Timão de Atenas
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Timão de Atenas é uma peça de teatro de William Shakespeare, onde o dramaturgo narra a trajetória de um grande mecenas ateniense. Ele patrocina políticos, artistas, filósofos, prostitutas e qualquer um que se diga seu amigo.
A peça transcorre entre banquetes pantagruélicos oferecidos por Timão. Atenienses ilustres desfilam pelo salão nobre e gravitam em torno dele. O mecenas é cantado, pintado, esculpido, analisado, cultuado e discursado. A prodigalidade dos elogios ao grande personagem não conhece limites e a traição terá lugar de honra à mesa de Timão.
[editar] Fragmento
Ato IV, Cena 2
Entra Timão.
TIMÃO - Ah, muralhas de Atenas, vou olhar pra vocês pela última vez. Vocês, que cercam esses lobos, caiam por terra e deixem Atenas ao deus-dará. Mulheres, chafurdem na bacanal. Crianças, não obedeçam mais ao papai. Escravos e idiotas, arranquem do plenário os veneráveis membros murchos do Senado e assumam o poder. Virgenzinhas em flor, convertam-se logo ao puteiro geral, com papai e mamãe olhando. Falidos do mundo, "uni-vos" - em vez de pagar as dívidas, puxem da navalha e rasguem a garganta dos credores. Trabalhadores assalariados, roubem - os seus patrões são ladrões de mão grande, que roubam também, mas com o apoio da lei. Empregadas, já pra cama do patrão - a patroa ainda não voltou do bordel. Jovens, ao completar dezesseis anos, arranquem a muleta estofada do seu progenitor aleijado e rachem com ela a cabeça dele. Piedade, temor, religião, paz, justiça, verdade, respeito em casa, noites de folga, boa vizinhança, boa educação, boas maneiras, hierarquias, artes e ofícios, usos, costumes e leis, degenerem até que tudo morra no seu contrário e ainda assim viva o caos. Pestes do mundo, que as suas febres invadam Atenas, pronta pra o abate. Que a fria ciática lese tanto os nossos senadores que os seus membros fiquem tão frouxos quanto os seus costumes. Que a luxúria e a libertinagem penetrem sutilmente na medula dos jovens, pra que eles nadem contra a corrente da virtude e se afoguem na perdição. Que sarnas e pústulas plantem-se fundo nos corações atenienses, e que a colheita seja a lepra geral. Que o hálito infecte o hálito, e que a amizade destile puro veneno. Não levo dessa cidade execrável nada mais que a nudez do corpo. Que ela fique nua também, debaixo de mil maldições. Timão vai pra floresta, onde a fera mais desumana é mais humana que a humanidade. Que os deuses - todos os deuses, estão me ouvindo! -, que os deuses amaldiçoem os atenienses, dentro e fora dessas muralhas.Que a vida de Timão faça o seu ódio ser eterno. Contra todos os homens do mundo, no olimpo e no inferno. Amém. (Sai.)