Mitologia egípcia
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Mitologia egípcia ou, em sentido lato, religião egípcia refere-se às divindades, mitos e práticas cultuais dos habitantes do Antigo Egipto. Não existiu propriamente uma "religião" egípcia, pois as crenças - frequentemente diferentes de região para região - não era a parte mais importante, mas sim o culto aos deuses, que eram considerados os donos legítimos do solo do Egipto, terra que tinham governado no passado distante.
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[editar] Fontes
As fontes para o estudo da mitologia e religião egípcia são variadas, desde templos, pirâmides, estátuas, túmulos até textos. Em relação às fontes escritas, os Egípcios não deixaram obras que sistematizassem de forma clara e organizada as suas crenças. Em geral os investigadores modernos centram-se no seu estudo em três obras principais, o Livro das Pirâmides, o Livro dos Sarcófagos e o Livro dos Mortos.
O Livro das Pirâmides é uma compilação de fórmulas mágicas e hinos cujo objectivo é proteger o faraó e garantir a sua sobrevivência no Além. Os textos encontram-se escritos sobre os muros dos corredores das câmaras funerárias das pirâmides de Sakara. Do ponto de vista cronológico, situam-se na época da V e VI dinastias.
O Livro dos Sarcófagos, uma recolha de textos escritos em caracteres Hieróglifo| hieroglíficos cursivos no interior de sarcófagos de madeira da época do Império Médio, tinham também como função ajudar os mortos no outro mundo.
Por último, o Livro dos Mortos, que inclui os textos das obras anteriores, para além de textos originais, data do Império Novo. Esta obra era escrita em rolos de papiro pelos escribas e vendida às pessoas para ser colocada nos túmulos.
Outras fontes escritas são os textos dos autores gregos e romanos, como os relatos de Heródoto(século V a.C.) e Plutarco(século I d.C.).
[editar] Divindades
As várias divindades egípcias existentes caracterizavam-se pela sua capacidade em estar em vários locais ao mesmo tempo e de sobreviver a ataques. A maioria delas era benevolente, com excepção de algumas divindades com personalidade mais ambivalente como as deusas Sekhet e Mut.
Um deus poderia também assumir várias formas e possuir outros nomes. O exemplo mais claro é o da divindade solar Rá que era conhecido como Kepra, representado como um escaravelho, quando era o sol da manhã. Recebia o nome de Atum enquanto sol do entardecer, sendo visto como velho e curvado, um deus esperado pelos mortos, que se aquecem com os seus raios. Durante o dia, Rá anda pela Terra como um falcão. Estes três aspectos e outros setenta e dois são invocados numa ladainha sempre na entrada dos túmulos reais.
Estas divindades eram agrupadas de várias maneiras, como em grupos de nove deuses (as Enéades), de oito deuses (as Ogdoádes), ou de três deuses (tríades). A principal Enéade era a da cidade de Heliópolis presidida pela divindade solar Rá.
[editar] Cosmogonias
[editar] A Enéade de Heliópolis
Segundo o mito da criação de Heliópolis, no princípio existiam as águas do caos, Nun. Um dia uma colina de lodo chamada Ben-Ben levantou-se dessas águas, tendo no seu cimo Atum, o primeiro deus. Atum tossiu e expeliu Shu (deus do ar) e Tefnut (deusa da humidade). Shu e Tefnut tiveram dois filhos, Geb, deus da terra e Nut, a deusa do céu. Shu ergueu o corpo de Nut, colocando-o acima de Geb, e esta tornou-se a abóboda do céu. Nut e Geb tiveram por sua vez quatro filhos: Osíris, Isís, Seth e Nephthys. Osíris tornou-se deus da terra, que governou durante muitos anos; Isís foi a sua mulher e rainha. Seth invejava o estatuto de Osíris e um dia matou-o. Osíris foi para o mundo subterrâneo e Seth tornou-se rei da terra. Osíris teve um filho chamado Hórus que decidiu vingar a morte do pai e reconquistar o trono. Hórus derrota Seth e torna-se o novo rei da terra, mas o seu pai permanece no mundo subterrâneo.
[editar] Ogdoáde de Hermópolis
Na cidade de Hermópolis, capital do XV nomo do Alto Egipto, dominava um panteão de oito deuses agrupados em quatro casais. A origem destes oito deuses variava: por vezes eram apresentados como os primeiros deuses que existiram; em outros casos eram filhos de Atum ou de Chu.
Os oito deuses tinham os seguintes nomes e representavam os seguintes conceitos:
- Nun e Naunet, o caos, o oceano primordial;
- Heh e Hehet, o infinito;
- Kek e Kauket, as trevas;
- Amon e Amaunet, o oculto;
Os oito deuses eram denominados como "Hemu", de onde derivou o nome original da cidade de Hermópolis, Khemenu. A designação de Hermópolis para o povoado urbano de Khemenu foi atribuída pelos gregos por associarem um importante deus da cidade, Tot, com o seu Hermes. Estes oito deuses actuavam colectivamente, ao contrário dos deuses dos outros sistemas, que eram autónomos.
As divindades masculinas deste panteão eram representadas como homens com cabeça de rã, enquanto que as femininas eram representadas como mulheres com cabeça de serpente. Considerava-se que estes quatro deuses foram os primeiros seres que existiram; a partir de uma interacção entre eles surgiu uma ilha, a chamada "Ilha das Duas Facas", onde estes deuses depositaram um ovo, do qual saiu a divindade solar Ré, que daria forma ao mundo. Existiam várias teorias para a origem do ovo, sendo este atribuído a um ganso ou um falcão.
Outra variante do mito afirmava que das águas do oceano primordial emergiu uma ilha, onde mais tarde seria construída Hermópolis. Nesta ilha existia um poço, no qual flutuava uma flor de lótus e onde viviam os oito seres referidos anteriormente. As divindades masculinas ejacularam sobre a flor e fecundaram-na. A flor de lótus fechou-se durante a noite; quando se abriu de manhã dela saiu o deus Ré na forma de um menino que criou o mundo.
[editar] Cosmogonia de Mênfis
Na cidade de Mênfis dominava um tríade composta pelos deuses Ptah, a sua esposa Sekhmet e o filho destes, Nefertem.
A teologia desta cidade é hoje conhecida graças ao texto da Pedra de Chabaka. De acordo com as inscrições da pedra, o texto original tinha sido conservado num papiro guardado nos arquivos de um templo de Ptah. Este papiro encontrava-se num avançado grau de deterioração quando o faraó Chabaka (século VIII a.C.) ordenou que o texto fosse inscrito numa pedra de granito. Infelizmente os habitantes da cidade acabaram por utilizar a pedra como elemento de um moinho, o que provocou estragos na mesma. Os estudos mais recentes sobre a pedra mostram que o estilo do texto foi premeditadamente escrito de forma a espelhar uma linguagem arcaica.
Neste sistema Ptah era o deus criador. Divindade associada aos artesãos, o deus era representado como um homem com corpo mumificado. Era considerado como o criador de tudo, inclusive dos deuses.
Ptah criou o mundo usando o coração e a língua. Para os Egípcios o coração era o centro da inteligência, sendo no sistema menfita a língua o centro criador. Ptah era simultaneamente Nun e Naunet (feminino de Nun) e gerou Atum a partir do seu coração e da sua língua. Este sistema não rejeitava a Enéade de Heliópolis, simplesmente considerava Ptah como criador dessa Enéade; Atum era um agente da vontade Ptah. O deus Ptah era também considerado o criador do ka ou alma de cada ser.
Sekhmet era uma deusa feroz, que segundo um mito tinha atacado a humanidade por esta ter desrespeitado Ré. Era representada como uma leoa ou como uma mulher com cabeça de leoa.
Nefertem era o deus da felicidade, sendo representado como um jovem com uma flor de lótus na cabeça. Mais tarde, Nefertem seria substituído como filho deste casal por Imhotep, personagem que teve existência histórica (foi o vizir do rei Djoser da III Dinastia).
[editar] Cosmogonia de Tebas
O nome egípcio de Tebas, cidade do Alto Egipto próxima da Núbia, era Uaset. Mais uma vez deve ser salientado que a designação de "Tebas" é de origem grega.
Tebas foi durante bastante tempo uma cidade pouco relevante. A partir do Império Novo ela adquire grande importância, relacionada com o facto dos reis fundadores da XVIII Dinastia (uma das dinastias que constituem o Império Novo), seres oriundos da cidade. Estes reis foram responsáveis pela expulsão dos Hicsos, povo estrangeiro que dominou o Egipto. Assim, quando Tebas se transformou na capital do Egipto não foi só a cidade que ganhou importância, mas também os seus deuses.
O principal deus de Tebas era Amon, representado como um homem com uma túnica preta e duas plumas na cabeça; poderia também ser representado como um carneiro ou um ganso. Como foi referido anteriormente, Amon estava associado ao oculto. Os sacerdotes tebanos aproveitaram elementos de outros deuses que atribuíram a Amon. Em concreto, Amon passou a ser visto como o demiurgo, retirando essa função ao deus Ré. Os sacerdotes afirmaram também que Amon era o monte primordial, tendo sido Tebas a primeira cidade a existir no mundo e que por conseguinte, ela deveria servir como modelo a todas as outras cidades.
Na cidade de Tebas a esposa de Amon não era Amaunet, como referia a cosmogonia hermopolitana, mas Mut. Este casal tinha um filho, Khonsu, uma divindade lunar.
[editar] Cosmogonia de Elefantina
Elefantina é o nome grego de uma pequena ilha no Nilo situada junto da primeira catarata.
Nesta ilha dominava uma tríade encabeçada por Khnum, divindade com uma cabeça de carneiro, que representava a criatividade e o vigor. Para os Egípcios, Khnum criava os seres humanos no seu torno, tal como o oleiro cria as suas peças. As esposas de Khnum eram Satet e Anuket (ou talvez, segundo outra hipótese, seriam respectivamente esposa e filha do deus). Satet era responsável pela inundação do Nilo (que gerava a fertilidade dos solos no Antigo Egipto) e Anuket encontrava-se também associada ao elemento água.