Zeami
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Zeami Motokiyo (1363?-1443?), também chamado Kanze Motokiyo, foi um ator, dramaturgo e criador teórico japonês. No final de sua vida tornou-se um monge Zen e afastou-se do teatro, deixando com seus filhos a missão de continuar seu trabalho.
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[editar] Atuação
Zeami foi educado por seu pai, Kiyotsugu Kanami, que também era ator. A parceria pai-filho estabeleceu o teatro Nô. Quando a companhia de Kanami se apresentou para o Shogun do Japão, Ashikaga Yoshimitsu, este convocou Zeami a ter uma educação artística na corte. O Shogun fez do garoto seu amante, pela tradição shudo (tradição de homossexualidade entre os samurais desde o período medieval até o final do sec. XIX).
Depois que Zeami sucedeu seu pai, ele continuou a atuar e adaptou o seu estilo ao que hoje é o Nô - uma mistura de pantomima e acrobacias vocais.
[editar] Dramaturgia
Os estudiosos atribuem cerca de 50 peças a Zeami. Seus trabalhos possuem um alto teor poético e incorporam mitos, lendas e alusões literárias em densas tramas imagéticas. Além de escrever várias peças e seu maior trabalho teórico, Fushi kaden - também conhecido por Kadensho, Zeami escreveu instruções práticas para atores e estabeleceu o teatro Nô como uma forma artística séria. Os seus livros não são somente instruções, mas também magníficos tratados estéticos baseados na cultura espiritual do Japão.
[editar] Trecho
O trecho abaixo faz parte do texto teórico "O Espelho Da Flor", de Zeami, transmitido oralmente durante décadas e publicado somente em 1665, mais de duzentos anos após a sua morte.
"Olhando as plantas em flor, perguntamo-nos: porque se simboliza por uma flor todas as coisas do mundo? É pela sua existência efêmera que se gosta delas, elas só florescem durante uma estação, são raras. De igual modo, o Nô fala ao coração e suscita o interesse. A flor, o interesse e a raridade, eis a maravilha do Nô. Florir e murchar são inevitáveis: é o que torna as flores maravilhosas. O encanto do Nô, a sua flor, encontra-se na virtude da mudança. O Nô nunca é estático, transforma-se sem cessar, como a flor, e é esta mudança que o torna tão raro. No entanto, é necessário respeitar as suas regras e evitar a extravagância, mesmo na demanda da raridade ou da novidade. Após todos os exercícios, no momento de apresentar um Nô, é preciso escolher de acordo com a situação. De entre todas as flores, só é verdadeiramente rara aquela que eclode no seu quadro temporal. Do mesmo modo, se aprendestes bem as numerosas técnicas das artes, escolhereis adaptando-vos à época e ao público; será como uma flor na sua estação. As flores de hoje são semelhantes às do ano passado. Assim, o Nô, mesmo tendo já sido visto antes, ou inscrevendo-se num repertório importante, retornará, após a passagem do tempo, igualmente raro.".
(Trad. Helena Barbas).
[editar] Nota
Os tratados teóricos de Zeami não têm tradução para o português. O poeta Haroldo de Campos traduziu (inclusive ganhou o prêmio Jabuti pelo seu magnífico trabalho) o poema-peça Hagoromo, clássico de Zeami.