Etologia
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A Etologia originou-se a partir da zoologia. Está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, sob influência da teoria darwiniana, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural. Segundo Darwin (1850, apud Bowlby,1982), cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar de padrões de comportamento, da mesma forma que é dotada de suas próprias peculiaridades anatômicas. Os etólogos estudam esses padrões de comportamento específicos das espécies, fazendo-o preferencialmente no ambiente natural, uma vez que acreditam que detalhes importantes do comportamento só podem ser observados durante o contato estreito e continuado com espécies particulares que se encontram livres no seu ambiente.
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[editar] As Quatro Questões
Os etólogos caracterizam-se por uma posição metodológica que gira em torno das quatro questões de Tinbergen. Este, em 1963, propôs que em primeiro lugar deve-se observar e descrever o comportamento, posteriormente, uma análise completa do comportamento deve ser feita com bases nas análises causal, ontogenética, filogenética e funcional. A análise causal é feita através do estabelecimento de uma relação entre um determinado comportamento com uma condição antecedente, sendo estudados os estímulos externos responsáveis pelo comportamento e os mecanismos motivacionais internos. A análise ontogenética envolve uma relação do comportamento com o tempo, estando o interesse voltado para o processo de diferenciação e de integração dos padrões comportamentais no curso do desenvolvimento de um indivíduo jovem. A análise filogenética, por sua vez, estuda a história do comportamento no curso da evolução da espécie. Por último, a análise funcional estabelece uma relação entre um determinado comportamento e mudanças e ocorrem no ambiente circundante ou dentro do próprio indivíduo. Pensa-se que vantagens seletivas um dado comportamento confere a um animal, como pode afetar as chances de sobrevivência e reprodução de um animal, fornecendo assim material para a seleção natural. A peculiaridade da metodologia etológica é a preocupação com questões de função, adaptação e filogênese, que mesmo quando não são o foco principal de estudo se reflete na maneira que é conduzida a análise de questões causais ou ontogenéticas.
[editar] Contribuições metodológicas da Etologia para a Psicologia
Hinde (1974 apud Carvalho, 1998) defende que os procedimentos de observação, descrição, experimentação e análise desenvolvidos para o estudo do comportamento animal podem ser utilizados no estudo do comportamento humano, com grande sucesso. Segundo Bowlby (1982), “a Etologia está estudando os fenômenos relevantes de um modo científico”. Segundo o mesmo, a abordagem etológica pode fornecer o repertório de conceitos e dados necessários para explorar e integrar dados e insights proporcionados por outras abordagens, como a psicanálise e a teoria da aprendizagem de Piaget.
[editar] Contribuições "práticas" para a Psicologia
Esse tipo de contribuição refere-se à possibilidade de utilização de resultados obtidos em estudos de comportamento animal para a complementação, confirmação e / ou aprofundamento de conhecimentos sobre o homem. Essa contribuição é especialmente útil em problemas nos quais a experimentação com humanos é impossível ou inconveniente, como os estudos de isolamento social em primatas não-humanos. Embora não se possam transpor resultados diretamente, dada a importância das diferenças inter-específicas, estes estudos enriquecem a compreensão sobre os seres humanos quando comparados com sujeitos em situações menos controladas, como estudos clínicos e observacionais.
[editar] Contribuição teórico-conceitual
A Etologia, enquanto abordagem do estudo do comportamento que se caracteriza por um enfoque biológico e, portanto, como área do trabalho científico, utiliza modelos e conceitos teóricos para a interpretação de seus fenômenos. Conceitos como estímulo-sinal, estímulo supra-normal, estampagem e período sensível têm sido de grande importância no estudo do desenvolvimento infantil, por exemplo.
[editar] Contribuições sobre o conceito de Homem
A Etologia, segundo Carvalho (1989), tem contribuído para a recuperação da noção de homem como um ser bio-psico-social, abandonando a concepção insular do homem que dominou as ciências humanas (inclusive algumas áreas da Psicologia) na primeira metade do século XX, que destaca o homem da natureza e coloca-o em posição de oposição a esta. A concepção etológica do ser humano é a de um ser biologicamente cultural e social, cuja psicologia se volta para a vida sociocultural, para qual a evolução criou preparações bio-psicológicas específicas.
[editar] Referências bibliográficas
- BOWLBY, John (1982) Formação e rompimento de laços afetivos. SP: Martins Fontes – Abordagem etológica da pesquisa sobre desenvolvimento infantil, pp. 23-40.
- BUSSAB, V. S. R; OTTA, E; GUERRA, R.F.(1991) Introdução à Etologia. In: XXI Reunião Anual de Psicologia de Ribeirão Preto, 1991, Ribeirão Preto. Anais da XXI Reunião Anual de Psicologia de Ribeirão Preto, 1991, pp. 378-382.
- CARVALHO, A.M.A. (1989) O lugar do biólogico na Psicologia: o ponto de vista da Etologia. Biotemas, 2(2): pp. 81-92.
- CARVALHO, A.M.A (1998) Etologia e Comportamento Social. Em: Psicologia, reflexões (im)pertinentes, Casa do Psicólogo, pp.195-202.
- OTTA, E. (1989) . A importância da Etologia para a Psicologia. In: 3º Encontro Paranaense de Psicologia, 1989, Londrina. Anais do 3º Encontro Paranaense de Psicologia, 1989. v. 3. p. 77-81.
- SANTOS, António J. Psicobiologia e Etologia do Desenvolvimento Humano. Congresso Internacional, Interfaces em Psicologia, Universidade de Évora. Disponível em: http://www.ispa.pt/resources/contents/CII/Files/Linha8/projectos.pdf Acesso em: 26 jun 2005.
[editar] Artigos relacionados
- Jane Goodall
- Konrad Lorenz
- John Bowlby
- Desmond Morris, autor de O macaco nu
- Richard Dawkins