António Ferro
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Sinta-se livre para editá-la para que esta possa atingir um nível de qualidade superior.
António Ferro (Lisboa, 1895 - 1956) foi um artista e político português.
António Ferro é uma das figuras mais curiosas da História de Portugal do século XX. Apesar de ter sido um dos instrumentos de propaganda do regime salazarista, foi também um dos governantes portugueses que mais fez pela cultura.
Fascista confesso (fascinado por Benito Mussolini e pelos regimes ditatoriais da época), foi ele quem sugeriu a Salazar a criação de um organismo que fizesse propaganda aos grandes feitos do Regime.
Mas como era essencialmente um homem de cultura e de espírito, serviu-se do organismo criado para defender e divulgar os artistas e as obras mais arrojadas da nossa modernidade.
Personagem ambígua e contraditória, corria atrás de quê: da fama, do dinheiro, da ambição, do ideal... ?
Quem era António Ferro ? O que queria ? Foi benéfico ou maléfico para o país ? Era fascista ? Era revolucionário ? Servia o regime ou servia-se dele ? Adorava ou odiava Salazar ? Porque caiu em desgraça ? Foi a era Duarte Pacheco (a política do cimento armado) que destronou a era António Ferro (a política do espírito) ?
E em relação à sua vida pessoal: o que o unia à escritora Fernanda de Castro ?
E no que diz respeito aos artistas, defendia-os ou usava-os ?
Como ler hoje na sua acção política e cultural, depois de tantos anos e de tantos Ministros e Secretários de Estado da Cultura ?
É a vida estranha de um homem estranho ao serviço de outro homem estranho. Uma figura perdida na noite dos tempos, de algum modo um pouco injustiçada, incluída à força, - tal como Duarte Pacheco – no grande saco do fascismo nacional, a que muita gente prefere chamar tacanhismo ou provincianismo.
Mas será que foi mesmo assim ? Será que António Ferro comungava da mesma visão pequenina e autoritária do “nosso homem de Santa Comba” ?
Muita coisa os dividia: um era professor universitário, o outro um autodidacta; um era provinciano, o outro mundano; um era autoritário, o outro nem por isso; um era fechado, o outro mais aberto; um era discreto, o outro vaidoso; um era conservador, outro mais revolucionário... São no fundo duas personalidades contraditórias que, por motivos vários, se uniram numa obra comum.
António Ferro foi o “Dr. Goebbels de Salazar” ou apenas um homem de cultura que tal como Leni Riefenstahl usou um regime ditatorial para a proteger e se engrandecer ? Não nos esqueçamos das lutas que travou com os conservadores do regime em defesa da arte moderna.
Tentar conhecer bem a vida de alguém é sempre um trabalho fascinante, mas também complicado. Sobretudo quando se trata de um dos homens mais poderosos do nosso século XX, o ministro da cultura e propaganda do regime salazarista.
Mas se a tarefa é difícil, vale bem a pena meter-lhe ombros. Já se passaram muitos anos desde que António Ferro foi ministro da propaganda. Já é agora possível ter dele e da sua obra uma visão desapaixonada, coisa que era impossível durante o fascismo ou nos anos a seguir ao 25 de Abril.
É agora necessário – diria mesmo obrigatório – começar a produzir trabalhos acerca dos acontecimentos e das pessoas que marcaram a primeira metade do século passado. É um dos deveres de um cinema que se quer ao serviço das pessoas, da História e da Cultura.