Um Filme Falado
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Um Filme Falado (PT) |
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Idioma | Português |
Um Filme Falado (2003) é um filme português de Manoel de Oliveira que, pelo título e pela forma, explicitamente ilustra a assumida teatralidade do seu modo de fazer cinema.
O modo teatral dos seus filmes é manifesto desde a sua primeira ficção (Aniki-Bobó (1942), mantém-se na segunda, O Passado e o Presente (1971), não sem sofrer o ataque de críticas severas, e só nos seus filmes seguintes – justificado por abundantes considerações teóricas de comentadores e críticos –, é assumido e decididamente cultivado como forma de conteúdo.
A questão (a do filme "falado") é aqui imlicitamente retomada e explicada pelo próprio Oliveira. O filme estreou a 15 de Outubro em França e a 17 de Outubro de 2003 em Portugal.
Índice |
[editar] Sinopse
«Rosa Maria, uma jovem professora de História, parte com a sua filha Maria Joana num cruzeiro que atravessa o Mediterrâneo e se dirige a Bombaim, na Índia, onde se reunirão com o seu marido. Através das diversas cidades onde o cruzeiro pára, Rosa Maria vai pela primeira vez conhecer lugares de que falava nas suas aulas, mas que nunca antes visitara.
Por isso, a viagem por Ceuta, Marselha, as ruínas de Pompeia, Atenas, as pirâmides do Egipto e Istambul, é também uma viagem pela civilização mediterrânea, e uma evocação de tudo o que de decisivo marcou a nossa cultura ocidental.
Mas nesse cruzeiro, ela vai também conhecer três mulheres que muito a impressionam: uma francesa, empresária de renome; uma italiana, antiga modelo famosa; e uma grega, actriz e professora; e sobretudo o comandante do navio, um americano de origem polaca.
Mas a caminho de um porto no Golfo Pérsico, uma estranha ameaça perturba o cruzeiro e ameaça o navio e a vida dos passageiros». (Cit.: ficha do produtor).
[editar] Enquadramento histórico
Uma professora de história em viagem de cruzeiro pelo Mediterrâneo segue a trama da civilização, vista como utopia do mundo actual. A linguagem criadora de civilização, a contradição de ser português – o mais universalista dos europeus, o único que não fala a própria língua fora do seu país – ilustram a realidade da União Europeia.
Na verdade, o filme encara não a linguagem como acção criadora da civilização, mas sim o conjunto das acções humanas (a linguagem sendo apenas uma delas), sejam elas boas ou más, as fontes criadoras do processo civilizacional. Processo esse não-linear, contraditório e muitas vezes extremamente violento. Nesse sentido é eloquente o diálogo entre a mãe e a filha quando a primeira faz referências às guerras sucessivas, religiosas e económicas que acabaram por fundar o substrato cultural, não-homogéneo, do continente europeu, em que elementos da cultura greco-romana, árabe e de várias religiões se misturam, e que seus respectivos povos ao longo dos séculos cultivaram. A linguagem aparece como elemento contraditório pois ela é, em primeira instância, a marca da diferenciação. Em segunda instância, (quando o processo civilizacional consegue avançar e as pessoas passam a compreender outras línguas que não a sua própria língua) assinala a possibilidade de real integração entre as pessoas e realidades culturais diferentes. O que o filme ilustra é exactamente o momento de ruptura entre os povos, pela incapacidade de se fazerem entender apenas através da língua.
No filme, não é o português o mais universalista dos europeus. Essa pretensão Manoel de Oliveira, do alto de sua imensa sabedoria, não a almejou. Muito pelo contrário. Ao discutir o papel da Grécia na formação da Europa e da própria civilização ocidental, a personagem que no filme representa a cultura helénica aponta a contradição: apesar dessa dívida imensa do mundo moderno aos gregos, a sua língua hoje em dia só é falada na própria Grécia. Ou seja, a linguagem, que num primeiro momento foi o veículo da transmissão dos ideais gregos de democracia, humanismo e filosofia, a partir de determinado instante perdeu importância, embora os valores por ela transmitidos tivessem perdurado.
Nenhum povo é mais ou menos universalista do que outro. Todos dão contribuições para o processo civilizacional, a partir de diferenças e de experiências culturais específicas. É o assunto da conversa no restaurante, ao jantar, entre um americano, uma francesa, uma italiana e uma grega. Todos falam nas línguas pátrias e todos se entendem. Aliás, diz a professora, o português é falado não apenas num lugar, em Portugal, mas em várias e populosas regiões do mundo: na América do Sul, na África e na Ásia.
Não é a realidade da União Europeia a questão que o filme aborda mas, de forma bem mais ampla, a questão presente no mundo contemporâneo, a do choque civilizacional entre as culturas hegemónicas no mundo ocidental e no mundo árabe, o radicalismo crescente entre grupos representativos desses universos culturais.
[editar] Ficha sumária
- Argumento e diálogos: Manoel de Oliveira
- Realização: Manoel de Oliveira
- Produtor: Paulo Branco
- Co-produção: RTP–Radiotelevisão Portuguesa, Madragoa Filmes (Portugal), Gemini Films (França), Mikado (Itália)
- Portugal, 2003, Cor, 95', Dolby Digital, 1:1,85
- Formato: 35mm cor
- Som: Dolby digital estéreo
- Duração: 95'
- Distribuidor: Atalanta Filmes (Portugal) e Gemini Films (França)
- Estreia: 15 de Outrubro em França e 17 de Outubro em Portugal
[editar] Ficha Artística
- Leonor Silveira (Rosa Maria)
- John Malkovich (Comandante John Walesa)
- Catherine Deneuve (Delfina)
- Stefania Sandrelli (Francesca)
- Irene Papas (Helena)
- Luís Miguel Cintra (Luís Miguel Cintra)
- David Cardoso (pescador)
- Elias Logothetis (padre ortodoxo)
- Filipa de Almeida (Maria Joana)
[editar] Ficha técnica
- Realizador: Manoel de Oliveira
- Assistente de realização: José Maria Vaz da Silva
- Director de Produção: Alexandre Valente
- Director de fotografia: Emmanuel Machuel
- Director de som: Phiplipe Morel
- Guarda roupa: Isabel Brancoi
- Décors : José Branco
[editar] Festivais
- Em 2003:
- Festival de Veneza
- Festival de Montréal
- Festival de Toronto
- Festival de Chicago
- Festival de Haïfa
- Festival de Huelva – Competição Oficial
- Festival de DaKINO (Bucareste)
- Festival de Salónica (Grécia)
- Festival de Kerala - Índia
- Em 2004:
- Festival de Bangkok – Tailândia
- Festival Internacional de Filmes Latinos – Toronto
- Festival de «Black Nights» - Estónia
- Festival de Bratislava
- Festival de Belgrado Sérvie e Montenegro
- Festival de Mar del Plata
- Festival de Hong Kong
- Festival de Istanbul
- Festival de Gwangju - Coreia
- Festival de Lituânia
- Festival de Munique
- Festival de Frankfurt
- Festival de Copenhaga
- Festival de Baltic Pearl - Letónia
- Festival de Toronto
- Em 2005:
- Prémio «Olas de Oro» - Cinema RNE Sant Jordi (Espanha)
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- Ficha do filme (do produtor)
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- Na imprensa francesa:
- Catherine Deneuve, Oliveira e a direcção de actores em Tout sur Deneuve
- Film de Culte
- Artelo
- Ecran Noir
- Allo Ciné
- ABC - críticas (PDF)
- Entrevista em Cineuropa
- Comentário e revista de imprensa em Comme au Cinéma