Pedro José de Almeida Portugal
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Pedro José de Almeida Portugal nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Catarina, em 16 de janeiro de 1754 e morreu em 2 de janeiro de 1813 em Kœnigsberg.
Terceiro Marquês de Alorna e 5° Conde de Assumar em 1754, sucedeu na casa e títulos a seu pai, em 9 de janeiro de 1802. Vedor honorário da Casa Real em verificação de vida concedida neste ofício por decreto de 6 de julho de 1793, oficial-mor honorário da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo, Grande Oficial da Legião de Honra da França. Foi governador de Armas da Província do Alentejo, chefe da Legião das Tropas Lusitanas; Tenente general do exército, distinto por seus talentos militares; governador da província de Minsk, na Rússia. Foi maçon, oficial do exército, fez a campanha do Rossilhão e foi comandante da Legião Portugal, condenado à morte em 1810.
[editar] Infância
Não tendo ainda cinco anos, ficou privado dos afetos de pai e de mãe, e entregue aos cuidados e compaixão dos criados, em consequência dos acontecimentos políticos, e do crime dos Távoras, que encarceraram seu pai no forte da Junqueira e sua mãe e irmãs no convento do Chelas. Por morte de D. José I de Portugal em 1777, D. D. Maria I subiu ao trono, e um dos seus primeiros cuidados foi dar liberdade aos presos do Estado; o segundo marquês de Alorna, D. João de Almeida Portugal, ficou livre e restituído à sua família. D. Pedro de Almeida recebeu o título de conde de Assumar, e passou a ocupar na corte o lugar a que tinha direito pelo seu nascimento fidalgo.
[editar] Carreira de armas
Seguiu a carreira das armas, e sendo coronel de cavalaria, foi escolhido em 1793 para ajudante da divisão auxiliar a Espanha. Desembarcando no porta de Rosas, distinguiu-se nos primeiros combates, mas no fim dum ano de campanha recolheu a Lisboa com licença, muita preocupado com a ideia de que os generais espanhóis não deixavam brilhar as tropas portuguesas, coma era de justiça, para reservarem todas as honras da vitória para seus soldadas, e que o tenente general Forbes, comandante da divisão portuguesa, não tinha a energia para se impor, evitando esta desconsideração.
Em 1795, alcançou a titulo de marquês, concessão de D. Maria I, pelas cartas do 4 e 14 de Abril, com as honras do ofício de vedor da Casa Real, e a graduação de marechal de campo, ficando efetivo no ano seguinte, 1796, sendo nomeado em 1797 chefe da Legião lusitana de tropas ligeiras.
Com as proporções que tomara a revolução francesa, em 1799, começou a haver receios que Portugal não pudesse evitar ser também invadido, e o príncipe regente, D. João, conhecendo que seus exércitos estavam pouco habilitados para entrarem em batalha, encarregou o marquês de Alorna de apresentar as suas ideias sobre o modo de o organizar o disciplinar convenientemente. O general formulou O seu plano numa memoria a que deu o titulo de «Reflexões sobre o systema economico do exercito», tratando de assentar a constituição do exercito em regras fixas e definidas, tornar fácil e dependente duma simples ordem do poder supremo a passagem do pé do paz para a do pé de guerra, e dispor de tudo de forma que consignando à defesa do pais a verba constante do seis milhões e meio, com as economias feitas durante a paz, houvesse sempre um tesouro de guerra reservado para ocorrer ás despesas extraordinárias dum ano de preparo e de dois primeiros do campanha.
Este trabalho, com o longo prazo que o marquês contava desde os anúncios de guerra até ás primeiras operações, deu um magnífico resultado, e é uma glória para Portugal ver que muitos dos métodos adotados depois na Alemanha, se encontram propostos na memória que Alorna escreveu nos fins do século XVIII. A memória, inédita mais dum século, foi publicada com o seguinte frontispício: Marquês de Alorna - Marechal de Campo - Reflecçoens sobre o systema economico do exercito, 1799. Livraria Ferin, Lisboa, 1903; 1 vol. com retrato. No livro vem um prólogo do Sr. Fernando Maia, ilustre lente da Escola do Exército, um que se explica a situação política e militar do reino e a razão por que tal memória foi escrita.
Pouco tempo depois, perturbaram-se as as relações diplomáticas com a Espanha. Tratando o governo de se preparar para a guerra, Alorna teve o comando das tropas que se uniram na Beira. Em vão requisitou mais forças, dinheiro e recursos indispensáveis para a defesa; seus pedidos tiveram somente promessas em resposta. Então valendo se do seu próprio crédito, abasteceu Almeida, e com a sua energia conseguia fazer das rochas do Monsanto uma praça de guerra, e construir na Guarda um forte com casamatas à prova de bomba, fortificou a posição das Talhadas com três redutos e outros entrincheiramentos, pôs o castelo de Vila Velha, um montão de pedras, em estado de se defender, levantando flechas e trincheiras, fez obras nos arredores de Sortelha e Celorico, criou um Hospital no Fundão, estabeleceu nesta vila, em Cardigos e Celoricos, armazéns para abastecimento das suas posições e com o fim do facilitar as comunicações para Abrantes, uma sofrível estrada, que ficou com o nome do estrada do marquês de Alorna; em paga de tantos serviços, o governa mandou-o servir como imediato do general Dorckar [Dordaz], a quem deu o comando superior da província da Beira. Das medidas então infelizmente adotadas, resultou a perda de Arronches e Flor da Rosa, e finalmente a vergonhosa paz de Badajoz.
Governador de armas do Alentejo, quando da invasão de Junot foi seu ajudante Lecor que avisou a Corte de que os franceses estavam em Abrantes e não Salamanca. (Junot, aliás, seria abraçado pela condessa da Ega, uma das filhas de sua irmã D. Leonor de Almeida). O prestigio de D. Pedro, de quem Junot escreveu a Napoleão: «O tenente general Marquês de Alorna ser-me-ia muito útil para esta organização (a da Legião Portuguesa a ser mandada à França tomar parte na campanha napoleônica); é um homem de honra, cuja opinião positiva é que o maior bem q pode suceder ao seu país é estar na dependência da França. Uma palavra de Vossa Majestade o adquirirá indubitavelmente e poderá ser-nos muitissimo útil.»
Comandante da Legião das Tropas Lusitanas de 9 mil soldados que partiu para Baiona em abril de 1808 com seu criado João André Hilbreth que o servia desde 1791 e o teria abandonado em 1809 para ser criado em casa de pasto no Rossio.
No dia 1º do Dezembro do 1801, o governo nomeou uma grande comissão composta de vários generais, presidida pelo ministro da guerra, D. João de Almeida Melo e Castro, à qual foi incumbido o estudo das instituições militares e das reformas de que elas careciam. Alorna não teve entrada na comissão, sendo porém impossível deixar do ouvir a sua opinião num assunto em que era competente, foi-lhe enviado um aviso, em 17 de Abril do 1804, ordenando-lhe que desse o sou voto com individuação sobre o projeto que já estava elaborado, o que fez por escrito, declarando o plano proposto incompleto e censurando que se quisesse alterar o que a experiência tinha mostrado bom, só pelo deseja de fazer inovações.
Parece que Alorna ainda escreveu nessa época a seguinte obra: «Observações sobre a memoria do general Dumouriez acerca da defeza de Portugal, com o projecto de reorganisação do exercito no plano de defeza do paiz». Trabalho hoje perdido, do que não encontra copia alguma.
Alorna envolveu-se na conspiração que em 1805 se tramou, para tirar a regência ao príncipe D. João, que se deixava dominar pelo partido francês, e por esse motivo não partiu para o Rio do Janeiro a exercer o cargo do governador para que fora nomeado; mais tarde foi promovido a Tenente general, encarregado do governo das armas do Alentejo, onde estava no anuo de 1807. Do seu quartel general de Vila Viçosa transferiu-se para Elvas quando viu aproximar-se a guerra, tratou de reforçar a guarnição da praça o abastece-la de viveres, ordenou ao tenente coronel Lecor, seu ajudante de campo, que partisse a colher noticia das franceses, o que no caso deles terem invadido o nosso território, seguisse para Lisboa a avisar a príncipe, recomendando na passagem aos magistrados que cortassem as pontes e dificultassem por todos os modos a entrada das estrangeiros. O tenente-coronel Lecor, depois do desempenhar a sua missão, voltou a Elvas, com ordem do não pôr obstáculos à marcha das tropas do general Solano, e Alorna teve de resignar-se a cumprir as ordens do regente, que abandonava o seu povo, partindo para o Brasil.
A conquista e fora fácil aos franceses, mas para que pudessem manter o seu domínio, tornava-se urgente impossibilitar os meios de que os portugueses podiam dispor para recuperar a sua independência; para alcançar esse resultado, Junot, primeiro ajudante de campo de Napoleão, teve a ideia de dissolver o exército e afastar para longe os melhores soldados e os chefes mais conhecidos. Foi daqui que nasceu o licenciamento do exército e organizar-se a legião portuguesa em que entraram Gomes Freire de Andrade e Manuel Martins Pamplona, depois conde de Subserra, íntimos amigos de Alorna, ficando o marquês com o comando geral.
A Legião Portuguesa foi, portanto, manifestamente criada por Junot para recrutar soldados para os exércitos franceses, mas também, e era esse o principal fim, afastar de Portugal, enviando-os ao centro das hostes napoleónicas, os homens mais perigosos, habituados à disciplina militar e a defenderem a bandeira portuguesa, cuja permanência poderia ser fatal aos invasores. Alorna saiu de Portugal com as forças do seu comando, na primavera de 1808, acompanhou-as até Burgos onde ficou doente, indo depois encontrá-las em Bayonne. Os franceses tomaram as precauções para que as notícias desfavoráveis não transpirassem, mas apesar dessas precauções, Alorna teve conhecimento da derrota de Dupont, nos campos de Bailen; então chamou ao seu quartel-general os comandantes dos corpos alojados nas proximidades, e propôs-Ihes o regresso da legião a Portugal; os comandantes, porém, consideravam grande temeridade a marcha de tão pequena força pelo meio dos exércitos franceses, e o marquês teve de desistir da sua ideia, bem a seu pesar.
Napoleão, parecendo adivinhar aquele plano, ordenou que a legião entrasse em França e se aquartelasse em Grenoble. Em quanto as tropas portuguesas estiveram nesta cidade, o comando era exercido pelo general da divisão territorial e pelo inspector, ficando Alorna somente com o titulo de comandante, sem atribuições algumas, e assim se conservou até Março de 1809, em que indo a Paris, teve ordem de seguir para o quartel general do rei José Bonaparte, onde o detiveram até Junho de 1810, sem comando e afastado das tropas.
Preparava-se nesta época a terceira invasão contra Portugal, e Napoleão pensou que a presença de generais e fidalgos portugueses no exército poderia facilitar a realização de seu intento; Alorna recebeu então ordem de se apresentar em Salamanca ao general Massena, com o qual seguiu para a fronteira e entrou em Portugal. A regência de Lisboa, tendo conhecimento do fato, passou a portaria de 6 de setembro de 1810 exautorando Alorna, privando-o dos títulos, honras e dignidades e até do nome de português, oferecendo ao mesmo tempo mil moedas a quem, vivo ou morto, o apresentasse, além do perdão no caso de ser seu cúmplice no crime de traidor à pátria.
Seguiu-se depois um processe instaurado no juízo da inconfidência, em que o condenaram à morte em cadafalso alto no cais de Belém, sendo-lhe antes decepadas as mãos, devendo o cadafalso e o corpo serem reduzidos a cinzas e tudo lançado ao mar, concluindo ainda a sentença com a perda dos bens para o fisco, e autorizando qualquer do povo a dar a morte ao réu onde quer que o visse e reconhecesse ser o próprio. Massena, com a derrota de Torres Vedras, voltou para França, indo com ele Alorna, que em Março de 1812 foi encarregado de inspecionar as tropas da legião que se preparavam para a campanha da Rússia, seguindo depois com o regimento de cavalaria na retaguarda do exercito francês.
Chegando à Lituânia, Napoleão confiou-lhe o governo da praça de Mohilow, e aí se conservou até que o imperador se viu obrigado a recuar. Nas margens do Dnieper foi juntar-se aos restos do grande exercito, e acompanhando a retirada, chegou a Koenigsberg nos últimos dias de Dezembro de 1812, já muito doente, falecendo dias depois. Quando se verificou o enterro, já os cossacos estavam muito próximo, por isso se lhe não pode prestar as honras militares que lhe competiam. Exautorado das honras na pátria, e privado da última homenagem a que lhe dava direito a sua graduação, foi sepultado em terra estrangeira o Marquês de Alorna, que podia ter prestado serviços ao seu país, se o governo em 1808 tivesse, como era justo, exigido na convenção de Cintra o regresso da legião a Portugal. A irmã, Marquesa de Alorna, trabalhou 10 anos para reabilitar a sua memoria, e só então é que pode alcançar a sentença, que, atendendo à pressão debaixo da qual o Marquês servia no exercito imp e a dificuldade que teria em se evadir, o julgou sem culpa e reconheceu a iniquidade da sentença que o havia considerado traidor à pátria, quando fora a pátria que primeiro dele se esquecera.
[editar] Casamento e descendência
Casou em Lisboa, na Encarnação, em 19 de fevereiro de 1782 com Henriqueta Julia Gabriela da Cunha (1787-1829), filha mais velha do 6º conde de São Vicente, Manuel José Carlos da Cunha e Tavora e de Luísa Caetana de Lorena.
- 1 - D. João de Almeida Portugal (15 de agosto de 1786-27 de setembro de 1805 de queda de cavalo). 6° conde de Assumar em vida por decreto de 15 de maio de 1805. Alferes da Legião Lusitana.
- 2 - D. Miguel de Almeida Portugal (Lapa, Lisboa, 1797-1806, afogado num tanque do jardim do quartel-general do pai em Borba). 7° Conde de Assumar em vida por decreto de 24 de junho de 1806. Alferes da Legião lusitana. Extinta nele a varonia dos Almeidas da casa d'Alorna, e passando o título para a linha colateral Mascarenhas, das casas da Fronteira, Torre e Coculim, hoje vigora o brasão d'armas destas antigas e muito nobres casas.