Corpus aristotelicum
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Corpus aristotelicum é o nome dado ao conjunto dos escritos do filósofo grego Aristóteles de Estagira. Embora sua produção tenha sido excepcional — Diógenes Laércio atribuiu ao filósofo mais de quatrocentos títulos — apenas uma parcela deste total conservou-se para a posteridade. Mais especificamente, apenas quarenta e sete textos, entre os certamente autênticos, os provavelmente autênticos, os de autenticidade duvidosa e os espúrios, além de fragmentos de obras perdidas.
Os escritos de Aristóteles dividem-se em dois grupos: os 'exotéricos' e os 'acroamáticos'. As obras exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, por outro lado, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados que investigavam com profundidade os temas abordados. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas; das exotéricas, restaram apenas fragmentos. No conjunto dos textos aristotélicos, apenas a Constituição de Atenas é exotérica.
Até o século I a.C., no entanto, as obras exotéricas eram as mais conhecidas, seja pelo seu caráter acessível e introdutório, seja porque as obras acroamáticas circulavam apenas entre um estreito círculo de filósofos peripatéticos. Além disso, após a morte destes filósofos, as obras acroamáticas ficaram escondidas na casa de um peripatético por quase trezentos anos e isso dificultou enormemente o acesso aos textos acroamáticos. Foi somente por volta do ano de 50 a.C., que estes escritos foram descobertos e posteriormente organizados e publicados por Andrônico de Rodes, décimo escolarca do Liceu. Ocorre, por conseguinte, uma reviravolta: Aristóteles, que até então era considerado apenas mais um discípulo de Platão pelo grande público, passa a rivalizar com o antigo mestre em importância e as obras acroamáticas obscurecem de tal maneira as exotéricas que estas perdem-se quase que totalmente.
De modo geral, a organização dos escritos aristotélicos por Andrônico de Rodes é seguida até hoje. Os textos que atualmente compõem o corpus aristotelicum são listados abaixo. Os textos assinalados com * indicam que o texto ou é apócrifo (espúrio) ou tem sua autenticidade contestada. Deve-se mencionar, também, que os antigos gregos não tinham o hábito de dar um título específico para seus escritos. Em geral, designavam suas obras com um nome retirado da primeira frase do texto.
- (1a) Categorias (Κατηγοριαι , Categoriae);
- (16a) Da Interpretação (Περὶ ερμηνειας, De Interpretatione);
- (24a) Analíticos anteriores (Αναλυτικων πρότερων, Analytica priora) ou Primeiros analíticos, de acordo com a tradução;
- (71a) Analíticos posteriores (Αναλυτικων υστερων, Analytica posteriora) ou Segundos analíticos, de acordo com a tradução;
- (100b) Tópicos (Τοπικων, Topica);
- (164a) Elencos sofísticos (Περὶ σοφιστικων ελέγχων, Sophistici elenchi) ou Refutações sofísticas, de acordo com a tradução.
Estes primeiros seis textos compõem o Órganon (Όργανον), nome pelo qual é chamado o conjunto de escritos lógicos de Aristóteles.
Escritos físicos e científicos
- (184a) Física (Φυσικη, Physica);
- (268a) Do céu (Περὶ ουρανου, De caelo);
- (314a) Da geração e da corrupção (Περὶ γενεσεως και φθορας, De generatione et corruptione);
- (338a) Meteorologia (Μετεωρολογικα, Meteorologica);
- (391a) Do universo (Περὶ κοσμου, De mundo) *;
- (402a) Da alma (Περὶ ψυχης, De anima);
Parva Naturalia
- (436a) Da sensação e do sensível (Περὶ αισθησεως και αισθητων, De Sensu et Sensibilibus);
- (449b) Da memória e reminiscência (Περὶ μνημς και αναμνησεως, De memoria et reminiscentia);
- (453b) Do sono e da vigília (Περὶ υπνου και εγρηγορσεως, De somno et vigilia);
- (458b) Do sonhos (Περὶ ενυπνιων, De Insomniis);
- (426b) Da adivinhação pelo sonho (Περὶ της καθ υπνον μαντικης, De divinatione per somnum);
- (464b) Da longevidade e brevidade da vida (Περὶ μακροβιοτητος και βραχυβιοτητος, De longitudine et brevitate vitae);
- (467b) Da juventude e da velhice. Da vida e da morte (Περὶ νεοτητος και γηρος. Περὶ ζωης και θανατου. De juventute et senectute. De vita et morte);
- Da respiração (Περὶ αναπνοης, De respiratione);
- (481a) Do alento (Περὶ πνευματος, De spiritu)*;
- (486a) Da história dos animais (Περὶ τα ζωα ιστοριαι, Historia animalium);
- (639a) Das partes dos animais (Περὶ ζωων μοριων, De partibus animalium);
- (698a) Do movimento dos animais (Περὶ ζωων κινησεως, De motu animalium);
- (704a) Da marcha dos animais (Περὶ πορειας ζωων, De incessu animalium);
- (715a) Da geração dos animais (Περὶ ζωων γενεσεως, De generatione animalium);
- (791a) Das cores (Περὶ χρωματων, De coloribus) *;
- (800a) Das coisas ouvidas (Περὶ ακουστων, De audibilibus) *;
- (805a) Fisiognomonia (Φυσιογνωμονικα, Physiognomonica) *;
- (815a) Das plantas (Περὶ φυτων, De plantis) *;
- (830a) Das maravilhosas coisas ouvidas (Περι θαυμασιων ακουσματων, Mirabilibus auscultationibus) *;
- (847a) Mecânica (Μηχανικα, Mechanica) *;
- (859a) Problemas (Προβληματα, Problemata) *;
- (968a) Das linhas indivisíveisDas linhas indivisíveis (Περὶ ατομων γραμμων, De lineis insecabilibus) *;
- (973a) Situações e nomes dos ventos (Ανεμων θεσεις και προσηγοριαι, Ventorum situs et cognomina) *;
- (974a) Sobre Melisso, Xenófanes e Górgias (Περὶ Μελισσου, Περὶ Ξενοφανους, Περὶ Γοργιου, De Melisso, Xenophane, Gorgia) *;
Escritos metafísicos
- (980a) Metafísica (Τὰ μετὰ τὰ φυσικά, Metaphysica)
Escritos éticos
- (1094a) Etica a Nicômaco (Ηθικα Νικομαχεια, Ethica Nicomachea);
- (1181a) Magna moralia (Ηθικα μεγαλα, Magna Moralia) *;
- (1214a) Ética a Eudemo (Ηθικα Ευδημεια, Ethica Eudemia);
- (1249a) Das virtudes e vícios (Περὶ αρετων και κακιων, De virtutibus et vitiis libellus) *;
- (1252a) Política (Πολιτικα, Politica);
- (1343a) Economia (Οικονομικα, Oeconomica).
Escritos estéticos
- (1354a) Retórica (Τέχνη ρητορική, Ars Rhetorica) ou Arte retórica, de acordo com a tradução;;
- Retórica a Alexandre (Ρητορική προς Αλεξανδρον, Rhetorica ad Alexandrum) *;
- (1447a) Poética (Περὶ ποιητικης, Poetica).
No século XIX, foi descoberta a Constituição de Atenas. Além desta, Aristóteles compilou e analisou a constituição de pelo menos 125 cidades-estado gregas. Todas estas, no entanto, estão atualmente perdidas.
- Constituição de Atenas (Αθηναιων πολιτεια).