Estrada de Ferro Sorocabana
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
E.F. Sorocabana ou Estrada de Ferro Sorocabana é uma estrada de ferro brasileira, criada em 1870 pelo comerciante de algodão Luís Mateus Maylasky, cidadão austro-húngaro, com um capital inicial de 1 200 contos de réis, posteriormente elevado para 4 mil contos. Maylasky obteve da então província de São Paulo uma garantia de juros de 7% ao ano sobre o capital que fosse investido na ferrovia.
O primeiro trecho da ferrovia foi inaugurado em 1875 e era formado por uma única linha, em bitola métrica, entre São Paulo e a fábrica de ferro de Ipanema, passando por Sorocaba.
Inicialmente concebida para transportar as safras de algodão, as receitas geradas pelo transporte desse produto logo se revelaram insuficientes, levando a ferrovia a enfrentar sérias dificuldades financeiras. Em assembléia geral realizada no dia 15 de maio de 1880 Luís Mateus Maylasky foi demitido e substuído por Francisco de Paula Mayrink, que acusou seu predescessor de gestão ilegal, malversação de fundos e inclusive de desfalque.
Mayrink, convencido que o sucesso da ferrovia estava condicionado ao transporte do café, expande seus trilhos na direção de Botucatu, para atingir regiões cafeeiras.
A Sorocabana serviu inúmeras cidades do oeste paulista. Sua linha tronco expandiu-se e chegou a Presidente Prudente em 1919 e a Presidente Epitácio, às margens do rio Paraná - seu ponto final - em 1922. Antes disso a EFS construiu vários ramais. Em 1909 o ramal de Itararé ligava Iperó a Itararé, conectando a rede ferroviária paulista às estradas de ferro do Paraná, pelo antigo caminho dos tropeiros, que viajavam até o sul do Brasil.
A partir dos anos 20, em seu trecho inicial - primeiro até Mairinque, depois somente até Amador Bueno - passaram a circular, principalmente, trens de subúrbio.
Trens de passageiros de longo percurso trafegaram pela linha-tronco até 16/1/1999, quando foram suprimidos pela concessionária Ferroban, sucessora da Fepasa. A linha está ativa até hoje, para trens de carga.
Índice |
[editar] A aquisição pelo estado de São Paulo
A Sorocabana passou por inúmeras mudanças de controle acionário. Em 1892 fundiu-se com a Estrada de Ferro Ituana, dando origem à Companhia União Sorocabana e Ituana (CUSI).
Apesar do contínuo aumento de volume no transporte de café, as finanças da ferrovia se deterioram de tal forma que a empresa precisou ser liquidada, tendo sido leiloada e arrematada, em 1904, pelo governo federal, por 60.000 contos de réis. Em 18 de abril de 1905 o governo federal vendeu a ferrovia para o governo do estado de São Paulo por 3.250.000 libras esterlinas - equivalentes a 65.000 contos de réis.
O nome Ytuana desaparece dos registros oficiais, mas não da cabeça do povo da região e da própria Sorocabana, que por anos designará suas antigas linhas como Secção Ituana - agora com "I".
De 1907 até 1919 a Sorocabana foi arrendada para o truste do polêmico capitalista norte-americano Percival Farquhar (um dos pivôs da Guerra do Contestado) - passando a operar sob o nome The Sorocabana Railway Co. - tendo se tornado lucrativa até 1912. Nesse ano o sindicato Farquhar começa a entrar em sérias dificuldades financeiras e praticamente abandonou a administração da ferrovia (a Brazil Railway Company, a holding de Farquhar, entrou em concordata em outubro de 1914). Sua situação se deteriorou de tal maneira que a ferrovia teve que ser encampada pelo estado de São Paulo - durante governo Altino Arantes - para assegurar a continuidade do serviço público. Dessa forma o governo de São Paulo assume novamente seu controle no dia 9 de setembro de 1919.
C. de Paula Souza, o inspetor geral da Sorocabana nomeado pelo governo do estado, assim descreveu a situação da ferrovia em agosto de 1919: os armazéns estavam repletos de mercadorias aguardando para serem despachadas, havia frequentes interrupções de tráfego devido ao mau estado de conservação das locomotivas, os trens ficavam parados nas estações por falta de água...o leito da ferrovia não oferecia segurança...(Companhia Sorocabana; 1920, p. 3-4)
A Sorocabana permaneceu até 1971 sob o controle direto do estado de São Paulo, quando foi incorporada à Fepasa. A partir de 1995 as linhas suburbanas da antiga Sorocabana passaram a ser administradas pela CPTM.
[editar] A Descida da Serra do Mar
Foram feitas inúmeras tentativas e vários projetos para levar os trilhos da Sorocabana até o porto de Santos que era servido - em regime de monopólio - apenas pela São Paulo Railway - SPR - popularmente conhecida com A Inglesa. Muitos alegavam que A Inglesa sufocava o desenvolvimento do porto com suas altas tarifas.
Mas todas essas tentativas de levar novos trilhos até o porto de Santos esbarravam no sistema de privilégios de zona . A zona por onde os trilhos teriam que passar pertencia à Southern San Paulo Railway Co. Ltd.
O governo do dr. Altino Arantes Marques (1916 a 1920) muito se empenhou para que a Sorocabana conseguisse descer a Serra do Mar realizando várias gestões para que o estado encampasse a Southern San Paulo Railway Company.
Em 1926, ao assumir o governo do estado, o dr. Júlio Prestes de Albuquerque, finalmente, consegiu comprar a Southern San Paulo Railway Co. Ltd., incorporando suas linhas à Sorocabana sob a designação de linha do Juquiá dando início, logo a seguir, às obras da Mairinque-Santos.
No dia 10 de outubro de 1927 começaram as difíceis e demoradas obras de construção da ferrovia que desceria a Serra do Mar, os quais exigiram a execução de complexos serviços de cortes, aterros, túneis, viadutos e pontes.
A 2 de dezembro de 1937, correu entre São Paulo e Santos, via Mairinque, em viagem experimental, a primeira composição de passageiros, conduzindo toda a administração da Sorocabana e representantes da imprensa de São Paulo, Rio de Janeiro e Santos.
No dia 10 de dezembro de 1937 começaram a correr, normalmente os trens de carga e passageiros, iniciando assim o tráfego regular, que pôs fim ao monopólio - por muitos considerado odioso- da São Paulo Railway.
[editar] A Privatização
Em 1998, o governador de São Paulo Mário Covas, vendeu o controle da Fepasa para investidores privados, atendendo as recomendações do FMI[1].
[editar] Ver também
[editar] Bibliografia
- CANABRAVA, Alice Piffer; O desenvolvimento da cultura de algodão na província de São Paulo: 1861-1875; São Paulo; Ind. Gráfica Siqueira; 1951
- COMPANHIA SOROCABANA; Relatório apresentado pela directoria da Companhia Sorocabana à assembléia dos acionistas (vários anos)
- SAES, Flávio de Azevedo Marques; As ferrovias de São Paulo: Paulista, Mogiana e Sorocabana (1870- 1940); 1974; Dissertação (Mestrado)Universidade de São Paulo, São Paulo;
- SANTOS, Francisco Martins dos, e LICHTI, Fernando Martins;História de Santos/Poliantéia Santista;Editora Caudex Ltda.; São Vicente-SP; volume III;1996
- SIQUEIRA, Augusto Primeiro traslado da escriptura de arrendamento da Estrada de Ferro Sorocabana; São Paulo; 1907.
- ^ ((en)) STIGLITZ, Joseph E.Making Globalization Work. New York: W. W. Norton & Co, 2006
[editar] Ligações externas
- Estações Ferroviárias.
- A Descida da Serra do Mar
- Estação Júlio Prestes
- ((en))Financing Pioneering Railways in São Paulo
- Integração ferroviária Santos-São Paulo