Teledramaturgia no Brasil
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A teledramaturgia surgiu no Brasil na década de 1950 e acabou por tornar-se o produto televisivo mais popular do país. A telenovela caracteriza-se por explorar enredos de fácil aceitação pelo público, como histórias de amor e conflitos familiares e sociais. Diferencia-se do teatro e do cinema, basicamente, por ser um produto cultural rapidamente descartável, além de funcionar como uma espécie de obra aberta, cujo desenvolvimento e desfecho podem ser alterados a qualquer momento, de acordo, principalmente, com os índices de audiência (Ibope), ou seja, segundo o interesse imediato do público na história.
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[editar] Evolução
Em 21 de Dezembro de 1951 foi ao ar Sua Vida me Pertence, original de Walter Forster, a primeira tentativa de se realizar uma história seqüencial. No início, as telenovelas, em sua maioria, eram adaptações de obras literárias, como Os Miseráveis, de Victor Hugo.
A telenovela diária apareceu apenas em 1963: a TV Excelsior exibe 2-5499 Ocupado, de Dulce Santucci. O primeiro grande sucesso de audiência veio com O Direito de Nascer (1965), apresentada pela TV Tupi. A partir daí, as emissoras começaram a produzir telenovelas sistematicamente. Beto Rockfeller (1968 - 1969), de Bráulio Pedroso, exibida pela Tupi, revolucionou o gênero ao tratar da realidade brasileira e usar linguagem coloquial.
Com o aprimoramento dos recursos técnicos, atores e autores migraram do cinema e do teatro para a televisão, atraídos também por melhores salários. Em meados dos anos 60, muitos autores de teatro passaram a escrever telenovela, como Dias Gomes, Lauro César Muniz, Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes.
A década de 70 marcou o início da hegemonia da Rede Globo na produção de telenovelas (hegemonia que se mantém até hoje). Janete Clair, autora de Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital, entre outras, tornou-se a principal autora de telenovelas do período. Em 1975, começam as produções do horário das seis na Globo, normalmente adaptações de clássicos da literatura. Essas adaptações lançam o novato Gilberto Braga, autor de Helena, Senhora, Escrava Isaura e Dona Xepa. Devido ao sucesso desta última, Gilberto é promovido para o horário das 8, onde escreve Dancin' Days, um marco da teledramaturgia nacional.
Nos anos 80, a emissora lançou as minisséries, que se destacam pela sofisticação da produção e pela adaptação de clássicos da literatura brasileira, como O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. Nesta década, destacam-se também as telenovelas das 7, marcadas pela comédia e por um sucesso muitas vezes maior do que as telenovelas das oito da época, vide a audiência de Elas por elas, Guerra dos Sexos, Vereda Tropical, Cambalacho, Brega & Chique e Que Rei Sou Eu?. Essas telenovelas consagram Cassiano Gabus Mendes, que implantou um estilo mais comédia ao horário das 7, e Sílvio de Abreu, que inovou com a comédia pastelão de suas tramas.
Os anos 90 começaram com um grande sucesso: Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, na Rede Manchete, que chegou a picos de 40 pontos no Ibope e ameaçou a soberania e audiência da TV Globo. Mas as produções posteriores não mantiveram o mesmo nível. Só em 1996 a emissora voltou a ter audiência considerável, com Xica da Silva, de Walcyr Carrasco (sob o pseudônimo de Adamo Angel). Em 1998, a Rede Manchete - já em fase de falência - resolveu investir 12 milhões de reais na adaptação da obra de Paulo Coelho: Brida. Apesar da revelação do talento da atriz Carolina Kasting no papel de Brida, o resultado não foi o esperado pela Manchete, que faz de tudo para aumentar os baixos índices de audiência. No final, a telenovela teve seu desfecho narrado por um locutor, pois todo o elenco entrou em greve, movendo uma ação conjunta no Ministério do Trabalho para receber os salários atrasados. Brida acabou se tornando a primeira telenovela brasileira que não teve um final de verdade.
O SBT reativou seu núcleo de dramaturgia em 1994 e exibiu Éramos Seis, adaptação do romance homônimo de Maria José Dupré. Entretanto, a emissora continua a veicular produções mexicanas, como Marimar e Maria do Bairro, estreladas pela atriz e cantora Thalía. A última produção nacional do SBT foi Fascinação, de 1998. A Rede Bandeirantes apostou no sistema de co-produção com produtoras independentes. O resultado dessa parceria são as telenovelas A Idade da Loba e O Campeão, ambas de 1995.
Após uma interrupção de 24 anos - a última produção havia sido Meu Adorável Mendigo, de 1973 - a Rede Record começou novamente a produzir telenovelas. Canoa de Bagre, de 1997, iniciou uma nova fase de produções. Apesar dos baixos índices no Ibope, a Record não desistiu e lançou, em média, duas produções por ano, apresentando também telenovelas produzidas no México, como Joana, a virgem e Olhar de Mulher, ambas de 2000.
As principais tendências do período foram as produções de época. Com o lançamento de minisséries como Hilda Furacão e Chiquinha Gonzaga, a Rede Globo percebeu os altos índices de audiência e apostou em superproduções. Dois exemplos são a telenovela Força de um Desejo, de Gilberto Braga, e Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa.
Enquanto isso, no SBT, Chiquititas, produção que começou em 1997, continuou no ar até 2000, garantindo o sucesso do gênero infanto-juvenil. A Globo manteve o foco junto aos adolescentes com a soap-opera Malhação.
Os autores mais importantes da atualidade são, entre outros, Benedito Ruy Barbosa (Terra Nostra), Glória Perez (O Clone), Manoel Carlos(Páginas da Vida), Sílvio de Abreu (Belíssima), Walcyr Carrasco (Alma Gêmea), Carlos Lombardi (Kubanacan) e Tiago Santiago (remake de Escrava Isaura). Entretanto, vem ganhando força a tendência do trabalho conjunto na autoria das tramas, antes, quase sempre, restrita a um único escritor. Um exemplo disso é a dupla Ricardo Linhares e Aguinaldo Silva, autores de Fera Ferida (1993) e A Indomada (1997).
[editar] Propaganda na telenovela
As telenovelas adquirem forte caráter mercadológico pela empatia que se estabelece entre o público e as personagens. O merchandising vem paulatinamente sendo cada vez mais usado nas telenovelas: são introduzidos anúncios (cada vez menos) discretos durante as cenas e até mesmo nas vinhetas de abertura, como em Bambolê e Top Model. Também são usadas inserções não comercializadas, mas que pretendem informar o telespectador sobre problemas imediatos, de utilidade pública. Na telenovela O Rei do Gado, de 1997, por exemplo, da Rede Globo, em vários momentos foi ressaltada a necessidade de os produtores vacinar o gado contra a febre aftosa. A veiculação de mensagens de caráter educativo, de prevenção de doenças, etc. são exemplos de um considerável avanço da teledramaturgia brasileira, já que as telenovelas, em princípio, não têm como escopo educar, mas somente de entreter.
O autor de telenovelas não tem que, obrigatoriamente, aceitar a inserção, no enredo, de um anúncio publicitário. Porém o fato de fazê-lo, segundo alguns deles, estabelece uma maior identificação dos telespectadores com os personagens, já que, na vida real, todas as pessoas vão ao caixa eletrônico, compram livros, escovam os dentes, etc. Espera-se no entanto que o autor use essas inserções com critérios bem definidos, demo do a não se chocar com o roteiro, o que pode comprometer o andamento da trama.
[editar] telenovelas no exterior
Atualmente as telenovelas brasileiras são exportadas para mais de 120 países. A primeira produção do gênero a entrar no ar fora do Brasil foi O Bem Amado (1973), escrita por Dias Gomes e exibida pela Rede Globo. Escrava Isaura (1976), também da Globo, fez enorme sucesso, sendo vendida para mais de 80 países e até pouco tempo, foi a telenovela mais exportada, título que agora pertence a Terra Nostra (86 países). Só a Globo, a líder do mercado, fatura cerca de US$ 30 milhões anualmente com a venda de telenovelas ao exterior.
As telenovelas brasileiras acabam tendo um caminho difícil no exterior, por serem muito voltadas para o Brasil. Poucas telenovelas foram feitas para o mercado externo:
- Sinhá Moça (1986), devido a grande vendagem de Escrava Isaura, seria uma nova versão, trazendo Lucélia Santos e Rubens de Falco.
- Esperança (2002), por Terra Nostra (1999) ser a telenovela brasileira mais vendida de todos os tempos, a Globo decidiu fazer uma seqüência, apesar das comparações entre as telenovelas enfurecerem o autor Benedito Ruy Barbosa. Mesmo assim, a telenovela foi chamada de Terra Nostra 2 na Itália. A história muito parecida com a original, aliada a acidentes nas gravações, péssima avaliação da crítica, Horário Eleitoral Gratuito de 50 minutos entre a telenovela e o Jornal Nacional, fazendo o público desligar a tv e a substituição do autor, devido a problemas de saúde, por Walcyr Carrasco, que alterou bastante a história e até a personalidade de personagens contribuiram para seu fracasso.
- Começar de Novo e Como Uma Onda (ambas de 2004): telenovelas produzidas em homenagem aos maiores mercados das telenovelas brasileiras (Rússia e Portugal respectivamente).
Na Itália, país que não possui tradição em telenovelas, as produções brasileiras voltam a conhecer uma fase de euforia com o lançamento de Terra Nostra, em setembro de 2000. De acordo com o Diretor de Divisão Internacional da Rede Globo, Carlos Alberto Simonetti, vários eventos com a presença dos protagonistas foram programados para o lançamento da telenovela.
Nos últimos cinco anos, algumas das telenovelas mais comercializadas foram Renascer (1993), O Rei do Gado (1997) e Por Amor (1998).
A partir dos anos 90 surgira as co-produções entre emissoras brasileiras e estrangeiras, para facilitar a comercialização. A primeira foi Lua Cheia de Amor (1991), da Globo, em parceria com a RTVE, da Espanha. Seguiu-se Pedra sobre Pedra, de Aguinaldo Silva, e Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, ambas co-produções com a TV portuguesa RTP1.
[editar] Produção
No Brasil, a maior produtora de telenovelas é a Rede Globo, que atualmente mantém três horários padrões de transmissões: telenovela das oito (às 21 horas), conhecida como horário nobre, das sete (às 19h15) e das seis (às 18 horas), intercaladas por telejornais. A Rede Record e o SBT têm investido também na produção de telenovelas. No entanto, as emissoras brasileiras que mais foram bem-sucedidas na produção de telenovelas (além da Rede Globo) foram as hoje extintas TV Tupi e Rede Manchete.
A TV Tupi, que foi a primeira emissora latino-americana a produzir telenovelas, produziu tramas de grande público e qualidade televisiva tais como: O Direito de Nascer, Beto Rockfeller, Antônio Maria, Nino, o Italianinho, Mulheres de Areia, A Viagem, Ídolo de Pano, Meu Rico Português, O Profeta e Aritana até a sua extinção em 1980. Já a Rede Manchete também produziu sucessos como Dona Beija, Corpo Santo, Helena, Carmem, Kananga do Japão, A História de Ana Raio e Zé Trovão, Xica da Silva, e claro, Pantanal, que deu mais de 40 pontos de audiência e introduziu algumas mudanças nas produções de outras emissoras, principalmente na Rede Globo, a qual na época criou um horário experimental de telenovelas às 21:30 horas, exibindo a telenovela Araponga. Por essas razões, Tupi e Manchete são, depois da Globo, as emissoras brasileiras mais conhecidas no mundo, ainda que não estejam mais no ar.
No entanto, a maior produtora e exportadora de telenovelas no mundo é a Televisa, do México, que produz dezesseis telenovelas por ano, enquanto a Rede Globo produz apenas seis, porém elas são mais elaboradas. As tramas da Televisa são feitas com baixos investimentos, tanto que a empresa mexicana tem um faturamento menor do que o da Rede Globo com exportações de telenovelas. As mexicanas entretanto fazem mais sucesso do que as da Globo em escala mundial - possivelmente pelo fato de que a Globo faz seus folhetins focando no mercado nacional, com muitas referências e regionalismos (a maior parte das telenovelas se passa no Rio de Janeiro, enquanto a Televisa faz suas produções focando no mercado internacional.
A Record atualmente investe pesado no gênero telenovela. O equipamento usado por essa emissora, chega a ser comparado com o equipamento usado pelos estúdios de Hollywood.
A Bandeirantes também já produziu telenovelas de destaque, entre elas destaca-se Os Imigrantes da autoria de Benedito Ruy Barbosa de 1981.
No mundo existem outras produtoras de telenovelas como a Telefé na Argentina, TV Azteca no México (principal concorrente da Televisa naquele país), entre outras.
[editar] Curiosidades sobre telenovelas brasileiras
Nas telenovelas muitas vezes se repetem fatos já ocorridos em outras telenovelas, apesar de que isso não seja uma generalização. Algumas coisas comuns que ocorrem em telenovelas (principalmente da Rede Globo) são:
- Algum casal se apaixonar a primeira vista;
- Insinuações de sexo;
- Alguém descobrir que os seus pais de criação não são seus pais biológicos e entrar em choque;
- Ter algum deficiente na telenovela;
- Se for telenovela das sete, o normal é ser telenovela de comédia;
- Se for telenovela das seis, o normal é ser telenovela de época (normalmente retratando sobre os Anos 20 ou da época do Brasil Colônia);
- Ter, pelo menos uma vez, alguma aparição de alma ou espírito na telenovela para pedir alguma coisa ou dar algum aviso;
- A telenovela ser escrita por escritores que já fizeram uma quantidade incrível de telenovelas para a Globo (Walcyr Carrasco, Manoel Carlos, etc);
- Ter uma quantidade de pessoas bonitas fora do normal;
- Dependendo do local onde a telenovela é feita, as pessoas ou a paisagem pode ser diferente. Por exemplo, se a telenovela é feita no Maranhão, é normal que tenha uma grande quantidade de mulheres negras, praias e casas antigas; Se a telenovela é feita em Pernambuco, é normal ter pessoas com uma quantidade enorme de filhos falando com sotaque; se a telenovela é feita em São Paulo, é normal ter uma grande quantidade de ricos e assim por diante.