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Recuo dos glaciares desde 1850 - Wikipédia

Recuo dos glaciares desde 1850

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O glaciar Grosse Aletsch em 1979 (esq.), 1991 (centro) e 2002 (dir.)
O glaciar Grosse Aletsch em 1979 (esq.), 1991 (centro) e 2002 (dir.)

O recuo dos glaciares desde 1850, de forma global e rápida, afecta a disponibilidade de água doce para irrigação e uso doméstico, as actividades de montanha, animais e plantas que dependem da água produzida durante os períodos de degelo, e num prazo mais alargado, o nível dos oceanos. Estudada pelos glaciólogos, a coincidência temporal do recuo dos glaciares com o aumento medido da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é muitas vezes citada como pilar da evidência do aquecimento global antropogénico. As cordilheiras montanhosas das zonas temperadas como os Himalaias, Alpes, Montanhas Rochosas, Cordilheira Cascade e os Andes meridionais, bem como cumes tropicais isolados como o Monte Kilimanjaro na África, apresentam, proporcionalmente, a maior diminuição da extensão dos glaciares. [1][2]

A Pequena Idade do Gelo foi um período, que se estendeu aproximadamente de 1550 a 1850, em que o mundo esteve sob temperaturas relativamente baixas quando comparadas com as actuais. Subsequentemente, até 1940 os glaciares um pouco por todo o mundo retrocederam à medida que o clima se tornava mais quente. O recuo glaciar abrandou, e em muitos casos foi mesmo revertido, entre 1950 e 1980 em resultado de um ligeiro arrefecimento global. Porém, desde 1980 um significativo aquecimento global tem conduzido ao recuo cada vez mais rápido e generalizado, de tal forma que muitos glaciares desapareceram e a existência de grande parte dos que restam no mundo está ameaçada. Em regiões como os Andes na América do Sul e Himalaias na Ásia, o desaparecimento dos glaciares aí existentes poderá afectar significativamente os recursos hídricos disponíveis. A regressão dos glaciares de montanha, especialmente na América do Norte ocidental, Ásia, Alpes, Indonésia e África e ainda nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul, tem sido utilizada como evidência qualitativa do aumento da temperatura ao nível planetário desde o final do século XIX [3][4].O recente recuo substancial e aumento da velocidade de recuo verificado desde 1995 em certos glaciares das calotas da Gronelândia e da Antártica Ocidental, podem ser o prenúncio de uma subida do nível do mar, com efeitos potencialmente dramáticos nas regiões costeiras de todo o mundo.

Índice

[editar] Balanço de massa em glaciares

Este mapa mostra as mudanças nos balanços de massa em glaciares de montanha desde 1970: adelgaçamento a amarelo e vermelho e espessamento a azul.
Este mapa mostra as mudanças nos balanços de massa em glaciares de montanha desde 1970: adelgaçamento a amarelo e vermelho e espessamento a azul.
Balanço de massa dos glaciares a nível global, nos últimos 50 anos, relatado ao WGMS e NSIDC.  A tendência crescente de diminuição nos finais da década de 1980 é sintomática do aumento do ritmo de recuo e do número de glaciares em recuo.
Balanço de massa dos glaciares a nível global, nos últimos 50 anos, relatado ao WGMS e NSIDC. A tendência crescente de diminuição nos finais da década de 1980 é sintomática do aumento do ritmo de recuo e do número de glaciares em recuo.

Crucial para a sobrevivência de um glaciar é o seu balanço de massa, isto é, a diferença entre a acumulação e a perda de gelo (por derretimento e sublimação) num glaciar. As alterações climáticas podem provocar variações na temperatura e na queda de neve, levando a mudanças no balanço de massa. Um glaciar com um balanço negativo sustentado não está em equilíbrio e retrocederá. Um glaciar com um balanço positivo está também fora de equilíbrio, e avançará para restabelecê-lo. Actualmente há alguns glaciares em crescimento, apesar de os seus modestos ritmos de crescimento sugerirem que não se encontram muito longe do ponto de equilíbrio.[5]

O recuo de um glaciar resulta na perda da sua região menos elevada. Uma vez que nas elevações maiores as temperaturas são mais baixas, o desaparecimento da porção mais baixa de um glaciar reduz a perda total, aumentando assim o balanço de massa e potencialmente reestabelecendo o equilíbrio. Porém, se o balanço de massa de uma porção significativa da zona de aumulação é negativo, o glaciar encontra-se em desequilíbrio com o clima e derreterá se este não se tornar mais frio e/ou se não ocorrer um aumento na quantidade de precipitação gelada.

O sintoma chave de um glaciar em desequilíbrio é o seu adelgaçamento ao longo de toda a sua extensão [6][7] . Por exemplo, o glaciar Easton (ver abaixo) provavelmente diminuirá a sua extensão para metade, mas com um ritmo de redução decrescente. No entanto, o glaciar Grinnell (na imagem acima), verá a sua extensão diminuída a um ritmo crescente, até desparecer totalmente. A diferença entre estes dois casos é que a secção superior do glaciar Easton mantém-se em bom estado e coberta de neve, enquanto que mesmo na sua secção mais elevada o glaciar Grinnell se encontra sem cobertura de neve, derretendo-se e diminuindo a sua espessura. Pequenos glaciares com pequena variação da altitude ao longo da sua extensão entram mais facilmente em desequilíbrio com o clima.

Os métodos utilizados para medir o recuo dos glaciares incluem a marcação do seu ponto terminal, cartografia por GPS, cartografia aérea e altimetria por laser.

[editar] Glaciares tropicais

Os glaciares tropicais encontram-se situados entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, na região entre 23º26'22 a norte ou sul do equador. Os glaciares tropicais são os mais estranhos de todos os glaciares, por várias razões. Em primeiro lugar, os trópicos são a zona mais quente do planeta. Além disso, as mudanças sazonais são mínimas com temperaturas elevadas durante todo o ano, resultando na ausência de um inverno frio durante o qual a neve e o gelo se possam acumular. Por último, são poucas as montanhas situadas nestas regiões suficientemente altas para que sobre elas exista ar suficientemente frio para que se formem glaciares. Todos os glaciares situados nos trópicos encontram-se em picos montanhosos isolados e elevados. De um modo geral, os glaciares tropicais são mais pequenos que os encontrados nas outras regiões e são os que mais facilmente mostram uma resposta rápida a padrões climáticos em mudança. Um pequeno aumento de temperatura, de apenas alguns graus, pode ter um impacto quase imediato e adverso nos glaciares tropicais. [8]

Com a quase totalidade do continente africano situado nas zonas de clima tropical e subtropical, os glaciares restringem-se a dois picos isolados e à cordilheira de Ruwenzori. O Kilimanjaro, com 5895 m, é o pico mais alto do continente. Desde 1912, a cobertura glaciar no cume do Kilimanjaro, regrediu aparentemente 75%, e o volume de gelo é actualmente 80% menor do que aquele de há um século atrás, devido ao recuo e ao adelgaçamento.[9] No período de 14 anos compreendido entre 1984 e 1998, uma secção do glaciar no cume desta montanha regrediu 300 m.[10]Um estudo efectuado em 2002 determinou que, mantidas as condições actuais, os glaciares no cume do Kilimanjaro desaparecerão entre 2015 e 2020. [11][12] Um relatório de Março de 2005 indicava que já quase não resta gelo glaciar nesta montanha, sendo a primeira vez em 11 000 anos que o solo é exposto em porções do cume.[13][14]

O glaciar Furtwängler situa-se próximo do cume do Kilimanjaro. Entre 1976 e 2000, a área deste glaciar diminui quase 50%, de 113 000 m² para 60 000 m². [15] Durante trabalhos de campo efectuados no início de 2006, os cientistas descobriram um grande buraco próximo do centro do glaciar. Este buraco, atravessando a espessura restante do glaciar até à rocha subjacente, que é igual a 6 m, deverá aumentar de tamanho e partir o glaciar em dois em 2007.[16]

Glaciar Furtwängler no cume do Kilimanjaro (em primeiro plano)
Glaciar Furtwängler no cume do Kilimanjaro (em primeiro plano)

A norte do Kilimanjaro situa-se o Monte Quénia, que com os seus 5 199 m de altitude é a segunda montanha mais alta do continente africano. O Monte Quénia tem vários pequenos glaciares que perderam pelo menos 45% da sua massa desde meados do século XX. De acordo com dados compilados pelo U.S. Geological Survey (USGS), em 1900 existiam dezoito glaciares no Monte Quénia e em 1986 apenas restavam onze. A área total coberta pelos glaciares era 1.6 km2 em 1900, porém em 2000 apenas cerca de 25% (ou 0.4 km2) desta área subsistia.[17] A ocidente dos montes Kilimanjaro e Quénia, erguem-se a uma altitude de 5 109 m os Montes Ruwenzori. Evidências fotográficas deste conjunto de elevações mostram uma redução marcada das áreas cobertas por glaciares durante o século passado. No período de 35 anos compreendido entre 1955 e 1990, os glaciares nos Montes Ruwenzori recuaram cerca de 40%. Dada a sua proximidade à forte humidade da região do Congo, crê-se que os glaciares nos Montes Ruwenzori possam ter um ritmo de recuo mais lento que os do Kilimanjaro e Quénia.[18]

Um estudo efectuado por glaciólogos na América do Sul, revela outro recuo. Mais de 80% de todo o gelo glaciar nos Andes setentrionais encontra-se concentrado nos picos mais altos em pequenos glaciares com cerca de 1 km² de superfície. Uma observação efectuada aos glaciares de Chacaltaya na Bolívia e Antizana no Equador entre 1992 e 1998 indica que a taxa de perda de espessura em cada um destes glaciares se situou entre 0.6 e 1.4 m por ano. Os números referentes ao glaciar de Chalcataya mostram uma perda de 67% do seu volume e de 40% da sua espessura durante o mesmo período. Desde 1940 o glaciar de Chacaltaya perdeu cerca de 90% da sua massa e espera-se que desapareça totalmente entre 2010 e 2015. Outros estudos indicam que desde meados da década de 1980, o ritmo de recuo destes glaciares tem aumentado. [19]

Calota de Puncak Jaya em 1936 (USGS)
Calota de Puncak Jaya em 1936 (USGS)
Glaciares de Puncak Jaya em 1972. Da esq. para a dir.: Northwall Firn, Glaciar Meren e Glaciar Carstensz. (USGS)
Glaciares de Puncak Jaya em 1972. Da esq. para a dir.: Northwall Firn, Glaciar Meren e Glaciar Carstensz. (USGS)

Mais para sul no Peru, os Andes atingem de um modo geral altitudes mais altas, existindo aqui cerca de 722 glaciares que cobrem uma área de 723 km². A investigação sobre esta zona dos Andes é menos extensa e aponta para um recuo total de 7% entre 1977 e 1983.[20] A Calota de Quelccaya é a maior calota de gelo tropical do mundo, e todos os glaciares que nela têm a sua origem se encontram em recuo. No caso do maior destes glaciares, o glaciar Qori Kalis, a velocidade de recuo atingiu os 155 m por ano durante o período de três anos ente 1995 e 1998. O gelo derretido formou um grande lago na frente do glaciar desde 1983, e pela primeira vez em milhares de anos os solos subjacentes foram postos a descoberto.[21]

Na grande ilha da Nova Guiné, existem evidências fotográficas de um recuo maciço de glaciares desde a exploração aérea da região no início da década de 1930. Dada a posição desta ilha dentro da zona tropical, a variação sazonal da temperatura vai de pouca a nenhuma. A localização tropical tem um nível de precipitação (chuva e neve) previsivelmente estável, bem como nebulosidade durante todo o ano, e não ocorreu uma alteração significativa na quantidade de humidade durante o século XX. Com 7 km² o manto de gelo de Puncak Jaya é o maior da ilha, e desde 1936 retrocedeu de uma única massa maior para vários pequenos corpos glaciares. Nestes glaciares mais pequenos, investigações feitas entre 1973 e 1976 mostraram um recuo de 200 m no glaciar Meren e de 50 m no glaciar Carstenez. O Northwall Firn, um dos maiores blocos restantes do manto de gelo que outrora se situava nos cumes de Puncak Jaya, dividiu-se em vários glaciares individualizados desde 1936. O recurso a imagens do satélite IKONOS obtidas em 2004 sobre os glaciares da Nova Guíné forneceu novas e dramáticas informações. As imagens indicavam que no período de dois anos entre 2000 e 2002, a parte oriental do Northwall Firn havia perdido 4.5% da sua massa, a parte ocidental 19.4% e Carstenz 6.8%. Ficou-se também a saber que, em algum momento entre 1994 e 2000 o glaciar Meren havia desaparecido.[22] Além dos glaciares de Puncak Jaya, outra pequena mancha de gelo que se sabe ter existido no cume do Puncak Trikora desapareceu completamente entre 1939 e 1962.[23]

[editar] Glaciares em latitudes médias

Estes glaciares situam-se entre o Trópico de Câncer e o Círculo Polar Ártico ou entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico. Estas duas regiões apresentam gelo glaciar em glaciares de montanha, glaciares de vale e até mesmo mantos de gelo mais pequenos, geralmente situados em regiões montanhos mais elevadas. Todos estes glaciares se encontram em cadeias montanhosas, destacando-se os Himalaias, os Alpes, as Montanhas Rochosas, as cordilheiras da costa norte-americana do Pacífico, os Andes na América do Sul e as montanhas da ilha-nação Nova Zelândia. Nestas latitudes os glaciares são mais frequentes e tendem a ser maiores quanto mais próximos se encontrarem das regiões polares. Estes glaciares são os mais estudados ao longo dos últimos 150 anos. Tal como no caso dos glaciares situados na zona tropical, praticamente todos os glaciares das latitudes médias encontram-se num estado de balanço de massa negativo, estando em recuo.

[editar] Hemisfério oriental

O World Glacier Monitoring Service (WGMS) elabora, a cada 5 anos, relatórios sobre as mudanças no término dos glaciares, isto é, na sua extremidade menos elevada.[24] No seu relatório de 1995-2000, foram registadas variações no ponto terminal de vários glaciares dos Alpes. No período de cinco anos entre 1995 e 2000, 103 dos 110 glaciares examinados na Suíça, 95 dos 99 na Áustria, a totalidade de 69 na Itália e 6 na França, encontravam-se em recuo. Os glaciares franceses sofreram um recuo abrupto no período 1942-53 seguido de avanços até 1980, e logo novo recuo a partir de 1982. Como exemplo, desde 1870 o glaciar Argentiére e o glaciar do Monte Branco recuaram 1150 e 1400 m respectivamente. O maior glaciar francês, o Mer de Glace, com 11 km de extensão e 400 m de espessura, perdeu 8.3% do seu comprimento (ou 1 km), em 130 anos e diminui a sua espessura ao longo da secção média em 27% (ou 150 m) desde 1907. O glaciar Bossons em Chamonix, França, recuou 1200 m relativamente à sua extensão em princípios do século XX. Em 2005, dos 91 glaciares suiços estudados, 84 recuaram relativamente à posição dos seus pontos terminais em 2004 e os restantes 7 não apresentavam alterações.[25]

Outros investigadores descobriram que os glaciares alpinos parecem estar a recuar a um ritmo mais rápido que o de há algumas décadas. Em 2005, dos 91 glaciares observados, 84 estavam em recuo e nenhum em avanço. O glaciar Trift, recuou mais de 500 m em apenas 3 anos (2003 a 2005), o que equivale a 10% da sua extensão total. O Grosser Aletsch, o maior glaciar da Suíça, recuou 2600 m desde 1880. Esta velocidade de recuo também aumentou desde 1980, com 30% (ou 800 m) do recuo total a ocorrer nos últimos 20% do período de tempo considerado.[26] De igual modo, dos glaciares situados nos Alpes italianos, apenas um terço se encontravam em recuo em 1980, enquanto que em 1999 os glaciares em recuo constituíam 89% do total. Os investigadores descobriram que entre 2004 e 2005 todos os glaciares nos Alpes italianos se encontravam em recuo.[27] Fotografias repetidas ao longo do tempo em vários pontos dos Alpes, são uma evidência clara de que os glaciares desta região recuaram significativamente nas últimas décadas. [28] O glaciar Morteratsch, na Suíça, é um exemplo chave. As medições anuais da variação do comprimento foram iniciadas em 1878. O recuo total desde 1878 até 1998 é de 2 km com uma velocidade média de recuo aproximadamente igual a 17 m/ano. Este valor médio de longo prazo foi notoriamente ultrapassado em anos recentes com 30 m/ano para o período 1999-2005.[29]

Um dos maiores motivos de precupação, e que no passado teve grande impacto em termos de vidas e propriedade destruídas, são as inundações provocadas pela cedência das paredes de lagos glaciares. Os glaciares juntam rochas e solo, que foram removidos das encostas das montanhas ao longo do tempo, na sua extremidade terminal. Estas pilhas de materiais muitas vezes formam barragens que retêm atrás de si água, formando lagos glaciares à medida que os glaciares derretem e recuam desde as suas extensões máximas. Estas morenas terminais são muitas vezes instáveis, conhecendo-se casos em que ocorreram roturas devido à grande quantidade de água retida ou devido a deslocamentos provocados por terramotos, deslizamentos ou avalanchas. Se um glaciar apresenta um ciclo de derretimento rápido durante os meses mais quentes do ano, a morena terminal pode não ser suficientemente resistente como para continuar a reter a água acumulada atrás dela, conduzindo a a uma inundação maciça e localizada. O risco de ocorrência deste tipo de inundações é crescente devido à criação e expansão de lagos glaciares como resultado do recuo dos glaciares. Inundações passadas foram mortíferas e causaram grandes danos materiais. Vilas e aldeias situadas em vales estreitos e escarpados, situados a jusante de lagos glaciares, são aquelas que correm maior risco. Em 1892, uma tal inundação libertou cerca de 200,000 m³ de água do lago do Glaciar de Tête Rousse, provocando a morte de 200 pessoas na localidade francesa de Saint Gervais. Sabe-se que as inundações deste tipo podem ocorrer em qualquer região do mundo onde existam glaciares. Espera-se que a continuação do recuo dos glaciares crie e expanda lagos glaciares, aumentando assim o risco de futuras inundações.

Apesar de os glaciares dos Alpes receberem maior atenção dos glaciólogos que os de outras regiões da Europa, as várias investigações efectuadas indicam que um pouco por toda a Europa os glaciares se encontram presentemente em recuo. Nos montes Kebnekaise, no norte da Suécia, um estudo de 16 glaciares efectuado entre 1990 e 2001, concluíu que 14 se encontravam em recuo, um em avanço e um encontrava-se estável.[30] Durante o século XX, os glaciares da Noruega recuaram em termos globais, apesar da ocorrência de breves períodos de avanço em 1910, 1925 e na década de 1990. Nesta última, 11 dos 25 glaciares noruegueses observados avançaram devido a vários invernos consecutivos com precipitação acima da média. Porém, após vários anos consecutivos com invernos com precipitação reduzida desde 2000, e com vários verões com recordes de temperaturas elevadas em 2002 e 2003, os glaciares da Noruega diminuíram significativamente a sua extensão. Em 2005, apenas 1 dos 25 glaciares monitorizados na Noruega, se encontrava em avanço, dois estavam estacionários e 22 em recuo. O glaciar norueguês Engabreen recuou 179 m desde 1999, enquanto que os glaciares Brenndalsbreen e Rembesdalsskåka recuaram 116 e 206 m respectivamente, desde 2000. O glaciar Briksdalsbreen recuou 96 m só em 2004, o maior recuo num só ano neste glaciar desde que as observações deste glaciar se iniciaram em 1900. Na totalidade, o Briksdalsbreen recuou 176 m entre 1999 e 2005.[31]

Esta imagem da NASA mostra a formação de numerosos lagos glaciares nos pontos terminais de glaciares em recuo no Butão (Himalaias).
Esta imagem da NASA mostra a formação de numerosos lagos glaciares nos pontos terminais de glaciares em recuo no Butão (Himalaias).

Os Himalaias e outras cadeias montanhosas da Ásia Central apresentam grandes regiões glaciares. Estes glaciares fornecem água que é vital para países áridos como a Mongólia, China ocidental, Paquistão e Afeganistão. Tal como sucede com outros glaciares por todo o mundo, os glaciares asiáticos atravessam um período de declínio rápido da sua massa. A perda destes glaciares produziria um tremendo impacto no ecossitema desta região.

Um relatório elaborado pelo WWF, concluiu que 67% dos glaciares dos Himalaias estão em recuo. O exame de 612 glaciares na China entre 1950 e 1970, mostra que 53% dos glaciares estudados estão em recuo. Depois de 1990, as medições destes glaciares mostram que 95% deles estão em recuo, indicando que o recuo destes glaciares se tornava mais generalizado.[32] Os glaciares na região do Monte Everest nos Himalaias encontram-se todos em estado de recuo. O glaciar Khumbu, que é uma das principais rotas de acesso à base do Monte Everest, recuou 5 km desde 1953. O glaciar Rongbuk, que drena a face norte do everest para o Tibete, está em recuo ao ritmo de 20 m por ano. Na Índia, o glaciar Gangotri, que é uma fonte principal da água do rio Ganges, recuou 34 m por ano entre 1970 e 1996 e 30 m por ano desde o ano 2000. Com o recuo dos glaciares nos Himalaias, foram criados vários lagos glaciares. Fonte de crescente preocupação são as possíveis inundações causadas pela rotura das morenas terminais que retêm as águas destes lagos glaciares. Investigadores estimam que cerca de 20 lagos no Nepal e 24 no Butão constituem um perigo para populações humanas em caso de ocorrerem roturas. Um dos lagos identificado como potencialmente perigoso é o Raphstreng Tsho no Butão, com 1.6 km de comprimento, 0.96 km de largura e 80 m de profundidade em 1986. Em 1995 o lago havia-se expandido para 1.94 km de comprimento, 1.13 km de largura e 107 m de profundidade. Em 1994, uma inundação provocada por uma rotura no Luggye Tsho, um lago glaciar adjacente ao Raphstreng Tsho, matou 23 pessoas.[33]

Nas montanhas de Ak-Shirak no Quirguistão, os glaciares sofreram uma pequena perda entre 1943 e 1977 e uma perda acelerada de 20% da sua massa entre 1977 e 2001.[34] Nas montanhas de Tian Shan, na fronteira do Quirguistão com a China e Cazaquistão, os estudos efectuados na sua porção norte mostram que os glaciares que fornecem água a esta região árida têm perdido cerca de 2 km3 de gelo por ano entre 1955 e 2000. Este estudo da Universidade de Oxford relatou ainda que em média, 1.28% do volume destes glaciares tinha sido perdido entre 1974 e 1990.[35]

A sul das Tian Shan, a cordilheira Pamir situada sobretudo no Tadjiquistão tem milhares de glaciares, encontrando-se todos em recuo. Durante o século XX, os glaciares do Tadjiquistão perderam 20 km³ de gelo. O glaciar Fedchenko, com os seus 70 km de extensão, o maior do Tadjiquistão e o maior dos glaciares não polares da Terra, perdeu 1.4% do seu comprimento (ou 1 km), 2 km³ do seu volume e 11 km² de área glaciar durante o século XX. Similarmente, o vizinho glaciar Skogatch perdeu 8% da sua massa total entre 1969 e 1986. O Tadjiquistão e os países vizinhos da cordilheira de Pamir são altamente dependentes do escoamento das águas glaciares, pois estas asseguram o caudal dos rios durante as secas e estações secas que ocorrem todos os anos. A continuação do desaparecimento de gelo glaciar resultará num aumento do escoamento de águas dos glaciares a curto prazo, seguido por um decréscimo, a longo prazo, da água derretida nos glaciares que flui para os rios e ribeiros.[36]

Estes glaciares na Nova Zelândia têm mantido um recuo rápido durante os últimos anos. Repare nos lagos terminais, o recuo do gelo branco (gelo livre da cobertura das morenas), e as morenas mais altas devido ao adelgaçamento do gelo.
Estes glaciares na Nova Zelândia têm mantido um recuo rápido durante os últimos anos. Repare nos lagos terminais, o recuo do gelo branco (gelo livre da cobertura das morenas), e as morenas mais altas devido ao adelgaçamento do gelo.

Na Nova Zelândia, os glaciares de montanha encontram-se em recuo generalizado desde 1890, com uma aceleração do recuo desde 1920. A maioria dos glaciares adelgaçaram de forma mensurável e perderam extensão e as zonas de acumulação de neve passaram a situar-se a altitudes cada vez maiores com o decorrer do século XX. Durante o período entre 1971 e 1975 o glaciar Ivory recuou 30 m no seu ponto terminal tendo ocorrido simultaneamente a perda de 26% da sua superfície. Desde 1980, numerosos pequenos lagos glaciares formaram-se atrás das novas morenas terminais de vários destes glaciares. Glaciares como o Classen, Godley e Douglas apresentam lagos glaciares recentes abaixo dos seus pontos terminais, devido ao recuo ocorrido nos últimos 20 anos. Imagens de satélite indicam que estes lagos continuam a expandir-se.

Vários glaciares, como os muito visitados glaciares Fox e Franz Josef na Nova Zelândia, avançaram periodicamente, sobretudo na década de 1990, mas a escala destes avanços é pequena quando comparada com o recuo ocorrido ao longo do século XX. Estes grandes glaciares, de fluxo rápido e situados em encostas muito inclinadas têm-se mostrado muito reactivos a pequenas alterações dos seus balanços de massa. Alguns anos de condições favoráveis ao avanço dos glaciares, tais como maior queda de neve e temperaturas mais baixas, são rapidamente reflectidas num avanço correspondente, seguido por um recuo igualmente rápido quando essas condições favoráveis deixam de existir.[37] Os glaciares que se encontram em avanço em alguns locais da Nova Zelândia encontram-se neste estado devido a uma alteração climática temporária associada ao fenómeno El Niño, que trouxe mais precipitação e verões mais frescos e nublados desde 2002.[38]


[editar] Notas

  1. Intergovernmental panel on climate change, Graph of 20 glaciers in retreat worldwide. Climate Change 2001 (Working Group I: The Scientific Basis)
  2. Thomas Mölg, Worldwide glacier retreat. RealClimate
  3. Intergovernmental panel on climate change, 2.2.5.4 Mountain glaciers. Climate Change 2001 (Working Group I: The Scientific Basis)
  4. National Snow and Ice Data Center, Global glacier recession. GLIMS Data at NSIDC
  5. Trabant, D.C., R.S. March, and D.S. Thomas, Hubbard Glacier, Alaska: Growing and Advancing in Spite of Global Climate Change and the 1986 and 2002 Russell Lake Outburst Floods.
  6. Mauri S. Pelto (Nichols College), The Disequilibrium of North Cascade, Washington Glaciers 1984–2004 In "Hydrologic Processes".
  7. Pelto, M.S. and Hartzell, P.L., Change in longitudinal profile on three North Cascades glaciers during the last 100 years In "Hydrologic Processes".
  8. Michael Jankowski, Tropical Glacier Retreat RealClimate.
  9. Thompson, Snows of Kilimanjaro Disappearing, Glacial Ice Loss Increasing Ohio State University.
  10. Andrew Wielochowski, Glacial recession on Kilimanjaro
  11. Lonnie G. Thompson, et alia, Kilimanjaro Ice Core Records: Evidence of Holocene Climate Change in Tropical Africa Science nº 5593.
  12. Ohio State University, African Ice Core Analysis reveals catastrophic droughts, shrinking ice fields and civilization shifts Ohio State Research News
  13. Guardian Unlimited, The peak of Mt Kilimanjaro as it has not been seen for 11,000 years The Guardian
  14. Tyson, Peter, Vanishing into Thin Air Volcano Above the Clouds
  15. Thompson, Lonnie G., et al, Kilimanjaro Ice Core Records: Evidence of Holocene Climate Change in Tropical Africa, Science
  16. Thompson, Lonnie G., et al, Snows of Kilimanjaro Disappearing, Glacial Ice Loss Increasing, Ohio State University
  17. U.S. Geological Survey, Glacier Monitoring in Glacier National Park
  18. Andrew Wielochowski, Glacial recession in the Rwenzori
  19. Bernard Francou, Small Glaciers Of The Andes May Vanish In 10–15 Years, UniSci, International Science News
  20. U.S. Geological Survey, U.S.Department of the Interior, Peruvian Cordilleras
  21. Byrd Polar Research Center, The Ohio State University, Peru – Quelccaya (1974–1983), Ice Core Paleoclimatology Research Group
  22. Joni L. Kincaid and Andrew G. Klein, Retreat of the Irian Jaya Glaciers from 2000 to 2002 as Measured from IKONOS Satellite Images, 61st Eastern Snow Conference Portland, Maine, USA 2004
  23. Ian Allison and James A. Peterson, Glaciers of Irian Jaya, Indonesia and New Zealand, U.S. Geological Survey, U.S.Department of the Interior
  24. World Glacier Monitoring Service, Homepage
  25. MSNBC, Swiss glaciers continue shrinking, report finds
  26. Swiss Federal Institute of Technology Zurich, Swiss Glacier Monitoring Network , Variations of Grosser Aletschgletscher
  27. Italian Glaciological Committee, Glaciers, Glaciers in Italy
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  29. Swiss Federal Institute of Technology Zurich, Swiss Glacier Monitoring Network , Variations of Grosser Aletschgletscher
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  37. U.S. Geological Survey, U.S.Department of the Interior, Glaciers of New Zealand
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