Jean-Baptiste Bernadotte
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Carlos XIV João (em sueco Karl XIV Johan), nascido Jean-Baptiste Bernadotte (Pau, França, 26 de janeiro de 1763 - †Estocolmo, Suécia, 8 de março de 1844), foi um militar do Império Francês, e, desde 1818, rei da Suécia e Noruega.
Jean Baptiste Bernadotte nasceu no seio de uma família da classe média francesa, e ingressou muito jovem no serviço militar. Corria o ano de 1780 e Bernadotte, colocado na Córsega, rapidamente se viu envolvido na comoção da Revolução Francesa. Eram tempos loucos, propícios a que uma carreira militar entrasse em ascensão meteórica - em 1794 era já general de divisão.
O seu ódio à monarquia era tanto que inseriu o nome de Jules – de Júlio César, um dos ídolos do espírito revolucionário - entre os nomes próprios de Jean e Baptiste. Terá sido também nesta altura que se terá feito tatuar no peito com uma frase que terá permanecido escondida até à sua morte.
Em 1797, Bernadotte deixa o Exército do Reno e vai apoiar a campanha de Itália de Napoleão Bonaparte. Depois das campanhas vitoriosas de Theiningen e de Tagliamento, ocupa em 1798 o cargo de Embaixador francês em Viena – um cargo de que se viu obrigado a abdicar quando, inflamado pelo fervor patriótico, resolveu hastear a polémica bandeira tricolor da Revolução Francesa no topo do edifício da embaixada.
Foi também em 1798 que Bernadotte se casou com Desirée Clary, a filha de um comerciante de sabões de Marselha. Desirée era, contudo, uma mulher com um lastro algo perigoso: não só era a antiga noiva de Napoleão Bonaparte, como era também a irmã da esposa de José Bonaparte, irmão de Napoleão, futuro Rei de Espanha.
Apesar de ter uma relação algo atribulada com o pequeno corso, o Directório nomeou-o para Ministro da Guerra, cargo que exerceu durante pouco mais de 3 meses. Datam dessa altura as suas divergências pessoais para com Napoleão: Bernadotte não apoiou sequer o golpe de estado bonapartista do 18 de Brumário, algo que não o impediu, no entanto, de ser nomeado comandante do exército da Vendeia até 1801.
Com a constituição do Império Francês, Jean Bernadotte tornou-se um dos 18 marechais de França, ocupando o cargo de governador de Hanover em 1804 e 1805 – é nesta altura que a sua conduta protectora para com alguns nobres suecos, prisioneiros da guerra com a Dinamarca, se faz notar, naquilo que seria um acto com grandes repercussões tanto para o seu futuro como para o da Europa.
Em Dezembro de 1805, participa com glória na batalha de Austerlitz – é agraciado com o título de Príncipe de Ponte-Corvo – combate ao lado de Napoleão durante a campanha da Polónia em 1807, dando-lhe de bandeja a vitória em Eylau mas sofrendo a desonra nas campanhas da Prússia: falha com a participação do seu exército na batalha de Iena, sendo até desautorizado pelo Imperador. Cada vez mais agastado com o Imperador, regressa então a Paris onde recebe ordens para defender a Holanda dos ingleses.
Entretanto mais a norte, a Suécia perdia em 1809 metade do seu território – toda a província oriental do reino, no que é hoje a Finlândia. O grande responsável por esta perda, o rei sueco Gustav IV Adolf foi então deposto por um golpe de estado, sendo substituído pelo seu tio, que passou a reinar sob o nome de Karl XIII.
Ora Karl XIII não tinha descendentes: urgia, pois, encontrar um sucessor. A Dieta sueca procurou então um pretendente que fosse, simultaneamente alguém popular e versado nas artes marciais, alguém que, no fundo, conseguisse unir o povo contra o inimigo russo que batia às portas de Estocolmo.
Foi então que o barão Karl Mörner, um emissário sueco em França, propôs a Bernadotte, por sua própria iniciativa, a aceitação do trono sueco – uma proposta que causou tanto espanto a Napoleão que este pensou tratar-se de uma proposta provinda da mente fantasiosa de um lunático. E não foi só Napoleão a pensar que Mörner enlouquecera: a Dieta sueca pensou o mesmo e tratou de fazer prender o Barão assim que este entrou na Suécia. No entanto, a carruagem estava já em andamento: a candidatura de Bernadotte caiu no goto dos suecos e o Marechal acabou por ser eleito Príncipe da Coroa Sueca a 21 de Agosto de 1810.
A partir daí, tudo foi muito rápido: Bernadotte entrou na Suécia a 2 de Novembro e a 5 recebeu a vassalagem do Riksdag dos Estados, sendo adoptado pelo rei Karl XIII sob o nome de Karl Johan. Aproveitando a doença do rei e as dissensões comuns dos Estados suecos, Bernadotte renega o catolicismo e converte-se ao luteranismo, iniciando então uma série de hábeis manobras diplomáticas e políticas: anexa a Noruega e declara guerra à Inglaterra. Mais tarde, pensa melhor e acaba por se aliar com esta e com a Prússia numa coligação contra o próprio país em que nasceu!
Aproveitando ao máximo o conhecimento que adquirira ao serviço de Napoleão, o antigo Marechal de França bate sucessivamente dois dos seus antigos camaradas de armas do exército napoleónico: o Marechal Oudinot, em Gross-Beeren, a Agosto de 1813 e o Marechal Ney, no mês seguinte, em Dennewitz. Em 1814, Bernadotte invade a Holanda, a Bélgica e a França, seu país natal, à cabeça do Exército do Norte.
Com a Europa pacificada e a França derrotada, Bernadotte só tem que esperar que Karl XIII morra, o que acontece em 1818. Da crisálida do antigo sargento, alcunhado “Belle Jambe” pelo militares do Exército francês, surge então a borboleta real de Karl Johan Jean Jules Baptiste Bernadotte – ou Carlos XIV João, rei da Suécia, ou ainda Carlos III, rei da Noruega. Dele, e através do seu filho, Óscar I da Suécia descende, em linha directa, a actual família real sueca, bem como muitos outros membros da realeza europeia, algo que é facilmente atestado por quem examinar atentamente as Armas Reais da Suécia: no centro, sumido mas destacado, está o escudo dos Bernadotte e nele, sob a insígnia dos Wasa, está a bandeira tricolor da Revolução francesa.
Mas a tricolor não foi o único legado de Bernadotte à Suécia. Quando morreu, a 8 de Março de 1844, tornou-se finalmente público o teor da tatuagem que o Rei dos Suecos e dos Noruegueses trazia gravada no peito desde os seus tempos de revolucionário jacobino: “Mort aux rois!” (Significa: Morte aos reis!)