Românico cisterciense
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Românico cisterciense - As necessidades de reforma são uma constante na história da Igreja, pondo-se de forma pertinente no período que temos vindo a analisar. De facto, o monasticismo desenvolvido após o ano 1000 tinha caído em excessos e contradições provocando, sobretudo a partir do fim da primeira metade do século XII, uma série de reacções dentro e fora do quadro da Igreja instituída, que levarão a cismas, heresias e uma importante reforma, conduzida pelo ramo cisterciense dos Beneditinos, e em particular por Bernardo, abade de Claraval.
Contra a opulência da vida dos monges, contra o poder de sedução – e, portanto, de engano – das imagens, os Cistercienses procurarão a espiritualidade, a austeridade, a ligação ao trabalho manual. Artisticamente irão recusar, nos seus edifícios, a fantasiosa decoração escultórica, a artificialidade dos vitrais coloridos, o excesso das alfaias litúrgicas em materiais preciosos – e rica ornamentação.
Importa reter que a sua arquitectura se ressentia dessa opção, procurando as formas simples e claras, construindo de forma a optimizar recursos e soluções técnicas e recusando o excesso ornamental nos suportes tradicionais – em particular nos capitéis e vitrais, reduzindo-se a ornamentação nos primeiros a formas essencialmente vegetalistas, enquanto os vitrais são simples vidraças que se rasgam nas paredes. Na prática, esse conjunto de soluções está de acordo com o quadro mental que orienta os monges brancos, já na transição para o que será o mundo do regresso à Natureza, do gótico.
Em Portugal só se poderão considerar românicos os templos dos mosteiros de Fiães, Salzedas e S. João de Tarouca, estando já fortemente comprometidos com o gótico os de Alcobaça ou de Santa Maria de Aguiar, perto de Castelo Rodrigo. S. João de Tarouca foi, de resto, a primeira fundação da Ordem em Portugal, directamente filiada desde 1144 na Abadia de Claraval. O templo foi fundado em 1154, devendo estar concluído cerca de 1169 altura em que – conforme atesta epígrafe junto ao interior do portal axial – foi dedicado por D. João Peculiar, bispo de Braga. Como todos os templos cistercienses é um edifício muito bem construído, cujo plano será de certo atribuível a um monge arquitecto – como era prática na Ordem – de provável origem francesa, dadas as afinidades do seu plano com o da Abadia de Claraval, de S. Bernardo.
Das suas características arquitectónicas, destacamos a originalidade do largo transepto coberto por abóbada quebrada, da organização das três naves (com abóbada quebrada ao centro e transversais nas colaterais), da simplicidade da planta das três capelas da cabeceira, escalonadas e quadrangulares. A simplificação estrutural chega, inclusivamente, à simplificação da descarga dos arcos torais, que assentam – na nave central – em mísulas em cunha que serão uma das marcas da arquitectura dos Cistercienses que influenciará o gótico mais castrense e utilitário, como o de muitas fundações das Ordens militares religiosas.