Narguilé
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Narguilé é um cachimbo de água. Além desse nome, de origem árabe, também é chamado de hookah (na Índia e outros países que falam inglês), shisha ou goza (nos países do norte da África), narguilê, narguila, nakla, arguile etc. Há diferenças regionais no formato e no funcionamento, mas o princípio comum é o fato de a fumaça passar pela água antes de chegar ao fumante. É tradicionalmente utilizado em muitos países do mundo, em especial no Norte da África, Oriente Médio e Sul da Ásia.
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[editar] A origem do Narguilé
O Narguilé tem como origem o Oriente. Uma das versões é a de que o narguilé teria sido inventado na Índia do século XVII, pelo médico Hakim Abul Fath, como um método para retirar as impurezas da fumaça. Quando chegou à China, passou a ser utilizado para fumar o ópio, e assim permaneceu até a revolução comunista, no fim da década de 40. Na mão dos árabes, o cachimbo de água foi rapidamente incorporado para ser apreciado em grupo, acompanhado de café e prosa. Existem evidências históricas de narguilés na Pérsia e na Mesopotâmia. As peças mais primitivas eram feitas com madeira e um coco que fazia o lugar do corpo (o nome origina-se do persa nārgil, que significa "coco".[1]). Com o desenvolvimento das civilizações e as expansões territoriais (principalmente dos países europeus), o narguilé, já similar ao que conhecemos hoje (com base de cerâmica ou porcelana e corpo de metal), começou a ser divulgado, e trazido junto com especiarias como cravo e canela.[ ]
As cruzadas também auxiliaram a espalhar o narguilé pelo mundo, quando os guerreiros sobreviventes traziam-no para seus países.[2] No Brasil, o narguilé foi trazido por alguns imigrantes europeus, e divulgado pelas colônias turca, libanesa e judaica.
[editar] Partes
O narguile é formado pelas seguintes peças:
- Base: peça central do narguilé; assemelha-se a um vaso. É enchida com água (ou, embora não seja tradicional, com outros líquidos, como vodka, arak, sucos ou essências naturais). Geralmente é feita de vidro, metal ou cerâmica; algumas são bastante ornamentadas, com decorações pintadas em dourado, prateado ou outras cores.
- Corpo: peça cilíndrica que sustenta o fornilho e conecta-se à base. Na base, projeta um tubo para dentro da água, aonde conduz a fumaça.
- Fornilho (rosh): peça de barro, cerâmica ou metal onde coloca-se o fumo e, por cima dele, o carvão em brasa. Pode ter uma rede metálica para separar a brasa do melaço. Caso não haja essa rede, pode-se cobrir o tabaco com papel alumínio (com pequenos furos para passagem do ar), e sobre o papel colocar o carvão em brasa.
- Abafador: Artefato em metal, geralmente alto para proteger a brasa do vento, evitando o consumo rápido do carvão.
- Tubo (ou mangueira): é por onde se aspira a fumaça. Uma ponta termina numa piteira, e a outra encaixa-se na parte superior do corpo do narguilé (acima da água). Pode haver mais de um tubo para que várias pessoas fumem juntas. Em narguilés usados em locais públicos, como bares, freqüentemente usa-se uma peça plástica removível na ponta da piteira, que pode ser lavada ou descartada a cada uso, ao contrário da mangueira em si, que não deve nunca ser lavada, pois pode oxidar, criando assim partículas de fuligem, que atrapalham a aspiração da fumaça.
[editar] Funcionamento
Quando se aspira o ar pelo tubo, reduz-se a pressão no interior da base; isso faz com que ar aquecido pelo carvão passe pelo tabaco, produzindo a fumaça. Ela desce pelo corpo até a base, onde é resfriada e filtrada pela água, que retém partículas sólidas. A fumaça segue pelo tubo até ser aspirada pelo usuário. O mais usual é que a fumaça não seja tragada.
[editar] Fumo
Há um fumo especial para narguilés, usualmente feito com tabaco, melaço (um subproduto do açúcar) e frutas ou aromatizantes. Os aromas são bastante variados; encontra-se de frutas (como pêssego, maçã verde, coco), flores, mel, e até mesmo Coca-Cola. Embora também seja possível encontrar fumos não-aromatizados, estes progressivamente perderam espaço para os aromatizados, que hoje são muito mais populares.
[editar] Saúde
O uso do narguilé envolve riscos à saúde, como acontece com todos os produtos derivados de tabaco. Há controvérsia, no entanto, se esses riscos são maiores ou menores que aqueles associados aos cigarros.
Em média, ao fumar um cigarro em cinco minutos, inalam-se entre 300 e 500 mililitros de fumaça. Já uma sessão de narguilé dura de vinte minutos a uma hora – o que representa 10 litros de fumaça.[
]A Organização Mundial de Saúde afirma que a fumaça do narguilé contém inúmeras toxinas que podem causar câncer do pulmão, doenças cardíacas e outras.[3]
A Academia Estadunidense de Periodontologia afirma que o uso do narguilé é comparável ao cigarro, em relação aos riscos de doenças da gengiva.[4]
George Loffredo (professor da universidade de Georgetown que conduziu estudo sobre o uso do narguilé no Egito) acredita que, comparado ao fumante típico de cigarros, o fumante de narguilé expõe-se mais a toxinas como nicotina e monóxido de carbono.[5]
Já Kamal Chaouachi (pesquisador em socio-antropologia e tabacologia, autor de tese de doutorado sobre o narguilé) entende que, embora o narguilé tenha efeitos nocivos à saúde, é possível que eles sejam menores que os do cigarro (por exemplo, em relação ao câncer de pulmão).[6] Ele tece ainda severas críticas aos principais estudos sobre o narguilé (inclusive à nota da Organização Mundial de Saúde citada acima[7]). Segundo ele, a maioria deles têm problemas metodológicos (como não distinguir entre usuários exclusivos e os que são fumantes ou ex-fumantes de cigarros) e ignoram os resultados de importantes estudos sociológicos, etnológicos e antropológicos sobre o assunto.[8]
[editar] Proibição
A prefeitura de São Paulo proibiu em 2003 a presença de Narguilé em Lan Houses.[ ] É crime "vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente" tabaco para narguilé (bem como qualquer produto que cause dependência física ou psíquica).[9]
[editar] Presença na cultura
As tendas abertas por diante deixavam ver os grandes lustres pendentes, os tapetes da Meca e de Damasco, onde se encruzavam as soberbas figuras dos xeques, fumando gravemente o narguilé. | Eça de Queirós (Notas Contemporâneas, p. 15)
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[editar] Referências
- ↑ Random House Webster's Unabridged Dictionary. Random House, 1999.
- ↑ "Just a little shisha among friends". American Observer, 17/3/2004.
- ↑ WHO Study Group on Tobacco Product Regulation. "Advisory note: waterpipe tobacco smoking: health effects, research needs and recommended actions by regulators". 7-9/7/2005.
- ↑ "Avoid The Hookah And Save Your Teeth". American Academy of Periodontology, 7/11/2005.
- ↑ "Hold the Hookah: Researcher Warns Against Trendy Tobacco Use". Georgetown University Medical Center, 29/9/2006.
- ↑ Chaouachi, Kamal. "Shisha, hookah. Narghile au XXIème siècle". Le Courrier des Addictions, 6(4):150-2, dezembro 2004.
- ↑ Chaouachi, Kamal. "A critique of the WHO TobReg's 'Advisory Note' report entitled: 'Waterpipe tobacco smoking: health effects, research needs and recommended actions by regulators'". Journal of Negative Results in BioMedicine, 5(17), 2006.
- ↑ Chaouachi, Kamal. "Presentation of nargilè and its use". Tabaccologia, 1:39-47, 2005.
- ↑ Lei 8069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Artigo 81.