Filhos e Amantes
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Filhos e amantes é um filme brasileiro de 1981 dirigido por Francisco Ramalho Jr.
Índice |
[editar] Elenco
- Walmor Chagas
- Ronaldo Costa
- André de Biase
- Hugo Della Santa
- Renée de Vielmond
- Denise Dumont
- Paulo Gorgulho
- Rosina Malbouisson
- Nicole Puzzi
- Silvana Réa
- Lúcia Veríssimo
[editar] Um filme Brasileiro
Praticamente um quarto de século nos separam agora de “Filhos e Amantes” (1981), pequena pérola de sensibilidade e simplicidade que o cinema brasileiro produziu naquele distante ano. Falando sobre a geração nascida entre 1960-1965, o filme defende a tese de que aquela era uma geração sem rumos ou ideais – e perdida em um hedonismo “sexo, drogas e rock n' roll” superficial e sufocante.
Dirigido pelo hoje mega-produtor Francisco Ramalho Jr., “Filhos e Amantes” é uma imitação tardia de um tipo de filme muito em moda nos Eua e na Europa no final dos anos 60, de classificação ainda não definida, mas que se caracterizava por mostrar jovens em férias “descobrindo a vida”. Bom exemplo deste tipo de narrativa é o (então) polêmico por sua cena de estupro, “The Last Summer” (1969). Outro, também famoso, o acridoce “Summer of 42”, bastante conhecido no Brasil pela trilha-sonora de Michel Legrand.
[editar] Esboço do Filme
Em “Filhos e Amantes”, título surrupiado de D. H. Lawrence, não há nenhum verão, mas um inverno rigoroso passado por jovens paulistanos em uma casa de campo em Itatiaia, região sul do estado do Rio. Lá, Silvia (Lúcia Veríssimo) e Roberto (André di Biasi) chegam para visitar Marta (Denise Dummont) e Bebel (Nicole Puzzi). As duas haviam se mudado para a casa buscando uma forma de vida hippie-alternativa, que em 1981 talvez já soasse um tanto anacrônica. Bebel é a verdadeira misantropa, enquanto Marta parece apenas deslumbrada com a vida no campo. Desta tênue diferença de personalidade entre as duas, o filme se ergue e desenrola-se.
Silvia e Roberto são amigos de Marta. Bebel não gosta da presença deles em seu refúgio. Gosta menos ainda quando chegam Dinho (Hugo DellaSanta), ex-namorado de Marta e a histérica Carminha (Rosina Malbouisson), sua nova namorada. Os seis são jovens, lindos, mas não se entendem. Bebel tem um ciúme doentio de Marta e esta ainda parece interessada em Dinho; Roberto e Silvia brigam e Silvia quer Dinho; Marta acaba nos braços de Dinho. Ou seja, todos ficam com todos e nem por isso deixam de se azucrinar mutuamente.
Apesar deste aparente inferno existencial, as cenas de amor são belíssimas, igualmente as tomadas de Itatiaia, local paradisíaco no meio do caminho entre Rio e São Paulo. Francisco Ramalho filma com capricho artesanal, o que faz o filme ter uma atmosfera idílica, de sonho bom. Não há sexo, o erotismo é suave e existe muita coisa a se aprender na questão de “quão suave é possível o erotismo ser”, pois aqui ele é praticamente uma pluma diáfana.
André di Biasi e Hugo Dellasanta, os rapazes, são incrivelmente parecidos fisicamente com os personagens de “The Last Summer”, o que fornece a conclusão óbvia de que o filme foi inspirado no similar ao norte do Equador. Mas não importa, porque em quase todas as vezes em que o cinema brasileiro criou este tipo de pastiche, ele fez melhor. É o caso aqui. A construção das personalidades não segue o esquema maniqueísta dos filmes americanos: Dinho é um salafrário, mas temos simpatia por ele na medida em que se humaniza no relacionamento com as moças. Roberto é o herói e antagonista de Dinho, mas em certo momento é tão impossível gostar dele que simplesmente torcemos para que apareça menos. Isso é uma das coisas que fazia do cinema brasileiro genial: a não-busca pela saída fácil, pela conclusão digerida que facilite a vida do espectador preguiçoso.
No fundo do poço, os seis jovens em ebulição encontram Cláudio (Walmor Chagas), escritor com câncer terminal, que vive com sua namorada Ruth (Reneé de Vielmond), esperando a morte na casa ao lado. Cria-se então o contraste entre “os jovens que não sabiam dar valor à vida que tinham” versus “o adulto que ama a vida mas está condenado a desaparecer”.
Dinho se droga, quase mata a namorada Carminha em uma overdose. Carminha, posteriormente, tenta o suicídio nas pedras de Itatiaia, a poucos metros da locação onde Walter Hugo Khouri criou em seus filmes a mística do “trono de pedra”, o local da infância de Marcelo. Silvia adquire então consciência plena dos fatos que a cercam e grita para Carminha, em cena magistral: “Tem um homem aqui perto que quer viver e não pode. Você pode viver e não quer”.
O fim simbólico, com o epílogo de Sílvia tendo um filho ao mesmo tempo em que Cláudio, o escritor, morre, é igualmente antológico. Dá vontade de não acordar nunca e morar eternamente com eles naquele lugar, nas suas idas e vindas. Mas nós, em pleno futuro, apenas os vemos como se conhecêssemos os segredos de uma civilização distante e delicada, que não mais nos pertence.
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