Workshop de requisitos
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Uma workshop de requisitos é uma reunião estruturada onde um grupo cuidadosamente selecionado de stakeholders e um grupo de analistas trabalha em conjunto para definir, criar, refinar requisitos.
Note-se que uma workshop, apesar de se assemelhar a uma reunião, difere em alguns pontos:
- Reuniões são lideradas por um gestor (líder, que geralmente, faz pouca preparação). As workshops são lideradas por um facilitador neutro que se prepara intensivamente;
- As reuniões não requerem trabalho prévio por parte da assistência. As workshops requerem muito trabalho prévio, incluíndo a criação de produtos que servem de candidatos a inputs do workshop;
- As decisões numa reunião são tomadas pelo gestor, e podem não ser tópico de discussão. Numa workshop cada decisão está associada a uma regra. Existe um processo de decisão e a tomada de decisão pode estar associada a uma ou mais pessoas (mas não ao facilitador);
- As reuniões prendem-se com troca de informação. Já ás workshops prendem-se com a descoberta e criação da informação;
- Numa reunião existe pouca interacção entre os presentes. Nas workshops a participação é intensa e variada e os participantes realizam actividades individualmente, como membros de sub-grupos, ou colectivamente;
- Reuniões não permitem quase nenhuns momentos de descontracção. Já as workshops encorajam a descontracção como forma de promoção da inovação e do trabalho de equipa.
- As reuniões normalmente não envolvem a prodção de documentação. Já nas workshops os participantes criam e verificam documentos como p.ex diagramas de casos de uso;
- As reuniões usam raramente meios visuais. Nas workshops sao fortemente utilizados meios visuais como posters, post-it, cartões diagramas.
Índice |
[editar] Preparação de uma workshop
Num processo de especificação de requisitos é essencial que todos os indivíduos que interactuam directamente ou indirectamente com o sistema sejam consultados. Nos dias de hoje verifica-se cada vez mais a inexistência de tempo por parte das pessoas. Tempo é dinheiro, e a maioria das empresas não está disposta a despender deste recurso, em tarefas que não sejam aquelas contempladas na sua rotina. Por isto mesmo, as workshops são eventos que, realizados de forma correcta e envolvendo as pessoas certas, conseguem obter resultados muito satisfatórios num tempo bastante reduzido. A preparação de uma workshop deve envolver as seguintes fases:
- Identificar os principais objectivos do encontro
- Desenvolver cuidadosamente 5/6 questões (para uma sessão de 1h /1h30)
- Planear a sessão
- Convidar os participantes com pelo menos 1 semana de antecedência:
- Enviar email com o convite, especificando a hora da sessão, o local, a agenda a seguir e a lista de questões a debater
- Enviar um documento com resumo do projecto a ser discutido, incluindo os requisitos de alto-nível já encontrados
- 3 dias antes da sessão enviar novo email aos participantes a relembrar o encontro.
[editar] Planear uma workshop
O sucesso de uma workshop passa por um bom plano de condução do mesmo. Assim, esta fase é crucial para o desenrolar das fases seguintes. O planeamento de uma workshop deve envolver:
- Planear o horário da sessão: em que altura do dia se realizará, quanto tempo durará, ...
- Planear o local: a sessão deve decorrer num local arejado, com boa luz; as cadeiras devem estar dispostas de forma que todos os participantes se vejam
- Planear as regras básicas:
- Todos os membros devem participar o máximo possível
- Como a sessão é só uma, é importante que seja estabelecido um conjunto de regras básicas que regulem a participação. Ex: nunca se deve desviar do objectivo da sessão, nunca se deve desviar da questão base do momento, não se deve ultrapassar a vez dos outros, ...
- Planear a agenda a seguir:
- Dar as boas-vindas
- Rever a agenda
- Rever o objectivo da sessão
- Rever as regras básicas de participação
- Fazer uma introdução ao projecto
- Lançar as questões e conduzir as respostas
- Terminar agradecendo a participação
- Escolher os participantes (ver quadro abaixo)
- Planear a gravação da sessão
- Deve estar presente um ajudante (co-facilitador) que vá tirando notas ao longo da workshop
- Para além disso, pode ser útil gravar a sessão em suporte áudio ou video
Stakeholders | Produtores da Workshop | ||
---|---|---|---|
Financiador do Projecto | - Quem financia o projecto e assegura a alocação de recursos para o mesmo. | Patrocinador | - Autoriza e legitimiza o Workshop |
"Project Champion" | - Tem como objectivo assegurar que o sistema atende às necessidades do seu grupo de trabalho. (Poderá não se importar com as necessidades dos outros.) |
Facilitador | - Planeia e desenha o workshop. - Comunica os Assuntos e os Requisitos. - Lidera o debate. |
Utilizadores directos | - Aqueles que terão contacto directo com o sistema. - Pretendem que a aplicação simplifique os seus processos. |
Participante de conteúdos | - Cria conteúdos e produtos de workshop |
Utilizadores indirectos | - Aqueles que recebem relatórios gerados pela aplicação (ex. para análises de negócio). - Aqueles que são afectados pelas decisões tomadas pelo sistema. |
Co-facilitador | - Recolhe e guarda toda a informação gerada no evento |
Consultores | - Podem ter informação relevante (regras de negócio, legislação, etc.) - Indivíduos com experiência no negócio |
Observador | - Ouve, aprende e apreende o que é tratado |
Fornecedores | - Criadores do software (programadores, engenheiros, técnicos, arquitectos, analistas, etc.) - Podem ajudar a planear o workshop |
Especialista | - Pessoa responsável por responder a questões especificas do projecto. |
O facilitador do debate deverá estar munido de um plano para lidar com os factores positivos, negativos, as necessidades e as questões que os Stakeholders tenham a apontar relativamente ao sistema.
[editar] Conduzir uma workshop
Durante um evento deste tipo é essencial que sistematicamente sejam atendidas, tratadas e resolvidas (se possível), todas as preocupações dos intervenientes. Cabe ao facilitador conduzir a workshop, colectando toda a informação útil para que os objectivos principais sejam atingidos. Para que os objectivos do evento (definir claramente as necessidades e requisitos do sistema) sejam alcançados correctamente, deverá ser fornecido um documento aos intervenientes, que os contextualize com o sistema. Esse documento poderá ter incluído um diagrama de contexto, o modelo conceptual do domínio e os requisitos de alto nível que foram especificados até à data. Para que uma workshop seja produtiva, é essencial que se adopte uma abordagem iterativa. Primeiro deverão ser explicados aos intervenientes os seus papéis e os objectivos do evento, de seguida deverá ser realizado o debate, depois deverá ser feita uma análise cuidada às informações adquiridas e no final deverão ser tiradas conclusões acerca da análise efectuada.
De seguida será descrita uma possível abordagem ao modo como o facilitador deverá conduzir a sessão:
- Forming - Fase de orientação do grupo e introdução dos objectivos da sessão. Nesta fase o facilitador deve:
- Apresentar-se e apresentar o co-facilitador
- Agradecer a disponibilidade das pessoas
- Explicar os modos de gravação da sessão (só papel, gravador audio ou video)
- Apresentar/relembrar a agenda
- Storming - divulgação de todas as ideias que os intervenientes possam ter, mesmo que estas sejam incompatíveis com outras áreas de negócio ou mesmo com o sistema que foi inicialmente idealizado. O facilitador deve:
- Introduzir todas as questões antes de se iniciar o debate. Dar algum tempo aos participantes para pensarem sobre cada uma (e registarem as suas respostas). De seguida conduzir a discussão à volta das respostas a cada questão, sendo tratada uma de cada vez
- Quando terminada uma questão, o facilitador deve fazer um breve resumo sobre as respostas dadas e a conclusão a que se chegou (pode ser o co-facilitador a fazer isto)
- Norming - Promover a harmonia, a compreensão e o apoio das ideias uns dos outros, aumentando a coesão dos grupos intervenientes. O facilitador deve:
- Garantir que as regras básicas de participação são respeitadas, dando voz a todos os participantes
- O facilitador não deve participar no debate/discussão (nunca justificar a sua posição)... O seu papel fundamental é ouvir e coleccionar informação
- Assegurar a participação uniforme - se 1/2 pessoas estão a liderar a discussão, o facilitador deve promover e incentivar os outros intervenientes, chamando-os a responder. Uma boa abordagem é usar uma mesa redonda, seguindo uma direcção, dando a cada participante 1 min para transmitir a sua opinião.
- Performing - Nesta fase já deverá estar interiorizado no pensamento dos stakeholders uma actuação como equipe. Aqui já deverão emergir soluções. Os requisitos já deverão ser tratados com mais detalhe e ser prioritizados.
- Adjourning - Deverá ser feita uma retrospectiva do projecto, e das soluções encontradas. Esta fase não deverá ser descurada, já que é essencial para que os intervenientes percebam que o papel que desempenharam foi tomado em conta e é essencial para este e futuros projectos. O facilitador deve:
- Notificar os participantes da breve recepção de uma cópia do relatório resultante da sessão (contendo as principais propostas e conclusões)
- Agradecer aos participantes a sua presença e participação
- Terminar a sessão
NOTA - Uma workshop poderá durar desde 2 horas até várias semanas, dependendo dos objectivos. Para diminuir a duração da mesma, os objectivos deverão ser comunicados previamente, deverá ser fornecida toda a documentação necessária e deverá ser feito o "Brain Storming" (uma das fases mais demoradas do processo).
[editar] Imediatamente após a workshop
Terminada a workshop, devem ser efectuadas algumas tarefas:
- Verificar se o gravador funcionou correctamente durante a sessão
- Acrescentar algumas notas às registadas
- Registar algumas observações feitas durante a sessão (Ex. natureza da participação do grupo, surpresas ocorridas durante a sessão, contratempos ocorridos, ...)
[editar] Como tirar mais proveito dos Workshops?
Não existem workshops perfeitas... É sempre possível recolher informação mais útil, evitando algumas armadilhas e removendo algumas restrições que reduzem a sua efectividade. Também se conseguem melhorias significativas levando os facilitadores a níveis de profissionalismo mais elevados.
De seguida apresentam-se algumas armadilhas que levam ao insucesso dos workshops:
- Realizar workshops porque não há mais ideias - os workshops são muitas vezes encarados por defeito, ou seja, há falta de outra técnica... Se encararmos as workshops de outra forma , é possível extrair dele informações preciosas. Em vez de nos centrarmos em quão vagos e incertos são os objectivos do sistema, há que pensar em todos as mais valias que podem ser extraídas da workshop, como p.ex:
- Ver se as preocupações, gostos e práticas das pessoas mudaram
- Ouvir os utilizadores reais a discutirem sobre o sistema
- Conhecer melhor os utilizadores e clientes, e consecutivamente responder melhor às suas necessidades
- Não ser suficientemente ambiciosos relativamente aos objectivos - consegue-se tirar melhor proveito das workshops do que de crenças, atitudes, conhecimentos e práticas dos clientes. As workshops funcionam como laboratórios de onde se extraem sentimentos mais profundos, crenças implícitas, atitudes escondidas e práticas secretas. Porém mais do que isso, as workshops são laboratórios experimentais, onde se pode ensinar, comunicar, persuadir, desenvolver e testar novas possibilidades.
- 1 só grupo - normalmente faz-se a workshop apenas para um grupo (seja de um só tipo de utilizadores, seja proveniente da mistura de pessoas de vários tipos). Porém, com apenas um grupo não se consegue a profundidade desejada de uma workshop. Note-se que se houver mais do que um grupo, o 1º grupo vem com as ideias todas (visão alargada, horizontal), e o 2º grupo, apesar de não acrescentar novas ideias vai aprofundar as já existentes (visão em profundidade, vertical). Normalmente, num par de grupos, 80% do valor está no 2º grupo.
- Muitas questões numa só sessão - um dos erros frequentes é tentar rentabilizar a workshop discutindo-se o maior numero de questões possível. No máximo devem ser tratados numa sessão 1 a 3 assuntos distintos. Nunca esquecer que para o sucesso de um workshop vale a máxima: " Less is good "
- Grupos muito grandes - O grupo ideal para uma sessão é de 7/8 pessoas. Num grupo maior as pessoas começam a pensar colectivamente, em vez de individualmente, criando ambientes intimistas para pessoas com ideias diferentes (não as expressam perante um grupo que tem opinião distinta). Normalmente, pretende-se que as workshops tenham o maior numero possivel de utilizadores representativos... Se por um lado, um grupo grande aumenta a interacção, por outro as discussões são mais superficiais e a workshop perde a profundidade desejada
- Pouca flexibilidade - normalmente diz-se que o facilitador deve conduzir os participantes de forma sequencial segundo o seu plano, não havendo tempo para entrar em detalhes, descobrir motivações e validar a informação apreendida. Porém, as workshops são mais produtivos se houver alguma flexibilidade por parte do facilitador, se não houver grande plano... Às vezes basta uma questão só, e um facilitador com capacidade para ouvir e deixar os participantes ao sabor do entusiamo (sem nunca os deixar desviar do principal assunto) -> essencial questões abertas (que dão liberdade de resposta e opinião ao participante) e não fechadas.
- Usar facilitadores inexperientes - um facilitador inexperiente pode ser a causa nº 1 do insucesso de uma workshop. Um facilitador deve:
- ser bom ouvinte, bom comunicador
- levar as pessoas a iniciar uma conversa
- manter a discussão no mesmo assunto (evitar dispersões)
- manter a discussão acesa
- levar as pessoas a mostrarem as suas motivações, a darem as suas opiniões
- evitar líderes de discussão, incitar à dicussão as pessoas menos participativas
- levar as pessoas para o próximo assunto
- ter qualidades de psicoterapeutas, psicólogos ou sociólogos (descodificar simbolismos, resolver situações complexas, interpretar comportamentos ambíguos ou antagónicos, prever comportamentos, ser persuasivo, delinear estratégias, ...)
- ter qualidades de marketers (saber vender o sistema, motivar as pessoas, cativar a sua utilização, ...)
[editar] Características dos facilitadores
Para se ser um bom facilitador é necessário acima de tudo muita experiência e sabedoria, bem como soft skills nas áreas de psicologia, sociologia e todas as que se referem e lidam com o comportamento humano e as relações inter-pessoais. Um conjunto de características importantes encontra-se enunciado na lista seguinte:
- perguntar em vez de dizer
- evitar a tentação de fornecer todas as respostas aos participantes
- dispender algum tempo em construir relações e não estar só orientado e preocupado com as tarefas
- iniciar a discussão em vez de esperar que alguém o faça
- perguntar as opiniões dos outros em vez de mostrar a sua (ser neutro)
- ser flexível e versátil
- negociar em vez de ditar decisões
- ouvir sem interromper
- basear as decisões em intuições e não em factos
- ter auto-confiança suficiente e falar com as pessoas olhos-nos-olhos
- ser persuasivo mais do que sequencial
- ser mais entusiasta do que sistemático
- propiciar momentos de humor para descontracção
- ser mais professor do que cientista (capacidade explicativa)
- ser mais um aconselhador do que um general (dar conselhos e não impor vontades)
- ser curioso sobre as pessoas (perceber comportamentos inter-pessoais)
- ser atento para capturar todos os comentários
- ter habilidade para incentivar os mais participativos a iniciar a discussão e para fazê-los calar dando oportunidade aos mais calados
- ter habilidade para conduzir a discussão, sem ser muito ditador e autoritário, e evitar dispersão dos participantes (definir quando é tempo para brainstorming, quando é tempo para avaliação, quando é tempo para decisão, ...)
- ser objectivo, comunicativo, criar empatia, ter capacidades de interrogação