História da escravidão nos Estados Unidos da América
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A história da escravidão nos Estados Unidos da América inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana.
[editar] Guerra Civil Americana
A questão da escravidão na Guerra Civil Americana é um ponto controverso na historiografia, uma vez que não há uma análise nalguma medida "definitiva" sobre a relação entre a Guerra Civil Americana e a escravidão nos Estados Unidos da América. Assim, qualquer posição tomada para a resolução desta questão pode, em maior ou menor grau, encontrar respaldo em alguma bibliografia, documento etc.
Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e dois modelos econômicos antagônicos. O norte em expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o sul numa economia baseada na plantation e no escravismo. As diferenças entre os estados do norte e do sul, ao contrário da dicotomização feita por alguns estudiosos, não são tão acentuadas, como diz Lewis C. Gray:
"Gray considera o sistema de plantation indissoluvelmente ligado ao desenvolvimento internacional do capitalismo. Ressalta a necessidade para a plantation de largo emprego de capital, sua forte tendência à especialização numa única cultura e sua comercialização, e afirma que estes fatores foram parecidos com a revolução industrial".[1]
O caráter capitalista da plantation escravista do sul, análago aos estados do norte, era em certa medida uma contradição interna ao sistema. Uma economia escravista tende a inibir o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como apontado por Max Weber em seu livro The Theory of Social and Economic Organization. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, presente no norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso. Assim, norte e sul diferem-se na medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo (retorno dos luvros à produção), e o sul, por sua vez, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em consideração a baixa produtividade da mão-de-obra escrava. Esse fato se deve à mentalidade escravista do proprietário sulista, que investia em escravos pois "dava prestígio e segurança econômica e social numa sociedade dominada pelos plantadores". [2] Os consequentes saltos qualitativos na produção nortista levou os proprietários sulistas a uma aguda disputa com os proprietários do norte. Se for aceita a condição capitalista para os estados do sul, assim como para os estados do norte, tem-se então uma sociedade capitalista que impediu o desenvolvimento do próprio capitalismo, fato que historicamente tende a revoltas, guerras e revoluções, ainda mais considerando que o sul apresentava problemas de produção de produtos para o consumo interno. Talvez possa ser possível aqui inferir que escravidão engendrou uma estagnação econômica nos estados do sul, que por sua vez entreram em conflito com o norte cada vez mais produtivo, gerando assim a guerra civil estadunidense. A relação entre brancos proprietários de escravos e brancos não proprietários também foi um fator que provavelmente gerou disputas pela hegemonia num país possuidor de uma nítida linha divisória entre o norte industrializado e abolicionista, e os estados do sul dos Estados Unidos – latifundiários, aristocratas e escravagistas, pois o uso de mão-de-obra escrava impedia o emprego de brancos e desistimulava a imigração de europeus para o sul aristocrático.
Apesar de o tráfico de escravos é proibido em 1815, o contrabando continua até o ano de 1860, enquanto que no norte crescia a campanha pela abolição. O Compromisso do Missouri, de 1820, autoriza a escravidão apenas abaixo do paralelo 36º. O apoio que ainda poderia existir no Norte a favor da escravidão esvaiu-se com o livro Uncle Tom's Cabin, de Harriet Elizabeth Stowe, uma ardente abolicionista que o publicou em 1852. No final de 1960, o estado da Carolina do Norte já havia se declarado fora da União, fato este que culminou na formação da Confederação do Sul. Poucos meses após a eleição de Abraham Lincoln (1809-1865), um republicano contrário à escravidão, a confederação, de cunho separatista, já aglomerava 11 estados (Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, Flórida, Alabama, Mississippi, Louisiana, Arkansas, Texas e Tennessee).
Assim, a guerra civil se deflagra e deixa um saldo de centenas de milhares de mortos e uma legião de negros marginalizados. Nenhum programa governamental é previsto para sua integração profissional e econômica. O sul permanece militarmente ocupado até 1877, favorecendo o surgimento de sociedades secretas como os Cavaleiros da Camélia Branca e a Ku Klux Klan, que empregam a violência para perseguir os negros e defender a segregação racial.
Todas essas diferenças elencadas, não só nos aspectos produtivos, mas também diferenças de mentalidades, tal como observadas por Tocqueville, estão diretamente ligadas à questão da escravidão. O orgulho pela plantation sulista, a posse de escravos, os problemas produtivos – tudo remete à escravidão, fator que pretendeu-se colocar como força motriz da Guerra Civil.
"Os aspectos essenciais da peculiaridade sulista assim, como de seu atraso, podem ser determinados a partir da relação escravo-senhor". [3]
[editar] Notas
- ^ GENOVESE, Eugene. A Economia Política da Escravidão. RJ: Pallas, 1976. pp. 20-21.
- ^ GENOVESE, Eugene. A Economia Política da Escravidão. RJ: Pallas, 1976. p. 25.
- ^ GENOVESE, Eugene. A Economia Política da Escravidão. RJ: Pallas, 1976. p. 28.
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