Discussão:Norton de Matos
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SOBRE A CAMPANHA DE NORTON DE MATOS EM 1948/49
Sempre se tem dito que Norton de Matos desistiu por não estarem reunidas as condições para as eleições serem livres e devidamente fiscalizadas. Não foi exactamente assim! Norton de Matos conhecia bem as limitações que haveria se o processo fosse até ao fim: os resultados poderiam em muitos circulos ser alterados; o governo de salazar faria votar até os mortos; seriam lançadas acções pelas forças policiais e para militares - Legião Portuguesa por exemplo. Mas ele queria ir até ao fim. Sabia que em alguns circulos, como foi o caso de Angola onse se votou porque a notícia da desistência não chegou a tempo, e seria o caso de muitas freguesias do Porto, entre outros casos. Mesmo que tivesse 5% ele queria ir até ao fim. Quem não queria era o partido comunista que tentara e conseguira ter um grande ascendente na campanha (basta dizer que Mário Soares, filho de um grande amigo de Norton de Matos, foi secretário da campanha até ser afastado pelo candidato, depois de lhe ter revelado que pertencia ao PC e era o seu representante na campanha). Porque não queria o PC ir até ao fim? Em minha opinião porque queria retirar a Norton de Matos qualquer protagonismo no futuro, nomeadamente numa eventual evolução política favorável do ponto de vista democrático, o qual quereria sempre liderar, isto por um lado. Por outro, sempre quiz tirar proveito a seu favor da vitimização e frustração que se gerava com a não realização de eleições. Finalmente porque o PC era (é?) um partido revolucionário, para quem um processo eleitoral era um mero pretexto para a sua propaganda e dos seus pontos de vista. Por essa razão manobraram e pressionaram o candidato para desistir. Primeiro numa reunião na Voz do Operário, onde Salgado Zenha, chefiando uma série de comissões inventadas (de Jovens e Mulheres de várias partes) e que nada tinham a ver com a campanha, violentamente atacou a vontade do candidato, provocando uma votação desfavorável dos representantes regionais da campanha. Depois, numa célebre reunião na sede da campanha onde se chegou à beira da agressão física a Norton de Matos. Nenhum dos sobreviventes dessa lamentável cena que pude contactar me quiseram revelar pormenores. Soube há pouco tempo, por interposta pessoa, que o mais exaltado elemento nessa ocasião foi Manuel Mendes. Norton de Matos acabou por desistir na véspera da eleição quando se aprecebeu que dentro da própria campanha se chegara a boicotar a feitura dos boletins de voto. Tempos depois escreveu as seguintes palavras: "Quanto a política futura, o certo e inabalável é que não quererei mais relações políticas, directas ou indirectas, com os comunistas. Teremos de viver inteiramente à parte, eu e eles." Estas palavras constam de uma carta que a PIDE violou fazendo cópia para Salazar, em cujo arquivo se conservou. Compreende-se agora porque razão o dossier de Norton de Matos no que resta do arquivo da PIDE para consulta do público contém apenas dois papéis sem qualquer importância. Mãos interessadas fizeram desaparecer o resto