Cristão-novo
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Cristão-novo era a designação dada em Portugal e no Brasil a um judeu convertido ao cristianismo.
Desde os alvores da nacionalidade, sempre existiram minorias étnicas e religiosas em Portugal. Judeus e mouros e, mais tarde, ciganos, constituem os contingentes mais expressivos. Os primeiros antecedem provavelmente as invasões dos segundos, tendo gozado muitas vezes de protecção e favorecimento régios, mercê das suas fortunas e actividades mercantis, e até da sua preponderância cultural. Inseridos num Portugal agro-pecuário e piscatório, dedicar-se-ão aos ofícios ou a actividades liberais (ciência, medicina, farmácia...) e gradualmente ao comércio e à finança, onde não conheciam grande concorrência.
Ao longo da Idade Média, habitaram preferencialmente - de acordo com as suas ocupações profissionais - nas maiores aglomerações urbanas do País, em bairros próprios (judiarias; mourarias no caso dos árabes ou mouros, menos numerosos), praticando o seu culto, falando o seu idioma e mantendo as suas tradições ancestrais. Diplomaticamente, mantinham fidelidade à Coroa, a ela se subordinando. À parte alguns incidentes, principalmente motivados por questões religiosas, a sua vida no Reino não correu nunca grandes riscos de ser posta em causa.
No entanto a sua classificação só apareceu no século XV durante o reinado de Manuel I de Portugal, que impôs aos judeus a conversão ou a expulsão do país e das suas colónias. A medida foi uma tentativa de homogeneizar a religião na Península Ibérica e consta do acordo de casamento entre Manuel I de Portugal e a Infanta Isabel de Aragão, à data a herdeira dos Reis Católicos.
A maioria dos cristãos novos, porém, permaneceu fiel à sua religião original (sendo assim denominados de marranos ou criptojudeus) e inventou inúmeras formas de esconder a sua convicção religiosa. As alheiras, um tipo de enchido de carne de galinha e outras aves, foram por exemplo criadas para imitar os tradicionais chouriços de carne de porco, proibida aos judeus. O falhanço da seriedade de muitas conversões levou à criação da Inquisição, que diferia em diversos aspectos da Inquisição "tradicional", em Portugal e ao estabelecimento de uma política de distinção em relação aos cristãos novos. Sob o espectro da Inquisição, nunca mais os cristãos-novos, maioritariamente judeus, tiveram no reino tranquilidade. Continuaram, clandestinamente, a fugir para os Países Baixos, Constantinopla, Norte de África, Salónica , Itália e Brasil, mantendo laços secretos e apoiando os cristãos-novos portugueses.
A maioria das 1500 vítimas da Inquisição portuguesa eram também cristãos-novos, tal como uma boa parte dos seus 25 000 processos até à sua extinção. O Santo Ofício influirá no desaparecimento dos ofícios nas regiões de Trás-os-Montes e Beiras, onde os judeus eram os dinamizadores da produção de têxteis, sedas e lanifícios. Para além do confisco de bens, os cristãos-novos serão também vítimas dos atestados de "limpeza de sangue" nas candidaturas a cargos públicos, militares ou da Igreja, o que os afastava por possuírem confirmação inquisitorial.
Foi apenas em 1770, durante o governo do Marquês de Pombal (já em plena época das luzes) que se eliminaram as distinções entre cristãos velhos e novos.
Muitos intelectuais portugueses eram cristãos-novos e foram perseguidos por isso. Pedro Nunes, o matemático português, foi um cristão-novo. Os seus netos foram acusados pela Inquisição. As ossadas de Garcia da Orta, famoso médico português e ele também um cristão-novo, foram queimadas numa macabra cerimónia da Inquisição em Goa.