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Afonso VI de Portugal - Wikipédia

Afonso VI de Portugal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Armas Reais Portuguesas

Rei de Portugal

D. Afonso VI, rei de Portugal

Ordem: 22.º Rei de Portugal
Cognome(s): O Vitorioso
Início do Reinado: 6 de Novembro de 1656,
regência até 28 de Junho de 1662
Término do Reinado: 12 de Setembro de 1683,
deixou de governar em 24 de Novembro de 1667
Aclamação: Lisboa, Portugal, 15 de Novembro de 1657
Predecessor: D. João IV
Sucessor: D. Pedro II
Pai: D. João IV
Mãe: D. Luísa de Gusmão
Data de Nascimento: 21 de Agosto de 1643
Local de Nascimento: Lisboa, Palácio da Ribeira
Data de Falecimento: 12 de Setembro de 1683
Local de Falecimento: Sintra, Palácio Real
Consorte(s): D.Maria Francisca Isabel de Sabóia, Princesa de Nemours
Príncipe Herdeiro: Infante D.Pedro, Duque de Beja(irmão)
Dinastia: Bragança

D. Afonso VI (Lisboa, 21 de Agosto de 1643, Lisboa - 12 de Setembro de 1683) foi o 2º Rei de Portugal da Dinastia de Bragança.

Índice

[editar] Dados biográficos resumidos

Nascido apenas como Infante de Portugal, D. Afonso não estava destinado a reinar nem foi preparado para tal, em virtude do herdeiro da coroa ser o seu irmão mais velho, o brilhante Príncipe D. Teodósio. No entanto, devido à morte precoce de D. Teodósio aos 19 anos, D. Afonso herdou inesperadamente o trono.

Sucedeu a seu pai João IV em 1656, mas sua mãe Luísa de Gusmão exerceu a regência durante a sua menoridade, até 1662. Mereceu o cognome de O Vitorioso, por no seu reinado Portugal ter vencido a Espanha em numerosas batalhas da Guerra da Restauração; a isso muito se deveu a vinda a Portugal de um estratega alemão, o Conde de Schomburg.

Fora atingido aos três anos de idade por uma febre maligna que o tornara mentalmente incapaz e sofrendo de mal hemiplégico. Uma doença do sistema nervoso central, pensa-se hoje, talvez uma meningoencefalite. A esperança de que melhorasse com a idade adiou o problema que era ser o monarca incapaz para o exercício do poder supremo...

Com 13 anos, narra Veríssimo Serrão em «História de Portugal», volume V, página 46, seu maior gosto era rodear-se de rapazes de baixa estirpe, entre os quais dois irmãos Conti», e chegou a se envolver em arruaças nas ruas de Lisboa, causa de preocupação na corte e no Reino. De nada serviram os conselhos da Rainha e do conde de Odemira. «O grupo entrava a seu bel prazer no Paço, dali sendo expulso pelo conde de Odemira, o que levou o monarca cenas de redobrada ira contra a rainha e os conselheiros. Na sombra apareceram então alguns jovens cortesãos, como o conde de Castelo Melhor e o conde de Atouguia, que fortaleceram a posição de D. Afonso VI, não porque lhes conviesse a vida escandalosa deste mas porque sentiam que o favor régio estava a seu alcance logo que ele tomasse o poder.» Diz um cronista:

«Um certo genovês António Conti, astucioso, soube insinuar-se nas boas graças de el-rei, aplaudindo os rapazes que D. Afonso protegia nas contendas que se travavam. D. Afonso descia ao pátio para conversar com ele, que procurava tornar-se agradável, oferecendo-lhe bugigangas do seu comércio, que tentavam o gosto pouco apurado do monarca. António Conti foi-se insinuando no ânimo de D. Afonso, que chegou a introduzi-lo no palácio. Os preceptores quiseram acabar com o escândalo, mas o rei insistiu, e procurou meios de se comunicar secretamente com o italiano. Os preceptores, vendo que nada conseguiam, desistiram. D. Afonso VI, convencendo-se do seu poder, prosseguiu nos desregramentos, introduzindo na sua intimidade o irmão de António Conti, negros, mouros e lacaios de ínfima espécie. Divertiam-se todos em combates de lebreus, primeiro no paço, depois no próprio terreiro, em público. Aquele bando ignóbil não abandonava nunca o rei; percorriam todos a cidade, de noite, apedrejando janelas, arremetendo contra os transeuntes. A incapacidade física de D. Afonso tornava ainda estes espectáculos mais repugnantes. Atirando-se por bazófia a empresas atrevidas, sempre se saia mal, obrigando-se a fazer-se reconhecer, para não ser maltratado pelas pessoas que provocava. Por vezes enchia o paço de mulheres perdidas, também por bazófia, porque não era menos incapaz para as lutas amorosas que para as lutas guerreiras. A rainha regente não sabia como impedir semelhante viver, e quis abandonar a regência, quando D. Afonso completou 18 anos; o conselho de estado porém, pediu-lhe que tal não fizesse, pelo menos enquanto não tirasse António Conti da intimidade do rei. A rainha então antes de largar a regência, resolveu desterrar António Conti para o Brasil; D. Afonso, sempre volúvel depois de se mostrar furioso, sossegou, e talvez até não pensasse mais nos seus validos, se um homem, muito inteligente, mas ambicioso, não tomasse o partido deles, e não excitasse os sentimentos de el-rei.»

A rainha chegou a encarar a hipótese de o infante D. Pedro, seu 3º filho, vir a ser jurado herdeiro do trono, para o que recebeu casa própria (seria mais tarde efetivamente rei como D. Pedro II de Portugal). Mas tendo falhado o golpe palaciano de 1662, que visava o desterro de António Conti no Brasil ou, talvez mesmo, a prisão do monarca, abriu-se o processo que levou ao termo da regência em em 23 de junho de 1662, à entrega do poder efetivo ao rei.

[editar] Poder efetivo

Teve por primeiro-ministro e amigo dilecto D. Luís de Vasconcelos e Sousa, o 3.º conde de Castelo Melhor, que o ajudou a manter-se no poder, não obstante a sua incapacidade mental. Não oferece dúvida que foi ele o cérebro da manobra que afastou a rainha da vida púbica, tendo nela participado o conde de Atouguia e Sebastião César de Meneses. Levaram o rei para Alcântara e para lá convocaram a nobreza, retirando-se ao Paço da Ribeira o centro de decisão política. A rainha, tratada com o maior respeito pelo grupo de Castelo Melhor, se manteve no Paço até março de 1663, quando se recolheu ao convento dos Agostinhos Descalços (ou dos Grilos). Era obra sua a aliança com a Inglaterra, assinada em 1662, condição de sobrevivência da dinastia, assim como o preparo das forças que, entre 1657 e 1661, mantiveram a defesa do Reino. Morreu ela a 27 de novembro do ano seguinte, no convento do vale de Xabregas.

O golpe palaciano que a depôs é assim descrito: «O conde de Castelo Melhor, auxiliado por alguns fidalgos, conseguiu que o monarca saísse para Alcântara, e daí fizesse saber a sua mãe que resolvera assumir o poder. A rainha tentou resistir por boas razões e conselhos, porém nada conseguiu, porque o conde de Castelo Melhor, disposto a subir ao poder, não desistia por caso algum. A 29 de Junho de 1662, el-rei assumiu definitivamente o governo do reino, ou antes, em seu nome o conde de Castelo Melhor, que se fez nomear escrivão da puridade. O conde empregou sua astúcia em afastar de junto do rei as pessoas que podiam ofuscar-lhe o seu valimento; até conseguiu que a própria rainha se afastasse, acolhendo-se ao convento do Grilo. É certo porém, que se o conde se serviu de meios nem sempre dignos para subir ao poder, mostrou-se digníssimo em exercê-lo. 0 reinado de D. Afonso VI deveu-lhe a glória que o iluminou, e o inepto soberano pôde alcançar na história o epíteto de o vitorioso. Já no tempo da regência da rainha D. Luísa, Portugal tinha resistido aos combates contínuos que se seguiram à aclamação de D. João IV e às dissidências que se armaram entre os portugueses. Ganharam forças os dois partidos, do conde de Odemira, D. Francisco de Faro, e do conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses; ambos contavam grandes influências no seu grémio. A rainha teve de lutar com as dificuldades que lhe criavam; um terceiro partido, o do clero, também se organizou a favor da rainha, tendo à sua frente o irlandês Frei Domingos do Rosário. D. Luísa, perfeita diplomata, organizara um governo composto de todas as facções. A Espanha, sempre em guerra, começou a célebre campanha em 1657, e tomou as praças de Olivença e Mourão. Portugal conseguiu recuperar a praça de Mourão. Em 1658, deu-se o desastre de Badajoz, pela malograda tentativa de Joanes Mendes de Vasconcelos, desastre que causou muitas vítimas e muitas perdas; no mesmo ano, porém, a brilhante batalha do forte de S. Miguel foi gloriosa compensação. 0 cerco de Elvas, praça tão heroicamente defendida por D. Sancho Manuel, e em 14 de Janeiro de 1659 a célebre batalha das linhas de Elvas foram grandiosos feitos de armas. Nesta batalha distinguiu-se o conde de Cantanhede, que recebeu, entre outras mercês, o título de 1.º marquês de Marialva, por carta de lei de 11 de Junho de 1661. 0 tratado de paz entre França a Espanha, em 1660, prejudicou muito a política portuguesa, colocando em risco a nossa independência.

«Depois de Afonso VI tomar posse da governação de Estado, D. João de Áustria, filho bastardo do rei de Castela, invadiu o Alentejo, tomou Évora, e chegou quase às portas de Lisboa. 0 conde de Castelo Melhor tratou de organizar importantes forças para repelirem esta invasão, colocando à frente dessas forças D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor, e o conde de Schomberg. Seguiu-se uma série de combates a de vitórias; a reconquista de Évora, a tomada de Assumar, Ouguela, Veiros, Monforte, Crato e Borba; Figueira de Castelo Rodrigo, Ameixial, batalha que se deu em 1663, em que muito se distinguiram os generais marquês de Marialva, e conde de Schomberg. A decadência de Portugal era inevitável, com um rei tão fraco que tudo sacrificava à quietação do espírito e às suas comodidades. Nas colónias ainda essa decadência mais se pronunciava. As complicações da Índia, a aliança da Inglaterra, com o casamento da infanta D. Catarina de Bragança, filha de D. João VI, com o rei de Inglaterra, Carlos II, que levou em dote duas praças, Bombaim e Tânger, a tomada, pelos holandeses, de Ceilão, Cranganor, Negapatam, Cochim, Coulam, e Cananor, as negociações a que foi indispensável entrar com eles e a traição do duque de Aveiro e de D. Fernando Teles de Faro. A campanha contra os espanhóis, terminou por assim dizer, com a batalha de Montes Claros, ganha pelo marquês de Marialva e o conde de Schomberg. Depois desta batalha, só houve escaramuças a guerras de fronteira. Os espanhóis, já cansados de tanto lutar, começaram a tratar da paz, que o conde de Castelo Melhor só queria aceitar com as condições a que nos dava direito a nossa constante supremacia militar. Assim o conde exigia que a Espanha nos cedesse uma porção do seu próprio território, queria a Galiza, e com certeza o conseguiria, se as intrigas da corte o não houvessem precipitado do poder.»

Grupos palacianos se aproveitaram da situação. Um grupo de nobres que incluía também o marquês de Marialva, o conde de Sarzedas, o conde de Vila Flor, conseguiu derrubar o conde de Castelo Melhor. A 27 de outubro a Câmara de Lisboa pediu a convocação imediata das Cortes, enquanto Castelo Melhor se exilava num mosteiro de arrábidos perto de Torres Vedras, exilando-se depois nas cortes de Sabóia, França e da Inglaterra (sua situação só se desanuviou depois da morte da Rainha em 1683). A Rainha deixou o Paço em 21 de novembro, recolhendo-se ao convento da Esperança em clausura com suas damas e oficiais, no que se considerou grande escândalo.

Após seu afastamento em 1667 D. Afonso foi compelido por sua mulher, Maria Francisca, e irmão, Pedro, a abdicar do trono no dia 22 de novembro. O infante D. Pedro justificou a tomada do governo pela exigência do «Senado lisboeta». Guardou apenas o título de «curador» e governador do Reino. Desde 26 de novembro de 1667 os documentos vêm assinados pelo «Infante» e só depois de Cortes em 1668 passaram a sê-lo pelo «Príncipe». Fez membros do Conselho de Estado o duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, D. Vasco Luís da Gama, marquês de Nisa. escolheu como Presidente da Mesa do Desembargo do Paço o marquês de Gouveia, D. João da Silva, e como vedor da Fazenda o velho general D. António Luís de Meneses, marquês de Marialva. Eram todos elementos ligados ao «partido francês», vitoriosos sobre a facção «inglesa» comandada por Castelo Melhor.

D. Afonso foi banido para a ilha Terceira, nos Açores. Tais actos foram sancionados pelas Cortes de Lisboa de 1668. O rei morreu em Sintra, em 1683 depois de preso durante 9 anos no Quarto com seu nome no Palácio Real de Sintra. Sua morte, se diz ter sido por envenenamento, após deposto pelo irmão Pedro II, que veio a casar com a sua mulher. Apenas saía do quarto para se dirigir à Capela do Palácio.

[editar] Casamento

Em 1652 falhou o casamento com a filha do príncipe de Parma, o mesmo sucedendo pouco depois com Mademoiselle de Montpensier, e tampouco resultou o plano de o casar com a filha do duque de Orléans, origem de uma missão de D. Francisco Manuel de Melo. Afinal o marquês de Sande, D. Francisco de Melo, assinou em Paris a 24 de fevereiro de 1666 o contrato matrimonial com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, Mademoiselle d´Aumale. O casamento se celebrou por procuração em La Rochelle em 27 de junho e a nova Rainha chegou a Lisboa a 2 de agosto. D. Maria Francisca alimentou esperanças de gravidez, em que pese a corrente favorável ao infante D. Pedro (o duque de Cadaval, o embaixador francês e outros) dizer depois que o casamento não se consumara.

Depois de se recolher ao convento, como se menciona acima, a Rainha entrou no dia seguinte com um pedido de anulação do matrimônio no Cabildo de Lisboa. Diz Veríssimo Serrão que «o processo constitui uma página lamentável de nossa história», ,mas mesmo que a tese da não consumação possa suscitar reservas, o processo contém matéria abundante para provar a incapacidade do monarca em assegurar a sucessão do Reino. Não resiste à menor crítica, segundo o mesmo historiador, a versão posta a correr de os dois cunhados terem amores incestuosos. Antes da anulação ser declarada, já as Cortes de 1668 tinham sentido o grave problema e sugerido ao infante o casamento com a Rainha, «para quietação do Reino e segurança de sua real sucessão». Efetuaram-se diligências em Roma para a necessária dispensa, no impedimento publicae honestatis que pudesse haver entre os nubentes, tendo a bula de autorização chegado a Lisboa a 27 de março.

[editar] Fim da vida

Instalado na ilha Terceira, ali permaneceu ao longo de cinco anos. Viveu caprichoso, em turbulência constante e com grande violência física, nem mesmo poupava os criados. Em fins de 1673 descobriu-se em Lisboa uma conspiração para favorecer seu regresso. Diversos conspiradores foram mesmo enforcados no Rossio. O Rei, mandado vir, chegou a Lisboa em 14 de setembro de 1674, sendo conduzido ao Palácio de Sintra. Durante nove anos viveu ali, fechado em seus aposentos, com servidores da inteira confiança do duque de Cadaval. No início de 1683 foi sangrado, tomou purgas, em 30 de maio teve «agastamentos, com dores», na manhã de 12 de setembro teve um acidente apoplético e ficou sem fala, morrendo logo. Montalvão Machado, em «Causas de Morte dos Reis Portugueses», Lisboa, 1974, diz que o rei morreu de tuberculose pulmonar, como outros filhos de D. João VI e D. Luísa.

Jaz juntamente com seu irmão Pedro II e Maria Francisca, no Panteão dos Braganças em Lisboa.

[editar] Bibliografia

  • 1 - RIBEIRO (Mário de Sampayo) - ESTUDOS DE CRÍTICA HISTÓRICA / I / 1667 - 1668 / A destronação de el-Rei / D. Afonso VI e a anulação / de seu matrimónio / LISBOA / 1938. D. Afonso VI era filho de D. João IV o Restaurador, e de sua mulher D. Luísa de Gusmão. Não era o filho mais velho, pois esse, D. Teodósio, tinha morrido havia já alguns anos. D. Afonso mal preparado, e com poucos talentos para governar, foi deposto pelo irmão D. Pedro e seus partidários. Deposto o rei, D. Pedro assume a regência do reino, tendo como uma das coisas prioritárias a anulação do casamento de D. Afonso com a rainha Maria Francisca Isabel de Sabóia. Obra que relata os acontecimentos ocorridos entre o ano de 1667 a 1668.


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[editar] Ver também

Precedido por
D. João IV
Rei de Portugal e dos Algarves
d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.

1656 - 1683
Sucedido por
D. Pedro II
Precedido por
D. Teodósio
Príncipe do Brasil
Sucedido por
D. João
Precedido por
D. Teodósio III de Bragança
Duque de Bragança
1653 - 1683
Sucedido por
D. João III de Bragança
Precedido por
D. Teodósio de Bragança
Conde de Ourém
1653 - 1683
Sucedido por
D. João de Bragança


BIOGRAFIAS

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