Raiva (doença)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Raiva é uma doença causada por um vírus da família rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. O agente causador da raiva pode infectar qualquer animal de sangue quente, porém só irá desencadear a doença em mamíferos, como por exemplo cachorros, gatos, ruminantes e primatas, inclusive o homem.
O vírus da Raiva é um Rhabdovirus com genoma de RNA simples de sentido negativo (a sua cópia é que é lida como mRNA na síntese protéica). O vírus tem envelope bilípidico, cerca de 100 nanômetros e forma de bala.
O vírus da raiva tem um método de transmissão especialmente interessante, pois a sua infecção por mordidela de novos hóspedes depende da sua capacidade de provocar agressividade no doente. Ele fá-lo através de infecção dos centros nervosos do cérebro que controlam os comportamentos agressivos. A sua disseminação inicial dentro dos axónios dos neurónios permite-lhe evadir o sistema imunitário. Ele se transmite através da mordida de animais como cachorro, morcego e muitos outros.
Índice |
[editar] Epidemiologia
Todos os anos 10 milhões de pessoas recebem vacina após terem sido mordidas por animais selvagens. Cerca de 40000 a 70000 pessoas não vacinadas morrem todos os anos.
É transmitida pela mordida ou arranhadela de um animal infectado, mais freqüentemente cães não vacinados, gatos, lobos, raposas ou morcegos. É por vezes impossível de saber se o animal apresentava comportamentos agressivos devido à doença ou se os manifestava por outra razão, logo é importante consultar o médico logo após o contato para receber a vacina, que neste caso previne o aparecimento da doença mesmo após a infecção, desde que administrada imediatamente.
O vírus está presente na saliva do animal e é introduzido nos tecidos após a integridade da pele ficar comprometida pela mordida. A progressão nos animais é semelhante à dos seres humanos (ver mais adiante). Os animais selvagens perdem o medo e os mais dóceis animais de estimação tornam-se agressivos. Há casos anedóticos de transmissão por aerossois de dejetos de morcegos que se depositam em mucosas intactas (boca, olho, nariz). Alguns raros casos foram transmitidos após transplante de córnea infectada.
A raiva existe em animais selvagens em todo o mundo exceto em algumas ilhas (como Grã-Bretanha, Irlanda e ilhas do Hawaii). Nas áreas tropicais pode existir em animais de rua (cães abandonados). Um reservatório de difícil eliminação são as colônias de morcegos.
[editar] Progressão
O período de incubação da doença é invulgarmente longo, nunca sendo menos de 3 semanas e podendo ir até dois anos.
O vírus da raiva multiplica-se inicialmente de forma localizada no músculo ou tecido conjuntivo onde foi introduzido pela mordida ou arranhadela. Daí invade os terminais nervosos locais, e é transportado dentro do axónio do neurónio até ao corpo celular, e eventualmente até ao Sistema nervoso central, especialmente ao cérebro. Aí multiplica-se e dissemina-se por via sanguínea para outros órgãos, como rins, glândulas salivares ou córnea do olho.
Os danos causados são devidos a encefalite (inflamação e danos no cérebro). A morte é certa (mortalidade de 100%) assim que se iniciem os sintomas.
[editar] Sintomas
Na fase inicial há apenas dor ou comichão no local da mordidela, náuseas, vômitos e mal estar moderado ("mau humor"). Na fase excitativa que se segue, surgem espasmos musculares intensos da faringe e laringe com dores excruciantes na deglutição, mesmo que de água. O indivíduo ganha por essa razão um medo irracional e intenso ao líquido, que lhe provoca espasmos e dores só pelo contato visual: a hidrofobia. Logo que surge a hidrofobia a morte é já certa. Outros sintomas são episódios de hostilidade violenta (raiva), tentativas de morder e bater nos outros e gritos, alucinações, insônia, ansiedade extrema, provocados por estímulos aleatórios visuais ou acústicos. O doente está plenamente consciente durante toda a progressão. A morte segue-se na maioria dos casos após cerca de quatro dias. Numa minoria de casos, após esses quatro dias surge antes uma terceira fase de sintomas, com paralisia muscular, asfixia e morte mais arrastada. A morte é certa em 100% dos casos. Há apenas um punhado de sobreviventes em centenas de milhares de episódios, e mesmo esses ficaram com graves danos cerebrais irreversíveis, com perda das funções cerebrais superiores.
[editar] Diagnóstico e Tratamento
É usada a imunofluorescência para detectar antigénios do vírus em biópsias da córnea ou pele. A observação microscópica óptica ou electrónica de corpos neuronais permite observar os patognómicos corpos de Negri, inclusões citoplasmáticas escuras.
Não há cura e após surgirem os sintomas excitatórios (hidrofobia) a morte é certa e a terapia consiste apenas em aliviar os sintomas e diminuir o sofrimento do doente.
Após mordidela ou arranhadela de animal selvagem, a ferida deve ser lavada cuidadosamente com água e sabão. A raiva tem um início muito longo, logo é possivel vacinar um indivíduo logo após ser mordido por animal selvagem ou cão de comportamento agressivo e ainda conseguir uma resposta do sistema imunitário à vacina e ganho de imunidade, antes que termine o período de incubação e se inicie a doença. Além disso é administrado concomitantemente anticorpo antiraiva. É importante no entanto que pessoas mordidas por animais selvagens ou cães não vacinados, mesmo que não saibam se estavam raivosos, consultem imediatamente o médico e recebam a vacina no próprio dia ou no dia seguinte. A vacina é composta de virions sem actividade invasiva, mas não é eficaz contra algumas estirpes presente na África.
A raiva pode ser prevenida vacinando os animais domésticos com outro tipo de vacina. A vacina para humanos pode em casos raros resultar em meningoencefalite alérgica moderada, logo ela só é recomendada em ocupações de alto risco, como por exemplo para veterinários, ou em indivíduos que foram mordidos recentemente por animais possivelmente infectados.
[editar] História
A vacina contra a raiva deve-se ao célebre microbiologista francês Louis Pasteur, que a desenvolveu em 1886.