Para Elisa
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A «Bagatela para piano ‘Für Elise’», conhecida também «Para Elisa», em lá menor (WoO 59), de Ludwig van Beethoven é, dentre as obras deste compositor, talvez a mais conhecida mundialmente, a par da melodia da sua famosa «Quinta Sinfonia», em dó menor (1807-1808, op. 67), e da sua «Nona Sinfonia», em ré menor (1823-1824, op. 125). A melodia desta peça para piano aparece em desenhos animados, filmes, powerpoints e até, nos nossos dias, em toques de telemóvel.
[editar] História
Quanto às origens históricas desta bagatela para piano são muito pouco conhecidas. Sabe-se (pelo rascunho encontrado) que Beethoven teria composto esta pequena obra, pelos anos 1808 ou 1810, em honra de uma senhora a quem propôs casamento, chamada Therese Malfatti (1792-1851), sobrinha do Dr. Giovanni Malfatti (1775-1859), um médico italiano que se instalou em Viena (Áustria), em 1795, e que foi um dos médicos do compositor, tratando-o inclusive durante a sua doença final em 1827. Inclusive, para este médico, Beethoven compôs, em Junho de 1814, uma pequena cantata para piano e coro de sopranos, contraltos, tenores e baixos «Un lieto brindisi» (WoO 103). Também é chamada por «Cantata Campestre».
A partitura original ou autógrafa desta bagatela para piano foi presenteada, pelo compositor, a Therese em 24 de Abril de 1810 e esteve durante algum tempo em seu poder. A data está na partitura autógrafa, mas ao certo não se sabe se teria sido Beethoven quem a colocou lá ou se teriam sido outras pessoas. Portanto, é um dado discutível. Therese, por achar que Beethoven não seria o seu melhor marido (pois Beethoven era muito autoritário e desorganizado), casou, mais tarde, em 1816, com o barão von Drosdick. Com o tempo, a partitura original extraviou-se. Por outro lado, também se sabe que, em 1822, Beethoven emendou o seu rascunho preliminar, guardado nos seus arquivos, para uma possível publicação e que, devido ao seu falecimento, não se chegou a realizar. Ou por erro do editor (de facto, a caligrafia caótica de Beethoven foi a causa principal de muitos erros nas primeiras edições das suas obras) ou para não se saber a quem esta peça foi dirigida e oferecida, isto é, para não se dar quaisquer pistas acerca do verdadeiro nome da senhora, ou seja, de Therese Malfatti, o certo é que a cópia da partitura autógrafa ou, se quisermos, a sua publicação póstuma (realizada pela primeira vez em 1867) tinha o nome ou, então, o pseudónimo alemão de «Für Elise» que, em português, é «Para Elisa». É evidente que não se trata de Elisa alguma, mas, sim, de Therese. Tudo indica que fosse um erro do editor.
Por outro lado, também sabemos que Maria Therese Brunsvik (1775-1861), aristocrata de origem húngara, e que nunca contraiu matrimónio, teve algumas aulas de piano com Beethoven, sendo-lhe dedicada uma peça para piano: a «Sonata para Piano nº 24», em fá sustenido maior (1809, op. 78), vulgarmente conhecida «Para Teresa». Haverá alguma relação entre estas duas peças pianísticas? Sabemos que a sonata «Para Teresa» foi publicada em 1810 e a bagatela «Para Elisa» surgiu por essa altura. Será que foi dado um pseudónimo à bagatela «Para Elisa» (dedicada a Therese Malfatti) para não ser confundida com a sonata «Para Teresa» (dedicada a Therese Brunsvik)? É que as duas peças são dedicadas a pessoas com o mesmo nome de Therese. Efectivamente, não sabemos.
[editar] Análise musicológica
Analisando esta peça, podemos verificar várias coisas:
1) a sua tonalidade é em lá menor, aliás tonalidade sombria e triste, como todas as tonalidades com o modo musical menor (dó menor, ré menor, mi menor, fá menor, etc.);
2) o seu compasso é composto (3/8);
3) a sua agógica é «poco moto», isto é, «pouco movimento», ou seja, com andamento moderado (mais para o lento);
4) a sua dinâmica é, na sua maioria, pianissimo (pp), sendo utilizado com frequência o pedal (ped);
5) quanto à estrutura da peça, podemos dividi-la essencialmente em três partes:
- a primeira (compassos 1-22) consta do tema principal da peça, realizado maioritariamente em semicolcheias, com a sequência das notas mi5 / ré sustenido5 / mi5 / ré sustenido5 / mi5 / si5 / ré bequadro5 / dó5 / lá5 (esta denominação das notas é segundo o «sistema dos físicos»);
- na segunda (compassos 22-35), Beethoven, mudando de tonalidade, revela certa alegria e excitação, retomando depois (compassos 36-58) ao carácter melancólico e depressivo da melodia principal;
- por fim, na terceira parte, o compositor parece que entra em inquietação, alvoroço e tumulto (compassos 59-76), subindo, de repente (compassos 77-79) em arpejo em lá menor até mi7 para descer (compassos 79-82) cromaticamente de si bemol6 até mi5, retomando finalmente o tema principal da bagatela (compassos 83-102) e terminando a peça (compasso 103) com apenas três notas (lá1+lá2+lá4).
Assim como todas as obras musicais revelam o estado anímico do compositor, também esta bagatela não foge à regra. Revela nostalgia, tristeza, certa alegria, excitação, inquietação, alvoroço, tempestade e, curiosamente, quando termina parece dar-nos a entender que Beethoven quer exprimir mais qualquer coisa e que, propositadamente, não quer expressar, uma vez que a peça podia muito bem terminar com um arpejo ascendente da tonalidade de lá menor (lá-dó-mi) até lá6 e isso, de facto, não acontece porque tudo finda numa espécie de «fosso» musical (lá1+lá2+lá4), dando a ideia de depressão, angústia, pesar e conformidade com a dor. Será que Beethoven queria manifestar com isso a sua dor da não correspondência amorosa da parte de Therese? É possível. Apesar de tudo é uma peça predominantemente emotiva, sentimental e muito bonita, fazendo as delícias de qualquer romântico e, sobretudo, de qualquer aspirante a pianista.