Lagoa Feia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Lagoa Feia está entre as maiores lagoas de água doce do Brasil e fica na divisa dos Municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã no estado do Rio de Janeiro. A Lagoa Feia é o corpo d’água regulador de uma vasta região hidrográfica, constituída por dezenas de lagoas interconectadas por uma complexa rede de canais naturais e artificiais.
A Lagoa Feia e alimentada principalmente pelos Rios Ururaí e Macabu que nela deságuam, o primeiro ao norte e o segundo a noroeste; recebia, ainda, em torno do seu vasto perímetro, vários córregos e riachos que serviam de sangradouros a brejos, alagados e lagoas existentes em suas imediações. Ocasionalmente no passado, nas grandes cheias, recebia também as águas do Rio Paraíba do Sul. Modernamente, a adução deste rio é reguladora artificialmente por uma série de comportas que regulam o fluxo da rede canais que cortam a baixada Campista.
Dentre as lagoas interconectadas destacavam-se ao norte, as lagoas do Jesus, Cacumanga, Piabanha, Olhos d’Água, Sussunga e Tambor; a leste as lagoas Abobreira, Coqueiros, Goiaba, Salgada, Baixio, Capim e Martinho, a oeste as Lagoas da Ribeira e do Luciano e ao norte a lagoa de Cima, seu principal abastecedor dulcícula. Coube ao célebre engenheiro Francisco Saturnino de Brito desvendar o intricado sistema hídrico. Em 1906 ele afirmava: "uma simples mudança do seu regime (da Lagoa Feia) um simples desnivelamento de suas águas, afeta um complicado e extenso sistema hidrográfico, podendo produzir ou o alagamento ou o dessecamento de uma considerável superfície de terrenos apropriados para a lavoura" e sua afirmação não era exagero. Ainda hoje, um século depois, indefinições nas prioridades na regulação das cotas de cheia da lagoa levam a frequentemente conflitos locais entre poder público, meio ambiente e produção agrícola e comunidade local, concentrada principalmente na colônia de pescadores de Ponta Grossa dos Fidalgos, em Campos dos Goytacazes.
Estudos da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense realizados em 1934 afirmam que a Lagoa Feia comandava hidrologicamente uma superfície de 8.650 km². Entre 1894 e 1902, a Comissão de Estudos e Saneamento da Baixada do Estado do Rio, organizada pelo Governo Fluminense e liderada pelo engenheiro Marcelino Ramos, procedeu estudos topográficos na região, atestando que Lagoa Feia tinha cerca de 370 km², media 32 km no eixo maior e 24 km no eixo maior, sendo sua superfície um pouco inferior a da Baía de Guanabara e cerca de 1,8 vezes a da Lagoa de Araruama. Distava do mar cerca de 4.700 m e sua profundidade variava entre 3 e 5 m, alcançando 6 m nos locais mais profundos. Em 1929, Saturnino de Brito atribui-lhe 335 km² de superfície. A parte sul da Lagoa Feia era formada pelas lagoas de Dentro ou Capivari e do Tatu. A primeira tinha um comprimento de 8 km, largura de 3 km, superfície de 24 km² e profundidade máxima de 1,80m. Estava separada da Lagoa Feia pelas ilhas dos Pássaros e do Tatu, comunicando-se com ela por meio de três canais: do Major, do Paço e a valeta do Tatu.
A Lagoa do Tatu, separada em parte da Lagoa Feia pela península do Capivari, apresentava franca comunicação pela sua extremidade noroeste. De acordo com a publicação “Memória Topographica e Histórica sobre os Campos dos Goytacazes”, editada em 1907 por José Carneiro da Silva, as águas da lagoa escoavam para o mar através das barras do “Consenza”, “Lagomar” e “Iguassu”. A barra do Lagomar era o escoadouro mais ao norte do labirinto de rios e córregos que se encontravam mais ao sul. Devido a grande extensão e a pequena largura de 20 m, a Lagoa do Iguaçu era conhecida também como Rio Iguaçu.
Em 1688, o capitão José de Barcellos Machado abriu o Canal do Furado, que passou a ser o sangradouro da Lagoa Feia. A mesma origem tem o Canal da Onça ou Vala Grande, que comunica com o Açu ou Iguaçu. Quando a cota do espelho d’água da lagoa atingia 5 m acima do nível do mar, todos os sangradouros que partiam das lagoas de Dentro e Tatu e se reuniam no Canal do Furado, entravam naturalmente em funcionamento, pressionando a Barra do Furado até rompê-la. O labirinto de canais sangradouros formava uma zona alagadiça com cerca de 100 km² entre a lagoa e o mar. A Barra do Furado abria-se a uma distância, pela costa, de 60 km ao sul de Atafona. Muito móvel, divagava por ação do vento sudoeste e das correntes litorâneas para o norte, até ser fechada pela areia. Em julho de 1897, a Comissão de Estudos e Saneamento da Baixada do Estado do Rio abriu um novo escoadouro para a Lagoa Feia – o Canal de Jogoroaba, com barra na praia de Ubatuba. O canal, com 4,6 km de comprimento, 9 m de largura e profundidade de 3 m, mal projetado, tornou-se inócuo. Em pouco tempo alargou-se e o mar fechou sua barra. As características atuais da Lagoa Feia são mostradas na tabela, a seguir.
Área (km2) |
Perímetro (km) |
Comprimento (km) |
Largura (km) |
Prof. Média (m) |
---|---|---|---|---|
200(1) | 138,10(1) | |||
235(2) | 198(2) | 19(2) | 24(2) | |
172(3) | 22,5(3) | 20(3) | 1 | |
Fontes: |
Nas áreas marginais da lagoa, densa vegetação de taboas e aguapés formam brejos com cerca de 200 m de largura. O Canal das Flexas fez aumentar a salinidade nas partes sul e sudoeste da Lagoa Feia, e provocou a diminuição do nível da água. Observa-se que em 50 anos, a lagoa teve seu espelho d’água reduzido de 370 km² para os atuais 170 ou 200 km², o que resulta numa perda de cerca de 50%. Uma superfície de pelo menos 17.000 ha, constituídas de terras públicas (antigo espelho d’água), área equivalente ao município de Paracambi, foi anexada pelas propriedades privadas lindeiras. Proprietários vizinhos à lagoa tem se apropriado do espelho d’água construindo diques e plantando capim nestas áreas. O capim se entrelaça com as ilhas flutuantes, favorecendo a sedimentação. Além disso, a falta da demarcação definitiva da Faixa Marginal de Proteção, uma exigência da legislação ambiental, tem levado ao avanço da cultura canavieira, principal atividade econômica da região, sobre suas várzeas.
[editar] Referências
- SEMADS, "Bacias Hidrográficas e Rios Fluminenses Síntese Informativa por Macrorregião Ambiental", Rio de Janeiro: SEMADS 2001, 73p.: il. ISBN 85-87206-10-9 Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, Projeto PLANÁGUASEMADS/GTZ
Brasil | Geografia do Brasil | Hidrografia | Hidrografia do Brasil | ![]() |
---|---|
Bacias hidrográficas | Rios | Arquipélagos | Ilhas | Lagoas | Lagos | Baías | Cataratas/cachoeiras | Praias | Canais | Usinas hidrelétricas | Barragens | Portos |