Joris Ivens
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[editar] Joris Ivens e a Função Social da Arte
Não é recente a discussão sobre se existe ou não uma função social da arte. De facto, esta problemática iniciou-se quando a arte perdeu uma função prática específica. De seguida analiso a vida e obra do cineasta e documentarista Joris Ivens, que através dos seus filmes de intervenção provou que o cinema, enquanto arte possui uma forte componente social.
“O artista tem de estar envolvido nas coisas e nunca o esconder.” Joris Ivens
[editar] Introdução
Se desde a pré-história que o artista tem funções muito específicas na tribo, geralmente relacionadas com questões meta-físicas, com o evoluir da sociedade a linha que separa artista de sacerdote começa-se a esbater. Com o aparecimento do conhecimento pré-científico, o aritsta assume a função de ilustrar mitos. Só com o aparecimento e o desenvolvimento da aristocracia é que se começa a formar um novo tipo de arte, um que pretende glorificar e dar um brilho aos mais abastados. Durante o domino da arte cristã, predominam as preocupaçoes teológicas com a sociedade, continuando a funcionar a arte ao serviço da sociedade, e apenas com Giotto é que aparece o artista centrado em si, nas suas opiniões, crenças e ambições. Aí se inicia a emancipação do artista, e a independência das imposições do poder religioso, bem como do poder civil. No entanto, no Renascimento a função social do artista apenas persiste submetida aos grandes mercadores, à aristocracia, e sobretudo a uma igreja que rapidamente vinha ampliando o seu poder político. Esta situação mantém-se praticamente até à civilização moderna, altura em que os valores ideológicos dominantes, nomeadamente os valores religiosos e monárquicos, são substituídos pelos direitos do homem, que na teoria abrangem todos os membros da sociedade.
Aqui, o artista ganha uma nova liberdade e independência, também ela teórica, e com isto levanta-se a problemática da função social da arte e do artista. Começamos a querer saber para que serve a arte, e como é suposto subsisitr o artista. Ora a arte é essêncialmente criadora, pois de outro modo não é arte. A arte aproxima-nos da verdadeira essência humana, visto que o que nos torna singulares perante as outras espécies animais é a produção de inutilidades. Se não tivermos a necessidade de ócio, a nossa vida enche-se de um niilismo existencial e os dias e noites esvaziam-se de sentido sendo que retiramos a vitalidade a linha que separa o animal irracional do animal racional, dotado de alma e sentimentos.
[editar] Vida e obra de Joris Ivens
Cornelius Ivens, mais conhecido como Joris Ivens nasce em Nijmegen, na Holanda em 1898, no seio de uma família rica. Aos 13 anos descobre uma camara de filmar Pathé, numa das prateleiras da loja do pai, e é assim que começa a sua carreira, rodando um filme acerca de “cowboys” e índios intitulado “A Flecha Flamejante”. Inspirado por Murnau, Fritz Lang, e pelos poemas visuais de Walter Ruttman, Ivens desenvolve uma forte formação estética e cultural. Interessa-se fortemente pelas leituras de Freud, Karl Marx e Bakunin, ligando-se desce cedo aos movimentos de esquerda. Em 1927 nasce a Filmliga, que foi o primeiro espaço de actividade cinematográfica regular de Ivens, e através do qual faz chegar à Holanda os principais títulos da vanguarda europeia, os primeiros documentários. Ivens ganha uma afecção por cineastas como Buñuel, Flaherty, Eisenstein e Dovjenko. Em 1928, Ivens roda o clássico Ponte, e menos de um ano depois, em 1929, filma uma das suas obras mais populares, Chuva, acontecendo que estas duas películas causam grande impacto nos meios de vanguarda parisience. Nos anos que se seguem, percorre vários países em luta pela liberdade, tais como França, U.R.S.S., China, Vietnam, Cuba, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, e a sua terra natal Holanda e, realiza uma série de documentários impregnados de um forte sentido de justiça social. Na década de 60 Joris Ivens convive com a cinematografia latino-americana através das suas realizações em Cuba e no Chile. Socialista assumido, Ivens passou grande parte da sua vida a documentar a vida daqueles que viviam com dificuldades, em 43 documentários que realiza e por vezes também escreve, produz , dirige a fotografia e representa, entre 1910 e 1988, altura em que filma Uma História do Vento Morre num hospital de Paris em 28 de Junho de 1989, vítima de paragem cardíaca causada por doença prolongada.
[editar] A função social de Joris Ivens
É difícil saber ao certo, se Joris Ivens teve mais influência na sociedade ou na História do cinema. Percursor do género documentarista, Ivens sempre viveu de acordo com as suas crenças, e sempre lutou por uma justiça social, através da sua extensa filmografia. Desta forma, e sempre sem fazer cinema de propaganda, mas objectos marcadamente artísticos, Ivens tornou quase obsoleta a questão da função social da arte, ou pelo menos da função social da sétima arte. Tornou-se claro que o cinema era ao mesmo tempo uma forma de arte, e um meio perfeitamente legítimo de manifestação cultural. Sempre inconformado com a sociedade capitalista que governava (e governa) o mundo, Ivens manifestou-se até ao fim. Apesar da doença que o atormentava, e que o iria levar à morte, no final da década de 80, poucas semanas antes de desaparecer Ivens participou em manifestações que se efectuaram em paris, contra a supressão de liberdades na china. De facto, apenas por ter esta personalidade marcadamente revolucionária, típica de qualquer artista em qualquer espectro do espaço ou do tempo, Joris Ivens foi expulso dos Estados Unidos, na famosa época da Caça às Bruxas, sob a acusação de ser simpatizante do comunismo. Acima de tudo, Ivens foi mestre em distinguir bem a ténue linha que separa a arte, da mera compilação de imagens. Segundo o próprio, “Não sou um historiador e não faço documentos históricos. É verdade que realizei documentários sobre muitos acontecimentos importantes do século XX, mas em nenhum instante pensei que deveriam ser documentos históricos”. Desta forma, Joris Ivens revela-se através do seu trabalho muito directo, reflectindo as suas próprias sensações e vivências, e por isso conta o que deseja contar através de uma forte sensibilidade artística.