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Víctor Jara

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Víctor Lidio Jara Martínez (Chillán, 28 de setembro de 193216 de setembro de 1973) foi um músico, compositor, cantor e diretor de teatro chileno.

Nascido numa familia de camponeses, tornou-se referência internacional da canção revolucionária. Foi assassinado barbaramente em 16 de setembro de 1973, em Santiago, capital do Chile, nos primeiros dias de repressão que se seguiram ao golpe de estado de Augusto Pinochet contra o governo do presidente Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro daquele ano.

Lecionava periodismo na Universidade de Chile, e participava de reuniões com os professores da Universidade (maioria comunista) e participava assiduamente com o partido da UP em protestos e shows beneficientes.

Índice

[editar] Primeiros anos

Filho de pais camponeses, moradores da pequena e quase feudal localidade de Chillán, onde existe um profundo folclore popular. O seu pai, Manuel Jara, trabalhava na laboura do campo, a tentar tirar qualquer rendimento da terra que lhe tinham arrendado, rendimento exíguo que só dava para a subsistência na compra de farinha, açúcar, mate e por vezes, algum tecido para fazer roupa. A mãe, Amanda, cantora e com muito conhecimento da cultura popular chilena, orginária do sul do país e de origem mapuche, tocava viola, acompanhando as suas canções à luz das fogueiras junto à vizinhança, trabalhadores, crianças... Víctor gostava de lembrar como ele se deitava e escutava música enquanto olhava as estrelas na noite escura. Os seus irmãos eram María, Georgina (Coca), Eduardo (Lalo) e Roberto, o mais novo.

Desde criança, e já com a idade de seis ou sete anos, Víctor Jara viu-se obrigado a ajudar nos trabalhos do campo da família, em tarefas como ir por água, lenha, etc. A actividade da mãe como cantora deu-lhe ocasião de estabelecer o primeiro contacto com a música. Acompanhava-a às actuações, em casamentos, baptizados, velórios... enquanto a má relação com o pai o fazia ficar mais unido a ela, muito preocupada com a educação dos filhos. Víctor destacou logo como bom estudante.

[editar] Em Santiago

Em consequência de um grave acidente no lar sofrido pela irmã de Víctor, María, a família vai morar para a capital do país, Santiago, à procura de melhores condições económicas. Víctor, juntamente com o irmão Lalo, ingressa no Liceu Ruíz-Table, onde ambos destacam pelos seus bons resultados académicos, até acabarem nele os estudos primários.

O duro trabalho da mãe conseguiu algum progresso económico para a família, mas obrigou-a a dedicar pouco tempo aos filhos. A viola de Amanda serviu a Víctor para a sua aproximação da música, com ajuda do seu amigo Omar Pulgar.

A mudança para o bairro de Chicago Chico dá ao jovem Víctor a possibilidade de ter relacionamento com outros jovens da mesma origem e condição, agrupando-se na altura em torno do Partido Democrata Cristão. Cantam, escutam música clássica, saem de excursão, jogam futebol e formam um coro. Os estudos religiosos fazem parte da formação dele nesse tempo.

Durante os estudos secundários no chamado "instituto comercial", parece ter existido em Víctor o sonho secreto de chegar a ser padre. Em 1950, a mãe morre repentinamente. Víctor tinha 15 anos.

[editar] O seminário

Mudaram-se para Población Nogales, onde voltou a encontrar Julio e Humberto Morgado, colega da escola primária. A família Morgado proporcionou a Víctor comida e cama. Víctor deixou os estudos para trabalhar numa fábrica de móveis e ajudava Pedro Morgado, pai dos seus colegas, no trabalho de transportista.

Por conselho do padre Rodríguez, ingressa no seminário e na Ordem dos Redentoristas em San Bernardo. Víctor, mais tarde, assim lembraria esse momento:

"Para mim foi uma decisão muito importante entrar para o seminário. Quando o penso agora, da perspectiva mais dura, acho que fiz aquilo por razões íntimas e emocionais, pela solidão e o desespero de um mundo que até esse momento tinha sido sólido e perdurável, simbolizado por um lar e o amor da minha mãe. Eu já estava envolvido com a Igreja, e naquela altura procurei refúgio nela. Então pensava que esse refúgio iria guiar-me até outros valores e ajudar-me a encontrar um amor diferente e mais profundo, que porventura compensasse a ausência do amor humano. Julgava que talvez achasse esse amor na religião, dedicando-me ao sacerdócio."

Dois anos mais tarde, em 1952, abandonaria o seminário, ao dar pela sua falta de vocação, mas lembraria positivamente o canto gregoriano e a parte da interpretação litúrgica. A saída do seminário coincide com a ida para a tropa.

[editar] A música e o teatro

Aos 21 anos, entra no coro da Universidade do Chile, participando na montagem de Carmina Burana e começando assim o seu trabalho de pesquisa e compilação folclórica. Três anos mais tarde, faz parte da companhia de teatro "Compañía de Mimos de Noisvander", e começa a estudar actuação e direcção na Escola Teatro da Universidade do Chile.

Em 1957, faz parte do grupo de cantos e danças folclóricas Cuncumén, onde conhece Violeta Parra, que o encoraja a continuar na profissão.

Com 27 anos, em 1959 dirige a sua primeira obra de teatro Parecido a la Felicidad de Alejandro Sieveking, encenando-a por vários países latino-americanos. Como solista do grupo folclórico, grava o seu primeiro disco, "Dos Villancicos". No ano a seguir, participa como assistente de direcção na montagem de La Viuda de Apablaza de Germán Luco Cruchaga, cujo director era Pedro de la Barra, e dirige a obra La Mandrágora, de Machiavello.

Em 1961, como director artístico do grupo Cuncumén viaja pela Holanda, França, União Soviética, Checoslováquia, Polónia, Roménia e Bulgária.

Em 1961, compõe a sua primeira canção, Paloma Quiero Contarte, continuando o seu trabalho como assistente de direcção na montagem de La Madre de los Conejos de Alejandro Sieveking. No ano seguinte, 1962, dirige para Ituch a obra Animas de Día Claro também de Sieveking.

Grava com o grupo Cuncumén o LP Folclore Chileno, onde inclui duas conções próprias, Paloma Quiero Contarte e La Canción del Minero. Começa a trabalhar como director na Academia de Folclore da Casa da Cultura de Ñuñoa, função que desempenharia até 1968. Nessa altura, e até 1970, faz parte da equipa estável de directores do Instituto de Teatro da Universidade do Chile, Ituch e entre 1964 e 1967 é professor de actuação na universidade.

O trabalho de direcção teatral ocupa o seu tempo, realizando, quer como assistente de direcção, quer como director, várias montagens, entre elas uma para a TV da Universidade, além de uma tourné pela Argentina, Uruguai e Paraguai com a obra Animas de Día Claro de Alejandro Sieveking. Em 1963, passa a ser assistente de direcção de Atahualpa del Cioppo na montagem de El Círculo de Tiza de Bertolt Brecht, para o Ituch.

Continua a compor música e, em 1965, dirige a obra La Remolienda de Alejandro Sieveking, bem como a montagem de La Maña de Ann Jellicoe, para o Ictus, recebendo por elas o prémio Laurel de Oro como melhor realizador, e o prémio da Crítica do Círculo de Jornalistas à melhor direcção por La Maña.

[editar] Cantor de intervenção

Exerce com director artístico para o grupo Quilapayún entre os anos 1966 e 1969 e até 1970 é solista em La Peña de los Parra. Continua a cantar e a dirigir obras de teatro e em 1966 grava o seu primeiro LP, Víctor Jara, editado por Arena.

Com a firma EMI-Odeón grava no ano seguinte os LP's Víctor Jara e Canciones Folclóricas de América, junto a Quilapayún.

Continua o trabalho como director teatral e monta novamente La Remolienda, sendo premiado pela Crítica graças à direcção de "Entretenimiento a Mr. Sloane" e consegue o Disco de Prata da discográfica EMI-Odeón.

Em 1969 monta a obra Antígonas de Sófocles para a Companhia da Escola de Teatro da Universidade Católica. Com a canção Plegaria a un labrador ganha o primeiro prémio do Primeiro Festival da Nova Canção Chilena e viaja a Helsínquia para participar num Comício Mundial de Jovens pelo Vietname, gravando ainda nessa altura Pongo en Tus Manos Abiertas.

Em 1970, participa em Berlim na Conversação Internacional de Teatro e em Buenos Aires no Primeiro Congresso de Teatro Latino-Americano. Envolve-se na campanha eleitoral da Unidade Popular e edita o disco Canto Libre.

Túmulo de Víctor Jara, no Cemitério Geral de Santiago de Chile. Uma legenda diz "Até a vitória..."
Túmulo de Víctor Jara, no Cemitério Geral de Santiago de Chile. Uma legenda diz "Até a vitória..."

Nomeado embaixador cultural do Governo da Unidade Popular, em 1971 põe música, junto a Celso Garrido Lecca, ao ballet Los Siete Estados de Patricio Bunster para o Ballet Nacional do Chile. Junto a Violeta Parra e Inti-Illimani, entra no Departamento de Comunicações da Universidade Técnica do Estado. Com a casa Dicap, edita o disco El Derecho de Vivir en Paz, com que leva o prémio Laurel de Oro à melhor composição do ano.

Trabalha como compositor de música para continuidade na Televisão Nacional do Chile desde 1972 até 1973, e investiga e compila testemunhos em Hermida de la Victoria, a partir dos quais gravaria La Población. Viaja à URSS e a Cuba e dirige a Homenagem a Pablo Neruda pela obtenção do Prémio Nobel.

Os camponeses de Ranquil convidam-no à realização de uma obra musical sobre o lugar, e dentro seu compromisso social participa nos trabalhos voluntários para impedir a paralisação do país, que as forças reaccionárias querem conseguir mediante a greve de camionistas.

Esse mesmo compromisso leva-o em 1973 a realizar diferentes actos, participando na campanha eleitoral para as eleições e ao parlamento em prol dos candidatos da Unidade Popular. Respondendo ao apelo de Pablo Neruda, participa como director e cantor num ciclo de programas da TV contra a guerra e contra o fascismo. Trabalha ainda em vários discos que não poderá gravar e realiza a gravação de Canto por Travesura.

[editar] Golpe de estado e assassinato

O golpe de estado do general Augusto Pinochet contra o presidente legítimo, Salvador Allende, a 11 de Setembro desse ano, surpreende-o na universidade. É detido junto a outros alunos e professores, conduzido ao Estádio Chile, convertido em campo de concentração, e mantido lá durante vários dias. Há alguma controvérsia sobre as torturas que terá sofrido durante esses dias, antes do seu assassinato a tiro no dia 16 de Setembro. O certo é que lhe foram cortadas as mãos como parte do "castigo" dos militares ao labor artístico e de conscientização social de Víctor Jara naqueles anos de insubornável compromisso com os sectores mais desfavorecidos do povo chileno, como militante do Partido Comunista. De facto, no momento do seu assassinato era membro do Comité Central das Juventudes Comunistas do Chile.

Nos dias de cativeiro prévios à execução extra-judicial de que foi vítima, escreveu um poema que pôde ser conservado Somos cinco mil

Somos cinco mil / Somos cinco mil
en esta pequeña parte de la ciudad. / nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil / Somos cinco mil
¿Cuántos seremos en total / Quantos seremos ao todo
en las ciudades y en todo el país? / nas cidades e em todo o país?
Solo aquí / Só aqui
diez mil manos siembran / dez mil mãos semeiam
y hacen andar las fabricas. / e fazem as fábricas andar
¡Cuánta humanidad / Quanta humanidade
con hambre, frío, pánico, dolor, / com fome, frio, pânico, dor,
presión moral, terror y locura! / pressão moral, terror e loucura!

... (continua)

Dois discos gravados por Víctor Jara pouco antes de morrer não foram editados.

[editar] Reconhecimento do assassinato

Só em 1990 é que a chamada Comissão da Verdade e a Reconciliação determinou que Víctor Jara tinha sido assassinado a tiro no dia 16 de Setembro de 1972 no Estadio Chile, e lançado depois a uns matagais perto da Estrada Sul. Depois, foi levado à câmara mortuária e identificado mais tarde pela mulher. Os seus restos descansam no Cemitério Geral de Santiago do Chile.

Como homenagem, 30 anos depois do Golpe Militar, em Setembro de 2003, o Estadio Nacional da capital do Chile foi rebaptizado com o nome de Víctor Jara.

[editar] Carta de Ángel Parra a Víctor Jara

A narração dos factos acontecidos no Chile a seguir ao golpe de estado ficaram redigidos na Carta de Ángel Parra a Victor Jara e em [1]

[editar] A obra

[editar] Teatro

Dentre as principais obras dirigidas por Víctor Jara, acham-se:

  • (1959) Parecido a la Felicidad, de Alejandro Sieveking.
  • (1960) La Mandrágora, de Maquiavelo.
  • (1962) Animas de Día Claro, de Alejandro Sieveking.
  • (1963) Los Invasores de Egon Wolf; Parecido a la Felicidad, de Alejandro Sieveking; Dúo de Raúl Ruiz.
  • (1964) Animas de Día Claro, de Alejandro Sieveking]].
  • (1965) La Remolienda, de Alejandro Sieveking; La Maña de Ann Jellicoe.
  • (1966) La Casa Vieja, de Abelardo Estorino.

Obras em que assistiu à realiazação:

  • (1960) La Viuda de Apablaza, de Germán Luco Cruchaga, dirigida por Pedro de la Barra.
  • (1961) La Madre de los Conejos, de Alejandro Sieveking, dirigida por Agustín Siré.
  • (1963) El Círculo de Tiza de Bertolt Brecht, dirigida por Atahualpa del Cioppo.
  • (1966) Marat Sade de Peter Weiss, dirigida por William Oliver.

[editar] Discografia

Ver artigo principal: Discografia de Víctor Jara.
Discos de estúdio
  • (1967) Víctor Jara
  • (1967) Víctor Jara
  • (1968) Canciones Folclóricas de América
  • (1969) Pongo en Tus Manos Abiertas
  • (1970) Canto Libre
  • (1971) El Derecho de Vivir en Paz
  • (1972) La Población
  • (1973) Canto por Travesura
Discos ao vivo
  • (1978) El Recital
  • (1996) Víctor Jara en México
  • (1996) Víctor Jara Habla y Canta
Edições póstumas
  • (1974) Víctor Jara / Manifiesto
  • (1975) Víctor Jara. Presente
  • (1975) Víctor Jara. últimas Canciones
  • (1979) Víctor Jara
  • (1984) An Unfinished Song
  • (1992) Todo Víctor Jara
  • (1997) Víctor Jara Presente. colección “Haciendo Historia”
  • (2001) Víctor Jara
  • (2001) Pongo en tus manos abiertas
  • (2001) El derecho de vivir en paz
  • (2001) Víctor Jara habla y canta
  • (2001) La Población
  • (2001) Canto por travesura
  • (2001) Manifiesto
  • (2001) Antología musical
  • (2001) 1959-1969

[editar] Ligações externas

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