A dupla vida de Veronique
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A Dupla Vida de Véronique (La Doublé Vie de Véronique, 1991) é um filme de Krzysztof Kieslowski (nascido em Varsóvia, Polônia, em 27 de junho de 1941; morreu em 13 de março de 1996, vitimado por um ataque cardíaco, pouco tempo depois de ter anunciado que voltaria a filmar.)
Este é, possivelmente, o seu trabalho mais abertamente metafísico, um fascinante estudo da ambigüidade intrínseca à natureza humana. Duas jovens, uma polonesa e outra francesa (ambas interpretadas por Irène Jacob), são praticamente idênticas, física e emocionalmente, embora jamais venham a se conhecer. No enredo, é como se uma fosse o duplo da outra, tal e qual no conto Os Teólogos, de Jorge Luis Borges. Kieslowski procede, então, um estudo de duas personalidades "gêmeas" em, claro, duas culturas distintas, num filme labiríntico e lindamente obscuro.
Primeiro projeto de Kieslowski fora da Polônia, o filme começa apresentando o cotidiano da polonesa Veronika (Irène Jacob), até que esta morre vítima de um súbito ataque cardíaco (o que ocorre na primeira meia hora do filme). Em seguida, sem nenhuma explicação lógica, o filme acompanha a francesa Veronique (representada pela mesma Irène Jacob), que misteriosamente parece ter influências da primeira Veronika (a transição entre a polonesa e francesa não seriam reflexos da própria condição da filmografia de Kieslowski?). O filme de Kieslowski não possui propriamente um enredo, ou uma trama. Sua estrutura toda se baseia nesse duplo: as significações todas passam a ser construídas nas possíveis relações entre a primeira e a segunda personagem. Seu cotidiano passa então a assumir um outro significado, a partir de pistas esparsas oferecidas pela direção: uma visita ao médico, o papel da música, um ou outro amante, etc. Esse tom “de seguir as pistas” aumenta quando Veronique tenta identificar as pistas que a levem a seu amante misterioso: uma caixa de charutos vazia, um cadarço, uma fita. Mas ao invés de uma solução pragmática, o que atrai Kieslowski é justamente essa “distante proximidade” entre as duas personagens: uma distância que ao mesmo tempo é abissal e mínima.
A Véronique, seguiu-se a célebre "trilogia das cores", inspirada pelas cores e ideais franceses (azul, branco e vermelho; liberdade, igualdade e fraternidade).
