Massacre de Columbine
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O massacre de Columbine aconteceu em 20 de abril de 1999 no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos, no Instituto Columbine, onde os estudantes Eric Harris (apelido ReB) de 18 anos e Dylan Klebold (apelido VoDkA) de 17 anos, atiraram em vários colegas e professores.
Eric Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17, eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta. Moravam em casas confortáveis. O pai de Klebold é geofísico, e a mãe, especialista em crianças deficientes. Como Harris e seu comparsa conseguiram levar para a Columbine High School, uma escola secundária pública num subúrbio de Denver, Colorado, quatro armas pesadas e dezenas de quilos de explosivos? Por que atiraram a esmo, rindo de suas vítimas, enquanto explodiam quatro bombas, e depois executaram com tiros na cabeça alguns dos melhores atletas da escola? Queriam mesmo comemorar o aniversário de Adolf Hitler, nascido há 110 anos, naquela terça 20 de abril?
Harris e Klebold deixaram uma nota, encontrada perto dos corpos: "Não culpem mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir". Faltavam apenas 17 dias para o fim do ano letivo. Com 1.965 alunos, Columbine é tão boa que muitas famílias se mudaram para Littleton, perto de Denver, com o objetivo de matricular os filhos na escola. Oitenta e dois por cento de seus alunos são aceitos em universidades - nos Estados Unidos não há vestibular, o que conta é o desempenho do aluno no segundo grau. Columbine também se orgulhava, até terça-feira, de não registrar casos de violência. O policial de plantão se limitava a multar alunos que estacionavam os carros nas vagas destinadas a professores. Não há, como nas escolas de Nova York, Los Angeles e Chicago, detectores de metais na entrada. Na festa de formatura, os alunos costumavam aceitar o pedido dos pais para vedar bebidas alcoólicas. Columbine era famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, beisebol e basquete. Foi esse o estopim da tragédia.
Harris e Klebold, ótimos alunos de boas famílias, não eram populares na escola. Preferiam os computadores às quadras de esporte. Solitários, encontraram sua turma numa estranha gangue, a Máfia da Capa Preta. Vestiam-se de preto da cabeça aos pés e não tiravam as longas capas nem mesmo no calor do verão. Ridicularizados pelos atletas, remoíam planos de vingança e extravasavam seu ódio na Internet. Harris, principal cabeça por trás do ataque, tinha uma website, agora desativada, no qual colecionava suásticas e sinistros slogans neonazistas e até dava receitas para a confecção de bombas. Em seu auto-retrato, escreveu: "Mato aqueles de quem não gosto, jogo fora o que não quero e destruo o que odeio". Já Klebold dizia que seu número pessoal era "420", possivelmente uma referência à data de nascimento de Hitler, 20 de abril. Ninguém levava a dupla a sério, até terça-feira passada.
Atração pela morte O sinistro universo gótico serviu de inspiração à Máfia da Capa Preta
A auto-intitulada Máfia da Capa Preta, à qual pertenciam os dois suspostos assassinos, cultuava alguns elementos da chamada cultura gótica, uma espécie de paixão pelo oculto misturada à atração pela morte, roupas pretas e maquiagem pesada.
Marilyn Manson, aparentemente admirado pela Máfia, é um representante da cultura gótica. Coincidentemente, ele tinha um show marcado para a sexta-feira 30 em Denver, mas cancelou-o a pedido do prefeito da cidade.
A banda preferida de Eric Harris e Dylan Klebold, os suspeitos da carnificina, era a KMFDM, iniciais em alemão da frase "sem piedade pela maioria". Uma das músicas do grupo afirma: "Se eu tivesse uma escopeta, estourava minha cabeça no inferno".
O filme Diário de um Adolescente, com Leonardo DiCaprio, também foi lembrado a propósito do ataque na Columbine. No filme, DiCaprio interpreta um jovem drogado de Nova York que jogava basquete num colégio, nos anos 60, e que num de seus delírios imaginava-se na sala de aula de sua escola vestido com capa preta e matando tudo e todos a seu redor. Suspeita-se de que os assassinos tenham se inspirado no filme quando decidiram usar só trajes pretos.
Planearam tudo. Não se sabe como conseguiram as armas - duas caçadeiras, uma pistola semi-automática e uma rifle de assalto de 9mm, mas com certeza acharam na Internet a receita para fabricar as bombas. Um vizinho viu os dois, na segunda-feira, véspera do fuzilamento, partindo garrafas com um taco de basebol. Os cacos seriam usados como estilhaços nas bombas, e o vizinho não desconfiou de nada. Harris escreveu num diário os planos do ataque à escola. Um diagrama mostra como as armas seriam escondidas sob as longas capas de couro preto. Num exemplar do livro de formatura do colégio, Harris decidiu, com palavras escritas sobre as fotos, quem ia morrer e quem seria poupado: "Morto", "morrendo" e "salvo".
Os dois tinham antecedentes criminais. Em janeiro do ano passado, foram presos depois de arrombar um carro e roubar equipamento eletrônico avaliado em US$ 400. Condenados, tiveram de prestar 45 horas de serviço comunitário e fazer um tratamento psicológico destinado a pessoas que cometem infrações menores. No mês passado, completaram com sucesso o programa de recuperação.
Até o final da semana pairava no ar a suspeita de que os atiradores tinham contado com a ajuda de cúmplices no ataque. Duvidando de que pudessem carregar sozinhos mais de 30 bombas para dentro do colégio, a polícia investigava outros membros da Máfia da Capa Preta. Entre a invasão da escola, às 11h30 da manhã, e a descoberta dos corpos pela polícia, às 4 da tarde, os cúmplices podem ter deixado o prédio misturados à multidão que conseguiu escapar. A equipe da SWAT ordenava que todos levassem as mãos à cabeça, mas não tinha como separar supostos atacantes de vítimas.
Trancados na biblioteca, Harris e Klebold cumpriam um ritual macabro, executando um a um os colegas escondidos sob as mesas. Não mostraram piedade. A uma estudante que implorou por sua vida, reagiram com gargalhadas. Antes de matar o aluno negro Isaiah Shoels, que se destacara em Columbine como esportista, anunciaram: "Agora é sua vez, crioulo f.d.p." Isaiah foi encontrado com uma bala na cabeça.
Centenas de alunos e professores, trancados nas salas, ouviam os tiros e explosões sem saber o que estava acontecendo. Muitos ligaram para casa pelos celulares, sussurrando, para pedir socorro. Harris e Klebold acompanhavam tudo pela TV da biblioteca, vendo a transmissão ao vivo do cerco à escola. No final, depois de meia hora de silêncio, a SWAT invadiu a biblioteca e encontrou os corpos dos dois cercados de outros, alguns irreconhecíveis. O sangue era tanto que a polícia divulgou a estimativa de 25 mortos. Só no dia seguinte, desativadas todas as bombas, pôde-se retirar e contar os corpos.
No ano letivo de 1997-98, houve 42 homicídios em escolas americanas. O pior, até esta semana, aconteceu em março de 1998, quando dois meninos de 11 e 13 anos mataram quatro colegas e uma professora numa escola do Arkansas. Nos anos 80, as escolas das grandes cidades, Nova York, Los Angeles e Chicago, eram campo de batalha de gangues. Nos anos 90, a violência migrou para subúrbios ricos e pequenas cidades rurais, e os matadores passaram a ser meninos solitários e desequilibrados. "Eu não tinha outra saída", explicou o adolescente de 16 anos que em outubro de 1997, no Mississippi, matou a mãe em casa e depois, na escola, fuzilou dois colegas e feriu sete.
O presidente Bill Clinton, numa reação típica de muitos governos, criou uma comissão para estudar o aumento da violência entre os jovens. No entanto, as medidas propostas pareciam ter dado certo. No ano letivo de 1998-99, até Littleton, o número de homicídios caíra a nove. As apreensões de armas nas escolas subiram para 6 mil. Agora o governo espera convencer o Congresso a aprovar leis que restrinjam o acesso dos jovens às armas. Uma das medidas seria obrigar os pais a guardar debaixo de chave suas pistolas e rifles. O lobby dos fabricantes de armas, comandado pelo ator Charlton Heston, presidente da National Rifle Association (NRA), lembra que a Constituição americana garante o direito dos cidadãos a usar armas, tradição que vem da Guerra de Independência. Por ironia, a NRA fará sua reunião anual em Denver, em 1o de maio. Heston cortou parte da festa, mas até quinta-feira 22 resistia ao pedido do prefeito para cancelar a reunião em consideração às famílias das vítimas. A assembléia estadual do Colorado retirou um projeto de lei que permitiria o porte de armas escondidas. "Se essa lei estivesse em vigor, outros alunos e professores poderiam estar armados e teriam resistido aos atacantes", disse Heston.
A escola Columbine, com centenas de furos de bala nas paredes e crateras onde as bombas explodiram, vai ficar fechada até a volta às aulas, em setembro. Os moradores de Littleton iniciaram o longo processo de apoio às famílias das vítimas e tratamento dos sobreviventes traumatizados. Mas os Estados Unidos, a começar pelo próprio Clinton, perguntam como impedir que o massacre se repita. Tudo o que escutam é um país perplexo.
A cronologia do ataque foi montada a partir de informações captadas pelas câmaras internas da escola, as chamadas de emergência e as reportagens locais:
11:10 Harris e Klebold chegam à escola, e deixam seus carros no estacionamento do refeitório.
11:14 Deixam mochilas com cerca de nove quilos de explosivos no refeitório.
11:23 Eles esperam do lado de fora da saída oeste. Então sacam espingardas de caça e armas semi-automáticas e começam a atirar nos alunos. As pessoas começam a correr e um estudante faz a primeira ligação para os serviços de emergência.
11:24 Os alunos do refeitório percebem o que está acontecendo. Os funcionários tentam removê-los para locais mais seguros. Um carro de polícia chega e atira nos suspeitos.
11:27 A dupla entra na escola, atirando a esmo.
11:28 Eles entram na biblioteca, matando 10 e ferindo 12 pessoas em 7,5 minutos. Eles atiram na polícia pela janela em direção ao estacionamento, onde as viaturas se reúnem.
Durante os próximos 40 minutos, Harris e Klebold percorreram a escola, atirando e deixando explosivos pelo caminho.
Minutos antes da equipe da SWAT entrar no prédio, às 12:06, os suspeitos se mataram dentro da biblioteca.
Como as autoridades não sabiam que os suspeitos estava mortos, e como ainda havia explosivos instalados ao redor do prédio, levou mais de três horas para que os serviços de emergência chegassem a todos os sobreviventes e encontrassem Harris e Klebold.
Esta chacina foi transformada em um filme Elefante (Elephant) de Gus Van Sant, 2003. O filme mostra bem como foi a chacina, sem lirismos. É bem recomendado, por não ser da escola de hollywood. http://www.imdb.com/title/tt0363589/