Quilombo do Carukango
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Provavelmente o maior quilombo que existiu no Estado do Rio de Janeiro, seu território espalhava-se por três municípios: Conceição de Macabu, Macaé e Trajano de Morais.O nome carukango se refere ao líder do quilombo.
[editar] Síntese Histórica do Quilombo do Carukango
No início do século XIX chegou ao porto de Macaé um escravo moçambicano, baixo, corcunda, mancando da perna esquerda, conhecido como Carukango. O escravo ficara conhecido no tumbeiro por seus dotes de líder espiritual, ou nos dizeres da época: feiticeiro. No comércio de escravos, foi vendido a um fazendeiro da Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita, Francisco Pinto, cuja família era muito numerosa na região. Carukango , o escravo, não atendeu às expectativas de seu novo dono: não aprendeu português, não abandonou suas crenças, estabeleceu liderança sobre os outros escravos da fazenda, resistiu ao trabalho com sabotagens e negligências. Não havia castigos que o fizessem mudar de atitude, diversas vezes foi para o tronco, algumas vezes foi submetido ao bacalhal. Certa noite, a porta da senzala foi aberta, todos escaparam só os escravos velhos não fugiram e, para que não delatassem os planos dos demais, foram degolados. Os fugitivos assaltaram o armazém da fazenda, roubaram ferramentas, facões, alimentos e cordas. A reação do feitor e dos patrões de nada valeu, atiraram, perseguiram, mas a fuga foi bem sucedida. Os escravos evadiram-se para o cume das montanhas da Serra do Deitado, região desabitada na época, a não ser por índios e outros fugitivos - hoje parte dos municípios de Macaé e Conceição de Macabu - lá encontraram um platô suficientemente grande para abrigar uma comunidade quilombola. Posteriormente construíram um abrigo coletivo, uma grande casa, que ocultava a entrada de uma caverna, e, ao redor, cultivaram plantações diversas, de milho, cana, feijão, mandioca, inhame, favas, maxixe, que além das frutas, da caça da região, e da coleta de palmito e raízes e dos roubos nas fazendas, complementavam sua alimentação. Alguns meses após a fuga de Carukango, outras ocorreram em diversas fazendas da região, sendo que os atritos entre proprietários e feitores contra os fugitivos tornava-se cada vez mais intensos e perigosos para ambos os lados, gerando inclusive mortes, como a de um dos irmãos de Chico Pinto e seus familiares. Embora a maioria dos ataques tenha sido bem sucedido, um ataque frustrado a fazenda de seu antigo dono, Carukango foi identificado como o líder, sendo inclusive ferido à bala, mas conseguiu escapar. A partir daí relacionou-se Carukango a todos os crimes que vinham sendo praticados. A partir daí, foram feitas petições às autoridades locais, que percebendo as fraquezas militares de Cabo Frio, Macaé e arredores, pediram auxílio ao chefe do Distrito Militar da Capitania do Espírito Santo, que naquela época ia até Campos, o coronel Antônio Coelho Antão de Vasconcellos. Milícias do Espírito Santo juntaram-se as de Macaé e Cabo Frio, além de populares de toda a região, em especial da família Pinto, formando uma respeitável força militar. As milícias, apesar de mais bem armadas, foram sucessivamente repelidas nos confrontos, que em geral aconteciam dentro das florestas, em montanhas, especialmente por desconhecerem o terreno e não conseguirem surpreender os quilombolas. O coronel Antão Vasconcellos, experiente militar que havia chegado ao Brasil com Dom João VI, percebeu que teria de mudar de tática, abandonando os ataques em massa e tentando surpreender o inimigo. Um novo plano foi iniciado após a captura de um quilombola, que sob tortura, confessou a exata localização do quilombo. Todas as trilhas foram bloqueadas, as milícias fizeram sucessivos ataques com uso constante de armas de fogo, até que finalmente, atingiram o platô onde se localizava o quilombo. No alto do platô, o cenário impressionou a todos: plantações diversas cobriam a terra, ao contrário das propriedades senhoriais, ao centro uma enorme casa de pau-a-pique com telhado de palha abrigava a todos e, na defesa do quilombo, cerca de duas centenas de quilombolas, seminus, de todos os sexos e idades apresentavam-se armados de foices, alfanjes, lanças e umas poucas armas de fogo. A batalha foi desproporcional, as milícias, bem armadas e numerosas, já iniciavam o massacre dos quilombolas, quando Carukango surgiu do interior da construção paralisando o confronto. Carukango vestia-se com um manto religioso, trazia no peito um enorme crucifixo de ouro. Ao avistá-lo os milicianos paralisaram os combates, parecia o fim da luta, parecia à rendição incondicional dos rebeldes quilombolas. Carukango então se aproximou dos milicianos, de braços erguidos para o alto e, repentinamente, sacou uma pistola que guardava sob as vestes, disparando à queima roupa, matando instantaneamente o filho único de Francisco Pinto, seu antigo dono, o jovem Antonio. A seguir, Carukango foi despido, surrado, linchado até á morte pelas tropas e, destino semelhante deu-se aos demais quilombolas, que foram massacrados, ou, se tivessem oportunidade, cometeram suicídio, atirando-se dos penhascos. Encerrados os combates, as milícias atearam fogo às casas e plantações, e atiraram os corpos dos mortos e feridos nos penhascos e na caverna sob a casa. Entre os sobreviventes, algumas mulheres, que foram poupadas e levadas de volta a seus donos. As mulheres fizeram um relato assombroso: Carukango não permitia nascimentos no quilombos, os recém-nascidos eram mortos, para que no futuro não servissem aos senhores brancos como escravos. Para que seu exemplo não fosse esquecido, o corpo de Carukango foi retalhado, seus membros e tronco exibido nas fazendas e na Freguesia das Neves. A cabeça, espetada numa lança, foi colocada na estrada de maior movimento da região, a do Farumbongo, onde permaneceu até decompor-se por completo.
[editar] Referências:
GOMES,Marcelo Abreu.ABC de Macabu - dicionário de topônimos e curiosidades.Conceição de Macabu. Gráfica Macuco,2004.
GOMES,Marcelo Abreu.Macabu - a história até 1900.Conceição de Macabu. Gráfica Macuco,1997.
GOMES,Marcelo Abreu.Geografia Física de Conceição de Macabu.Conceição de Macabu. Gráfica e Editora Poema,1998.