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Árabe (cavalo)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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O cavalo árabe é o cavalo mais elegante de todos, vê-se pela sua cauda erguida.

Com as mais antigas fronteiras da Europa, isolado como uma ilha no extremo ocidental do continente, varanda debruçada sobre o Atlântico, Portugal foi desde o seu início um país de equitadores onde o cavalo foi sempre considerado um aliado e um amigo.

Com uma tão grande tradição, não admira que os portugueses tenham desde sempre venerado o Puro Sangue Árabe, com o misticismo da sua origem, a magia das suas formas, a vivacidade, nobreza, inteligência e bondade do seu carácter, e com a sua influencia tão benéfica sobre todas as raças.

Tendo sempre considerado que o Árabe tem outras qualidades além da beleza, que pode e deve ser utilizado como qualquer outro cavalo por não lhe ser inferior, e atendendo a que o mais bonito dos cavalos sem aptidão funcional serve apenas para entretimento, os responsáveis pela raça tudo fizeram para preservar as qualidades estéticas, morais e atléticas da mais antiga e prodigiosa das raças conhecidas.

Esta preocupação, que foi responsável pela grande qualidade da criação de cavalos árabes em Portugal, obrigou as autoridades oficiais a, desde 1934, durante mais de meio século, procederem a uma selecção dos reprodutores extremamente severa e sem precedentes.

Assim, para provar o valor real dos animais, a Coudelaria Nacional Portuguesa fazia uma primeira selecção dos poldros e poldras aos 3 anos, e dos garanhões aos 6 anos, só admitindo como reprodutores os cavalos que obtivessem uma nota satisfatória na árvore genealógica, no modelo, nos andamentos e nas provas funcionais. Estas, na sua fase mais dura, eram constituídas por :

  • um cross de 3.000 m com 15 obstáculos até uma altura máxima de 1,20 m, a percorrer à velocidade mínima de 600 m/minuto;
  • uma corrida de 2.500 m, à velocidade mínima de 700 m/minuto;
  • uma prova de salto de obstáculos, com 12 esforços, a uma altura máxima de 1,20 m;
  • uma prova de estrada de 70 km, à velocidade de 20 km/hora ;
  • uma prova de ensino, semelhante às utilizadas em CCE, para melhor avaliar as qualidades mentais e motoras do animal;
  • um exame clínico pormenorizado.

Evidentemente, os animais sujeitos a estas provas eram previamente treinados para poderem fornecer o grande esforço exigido.

Esta selecção, que pensamos ser uma das mais duras realizadas no mundo, fez do árabe português um animal de excepção, um cavalo robusto e belo que guardou todas as qualidades morais e funcionais de outrora.

Este facto levou os actuais responsáveis da raça a pensarem em reutilizar este tipo de selecção, com provas fisicamente um pouco menos violentas mas mais severas em relação ao tipo, esforço que contribuirá certamente para o melhoramento da raça.

Não sabemos ao certo quando foi introduzido na Península Ibérica o cavalo árabe, mas parece não haver dúvida que o mais tardar em 711, a invasão islâmica trouxe para terras hoje portuguesas numerosos cavalos orientais, que deixaram certamente grandes marcas, dado que a presença árabe no extremo sul de Portugal durou até ao século XIII (1248).

No século XVI, a pioneira expansão lusitana no Mundo levou os portugueses a dominarem muitos mercados orientais, trazendo para o nosso país o que de mais raro neles existia. Porque não cavalos árabes? Não fala o historiador Damião de Góis (1502-1574) dos presentes enviados por D. Manuel I ao Papa Leão X, que juntamente com especiarias, jóias « que de memória de homem nunca se vira » e elefantes, contavam « uma onça de caça sobre uma manta bordada a ouro que cobria a garupa de um magnífico cavalo persa » ? E para confirmar que era hábito o Rei de Portugal receber como presentes cavalos orientais, não fala o mesmo escritor de um esplêndido Cavalo Persa oferecido pelo Rei de Ormuz ao monarca português ?

A partir do século XVIII os cavalos orientais distinguem-se particularmente. Na Grã-Bretanha eles dão origem ao Puro Sangue Inglês, na Rússia ao Orloff, e, no século XIX, em França, ao Anglo Árabe. Neste país, a campanha de Napoleão no Egipto acentuou aquela tendência, trazendo para a corte francesa a moda do Cavalo Árabe, a montada preferida do Imperador. E assim, quase toda a Europa foi invadida por garanhões orientais, moda que não deixou de influenciar Portugal, como documentam as importações feitas do Egipto e de Constantinopla em 1812, 1861, 1867, 1872 e 1876.

Destas importações, não há descendência pura conhecida, e para a história do PSA em Portugal, só as aquisições feitas em 1902 e 1903 em Beirute, Constantinopla e Djeddah, têm interesse por a sua descendência ainda hoje estar representada. Foram importados naquela ocasião 3 machos (Fehran, Dehiman e Nemyr) e 4 fêmeas (Saada, Nazly, Fhara I e Fhara II). A Saada trazia no ventre o Pakir, tendo a excelente descendência deste último, bem como a de sua mãe, a da Nazly e a do Fehran chegado aos nossos dias em raça pura. As extraordinárias Nazly e Saada, da casa de Beih Abdel Melek, podem considerar-se as matriarcas das mais antigas linhas árabes portuguesas.

Em 1921 e 1935 foram importados vários animais da Grã-Bretanha, entre os quais os óptimos cavalos Fursan e Silfire, de Crabbet Park, a famosa coudelaria fundada por Lady Blunt, neta de Lord Byron.

Em 1932, fez-se a primeira importação de animais do grande criador que foi o Duque de Verágua, descendente de Cristóvão Colombo. Esta compra foi completada em 1961 pela importação da preciosa éguada de António Egea Delgado, também Verágua.

Muitas outras grandes linhas foram depois introduzidas em Portugal, como as de Comet (Abu Afas e Carmen por Tripolys), de Wielki-Szlem (Ofir e Elegantka por Bakszysz), de Elokuencja (Rozmaryn e Ela por Miecznic), de Flipper (Gosse du Bearn e Fleur d’Avril por Meko), de Djerba Oua (Dragon e Dorée II por Kriss II), de Piruet (Probat e Pieczec por Palas), de Shazamah (Shah Gold e Bazama por Al Marh Radames), de Golden Sceptre (Mikonos e Shazala por The Shah), de Magic Count (Mc Coys Count e Regla’s Rose Flame por Indian Flame II), de Nil (Sid Abouhom e Malaka por Kheir), de Nitochka (Naseem e Tarazca por Enwer Bey), de Pomeranets (Priboj e Mammona por Offir), de Klinika (Korej e Naturalistika por Naseem), de Jacyo, de El Shakland, de Shaker El Masri, etc.

Para evitar qualquer erro, sempre possível por, como no resto do mundo, o cavalo árabe ter sido muito utilizado para melhorar raças locais, nenhum animal existente em Portugal antes de 1902 foi inscrito no Stud Book, e só os animais importados posteriormente e seus produtos foram admitidos como raça pura.

Este rigor, a exactidão dos Registos Oficiais das Coudelarias Nacionais e da APCRS, e a hemotipificação obrigatória, são uma garantia indiscutível da pureza do Árabe nacional. Esta pureza, junta à severidade da selecção dos reprodutores não só esteticamente perfeitos mas também verdadeiramente funcionais, física e moralmente, fazem do Árabe Português um dos mais solicitados do mundo, e certamente também um dos melhores.

Provam-no animais como os campeões Cejuba El Berana, Juxito, Ohxul Ben Biarritz, Reject Ibn Biarritz, Aicha Ibn Biarritz, Qkyjul Ibn Biarritz, Diniz Met Biarritz, etc, e os muitos títulos obtidos por PSA portugueses em modelo e andamentos e em provas desportivas: Campeão dos Campeões no México, Campeão dos Campeões no Brasil, Campeão dos Campeões em Espanha, seis vezes Campeões da Europa, cinco vezes Vice-Campeões da Europa, duas vezes quintos em Campeonatos do Mundo, e em França várias vezes os maiores vencedores de corridas para PSA. Neste país, os filhos das éguas Oxylla Ben Biarritz e Nacayhr Ben Biarritz, Dunixi e Blaise (garanhões do Estado Francês), têm produzido de forma excepcional, fundando certamente uma das mais ilustres linhas de cavalos de corrida.

Os PSA portugueses, muitas vezes favoritos em Provas de Fundo, também revelam a sua excepcional coragem e mobilidade na Corrida de Toiros à Portuguesa, onde encontramos «estrelas» como Gramático, Imoral, Jasmim, Valoroso, Xistre, etc.

É importante notar que muitos puro sangue árabes com origem portuguesa participaram com o maior êxito em provas para cavalos de todas as raças, tendo obtido, entre outros, os seguintes resultados em disciplinas olímpicas (onde raramente encontramos o cavalo árabe):

Em CSO :

  • Finalista do «Cycle Classique», cavalos de 4 anos, Fontainebleau, França, 1983
  • 9º maior ganhador de França, cavalos de 6 anos, 1985.

Em Ensino :

  • 2º no Grande Prémio de Paris, França, 1981
  • 3º no Concurso de Madrid, Espanha, 1984
  • Campeão da classe internacional, Portugal, 1986
  • Vencedor do Top Equestre, Portugal, 1986 e 1987
  • Pré-seleccionado para os Jogos Olímpicos (onde não chegou a ir por ter morrido).

Em CCE :

  • 3º no Campeonato de França de Exterior, AA, Pau, França, 1981 (em que participou com uma autorização especial por ser um PSA)
  • 2º no CCE da Golegã, Portugal, 1983
  • 1º no CCE da Golegã, Portugal, 1984
  • 1º da CCE de Mafra, Portugal. 1984
  • 1º do CCE de Mafra, Portugal, 1985

Assim, como os povos de outrora, que durante séculos souberam preservar as fantásticas qualidades do puro sangue árabe, Portugal é um dos poucos países que souberam manter na raça os dons excepcionais de beleza, de carácter e de eficácia funcional.

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