Guerra dos Camponeses
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A Guerra dos Camponeses (em Alemão, der Deutsche Bauernkrieg) de 1524-26 na Alemanha consistiu, tal como o Movimento Bundschuh precedente e as Guerras Hussíticas, de um conjunto de revoltas com causas económicas bem como religiosas por camponeses, pessoas da cidade e nobres. O movimento não possuiu aparentemente um programa comum.
O conflito, que teve lugar sobretudo em áreas no sul, centro e no oeste da Alemanha mas que também afectou áreas nas vizinhas Suíça e Áustria, envolveu no seu auge, no verão de 1525, cerca de 300.000 camponeses revoltados. Estimativas de então situaram o número de mortes em 100.000.
A guerra foi em parte uma expressão da revolta religiosa conhecida como a Reforma Protestante, na qual críticos dos privilégios e da alegada corrupção da Igreja Católica Romana contestaram a ordem religiosa e política estabelecida.
Mas também reflecte o profundo descontentamento social: o descontentamento com o poder dos nobres locais; o desejo de líderes das cidades pela liberdade do poder eclesiástico (Igreja) e dos líderes da nobreza; tensões dentro das cidades entre as massas e as elites urbanas e rivalidades entre a própria nobreza.
O movimento camponês acabou por ser derrotado uma vez que as cidades e os nobre fizeram a sua própria paz com os exércitos do imperador que restauraram a velha ordem, frequentemente de forma ainda mais dura sobre a soberania do Sacro-Imperador Romano Carlos V, representado nos assuntos alemães pelo seu irmão mais novo Fernando.
O dissidente religioso Martinho Lutero, já condenado como herético pelo Édito de Worms de 1521, e acusado neste tempo de fomentar a disputa, rejeitou as exigências dos insurgentes e sustentou o direito dos líderes alemães de suprimir as revoltas, mas o seu antigo discípulo Thomas Muentzer destacou-se como um agitador radical na Turíngia.
[editar] Os "profetas" de Zwickau e a Guerra dos Camponeses
Em 27 de Dezembro de 1521, três "profetas", influenciados por e que influenciaram Thomas Münzer, chegaram a Wittenberg desde Zwickau: Thomas Dreschel, Nicolas Storch e Mark Thomas Stübner. A reforma de Lutero não era suficientemente radical para eles. Tal como a Igreja Católica Romana, Lutero praticava o baptismo de crianças, aquilo o que os Anabaptistas consideravam como "não constar das escrituras nem primitivo, nem satisfazendo às principais condições de admissão numa irmandade visível de santos, a saber: penitência, fé, iluminação espiritual e a livre submissão do indivíduo a Cristo".
O teólogo reformador e associado de Lutero, Filipe Melanchthon, sem poderes contra os entusiastas com que o seu co-reformador Andreas Karlstadt simpatizava, apelou a Lutero, ainda escondido no Castelo de Wartburg. Lutero foi cauteloso por forma a não condenar desde logo a nova doutrina mas aconselhou Melanchthon a tratá-los bem e testar os seus espíritos.
Houve confusão em Wittenberg, onde escolas e Universidade tomaram o lado dos "profetas" e foram fechadas. Daqui surgiu a acusação comum de que os Anabaptistas era inimigos da aprendizagem, o que é substancialmente refutado pelo facto de que a primeira tradução em alemão dos profetas hebreus ter sido feita e impressa por dois deles, Hetzer e Denck, em 1527. Os primeiros líderes do movimento em Zurique - Conrad Grebel, Felix Manz, George Blaurock, Balthasar Hubmaier - eram pessoas que dominavam o Grego, Latim e Hebreu.
A 6 de Março Lutero regressou, entrevistou os profetas, desdenhou os seus "espíritos", proibiu-lhes a estadia na cidade e ordenou aos seus seguidores que deixassem Zwickau e Erfurt. Acesso negado às igrejas, estes últimos acabaram por celebrar os sacramentos a partir de casas privadas.
Expulsos de suas cidades, eles vaguearam pelo campo. Obrigado a deixar Zwickau, Müntzer visitou a Boémia, residiu dois anos em Alltstedt na Turíngia e, em 1524, passou algum tempo na Suíça. Durante este período ele proclamou as suas doutrinas revolucionárias na religião e na política com veemência e sucesso crescentes, sobretudo nas classes baixas.
Na sua origem uma revolta contra a opressão feudal, tornou-se debaixo da liderança de Müntzer, numa guerra contra todas as autoridades instituídas, e uma tentativa de estabelecer pela força o seu ideal de irmandade cristã, com a igualdade absoluta e o comunismo dos bens. A derrota total dos insurgentes em Frankenhausen (15 de Maio de 1525), seguida da execução de Müntzer e de vários dos seus líderes, foi apenas uma derrota provisória do movimento Anabaptista. Aqui e acolá na Alemanha, Suíça e na Holanda houve posteriormente vários propagandistas religiosos, cujas doutrinas seriam aceites por muitos, assim que um novo líder surgisse.
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