Margarida de Provença
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Margarida de Provença (Brignoles, 1221 – Paris, 20 de dezembro de 1295), foi a esposa de São Luís e, portanto, rainha da França (1234 - 1270). Foi através de sua diplomacia que salvou a vida de São Luís na sexta cruzada. Foi também considerada, com suas quatro irmãs, uma das mulheres mais belas de seu tempo.
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[editar] Família
Margarida foi a filha mais velha de Raimundo Berenguer IV de Provença e de Beatriz de Sabóia, esta por sua vez filha de Thomás I de Sabóia. Margarida nasceu provavelmente no lago Brignoles.
Em 27 de maio de 1234, casou-se, na catedral de Sens, com Luís IX, rei da França.
Assim como Margarida, suas três irmãs mais novas se tornaram rainhas através de seus matrimônios: Eleonora , casada com o rei Heinrich III; Sancha, casada com Ricardo de Cornwall, que nas eleições de 1256 e 1257 foi eleito o rei do Sacro-Império Germânico; e Beatriz que se casou com o cunhado de Margarida, Carlos I de Anjou, que mais tarde se tornaria o rei da Sicília e de Nápoles.
Ao contrário das expectativas de Margarida, seu pai acabou por revelar em testamento que a única herdeira da Provença seria Beatriz, a mais nova das quatro irmãs. Devido ao casamento de Beatriz com Carlos de Anjou, uma polêmca surgiu em volta do condado da Provença, uma vez que este, parte da França, passava agora a ser sujeitado à coroa da Sicília e de Nápoles. Uma longa controvérsia houve entre Margarida e Carlos, uma vez que a primeira se negava a aceitar a decisão que o pai havia expressado em testamento.
[editar] Casamento e filhos
Do casamento com Luís IX de França, Margarida teve a seguinte descendência:
- Branca (4 de dezembro de 1240 - 29 de abril de 1243);
- Isabelle (2 de março de 1242 - abril de 1271), casada em 1255 com Teobaldo II, rei de Navarra ;
- Luís (21 de setembro de 1243 - 13 de janeiro de 1260);
- Felipe III (3 de abril de 1245 - 5 de outubro de 1285) ;
- João (1246 - 10 de março de 1247);
- João Tristão (8 de abril de 1250 - 3 de agosto de 1270), conde de Nevers ;
- Pedro (1251 - 6 de abril de 1284), conde de Alençon;
- Branca (1253 - 17 de junho de 1320), casada em 1269 com Fernando de la Cerda, príncipe herdeiro de Castilha;
- Margarida (1255 - 1271), casada em 1270 com Jan I, duque de Brabante;
- Roberto de Clermont, (1256 - 7 de fevereiro de 1317) ;
- Agnes (1260 - 19 de dezembro de 1327), casada em 1279 com Robert II, duque de Borgonha
[editar] Vida
[editar] Infância
Cresceu no condado do pai. A presença de Trouvadores e poetas marcou a infância de Margarida, assim como a forma com que seu pai administrou Provença fez com que a menina tivesse imenso amor por sua terra natal. Apesar de somente ter retornado a Provença duas vezes após seu casamento, sempre teve uma forte ligação com o local.
Seus pais se certificaram de que Margarida e suas irmãs recebessem uma educação abrangente e religosamente católica. Através de sua troca de cartas com sua irmã Eleonor, fica claro, também, que Margarida dominava o latim.
A ampla educação das meninas se devia ao fato de seus pais desejarem que as filhas se casassem bem, de forma a assegurar, através de laços familiares, estabilidade e segurança política para seu condado.
[editar] Casamento e primeiros anos de vida matrimonial
Através das articulações da regente do trono francês, Branca de Castela, Margarida casou-se em 27 de maio de 1234 com Luís IX, filho de Branca. Devido ao fato de os noivos serem parentes de quarto grau, o Papa Gregório IX teve de fornecer uma permissão adicional em janeiro de 1234 para que o casamento ocorresse. argarida foi coroada rainha um dia após o casamento, na Catedral de Sens.
Os primeiros anos da união foram marcados pela constante oposição entre Margarida e sua sogra, Branca, a qual, apesar de Luís IX ser maior de idade, exercia grande poder no rei. O cronista de Luís IX, Jean de Joinville, constatou em seus escritos, sob o título de A vida de São Luís o constante e crescente ciúmes de Branca em relação ao relacionamento de Margarida com Luís. Jean escreveu que a Rainha Branca não suportava ver o filho com Margarida, e que só os deixava terem intimidade à noite, quando o casal estava a sós em seus aposentos.
Para tornar as coisas mais difíceis, Branca morava com o casal no Palácio de la Cité e os acompanhava até em suas viagens. Somente em 1247 pôde Margarida livrar-se da influência de Branca. Adquiriu, junto com o esposo, uma residência própria, assim como passaram a receber uma lista civil anual só para eles.
[editar] Sexta cruzada
Devido a uma promessa que fizera no ano de 1248, quando fora abatido por uma séria doença, Luís IX participou da sexta cruzada, tendo o acompanhado sua esposa Margarida.
Após uma parada em Cyprus, o casal real alcançou o Egito em 1249. Após a conquista de Damiette, Luís transferiu o controle da cidade à esposa, de forma a que pudesse apertar o cerco contra Cairo em novembro.
Como o exército de cruzados sofreu grande derrota em abril de 1250 em Mansurah, Luís IX foi feito refém. Os esquadrões cruzados que mantinham o porto de Damiette, e que já neste momento se preparavam para partir, quiseram partir para a ofensiva e sair em ajuda de seus companheiros. Neste momento, no entanto, Margarida demonstrou grande coragem e força de vontade. Grávida, pouco antes do nascimento de seu filho, fez com que um cavalheiro que a deveria defender jurasse que a decaptaria caso os árabes reconquistassem Damiette, antes que ela pudesse cair nas mãos dos « descrentes ».
Deixou que um só dia passeasse após o nascimento de seu filho João Tristão para se dedicar a seu plano, que era oferecer Damiette como artigo de troca pelos cruzados mantidos reféns. O plano foi bem sucedido. Com o pagamento de 400.000 libras e o retorno de Damiette em 6 de maio de 1250, Margarida salvou a vida de seu marido e dos outros cavalheiros, que foram entregues são e salvos.
[editar] Período pós-cruzadas
Margarida ainda passaria quatro anos na terra santa antes de retornar, em 1254, com seu marido e família, para a França. Uma vez que Branca de Castela havia falecido em 1252, Margarida foi promovida – embora não oficialmente – a uma importante conselheira do rei. Quando Luís quis construir um monastério com o dinheiro da coroa, Margarida utilizou todo o seu poder para dissuadí-lo dessa idéia. Era óbvio que o rei reconhecia sua companheira como uma igual, o que os contratos de casamento de seus filhos vêm a comprovar, uma vez que Luís assina os mesmos lado a lado com Margarida.
[editar] Anos de viúvez
Após a morte de Luís em 1270, em sua segunda cruzada em Tunis, Margarida se isolou em um monastério no subúrbio parisiense de Saint Marcel. Mas ainda se fazia presente na côrte do rei, mesmo que sem influência na política de seu filho, Felipe III de França, que havia se tornado rei como sucessor de seu pai.
Dedicou-se a interesses privados, sobretudo à resolução dos assuntos da Provença. Seguia-se uma inflamada controvércia com seu cunhado Carlos de Anjou, que representava os interesses de sua esposa Beatriz, irmã de Margarida e única herdeira do condado. Em 1282, Margarida, inclusive, organizou um exército de seus mais devotos aristocratas provencialistas, de forma a dar força a suas exigências.
O conflito se resolveu com a substituição de seu filho Felipe III por seu neto, Felipe, o belo em fevereiro de 1287. Margarida passou a ganhar de Carlos de Anjou uma pensão, além de uma compensação por suas perdas. Após a ascenção de Felipe, o belo, Margarida se recolheu da vida na côrte e passou seus últimos anos em uma vida de clausura, juntamente com sua filha Branca, a viúva do Infante Fernando de la Cerda, no convento Sainte Claire, em Paris.
Faleceu em 20 de dezembro de 1295. Apesar de ter presenciado o início do processo de beatificação de seu esposo, São Luís foi canonizado pelo Papa Bonifácio VIII somente dois anos após a morte de Margarida. Está enterrada ao lado dele na Catedral de Saint Dennis.
[editar] Características
Margarida de Provença aprendeu cedo a deixar seus interesses pessoais de lado para adentrar a vida pública. Foi descrita por contemporâneos como vivaz, feliz e curiosa, porém inteligente e persistente, sempre pronta a defender seus direitos, mesmo que necessitasse fazer uso pericioso de intriga para fazer prevalecer suas vontates.
[editar] Política
Devido ao rígido controle de sua sogra, que não lhe permitia qualquer participação no jogo político; devido a sua pouca idade; e devido a seu distanciamento da França por anos durante a sexta cruzada, Margarida não teve a oportunidade, durante os primeiros anos de seu reinado, para participar ativamente em política.
Somente após a morte de Branca de Castilha, passou a intervir ocasionalmente nos assuntos públicos. Seu maior sucesso político foi a melhora das relações entre as casas reais francesa e inglesa. Motivada por sua próxima e afetuosa relação com sua irmã Eleonor, casada com o rei Henrique III de Inglaterra, pode conciliar as duas coroas que, até então, eram distantes e se desgostavam.
[editar] Arte e literatura
Durante sua vida, Margarida promoveu inúmeros artistas e poetas. Os palácios de la Cité se tornaram, sob seu poder, o primeiro local de encontro dos mais famosos intelectuais e poetas de seu tempo. Homens como Tomás de Aquino foram convidados para a mesa real e contribuíram para que a côrte francesa fosse considerada a mais proeminente da Europa em termos culturais.
[editar] Bigliografia
- Marguerite de Provence. In: J. C. F. Hoefer (Hrsg.): Nouvelle biographie générale depuis les temps les plus reculés jusqu'à nos jours. Firmin Didot, Paris 1852-1866, S. 109 - 115
- Andreas Kiesewetter: Die Anfänge der Regierung König Karls II. von Anjou (1278-1295). Das Königreich Neapel, die Grafschaft Provence und der Mittelmeerraum zu Ausgang des 13. Jahrhunderts. Matthiesen Verlag, Husum 1999, S. 158, ISBN 3-7868-1451-1
- Regine Pernoud: Frauen zur Zeit der Kreuzzüge. 1. Aufl. Herder, Freiburg im Breisgau 1995, S. 182-196, ISBN 3-451-04375-0
- Gérard Sivéry: Marguerite de Provence. Une reine au temps des cathédrales. Fayard, Paris 1987, ISBN 2213020175
- Gerd Treffer: Die französischen Königinnen. Von Bertrada bis Marie Antoinette (8.-18. Jahrhundert). Pustet, Regensburg 1996, S. 132-139, ISBN 3-7917-1530-5