Salvatore Cacciola
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Salvatore Alberto Cacciola (Milão, 7 de janeiro de 1944) é um banqueiro ítalo-brasileiro proprietário do falido Banco Marka, condenado por crimes contra o sistema financeiro no Brasil e foragido na Itália, após seu banco ter recebido uma ajuda financeira, considerada fraudulenta, do Banco Central do Brasil para cobrir prejuízos com operações de câmbio.
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[editar] Biografia
[editar] Infância
Cacciola nasceu na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Seus pais estavam morando nos arredores de Milão para escapar dos perigos e dos horrores daqueles tempos.
Por causa da guerra os registros de nascimento só eram feitos em alguns municípios e a prefeitura de Milão estava fechada. Então, o pequeno Salvatore foi registrado em Tradate, província de Varese, daí constar esta cidade como local de nascimento, e não Milão, em seus documentos.
Seu pai, Luigi Cacciola, era sócio de uma pequena firma que fazia pintura especial em carrocerias de ônibus e de caminhões. Com as dificuldades da guerra e do imediato pós-guerra, a firma faliu no final de 1952 e Luigi decidiu emigrar para o Brasil. De início, veio sozinho, mas logo mandou trazer o restante da família.
[editar] Início no mercado financeiro
O jovem Salvatore iniciou-se nos segredos das operações financeiras na corretora carioca Marcelo Leite Barbosa. No fim da década de 60, trabalhava na corretora uma legião de jovens e ambiciosos operadores de pregão que mais tarde galgaria espaço no noticiário econômico e nas colunas sociais. Vieram daqueles tempos, além de Cacciola, Arthur Falk e Fábio Nahoun, que mais tarde também se envolveriam em escândalos financeiros, bem como o banqueiro e empresário de sucesso Jorge Paulo Lemann e o banqueiro e político Ronaldo Cezar Coelho.
A Marcelo Leite Barbosa perdeu sua importância, mas os jovens operadores das décadas de 60 e 70 continuaram na estrada. Formado no faroeste do mercado de ações daquela época, que só terminou com a quebra da Bolsa em 1971, Cacciola fez jus à imagem de investidor esperto e audacioso.
Cacciola já tinha uma corretora própria quando o cruzeiro foi desvalorizado em 1973, em pleno regime militar, numa situação muito parecida com a do escândalo em que se envolveria décadas depois. Daquela vez, no entanto, o corretor deu o lance certo. Possivelmente porque já dispusesse de informação privilegiada, Cacciola soube se defender com títulos cambiais e ganhou muito dinheiro
Na década de 90, já era dono do Banco Marka e de empresas no exterior: uma no Uruguai, outra nas Bahamas e uma terceira na Ilha da Madeira, Portugal. Já se suspeitava na época que Cacciola usava essas empresas para a remessa e importação ilegal de divisas e outras operações de lavagem de dinheiro, fato que mais tarde foi comprovado.
Em outubro de 1993, passou quatro dias em poder de seqüestradores, num cativeiro improvisado em São Gonçalo, interior do Estado do Rio. Cacciola conseguiu fugir dos seus algozes. Desde então, passa a circular pelo Rio apenas de helicóptero.
[editar] O escândalo do Banco Marka
Em agosto de 1998, com o colapso financeiro da Rússia, a economia brasileira sente a turbulência e o mercado fica agitado. Cacciola, que sempre trabalhou com informações privilegiadas, desconfia que seus informantes junto ao Banco Central do Brasil andam lhe contando só metade do que sabem. Para certificar-se, resolve apelar para um estratagema ilegal. Numa amistosa conversa com Luiz Augusto Bragança, investidor que era amigo de infância do então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, Cacciola oferece ao interlocutor um serviço de varredura em seus telefones fixos e celulares para saber se estão grampeados. Sem perceber o truque, Bragança lhe dá os números de todos os telefones fixos e celulares seus e dos parceiros no esquema de vazamento de informação. Estava montada a armadilha.
Com a escuta nos telefones de Bragança, Cacciola passa a conhecer os meandros do esquema de vazamento do BC. Descobre que os informantes tinham uma relação especial com o banqueiro André Esteves, do Banco Pactual, e repassavam dados sigilosos a outros dois bancos cariocas. Fica sabendo que os clientes do esquema recebiam informações mais completas que as suas. Mas, agora com domínio sobre o que se passava, Cacciola aumentou seu cacife sobre os informantes.
E usou-o poderosamente no momento mais dramático do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999. quando o governo federal anunciou o enterro definitivo da política cambial de manter o real valorizado ante o dólar, numa decisão cujos efeitos econômicos, políticos e sociais causaram impacto permanente na economia.
O banco Marka ficou insolvente com a desvalorização cambial de 1999. Assim como outra instituição financeira, o FonteCindam, do ex-diretor do Banco Central, Luiz Antônio Gonçalves, o banco apostou na estabilidade do real, enquanto as demais instituições financeiras se prepararam para a alta do dólar.
O Marka tinha 20 vezes seu patrimônio líquido comprometido em contratos de venda no mercado futuro de dólar. Com a desvalorização, Cacciola ficou sem poder honrar os compromissos e pediu ajuda ao BC, usando de sua influência junto ao mencionado Luiz Bragança, . Sabedor que Cacciola poderia prejudicá-lo, pois conversas comprometedoras suas com Bragança haviam sido gravadas pelo banqueiro, Francisco Lopes teve que ceder às pressões.
Assim, usando do argumento de que era necessário evitar que a quebra dos bancos elevasse o nervosismo no mercado em um momento de bastante estresse, a diretoria do BC decidiu autorizar os bancos a adquirirem dólares das reservas oficiais a preços inferiores ao do mercado - operação que causou um prejuízo estimado em R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos. Esta decisão foi bastante questionada e gerou a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Nas mais de nove horas de depoimento à CPI dos Bancos, Cacciola manteve a calma diante das inquirições dos senadores e um sorriso irônico, principalmente ao responder a perguntas que revelavam despreparo de alguns parlamentares para questionar as operações do mercado financeiro. Os senadores concordavam que ele estava sabendo aproveitar seu grande momento. A constatação de governistas e oposicionistas foi que o depoimento deixou o governo numa situação muito ruim.
Mas nas ruas a reação popular não foi nada simpática. Quando caminhava no centro do Rio de Janeiro Cacciola foi reconhecido por populares que passaram a gritar: "Pega ladrão, pega ladrão".
Com a pressão popular, Cacciola, assim como Gonçalves , tiveram decisões desfavoráveis da CPI dos Bancos. Eles foram acusados de tráfico de influência, crime de gestão temerária e de dificultar o acesso a informações requisitadas pela CPI, entre outras irregularidades. A CPI recomendou, ainda, ao Tribunal de Contas da União que tomasse medidas para que os diretores do BC devolvessem os 1,5 bilhão de reais que o governo gastou na operação fraudulenta de socorro.
Em junho de 2000, Cacciola, tratava de perder alguns quilos no caríssimo spa Kur, no Rio Grande do Sul, enquanto planejava novos negócios (construção civil e importação de produtos de alta tecnologia) quando foi preso pela Polícia Federal. Transferido para o Rio de Janeiro, tornou-se o primeiro banqueiro do país a dormir na cadeia. Libertado após 37 dias, beneficiado por hábeas corpus, viajou para a Itália onde passou a viver e é considerado pela Justiça brasileira um foragido.
[editar] Livro, morte da filha e condenação
Em 2001, lança o livro Eu, Alberto Cacciola, Confesso: o Escândalo do Banco Marka. Nele, Cacciola, abre o jogo e apresenta sua versão sobre o escândalo Marka. Dispara seus petardos contra Fernando Henrique Cardoso, policiais, juízes, senadores, procuradores e economistas e jornalistas. Diz-se injustamente perseguido. Mostra como funciona a venda de sentenças, intermediada por advogados de estirpe, na justiça carioca.
Em maio de 2004, Cacciola vive uma tragédia pessoal. Sua filha Milene, 28 anos, foi encontrada na região da Pedra Bonita, em São Conrado, zona sul do Rio. O corpo não apresentava marcas de agressões e a polícia concluiu que se tratava de suicídio.
Em abril de 2005, a Justiça Federal do Rio de Janeiro condenou Cacciola a 13 anos de prisão. No mesmo processo foram condenados a penas variadas o presidente e os diretores do Banco Central envolvidos no socorro fraudulento, e o banqueiro Luiz Antonio Gonçalves, também beneficiado no esquema.
[editar] Fontes
- CACCIOLA, Salvatore Alberto - Eu, Alberto Cacciola, Confesso: o Escândalo do Banco Marka (Ed. Record, 2001) - leia trechos do livro no site do Submarino
- Cacciola na mídia: