Gaspar Frutuoso
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Gaspar Frutuoso (* Ponta Delgada, 1522; † Ribeira Grande, 1591), historiador, sacerdote e humanista, bacharel em artes e teologia pela Universidade de Salamanca e doutor em teologia, foi o primeiro historiador açoriano.
Autor da obra Saudades da Terra, a qual nos seus 6 livros inclui uma detalhada descrição topográfica e histórica dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias, para além de múltiplas referências a Cabo Verde e a outras regiões atlânticas. Essa abrangência faz de Gaspar Frutuoso um verdadeiro cronista insulano, já que a sua obra interessa ao conhecimento de toda a Macaronésia.
O livro 5.º contém uma das mais conseguidas histórias pastoris quinhentistas, obra de grande valor literário que afirma Gaspar Frutuoso, para além de historiador, como um escritor de mérito.
[editar] Biografia
Gaspar Frutuoso nasceu no ano de 1522 na então vila de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, filho de Frutuoso Dias, mercador e proprietário rural, e de sua mulher Isabel Fernandes. A inexistência de registos coevos conhecidos não permite determinar a data de nascimento. Os pais de Gaspar Frutuoso eram considerados ricos e parte da pequena aristocracia local.
Pouco se sabe sobre a juventude de Frutuoso, apenas se conhecendo algumas referências incertas a ter administrado as terras de seus pais. Os primeiros registos seguros certificam a sua matrícula na Universidade de Salamanca no ano de 1548, estudando artes e teologia. Os registos da mesma Universidade demonstram que Gaspar Frutuoso, em conjunto com outros alunos açorianos, frequentou, embora aparentemente com interrupções, os estudos até 1558, ano em que obteve o bacharelato em Artes e Teologia, conforme acta datada de 9 de Fevereiro daquele ano. Terá sido ordenado presbítero por volta de 1554, aparentemente numa visita a São Miguel, já que o seu registo em Salamanca no ano lectivo de 1554/1555 o dá pela primeira vez como presbitero bachiller.
Em Salamanca estudou sob a orientação do célebre teólogo Domingos de Soto, confessor de Carlos V e enviado ao Concílio de Trento.
Regressado a São Miguel, paroquiou na freguesia de Santa Cruz, da vila da Lagoa, onde existem registos por ele lavrados referentes aos anos de 1558 a 1560.
Em 1560 partiu para Salamanca, talvez para se doutorar. Nesse ano muda-se para Bragança, passando a ser um próximo colaborador do bispo D. Julião de Alva, aí permanecendo até 1563.
Não se conhece registo da obtenção do grau de Doutor, embora ele o use a partir de 1565. Poderá ter sido obtido na Universidade de Évora, então uma instituição da Companhia de Jesus, o que explicaria a sua profunda ligação posterior aos jesuítas.
Por carta de confirmação de 20 de Maio de 1565 foi nomeado vigário e pregador da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da então vila da Ribeira Grande, cargo que exerceu durante 26 anos, até à sua morte a 24 de Agosto de 1591. Foi enterrado na sua igreja.
[editar] As Saudades da Terra
Para além da sua importância para o conhecimento da história atlântica, as Saudades da Terra contém um tal acervo de informação sobre genealogia, história natural, geografia e toponímia que firma plenamente Gaspar Frutuoso como o tipo do humanista da Renascença, enciclopédico, literato, artista e músico, observador atento dos fenómenos naturais, preocupando-se com experimentações alquímicas e especulando com acerto nos domínios da geologia, da biologia, da mineralogia e da petrografia.
A obra é composta por 6 livros, a maioria dos quais lidando com aspectos genealógicos e históricos. A excepção é o livro 5.º, que tem carácter ficcional, descrevendo, em estilo pastoril, a história de dois amigos forçados a viver longe de casa, uma aparente autobiografia do autor e do seu companheiro de estudos, o médico micaelense Gaspar Gonçalves.
Gaspar Frutuoso aparentemente pretendia publicar a sua obra, já que é claro o apuro do manuscrito, com múltiplas emendas feitas pelo seu punho. Por razões que se desconhecem, mas que talvez estejam ligadas à ocupação castelhana, não o fez, legando-o, com a sua livraria, ao Colégio dos Jesuítas de Ponta Delgada, onde o manuscrito se manteve até 1760, data da expulsão da Companhia. Depois passou às mãos de particulares, que severamente restringiram o acesso à obra, sendo finalmente doado à Junta Geral de Ponta Delgada e incorporado na Biblioteca Pública daquela cidade, onde hoje se encontra.
Existem diversas edições parcelares das Saudades da Terra, com edições integrais, da responsabilidade do Instituto Cultural de Ponta Delgada, a partir de 1966.
[editar] Informação bibliográfica
Um estudo biográfico do Doutor Gaspar Frutuoso, da autoria do historiógrafo e investigador micaelense Rodrigo Rodrigues, foi publicado em anexo à edição de 1923 do Livro Terceiro das Saudades da Terra. O mesmo estudo foi publicado, com notas de João Bernardo de Oliveira Rodrigues, como:
- Notícia Biográfica do Dr. Gaspar Frutuoso, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 109 pp. + 3 diag., Ponta Delgada, 1991.