Auto-de-fé
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A expressão auto de fé refere-se aos rituais de penitência pública ou humilhação de heréticos e apóstatas postos em prática pela Inquisição (principalmente em Portugal e Espanha).
As punições para os condenados pela Inquisição iam da obrigação de envergar um "sambenito" (espécie de capa ou tabardo penitencial), passando por ordens de prisão e, finalmente, em jeito de eufemismo, o condenado era relaxado à justiça secular, isto é, entregue aos carrascos da Coroa (poder secular, em oposição ao poder sagrado do Clero). O estado secular procedia às execuções como punição a uma ofensa herética repetida, em consequência da condenação pelo tribunal religioso. Se os prisioneiros desta categoria permanecessem a defender a heresia e repudiar a Igreja Católica, eram queimados vivos; contudo, se mostrassem arrependimento e se decidissem reconciliar com o catolicismo, os carrascos procederiam ao "piedoso" acto de os estrangular antes de acenderem a pira de lenha.
Os Autos de fé decorriam em praças públicas e outros locais muito frequentados, tendo como assistência regular representantes da autoridade eclesiástica e civil.
O primeiro auto de fé ocorreu em Sevilha, Espanha, em 1481, com a execução de seis homens e mulheres. A Inquisição teve um pouco menos de poder em Portugal, tendo sido estabelecida em 1536 e durado oficialmente até 1821, se bem que tenha sido muito debilitada com o regime do Marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII. O primeiro auto-de-fé em Portugal foi realizado em 20 de Setembro de 1540 em Lisboa. Em Lisboa, a praça do Rossio servia de local de execução, ainda sejam conhecidas as autos no terreiro do Paço. No livro Memorial do Convento de José Saramago, cuja acção decorre na primeira metade do século XVIII, durante o reinado de D. João V, Blimunda conhece Baltasar no Rossio, durante a execução da sua mãe. No Porto houve apenas um auto da fé.
Também houve autos de fé no México, Peru e Brasil. Alguns historiadores, contemporâneos dos conquistadores (como o guerreiro Bernal Díaz del Castillo) descrevem alguns casos.
A última execução após uma condenação pela Inquisição Espanhola - o último auto de fé - envolveu o professor Cayetano Ripoll e decorreu a 26 de Julho de 1826. O seu julgamento, sob a acusação de deísmo) durou cerca de dois anos. Morreu pelo garrote, no pelourinho, depois de repetir as palavras: "Morro reconciliado com Deus e com o Homem".