguar uma criança, Ocê há de saí gritano Por prova de uma vingança Enquanto ocê vive no mundo Há de servi de lembrança O imperadô Carlos Magno Diz que é um home tão valenti Que veio do estado da França Tamém sô um generá guerrêro Só um home de tantas bondanças.
Ricardo:
Arto lá, generá, O que tu tá pensano! Aqui tu fala cum o Ricardo Empregado de Carlos Magno, Eu te dô um soco no quêxo Que tu sai arrenegano.
O General responde a Ricardo:
Vorta atrais seu Ricardo, Não esquente o meu sentido, Ocê chame o Galalão Vocêis dois são unido, Comigo vocêis num pode Purque hoje tou arresorvido.
Fala Galalão, de cabeça baixa:
Eu sou o Galalão guerrêro, Que agora venho chegano Com minha espada na cinta, Venho cum ela manejano E co’o atrevido generá Desejo de i encontrano Eu quero que vóis me diga O que tu anda ordenano?
O General responde a Galalão:
Vorta atrais seu Galalão Ocê num faiz o que ocê pensa. Cumbine cum o Ricardo E cum tuda vossa gente, Cumigo ocê num pode, Purque eu te bato a espada na boca E te arrebento todos os dente E te mando pra ilha das Cobra Feito isca de serpente.
Entra em cena a discutir com Oliveiros, com tom provocante, o principal dos mouros — Ferrabrás: "O imperadô Carlos Magno é um home simpre, sem valô, me manda dois ou treis ou quatro do mais valenti e mior dos doze par. Contra mim somente espero vencê a bataia, ainda que seje Rordão ou Oliveira, Teter, Ruger e Danoa, juro por Deus que a minha cara nunca mais vorta. Eu tô em campo de bataia, longe de meu exército, percorri por tudo mundo a cubardia da resistência dos teus cavaleiro. E direi que são indigno de tratar de valeroso".
Grita alto o Rei ao ouvir a arengade Ferrabrás: "Ô Ricardo, ô Ricardo, que palavra são essa tão injuriosa que vem provocano?"
Depois disso, aparecem outros partidários e pares do Rei, que pouco a pouco entram no desafio. Finalmente duela Oliveiros e Ferrabrás:
Oliveiros:
Turco, tu não sabe Que Carlos Magno, é home tão poderoso? Tu é valenti por tua pessoa Mais do meu lado num venha Que comigo termina à toa.
Ferrabrás:
Cristão, então mande o Carlos Magno O Rordão ou o Oliveiros, Dos doze pares aquele que viê. Que eu espero cum a minha arma, Firme de ponta em pé, Pra resisti do modo que quisé.
Oliveiros afirma: "Rordão nunca feis conta de um só turco em prontidão, com isso nem Rordão se move que em campo de bataia só um pra ele num dá pra nada".
Ferrabrás:
Mió cale a boca, Não tenho mais nada pra dizê Aprevina as tuas armas e vamo combatê Que pra mim é perjuízo mais tempo perdê.
Oliveiros:
Tu diz que é muito perjuízo o tempo perdê Que eu jurgo santo o meu nome, Que eu sô suficiente Pra te mandá prendê. Que se vacê não me conhece Eu vos dô de conhecê: Aqui vacê fala com Guaris, Um home de grande podê.
Ferrabrás, com a espada em riste:
Muito bem seu Guaris, Fiquei muito sastifeito Do seu nome eu sabê, Aprevina a vossa arma E bamo pelejá Na primeira batida que eu dé, Vacê há de se arrependê.
Enquanto isso, os outro congueiros cantam:
Assegura a batida Oliveira, Combate de turco não é brincadeira.
Ferrabrás acaba perdendo o combate e Oliveiro diz para o General que o interpela:
Ferrabrás ficô preso Por sê home que não sabe pensá. Dois combates nóis tivemo, Quase que me deixa no lugá. Derradêro combate que nóis tivemo Foi eu que fui ganhá, Por erro de uma batida Fiz o turco enjoeiá. Eu num matei, Purque quis acabá de te matá.
O General com medo diz aos seus:
O meu armirante Balão Faça o favô de mi dizê. Com o atrevimento do Olivera Está custoso nóis podê.
Almirante Balão:
Fiquei muito sastifeito Do sinhô participá Eles combate na fé de Deus, É escusado nóis teimá".
Os mouros se rendem, e Carlos Magno, o imperador e rei da Congada, é aclamado com seus pares.