Quincas Borba
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- Nota: Se procura o filme de 1987, consulte Quincas Borba (filme).
Quincas Borba é um romance de Machado de Assis publicado em 1891. Juntamente com Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, é considerado uma das obras-primas do escritor brasileiro. É nesta obra que Machado explica com mais vagar o Humanitismo, filosofia de vida formulada por Quincas Borba em Memórias Póstumas.
[editar] Enredo
O romance conta a vida de Rubião, um pacato professor que se torna rico da noite para o dia ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo. Rubião passa a viver no fausto da Corte do Rio de Janeiro, num ambiente a que não estava acostumado e que muito o deslumbra. Torna-se amigo de um casal, Palha e Sofia, em torno dos quais e do próprio Rubião gira todo o enredo do romance. Há também um cachorro, o Quincas Borba, que herdou o nome do filósofo, que fora seu dono, antes que ele passasse a pertencer a Rubião.
Rubião acaba sendo traido por Palha e Sofia, quando Palha faz uma proposta empolgante a Rubião em investir seu dinheiro na área de exportação. Rubião, empolgado com a esperança de multiplicar seu dinheiro, acaba caindo na armadilha de Palha e Sofia, que dizem a ele que outro negociador de "fora" passou-os para trás e ficou com o dinheiro do investimento.
Rubião morre pobre e solene. Já doente na sua cidade natal, morre e deixa uma última frase. Em um momento de lucidez de sua morte, diz: "AO VENCEDOR , AS BATATAS". Muito resumidamente isto quer dizer, a quem venceu a guerra, que desfrute das batatas. Nos campos de batalha após a guerra se a tivesse a ganho, teria o luxo de desfrutar de deliciosas batatas.
[editar] Trechos
- "– Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência de outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas." [Síntese do Humanitismo feita por Quincas a Rubião] cap. 6
- Fique desde já admitido que, se não fosse a epidemia das Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. / – É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía, neste mundo./ – Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?" cap. 117
[editar] Sobre a obra
- “Em Quincas Borba recupera-se a narração em terceira pessoa para melhor objetivar o nascimento, a paixão e a morte de um provinciano ingênuo. Rubião, herdeiro improvisado de uma grande fortuna, cai nos laços de um casal ambicioso; a mulher, a ambígua Sofia, vendo-o rico e desfrutável, dá-lhe esperanças, mas se abstém cautelosamente de realizá-las ao perceber no apaixonado traços de crescente loucura. Em longos ziguezagues se vão delineando o destino do pobre Rubião e a vileza bem composta do mundo onde triunfam Sofia e o marido; e não sei de quadro mais fino da sociedade burguesa do Segundo Reinado do que este, composto a modo de um mosaico de atitudes e frases do dia-a-dia. Desse mundo é expulso com metódica dureza o louco, o pobre, nas ladeiras de Barbacena, trazem na sua simplicidade patética o selo do gênio.”, Alfredo Bosi em "História Concisa da Literatura Brasileira", p. 181
- “Em Quincas Borba, onde o motivo da dissimulação já preludia D. Casmurro, a arte machadiana se compraz na retórica do subentendido. Nesse estilo velado, impera a metomínia: o registro dos efeitos sugere as causas, sem explicitá-las. Por exemplo: o constrangimento ambíguo de Palha, quando Sofia lhe conta a declaração de amor que lhe fez Rubião, transparece na lacônica referência ao seu gesto.”, José Guilherme Merquior em "De Anchieta a Euclides", p. 24