Álvaro de Campos
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Álvaro de Campos (1890 - 1935) é um dos heterónimos mais conhecido de Fernando Pessoa. Nascido em Tavira, teve uma educação de Liceu comum qualificada de «vulgar» pelo próprio Fernando Pessoa, posteriormente foi para a Escócia estudar engenharia mecânica, e depois engenharia naval. Fernando Pessoa, fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos :
«Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :
«Eu fingi que estudei engenharia. Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria.»
Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Houve três fases distintas na sua obra. Começa sua trajetória como um decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, a Saudação a Walt Whitman), versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade: é muito influenciado por Marinetti, um dos nomes cimeiros do Futurismo neste período. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista ou intimismo: é conhecida como Fase Abúlica, e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço («o que há em mim é sobretudo cansaço», assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a reflectir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na «velha casa»: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no pessimista poema Dactilografia da obra Poemas:
«Que náusea de vida ! Que abjecção esta regularidade ! Que sono este ser assim !
No poema Aniversário Álvaro de Campos compara a sua infância, «o tempo em que festejava o dia dos meus anos» com o tempo presente, em que, afirma «já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias». Este é talvez o exemplo mais acabado - e mais conhecido - dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.
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[editar] Fases da Escrita
É possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.
1ª Fase - Decadentista
Nesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” “E eu vou buscar o ópio que consola.”
2ª Fase – Futurista/Sensacionista
Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase é visível no elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal), na ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional e na transgressão da moral estabelecida. Quanto ao Sensacionismo, este revela-se na vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro), no sadomasoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal) ena expressão do poeta como cantor lúcido do mundo moderno.
3ª Fase – Intimista/Pessimista
A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença me relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração (ex. “Tabacaria”), a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.
[editar] Linhas Temáticas
- O canto do Ópio;
- O desejo dum Além;
- O canto da civilização moderna;
- O desejo de sentir em excesso;
- A espiritualização da matéria e a materialização do espírito;
- O delírio sensorial;
- O sadomasoquismo;
- O pessimismo;
- A inadaptação à realidade;
- A angústia, o tédio, o cansaço;
- A nostalgia da infância;
- A dor de pensar.
[editar] Expressividade da linguagem
Nível fónico
a) Poemas muito extensos e poemas curtos;
b) Versos brancos e versos rimados;
c) Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas;
d) Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas.
Nível morfo-sintáctico
a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;
b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.
Nível semântico
a) Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.
[editar] Alguns de seus poemas
- Passagem das Horas, 1916
- Apontamento, 1929
- Tabacaria, 1929
- Magnificat, 1933
- Aniversário, 1930
- Lisbon Revisited, 1923
- Poema em Linha Recta
- Ode Triunfal
- Se te Queres